23 maio 2021

O que move El Paro na Colômbia

 


O Paro colombiano se organiza através de diversos pontos de bloqueio, situados nas periferias das cidades, próximos as moradias daqueles que participam dos piquetes.

Não por coincidência, são também as zonas com o mais alto índice de desemprego.

A pandemia acirrou a Luta de Classes, causando um agudo aprofundamento da deterioração de vida dos trabalhadores.

Na cidade de Cali, a terceira maior da Colômbia e epicentro do movimento, isto se mostra com toda a sua brutalidade:

• pobreza extrema passou de 3,9% em 2018 para 13,3% em 2020.
• en 2020, 62,5% da população pertencem a classe pobre e vulnerável.
• a Taxa de Desemprego entre os jovens é de 29,1%.
• entre 2019 e 2020 os jovens empregados do sexo masculino tiveram uma queda salarial de 16,8%.
• 36% das mulheres jovens estão sem emprego e também sem acesso à educação formal.

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22 maio 2021

El Paro na Colômbia: a Greve Geral no séc. XXI

 

O #Paro2021 na Colômbia nos traz aprendizado vital sobre uma Greve Geral em tempos de pandemia e precarização do trabalho.

Vivemos num mundo em que a infraestrutura, e portanto a logística, são as bases de um processo de produção descentralizado, móvel e automatizado, onde cada unidade não é mais do que um ponto numa rede integrada.

As fábricas já não tem muros e a grande plataforma produtiva é a cidade.

Já não se trata somente de não comparecer ao local de trabalho, e sim impedir que seja distribuída uma produção descentralizada.

O Paro colombiano se organiza através de diversos pontos de bloqueio, situados nas periferias das cidades, próximos as moradias daqueles que participam dos piquetes.

Seu objetivo é interromper os fluxo de circulação e distribuição de mercadorias e serviços.

Os piquetes se tornaram áreas de encontro e convivência, onde se desenvolvem diversas ações comunitárias, desde cozinhas coletivas até atividades artísticas e culturais.

Nas moradias na vizinhança dos pontos de bloqueio os participantes encontram abrigo e assistência médica, quando ocorrem os brutais ataques da polícia.

Também servem como depósito de alimentos, medicamentos e equipamentos.

Normalmente usadas como bases de repressão, algumas das instalações policiais nestas periferias foram convertidas em bibliotecas.

As barricadas erguidas se estendem por várias ruas, e delas participam não apenas jovens trabalhadores como todo tipo de apoiadores.

A eles se somaram na cidade de Cali, um contingente da Guarda Indígena com mais de 8 mil participantes.

Nos piquetes nas periferias se realizam assembléias populares, encaminhando mobilizações e organizando marchas.

Trata-se de uma Greve Geral levada a cabo não nos portões dos locais de trabalho, e sim na porta dos locais de moradia, a partir da compreensão do caráter logístico do Capitalismo contemporâneo.

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16 maio 2021

De como matar a fome do povo se tornou simplesmente matar

->《Escreveu Lenin:  "(…) o cultivo em pequena escala, enquanto se mantiver o mercado e o capitalismo, não é capaz de libertar a humanidade da miséria e que é necessário pensar numa transiçao para o cultivo em grande escala para fins sociais (…)."
Diante da fome era isto que preocupava o velho Lenin: ensinar às massas camponesas a produzir em larga escala.
Hoje os socialistas pensam justamente o contrário: como ensinar as massas a cultivar em pequena escala sob regime de agricultura familiar, preferencialmente com agroflorestas.


Ao tomar conhecimento do comentário acima, o cadáver embalsamado de Lenin se contorceu em seu mausoléu eterno na Praça Vermelha.

Suavemente, mesmo assim bem perceptível para qualquer companheiro atento se dar conta.

Resmungou: "- Mas a História já não mostrou que esta minha argumentação causou a Coletivização Forçada da Agricultura na URSS, resultando em milhões de mortes?"

Como se não bastasse, também baseadas na mesma busca da alta produtividade agrícola, seguiram-se uma trágica repetição da Grande Fome, desta vez promovida pelo Camarada Mao, e a desgraça da política de ruralização comandada pelo medonho Khmer Vermelho.

Afinal, onde reside o problema? Como produzir alimentação em quantidade e qualidade para se ter soberania alimentar?

A leitura do artigo "Socialismo da abundância, socialismo da miséria", publicado em 22/03/2011 no Passa Palavra, contribui para a resposta, muito embora o texto incorra no mesmo equívoco.

Trata-se da armadilha da produtividade.

Produtividade é um conceito do modo de produção capitalista, fazendo a relação entre produto obtido e meios de produção utilizados.

Produtos são mercadorias. Meio de produção é Capital, seja como máquinas e equipamentos ou como trabalho vivo. Sendo que apenas o trabalho produz valor de troca, sob a forma das mercadorias.

Aumentar a produtividade implica em extrair do trabalho maior mais-valia relativa: produzir mais por unidade de tempo.

Portanto, a relação entre produtividade e exploração do trabalho é diretamente proporcional.

Além disto, pela dinâmica intrínseca do Capital, o aumento de produtividade leva a uma inevitável queda da taxa de lucro por unidade produzida, gerando crises periódicas de superprodução e proporcional destruição de forças produtivas.

Este é o "reino de abundância" trazido pelo Capitalismo, ou por sua emulação em regimes auto-declarados como Socialistas.

Para superar a armadilha da produtividade na produção agrícola é preciso distinguir claramente entre:
• produzir mercadorias para serem consumidas sob a forma de alimentos (valor de troca).
• produzir comida para alimentar a população (valor de uso).

Soberania Alimentar exige produção local, horizontal e descentralizada, mas não dispensa de modo algum capacitação técnica.

E aqui cabe também uma ressalva para diferenciar técnica de tecnologia, caracterizando esta como a seleção das técnicas mais adequadas à acumulação do Capital.

03 maio 2021

Qual a forma da Revolução no séc. XXI?



Quais as formas de luta que em si já se constituem num mundo onde caibam muitos mundos?

Dito de outra forma: a Estética e, portanto, tb a linguagem estão no âmago da questão política.

Estamos diante de novas questões, para elas dispomos apenas de um vocabulário obsoleto, herdado de um mundo morto.

Vivemos em um novo abominável mundo, caracterizado pela plena mercantilização e uberização, fazendo de cada momento de vida também tempo de trabalho.

Como poderemos reconstruir agora o anticapitalismo com trabalhadores dispersos pela uberização, fragmentados pelos identitarismos, mobilizados pelos novos mecanismos capitalistas que sustentam a base de cada identidade, enleados pelas novas censuras do politicamente correcto?

São a estas perguntas que se apresenta uma resposta, não como certeza mas apenas contorno de um outro modo de vida: o caminho da Revolução dos Povos se fará por Terra e Território.

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