30 outubro 2016

a festa da derrota

30/10/2016

como um previsível revés eleitoral tem o poder de conduzir milhares de pessoas até uma Cinelândia completamente lotada, para ali comemorarem juntas, entre beijos e lágrimas, dança, música e palavras de ordem, risos e choros?

apenas a vitória merece celebração ou derrotas também se festejam?  mas que gente louca seria esta que festeja a derrota?

a razão deles não nos serve. é uma razão que produz a loucura do mundo em que vivemos. se dizem que somos loucos é porque talvez estejamos no caminho certo.

ainda sob os anos de chumbo do coronelismo político, sob o jugo do fisiologismo e do assistencialismo e dominada por currais eleitorais, o Rio de Janeiro conquistou, após décadas, uma oportunidade de libertação.

uma cidade que fora vendida aos caciques do PMDB, em nome do “bem maior” do projeto nacional do Lulismo.

mermão, aqui é o Rio de Janeiro. já sobrevivemos ao Garotinho, Rosinha, César Maia, Eduardo Conde, Sérgio Cabral, Pezão e Duduzinho Paes.

e como resultado daquele “bem maior” que nos condenou a um garrote vil político, estamos agora lutando contra o golpe, a PEC, a reforma do ensino médio. gritando “Fora Temer” e “Diretas Já”.

parceiro, no Rio a gente vive e morre nas ruas. amamos a convivência nos espaços públicos. o encontro nos butecos, na praia e na noite.

aqui é desse jeito. somos sempre multidão. a mistura, a diversidade, a comunicação. é assim que nos sentimos vivos.

amamos a vida. e celebramos a vida coletivamente nos espaços abertos. seja nas vitórias, seja na derrota.

muito além disto, a batalha do Rio não é apenas uma disputa eleitoral, ou mesmo um confronto entre programas e projetos. a batalha do Rio é uma guerra de mundos. por isto, não se completa numa eleição. nossos sonhos não cabem nas urnas.

é a luta de uma cidade de pessoas contra uma cidade de negócios, entre a cidade democrática e a cidade empresa.

uma luta que faz do Rio um laboratório do futuro. a capital da esperança. para que deixe de ser um maravilhoso cenário para uma cidade com pavorosas desigualdades.

mundos completamente antagônicos numa guerra de  vida ou morte. sem qualquer possibilidade de conciliação.

a cidade das zonas de exclusão, dos guetos e dos campos de concentração. a cidade dos mercadores da fé, dos operadores da teologia da prosperidade. os adoradores do deus dinheiro. os pregadores do fundamentalismo de mercado. os missionários da conversão de todos os povos da terra ao capitalismo como religião.

e a cidade libertária, do diálogo, da diversidade. uma cidade do encontro e do afeto. a cidade dos desejos, dos sonhos e das utopias.

esta foi uma campanha municipal não submetida à lógica eleitoral, resultado de um árduo e longo processo de construção de alternativa através da luta dos coletivos e da organização pela base.

tivemos como uma das vitórias, o resgate da juventude para a política. algo que nenhum marqueteiro pode vender. nenhum financiamento eleitoral pode comprar. apenas a alegria e a sinceridade de uma política feita com ética e amor.

festejamos o renascimento da política e o rejuvenescimento da militância, em sua ocupação na raça
das ruas, das praças e das redes.

uma campanha que fez chegar a hora de rejuvenescer, pela aliança da experiência da geração das “Diretas Já” com o vigor da primavera secundarista.

uma campanha que botou por terra o mito da inevitabilidade de uma política de alianças vendidas em troca de tempo de TV. apenas 11 segundos foram suficientes para derrotar o PMDB e ir ao segundo turno.

uma campanha que provou que política se faz juntos, no maior financiamento coletivo como nunca antes houve na história deste país.

uma campanha na qual definitivamente ficou claro que a mídia somos nós. se eles tem a mídia, nós temos uns aos outros.

uma campanha na qual se desenrolou mais um capítulo da guerra de famiglias, o Império Global contra o Reino da Universal. com as capitanias hereditárias midiáticas sucumbindo frente ao monstro se erguendo da onda de ódio que contribuíram para insuflar: o fundamentalismo religioso.

nesta guerra de mundos, as batalhas pela libertação do Rio de Janeiro irão prosseguir. a única luta que se perde é aquela que se deixa de lutar.

por isto, estamos nas ruas, festejando a derrota. e na noite que se abate sob a nossa cidade e sob todo o Brasil, somos cada um de nós um brilho na escuridão.

não nos interessa apenas resistir. nosso desejo é outro, queremos re-exisitir.

a cidade somos nós. a cidade é nossa. vai ser desse jeito. vamos ocupá-la. com as nossas vidas.

vem vindo o verão.
.

15 outubro 2016

guerra de mundos: outros mundos são possíveis

15/10/2016


quantas estradas devemos percorrer, até conseguirmos nos encontrarmos com nós mesmos?

quantas mortes ainda acontecerão, até compreendermos ter sido apenas a nossa própria morte repetida muitas vezes?


incapaz de realizar a autópsia do Lulismo, o PT perambula no interior do labirinto que ergueu ao seu próprio redor. sua autocrítica se limita a reconhecer-se vítima de um “problema de comunicação”.

de fato, um problema de comunicação consigo mesmo, demonstrado na absoluta negação de assumir seus erros; um problema de comunicação com a mídia golpista, como se esta fosse trair a plutocracia colonial e escravagista, da qual faz parte, para se abraçar com um projeto popular.

foi quando abandonou as ruas, por acreditar não mais precisar caminhar por elas, que o PT passou a integrar o acervo do museu das grandes novidades da política brasileira.

precocemente senil, o PT se recusa a rejuvenescer. um partido dirigido por anciões paulistanos, incapaz de compreender a falência do modelo unipolar, no qual já não cabe a complexidade do tecido social de uma humanidade hiper conectada.

a guerra de mundos provoca uma crise global de hegemonia. no planeta, USA Incorporation; no Brasil, São Paulo Ltda.; na Esquerda brasileira, o PT quatrocentão.

o grande desafio democrático a ser enfrentado é estabelecer uma multipolaridade a partir de relações multilaterais. caso contrário, o mundo unipolar, com sua guerra de um contra todos os demais, se esfacelará numa guerra de todos contra todos.

apesar de todos os links da autodenominada sociedade humana, nela os indivíduos estão separados, isolados, alienados, desconectados. uns dos outros e de si mesmos. enquanto numa comunidade os seres permanecem conectados, através de relações resilientes a todas as investidas de separação.

organizar-se nunca quis dizer filiar-se numa mesma orga­nização, participar da mesma associação, pertencer ao mesmo partido. organizar-se é agir coletivamente segundo uma percepção compartilhada, seja a que nível for.

as autênticas formas de organização são próprias da vida. portanto, sempre estão em movimento. é nelas que devemos nos inspirar. principalmente para as formas de organização política. para que a militância política não mais esteja separada de um jeito de viver.

não se trata, contudo, de massificar a “profissionalização” da militância, mas de compreender que a política não está separada da vida. portanto, militar é viver.

juntos então compreenderemos que ninguém muda o mundo, ninguém muda ninguém, ninguém sequer muda a si mesmo. mas as pessoas se transformam entre si através das experiências de vida que são capazes de gerar e compartilhar intensamente. e isto transforma o mundo.

alguns dizem que a Esquerda sofreu uma derrota humilhante nas eleições municipais de 2016. ao que contrapomos: sim! mas qual Esquerda? aquela que desde muito abdicara de sua identidade.

qual a maior vitória de uma campanha política? a resposta vem vindo no vento. no vento soprado do Rio de Janeiro.

a crise da Democracia brasileira é uma crise de identidade. numa encruzilhada do destino, o que decidimos: perder votos ou perder o sentido de nossas vidas? esta é a questão.

era prá ser... mas não foi. agora vai ser desse jeito. vai ser dizendo a verdade, sem aliança vendida em troca de tempo de televisão. vai ser desse jeito. na rua, na praça, na rede, na raça. é possível!

não importa o resultado da eleição. com a campanha de Marcelo Freixo o novo rumo para a Esquerda brasileira já está aberto.

nesta guerra de mundos, outros mundos são possíveis.


.

14 outubro 2016

guerra de mundos: nenhuma paz nos protegerá

14/10/2016

com o processo do golpeachment, a lumpenburguesia brasileira decidiu ter chegado o momento de eleger um outro povo através de uma Democracia sem voto. o véu constituinte foi rasgado para revelar tragicamente a farsa institucional: todo poder se institui através de um golpe de força.

a macabra face dos conquistadores está definitivamente exposta. sua guerra de extermínio contra a Constituição de 1988, uma cruzada para aniquilar qualquer futuro para o Brasil como nação soberana, na qual todo poder emana do povo.

nesta invasão bárbara para recolonizar o país sob a hegemonia da Tirania Financeira global, a patologia do modelo de representação política atinge seu estágio terminal.

o Congresso Nacional foi usurpado por uma horda fisiológica eleita pela promíscua coalizão do quociente partidário com o financiamento empresarial. dos 513 deputados federais, só 36 foram eleitos unicamente com votos próprios.

por não representarem o eleitor e serem completamente tributários de um sistema político falido, se explica a votação pelo congelamento por 20 anos dos investimentos públicos em saúde e educação. uma emenda constitucional que nunca seria legitimado pelas urnas, mas claramente proposta na plataforma dos grandes financiadores de campanha.

não há, portanto, nenhuma “traição” a nenhum “eleitorado”. e sim uma rígida fidelidade aos verdadeiros donos dos mandatos.

as mega doações efetuadas pelo grande capital são investimentos com alta taxa de retorno, cuja segurança jurídica é garantida por togados vitalícios absolutamente incorruptíveis. mesmo cercados pelos escombros da legalidade é impossível induzi-los a fazer Justiça.

nunca fomos uma nação. e já não somos um país. o BrasilPar é hoje uma gestora de participações acionárias em diversas empresas e empreendimentos, uma holding estrategicamente associada a USA Incorporation.

foi com estes proprietários da política e donos da justiça que o Lulismo pretendeu consolidar sua pax social. esta é a “governabilidade” resultante da conciliação permanente do Lulismo. um mundo no qual a justiça social é balizada pelo direito penal sob o lema: mais presídios e menos universidades.

a herança maldita do Lulismo é uma nova versão do empreendedorismo colonial dos Bandeirantes, o povo superior da “raça Planaltina”, em busca do Eldorado do genocídio dos índios e do holocausto da natureza.

mais uma guerra de conquista. não apenas pelo território, para saquear seus recursos naturais e financeiros, mas principalmente para se apropriar de nossos corações e mentes.

uma reconfiguração completa das subjetividades pelo modelo empresarial de concorrência e desempenho, sob uma lógica de mercantilização da vida.

os atuais missionários catequizam através da pregação do fundamentalismo de mercado, para converter todos os povos da terra ao capitalismo como religião.

no Brasil, a santa inquisição é promovida pela Lava Jato & Associados, com sua tábua de salvação com os 10 mandamentos para purificar o capitalismo caboclo do pecado da corrupção.

como se já não estivesse perdida desde sempre a alma de um sistema no qual tudo tem um preço. tudo se vende e tudo se compra. a seita diabólica dos adoradores do deus-dinheiro.

esta é uma guerra não restrita a uma imposição de projetos de país e de políticas de estado. padecemos os horrores de uma guerra de mundos. o admirável mundo novo do neoliberalismo global contra todos os demais.

não há acordo. nunca houve acordo. jamais haverá acordo.

nesta guerra de mundos, nenhuma paz nos protegerá. ou lutamos, ou seremos massacrados.
.

11 outubro 2016

guerra de mundos: inversão do eixo

11/10/2016
“mude a poluição do ar antes que ela mude você”. propaganda bizarra na China mostra um futuro sombrio onde uma adaptação às novas condições ambientais fez com que os pelos do nariz crescessem, protegendo como um filtro as pessoas contra a poluição atmosférica.


há uma guerra. mas não uma guerra no mundo. e sim uma guerra de mundos.

não um choque de civilizações, pois jamais houve uma “civilização humana”. toda a História sendo apenas um ininterrupta sucessão de barbáries. nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie.

a guerra deste mundo da Razão e da Ciência, nascido das luzes do Renascimento, apenas para mergulhar o planeta numa escala nunca antes experimentada de destruição e desigualdade. tudo e todos foram reduzidos ao valor de matéria-prima pela vã pretensão de manter indefinidamente girando os moinhos satânicos do capital.

este mundo subjugou todos os demais sob uma unificação etnocêntrica: muitas Culturas, apenas uma Natureza. um mundo no qual um conceito específico de uma cultura, a Natureza como definida pelo Racionalismo Ocidental, se converteu em “realidade biofísica”.

nosso próprio conceito de Natureza, tão arraigado na cultura ocidental a ponto ser considerado “natural”, nunca passou de nossa mais mortífera arma política.

um triunfo imperialista iniciado pela Conquista, as invasões bárbaras em todos os continentes, e completado pela Globalização Neoliberal, a recolonização completa do planeta.

as condições ambientais estáveis dos últimos 12 mil anos favoreceram o desenvolvimento da auto-denominada “civilização humana”. sob tal estabilidade ambiental ergueu-se o mito de ser possível uma separação conceitual entre Natureza e Cultura.

com a irrupção messiânica de Gaia no cenário geopolítico da história moderna, descobre-se que tal estabilidade ambiental pode ser alterada. como se reagisse às ações sobre ele infringidas, o planeta modifica seu equilíbrio para condições menos favoráveis à existência da espécie humana e de outras muitas que o coabitam.

o mundo natural e o mundo social já não podem mais estar separados. o humano se desumaniza ao se tornar força natural – pelas alterações que sua “civilização” provoca na natureza – enquanto a natureza se torna um agente respondendo a estímulos – convertendo-se numa ameaça política à continuidade da “civilização humana”.

como nenhum armistício é possível nesta escalada em direção ao armagedon, nossa única rota de fuga é para a frente. em meio a esta guerra de mundos, não nos resta nenhuma esperança. só nos cabe lutar. lutar por nossa sobrevivência. enquanto lutarmos, nos sentiremos vivos. é através da luta que experimentamos a felicidade de viver.

do mesmo modo como ocorreu no Renascimento com o Heliocentrismo, o Antropocentrismo já não nos serve mais. os sonhos da Razão geraram monstros: o Capitalismo, o Antropoceno, o Antropozóico.

a viabilidade de permanecermos em luta exige uma inversão de eixo e a mudança total de conceitos e paradigmas.

uma geografia que coloque a periferia no centro e faça do interior a capital.

uma sociologia focada não no esterilizado binômio “sociedade x indivíduo”, mas nas confederações de comunidades, na qual se integra o “indivíduo” ele mesmo como uma comuna. 

uma psicologia não mais assombrada pela superstição científica de alguma “mente humana”, guiada pela compreensão de não existir nenhuma outra “psique” senão a do imenso, complexo e desconhecido ser vivo chamado Terra.

uma economia baseada não na exploração infinita de recursos finitos, e sim dedicada à manutenção e enriquecimento do comum.

uma política liberta das fórmulas de “governabilidade”. a noção de “governo” é a mais insidiosa forma de dominação, por introjetar a “governabilidade” para produzir subjetividades aprisionadas pela auto-vigilância e a auto-punição. muito além dos “governos”, estão a auto-gestão e a auto-sustentabilidade.

a superação das “ciências humanas” através dos saberes e conhecimentos dos seres da Terra.

com a falência da “Constituição Moderna”, chegou o momento de estabelecer um novo pacto de coexistência no planeta que coabitamos.

China: poluição do ar e pelos compridos no nariz


.

10 outubro 2016

guerra de mundos: exílio

10/10/2016


o Brasil não passa por uma crise, estamos em guerra. o Capitalismo não está em crise, a crise se tornou um modo de governar. se a guerra é o hardware no qual se processa atualmente o Capitalismo, a crise é agora a continuidade da guerra por outros meios.

estamos numa guerra concebida para ser infinita. seja como guerra ao terror, como guerra às drogas ou mesmo como guerra à corrupção. são as muitas guerras travadas no âmbito da grande guerra dos 1% contra os demais.

uma guerra fazendo de populações inteiras refugiados ainda dentro daquele mesmo território ao qual anteriormente denominavam de “pátria”.

é esta crise e esta guerra que padecemos agora no Brasil. não haverá nenhum retorno delas. não há nenhum saída delas. vivemos agora todos no exílio. um exílio do qual já não há nenhum lugar para nos abrigar, e muito menos para voltar.

de nada adiantará nossas bocas procurarem por alguma “Canção do Exílio”. como era mesmo a “Canção do Exílio”?

uma guerra travada contra todos os que não se submeterem incondicionalmente ao projeto interno de “São Paulo Ltda.”, a serviço do modelo global de “USA Incorporation”, executado no Brasil pela força-tarefa da “Lava Jato & Associados”.

(e ainda mais uma vez de nada adiantará explicar aos naturais de São Paulo: uma insistente e arrogante identificação com a casta governante sediada na capital do estado, apenas confirma a cega submissão a um projeto inimigo de seus interesses).

esta guerra planetária da Tirania Financeira global contra o mundo, nos coloca numa encruzilhada e diante de dois portais de entrada: ou o Estado de Exceção permanente, ou um processo de reconstrução radical da Democracia.

com todas as máscaras no chão, e todas as faces reveladas pela guerra, enfim nos damos conta que o inimigo sempre esteve por toda a parte. inclusive no âmago de cada um de nós. na própria constituição de nossa subjetividade, não apenas por nossos valores, mas principalmente por nossos desejos.

é nesta encruzilhada que tentam novamente nos reedipianizar. o desejo como falta. a castração. o controle. cabe a cada um de nós encontrar um outro rumo: o desejo como excesso. a conexão. a vida como contínua criação.

esta é uma escolha coletiva, mas deverá ser tomada por cada indivíduo compondo esta monstruosidade que ousamos batizar de “sociedade humana” .

mesmo após a reconfiguração neoliberal do Capitalismo, a Esquerda prossegue imobilizada pelos obsoletos paradigmas. abatida numa guerra de extermínio, faz de suas últimas palavras uma súplica pela conciliação. frente a uma crise permanente, aspira a um retorno impossível aos anos dourados do keynesianismo. confrontada com a total mercantilização da vida, ainda levanta a patética bandeira de uma “gestão humanitária” do capital.

no Brasil pós-golpeachment a fratura institucional é irreversível. entre o poder instituinte, a soberania do poder do povo, e os poderes constituídos, com todas instituições em colapso, restaram apenas os escombros do Estado Democrático de Direito e os farrapos da Constituição de 1988.

e mais além, o rompimento do tecido social também é irreparável. a casta dominante atirou completamente fora seus derradeiros laços com qualquer projeto de Nação. os grandes empresários cruzam em júbilo a “Ponte para o Futuro”, para levar o país de volta a um status pré revolução de 1930, entregando o Brasil a uma condenação perpétua no modelo neocolonial.

nesta guerra de mundos, a barbárie e a catástrofe são o cotidiano. enfrentamos no dia a dia a guerra climática. já não vivemos no mesmo planeta no qual nascemos. habitamos um mundo alienígena, onde progressivamente se deterioram as condições ambientais para a existência da vida tal a conhecíamos.

experimentamos este processo impactando o funcionamento de nossos corpos através de “sintomas”. estresse crônico. náuseas e tonteiras. distúrbios do sono e problemas de pele. a “doença” da crise ecológica.

não haverá nenhuma saída deste armagedon. avançamos para o holocausto generalizado de espécies, inclusive a nossa própria. sequer precisamos nos angustiar com a morte e a extinção. elas já estão asseguradas. a esperança de nada mais nos vale.

ainda assim, precisamos viver a única vida que temos para viver. como náufragos, vagamos num oceano de infâmia e destruição. ninguém nos apontará nenhum rumo, até mesmo porque ele não existe. então, é preciso criá-lo: um outro jeito de viver.
.

06 outubro 2016

não à PEC 241

06/10/2016
no Brasil unipolar já não mais cabe a complexidade do tecido social do país. para um novo Brasil a única solução é a periferia se tornar o centro, e o interior a capital.

vídeo: ato unificado em São Lourenço (MG), em 05/10/2016.



.

04 outubro 2016

guerra de mundos

04/10/2016


após o nocaute do anunciado golpe do impeachment, vem o previsível massacre das eleições municipais de 2016.

já em 2014 se revelara a gravidade da crise da representação política. os votos nulos, brancos e
abstenções foram superiores a votação recebida por Aécio Neves no 1º turno. no Rio de Janeiro, o total de nulos, brancos e abstenções superou a votação de Pezão, candidato do PMDB e apoiado pelo PT.

em 2016 o índice de rejeição às urnas se acentua. a soma de votos nulos, brancos e abstenções ultrapassa votação do candidato que ficou em primeiro lugar em nove capitais.

coligados com a partidarização do Judiciário, MPF e PF operam como cabos eleitorais a serviço de um projeto de país: o retorno do Brasil ao status pré Revolução de 1930.

com a falência do sistema político e a irrelevância dos partidos, a corrosão das instituições entra em estado terminal.

pela doutrina do choque, ergue-se a arquitetura do caos para submeter o Brasil ao capitalismo de desastre. sucessivas ondas de choque e pavor se arremetem para destruir o país tal qual o imaginávamos conhecer. tudo aquilo que sob o Lulismo parecia tão sólido, dissolveu-se no pântano da decomposição institucional, do qual emanam raiva, hipocrisia, cinismo e depressão.

enquanto no Oriente Médio cidades inteiras foram reduzidas a escombros e seus habitantes convertidos em refugiados sem destino, o Brasil é devastado pela crise crônica promovida pela Lava Jato e sua guerra seletiva contra a corrupção. com o golpe da plutocracia contra o povo, nas ruínas do Estado Democrático de Direito as cadeias produtivas e os empregos também são destroçados.

a partir da crise global de 2008, esgotam-se as condições para uma conciliação permanente. com o país arrastado ao epicentro de uma grande guerra mundial híbrida, ocorre internamente um agudo acirramento da luta de classes. como o Império entrou em confronto contra os BRIC, a lumpenburguesia brasileira é conclamada a se insurgir contra o Brasil.

incapaz de se auto regenerar e submetido a crises periódicas cada vez mais destrutivas, o capitalismo incorporou a crise como um modo de governar. a “crise” é uma oportunidade de reestruturação dos mercados. as medidas tomadas para superar a “crise” não servem para combatê-la. ao contrário, a “crise” é desencadeada como pretexto para aplicar tais medidas.

só uma crise é capaz de produzir verdadeiras mudanças. quando esta crise ocorre, os atos dependem das teorias em circulação. é preciso desenvolver teorias alternativas às políticas vigentes, mantê-las vivas e disponíveis, até que o politicamente impossível se torne o politicamente inevitável.

o parágrafo acima é um bom exemplo de como se pode reconfigurar o fluxo teórico do inimigo contra ele próprio. quais as teorias alternativas à política vigente da Esquerda tradicional?

mesmo sob um golpe de Estado, avançando para um completo Estado de Exceção, num cenário internacional com possibilidade presente de confronto bélico aberto, ainda assim no Brasil a Esquerda tradicional se esquiva em denominar a realidade, em nome de uma via eleitoral esgotada e de uma já vencida estratégia de conciliação. para estes a palavra “golpe” sempre será um tanto dura.

esta não é apenas a maior “crise” de nossa história, estamos numa guerra. e numa guerra concebida para ser infinita. seja como guerra ao terror, como guerra às drogas ou mesmo guerra à corrupção. são as muitas guerras da grande guerra dos 1% contra os demais. uma guerra conduzida em escala planetária. a guerra como negócio e como instrumento de dominação.

a guerra é o hardware no qual se processa atualmente o Capitalismo, enquanto a crise consiste na continuidade da guerra por outros meios.

não haverá nenhum retorno aos anos dourados do capitalismo keynesiano. não voltarão aqueles tempos em que Lula era o “político mais popular da Terra”.

pela mercantilização completa da vida, até mesmo a subjetividade foi recolonizada. o neoliberalismo reprogramou o trabalhador oprimido como um empresário livre, um empreendedor de si mesmo, portanto um trabalhador que se explora a si próprio na sua própria empresa. mestre e escravo na mesma pessoa.

por outro lado, a ilusão da emergência de um pós-capitalismo baseado numa economia dos collaborative commons apenas conduz ao eclipse de uma total mercantilização da comunidade. o capitalismo realiza-se plenamente ao vender o comunismo como mercadoria: o comunismo como mercadoria é o fim da revolução.

não há nenhuma “crise” a ser superada e sim uma guerra que precisamos vencer, para que possamos sobreviver.

todos nós que hoje habitamos o planeta Terra vivemos os horrores de uma guerra de mundos.

de um lado estão o Homem, a Razão, a Ciência: os que se ergueram vitoriosos com as luzes do Renascimento apenas para mergulharem o planeta numa escala nunca antes experimentada de destruição e desigualdade. tudo e todos foram reduzidos ao valor de matéria-prima pela vã pretensão de manter indefinidamente girando os moinhos satânicos do capitalismo.

do outro lado, na resistência contra a barbárie já instalada, há um povo. toda uma população que agora se levanta contra o aniquilamento generalizado: os seres da Terra. uma aliança entre humanos e não-humanos pautada não por leis, contratos ou instituições, mas pela urgente consciência da luta comum pela sobrevivência.

a maior das catástrofes contemporâneas é esta insidiosa guerra de mundos em curso: os “Humanos” contra os seres da Terra.

do mesmo modo que ocorreu no Renascimento com o Heliocentrismo, o Antropocentrismo já não nos serve mais. os sonhos da Razão geraram monstros: o Capitalismo, o Antropoceno, o Antropozóico.

uma nova mudança em breve vai acontecer. um inexorável desaparecer, como, na orla do mar, o desvanescer de um rosto de areia: o ocaso do Humanismo e do Racionalismo.

adeus ao Homem. bem vindos à intrusão de Gaia.
.