05 novembro 2006


por bem, ou por mal

apesar da consagradora reeleição, Lula só completou seu primeiro mandato em virtude de um erro estratégico da oposição conservadora.

em agosto de 2005, quando o publicitário Duda Mendonça confessou ter recebido de caixa dois no exterior pela campanha presidencial de 2002, a vantagem de Lula sobre seu adversário do PSDB chegou a apenas dez pontos. em dezembro, empataram. então, Lula descera a mais baixa taxa de aprovação a seu governo (28%), com a mais alta reprovação (29%).

enquanto a cúpula do PT desmoronava, deputados do partido choravam descontrolados no plenário e ministros sugeriam a Lula renunciar, PFL e PSDB optaram por fazer o Presidente sangrar até as eleições.

para a oposição conservadora, assumir o processo de impeachment era também enfrentar seus próprios cadáveres no armário. o governo do PT não cairia sozinho, arrastaria junto, em seu abraço de afogado, os “obscuros negócios“ das privatizações de FHC. nem o PT ou o PSDB, e muito menos o PFL, tem o menor interesse numa operação “Mãos Limpas“ no Brasil.

as urnas não concedem a Lula, junto com o segundo mandato, anistia pelos erros de seu Governo. ao contrário, o resultado do primeiro turno foi uma indicação incisiva da necessidade de mudança. mesmo o recorde de avaliação positiva (52%), alcançado ao final das eleições, foi muito mais uma demonstração de apoio político, num contexto de ataque cerrado a sua candidatura pelas elites, que endosso incondicional a um governo de “aloprados“.

Lula terá os cem primeiros dias de seu segundo mandato para promover uma inflexão na política econômica. chegou a um impasse a renovação do acordo entre o Bolsa Família e a Selic Banqueiro.

as medidas compensatórias do primeiro governo são incompatíveis com o ajuste fiscal perpétuo exigido pelo Mercado. muito embora todas as benesses recebidas, as elites deram prova, durante a campanha eleitoral, que, para derrubar Lula, não precisam exatamente de motivos, qualquer pretexto lhes serve.

por outro lado, as camadas populares que passaram a desfrutar de um maior acesso ao consumo e à política já não podem mais ser ignoradas. a classe média sinalizou ter chegado ao limite do asfixiamento e da condescendência com os escândalos. com o medíocre crescimento da economia, está esgotada a margem de ampliação do arrocho tributário.

no início de seu primeiro mandato, a justificativa para postergar a mudança da política econômica foi a “herança maldita“ de FHC. agora Lula se vangloria de estarem dadas todas as condições para o país voltar a crescer.

a continuidade no mesmo rumo econômico produzirá efeitos ainda mais graves do que anteriormente. o alto desemprego crônico deixará em frangalhos a base social do governo. com a manutenção da fórmula política surgirão novos escândalos. o apoio popular a Lula refluirá e a oposição não repetirá seus erros.

no auge da crise do “mensalão“, quando tudo e todos pareciam perdidos, foi de Lula a decisão de resistir. desta vez, contudo, qualquer resistência será vã.

Lula está condenado a entrar para a História. por bem, ou por mal...