12 agosto 2006


a hora da verdade
(em 14/12/2002)

pouco importa se na vida de cada um de nós ou se nos processos coletivos, a hora da verdade sempre virá para nos encurralar.

ao ser indicado como futuro Ministro da Casa Civil, Zé Dirceu afirmou que realizava “o sonho de sua geração”. em se tratando de uma geração cujos mais preciosos sonhos viraram pesadelos crônicos, a declaração soa como um péssimo augúrio.

apesar de sua vaidade, tão extensa quanto sua ânsia pelo poder, José Dirceu continua sendo apenas mais um “Zé”. tanto faz se sentado no trono do PT ou em qualquer assento palaciano. um “Zé” saído, como Lula, da lata de lixo da História e membro de uma geração profundamente marcada por um inextinguível desejo de transformar o mundo.

muito mais que resultado de um bem sucedido marketing, a eleição de Lula se deve justo aos motivos pelos quais ele foi por três vezes rejeitado.

após a queda das máscaras, tanto do messiânico “Salvador da Pátria”, cujo único milagre trazido foi seu próprio impeachment, quanto da ilusão de desenvolvimento através da fantasia de estabilidade monetária, evaporada logo no primeiro mês do segundo mandato de FHC, o eleitorado Brasileiro, numa escolha inédita, optou pela mudança ao invés do continuísmo

foi também a primeira vez que o Brasileiro ousou encarar seu rosto no espelho e aceitar-se como é. como nunca deixara de ser. um homem pobre e sofrido, sem raízes e com baixa escolaridade.

então, numa dessas raras e poderosas confluências, o sonho da geração de José Dirceu se tornou o sonho do Brasileiro. circunstâncias especiais como esta tem a peculiaridade de fazerem com que a política deixe de ser meramente a arte do possível e incluem o impossível no rol das possibilidades.

ao reduzir tudo isto ao mero fato de aboletar-se no poder, satisfazendo a uma ambição puramente pessoal, Zé Dirceu nada mais faz que explicitar de forma gritante que é chegada a hora da verdade para Lula e o PT. e não apenas para eles, como também para toda aquela geração da qual eles são parte.

sonhos traídos cobram seu débito rápida e violentamente.

na última vez que isto ocorreu na História recente do Brasil, quando um certo senhor chamava, na frente de milhões de pessoas, por “Diretas Já”, e nas sombras dos bastidores trabalhava por exatamente o contrário, a conta foi paga com a vida, antes mesmo de ser desfrutada uma gota sequer do gosto do poder.

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