30 dezembro 2017

os Brasis: retrospectiva interminável, prospecção infinda

30/12/2017


preâmbulo:

para cada fato uma alternativa. e assim não apenas numa retrospectiva interminável, como numa projeção infinda. até a alternativa ser capaz de se impor ao fato. ou a prevalência dos fatos consumir qualquer possibilidade de alternativas.

04-MAR-2016: condução coercitiva de Lula

fato:

após sofrer condução coercitiva, Lula concede longa entrevista coletiva, na qual promete a “volta da Jararaca” para de novo percorrer as ruas do Brasil. como sempre, rapidamente voltou a ser o velho e pacato Lulinha Paz e Amor. afinal, como afirma categoricamente num dos grampos: “Eu não quero incendiar o país. Eu sou a única pessoa que poderia incendiar este país". posteriormente, o Brasil acabou incendiado do mesmo jeito.

alternativa:

coerente com suas declarações, Lula e uma diversificada comitiva de apoio iniciam as Caravanas pela Democracia, passando por todo o Brasil com enorme receptividade, em especial nas cidades e regiões mais pobres. Comitês de Defesa do Povo Brasileiro são instalados em centenas de municípios. multidões comparecem a cada ato por onde passam as Caravanas. com  diversas manifestações convocadas espontaneamente, indicando o alto grau de dinâmica própria do movimento. já não se tratava de tão somente uma luta por Lula, e sim a população se organizando para um luta pelo conjunto de seus interesses.

16-MAR-2016: vaza grampo ilegal de conversa entre Dilma e Lula

fato:

causando enorme repercussão e provocando protestos na frente do Palácio do Planalto, vai ao ar interceptação telefônica efetuada após ordem judicial de interrupção, sem isto ser considerado de "maior relevância" por Sérgio Moro, juiz responsável pela Lava Jato & Associados. apesar de mesmo antes da posse de Dilma para seu segundo mandato estar em curso um processo para derrubá-la, mesmo com toda a lawfare já desferida contra Lula, ainda assim a reação do Governo é a de ter sido pego de surpresa. a partir de então, perde completamente a iniciativa política e o Brasil mergulha no caos.

alternativa:

ciente desde 2013 da espionagem conduzida pela NSA, conforme as revelações de Snowden, o governo Dilma prepara uma astuta cilada para os inimigos do Brasil. mantendo toda sua comunicação principal protegida em canais seguros, permite a interceptação das linhas convencionais, pelas quais fornece apenas informações diversionistas. assim o inimigo se mantém iludido, sendo ao mesmo tempo minuciosamente monitorado. quando há o vazamento ilegal, o contra-ataque de Dilma é fulminante. a transmissão da Rede Globo é interrompida e toda a verdade vem à tona: uma tentativa de golpe de Estado para entregar o pré-sal e acabar com os direitos da população. fundamentado em vasto volume de provas, reunidas em meses de investigação sigilosa, a Lava Jato & Associados é acusada de crime de alta traição nacional, com pronto cumprimento de centenas de prisões preventivas. milhões se reúnem nas ruas de todo o país, em defesa da Democracia e dos direitos sociais.  

17-ABR-2016: votação da admissibilidade do impeachment

fato:

após a farsa encenada no teatro de horrores da Câmara Federal, com os Deputados votando pela Famiglia, Lula se abraça com Dilma e diz: "chore, Dilma, chore!". as milhares de pessoas acampadas na Praça do Três Poderes em Brasília abandonam o local cabisbaixas, desmoralizadas, humilhadas, derrotadas, abandonadas e sem qualquer perspectiva de luta.

alternativa:

Dilma e Lula acompanham a votação junto com os acampados em Brasília. após seu encerramento fazem um histórico discurso, mais tarde comparado a uma segunda "Carta Testamento". todos saem juntos, de mãos dadas, numa marcha até contornarem o eixo monumental para retornar à frente do Congresso Nacional, onde se estabelece uma ocupação permanente. apesar das várias tentativas violentas da repressão para desalojá-la, a cada dia a multidão aumenta, numa sucessão de atos-show, aulas-públicas, palestras e debates e todo tipo de atividade para manter a mobilização em Defesa do Brasil e de seu Povo.

22-ABR-2016: Dilma discursa na Assembléia Geral da ONU

fato:

apesar da grande expectativa que o antecedeu, o discurso de Dilma na Assembléia Geral da ONU foi murcho, pálido, impotente e incapaz de sequer denunciar o golpe para o mundo. apenas mencionando de forma “corretamente protocolar” o ”grave momento que vive o Brasil”. Dilma foi grande em apenas um único ponto: em deixar patente sua inapetência e seu despreparo para ser uma das lideranças do Brasil em tão "grave momento" de nossa História.

alternativa:

longamente aplaudida de pé pela maioria dos líderes mundiais presentes, Dilma provoca uma pronta e impactante repercussão com seu discurso, logo alçado ao mesmo nível do célebre pronunciamento de Putin, no ano de 2007 em Munique. enfatizando de modo brilhante como o golpe no Brasil faz parte de uma Grande Guerra Híbrida Mundial, Dilma não deixa pedra sobre pedra, e traça o mapa do caminho para os BRICS se contraporem ao Império na construção de um mundo multipolar.

epitáfio:

tanto a retrospectiva dos fatos quanto a prospecção de cenários, não deixam dúvida: não haverá nenhum Feliz Ano Novo.

para haver o Novo, e ele ser Feliz, o velho deve morrer. enquanto todos os laços não forem rompidos, retrospectivas e prospecções se repetirão, numa exasperante espiral de farsas e tragédias.

assim como o Brasil, todos nós já estamos mortos. esta é a insuportável constatação com a qual temos que nos reconciliar.

2018 não nos trará qualquer esperança. quando muito, apenas nos apontará em direção a mais uma chance, cada vez mais remota, de renascimento. para cujo parto não receberemos nenhuma ajuda, a não ser aquela que nós mesmos formos capazes de nos fornecer.

p.s.:

24-JAN-2018: prisão de Lula

fato:

TRF-4 confirma uma decisão longamente anunciada: Lula é culpado. e como "decorrência natural" da condenação sua prisão é decretada.

alternativa:

se há alguma, deverá ser construída coletivamente. e isto só será viável através de não apenas uma pura e simples defesa de Lula, ou mesmo de sua candidatura. e sim como luta absolutamente necessária contra um Judiciário venal, corporativo, seletivo, classista e partidarizado, cujas arbitrariedades a todos nós tem sido atingido. sem Democratização do Judiciário não haverá reconstrução da Democracia no Brasil.

vídeo: Sweet Child o' Mine - Capitão Fantastico (LEGENDADO)


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29 dezembro 2017

os Brasis: não se deixe enganar

29/12/2017


os Brasis não são para principiantes. não se deixe enganar. pode até parecer, mas... é exatamente o que parece!

até parecem barricadas erguidas nas ruas por trabalhadores lutando por uma República Democrática e Social, em Junho de 1848 na cidade de Paris. os insurrectos foram esmagados à bala por uma reação que contra eles uniu Nobreza, Igreja, Campesinato e Burguesia. em quatro dias morreram 1.500 manifestantes, 12.000 foram presos e 4.000 deportados.

puro engano!

nada além das massas inocentemente manipuladas por um "aventureiro", para assim gerar as condições propícias ao Golpe de 1851, quando Luis Bonaparte se tornaria o Imperador Napoleão III.

qualquer semelhança com Junho de 2013 e o Golpe de 2016 no Brasil não é apenas mera coincidência.

os fatos na França do Séc. XIX foram analisados por um famoso barbudo alemão, em sua célebre obra "O 18 Brumário de Luis Bonaparte". quanto a seu correlato histórico brasileiro, é imprescindível a leitura de: "O 18 de brumário Brasileiro", de Bruno Cava.

quem vê a foto cima chegaria mesmo a afirmar tratar-se das ruínas de Aleppo, na Síria, como resultado da campanha do Império para a democratização do Oriente Médio, agora também em curso na América Latina.

{ nota:
Aleppo tinha 2 milhões de habitantes. não ficou pedra sobre pedra. quantas cidades o Brasil tem acima de 2 milhões de habitantes? Apenas 8: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Manaus e Curitiba.
}

um pequeno detalhe do lado esquerdo da foto esclarece tratar-se de outro lugar. é aqui mesmo no Brasil!

após mais uma vez o setor majoritário da Esquerda (Lulismo) se negar a "reagir nas ruas" e optar por sua enésima convocação para denunciar a cumplicidade da mídia com o golpe e blá, blá, blá, blá...

se na Síria se tivesse adotado este tipo de proposta, a população ainda estaria sendo degolada, as mulheres estupradas e seus filhos vendidos para traficantes de órgãos.


na ilustração acima, apesar do que a princípio pode parecer, não se trata de uma juventude aguerrida das favelas e periferias enfrentando um Caveirão da genocida PM carioca, na noite de 20/06/2013.

e sim agentes da CIA operando audaciosamente no meio da rua para derrubar o "nosso governo".




um olhar menos atento levaria a pensar numa histórica greve geral, da nascente classe operária brasileira no início do Séc. XX, sendo o movimento fortemente marcado por uma influência anarquista.

nada disto!

não passou de um cortejo pacato, silencioso e disciplinado de trabalhadores, com as bandeiras negras simbolizando o luto e respeito pela morte de um poderoso industrial paulistano. mais um lamentável exemplo da tradicional "passividade de nosso povo", incapaz de sair às ruas para lutar por seus direitos.


aparentemente uma insurreição popular ocorrida no início do séc. XX no Rio de Janeiro, contra a vacinação em massa de uma população tratada como se fosse gado.


impressão equivocada!

trata-se de arruaça promovida pelos black bloc de então, tendo como único propósito desestabilizar um governo-companheiro do povo.


para quem observa rapidamente a foto acima, poderia até supor tratar-se de um combativo contingente de hermanos presentes no Ocupa Brasília em 24-MAI-2017, a fim de impedir as reformas regressivas neoliberais do Governo usurpador brasileiro, num admirável movimento latino-americano de solidariedade obrera.

errado!

fomos nós mesmos, brasileiros, antes do setor majoritário da Esquerda (Lulismo) canalizar o movimento de massas para a centralidade de uma pré campanha de uma hipotética Eleição de 2018, sem haver qualquer programa mínimo definido e na qual um sub judice pré candidato será a única chance de salvação do Brasil. 


vídeo: It's a wrap - Putin visits Syria, sorts shit out


ao assistir o vídeo acima é possível chegar a uma errônea conclusão: a Síria manteve sua soberania e conservou sua unidade territorial apenas em virtude de uma encarniçada resistência armada e do apoio logístico e militar fornecido por Putin. e esta seria uma grande lição a ser assimilada também por nós no Brasil.


nada disto!

a vitória sobre o terrorismo patrocinado pelo Império se deu justamente por não ter caído na armadilha de resistir. e também por sua sábia e corajosa decisão de ter convocado enésimas coletivas de mídia para denunciar a insuportável, infame, calamitosa intervenção dos Estados Unidos em sua autodeterminação.
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26 dezembro 2017

os Brasis: viva la muerte

26/12/2017


Das Kapital

todos nós já deveríamos estar fartos de saber que toda a riqueza gerada pelo Capitalismo, em seu monumental desenvolvimento das forças produtivas, é apenas para ser destruída em suas ainda mais monumentais crises cíclicas desembocando em guerras catastróficas.

se para os capitalistas o direito à propriedade é sagrado, para o Capitalismo o único princípio e fim é a acumulação. uma acumulação pura e simplesmente pela acumulação: contínua e infinita.

mesmo que para a continuidade desta acumulação hajam etapas de destruição devastadora de capital fixo e variável, tanto meios de produção quanto força de trabalho. para o Capitalismo nada é sagrado, nem a propriedade e nem mesmo os próprios capitalistas.

ainda que recursos materiais finitos coloquem um limite intransponível para uma acumulação projetada como infinita. como resultado desta contradição insuperável há uma insanável disfuncionalidade.

a impossibilidade de acumulação contínua e infinita, num estágio de completa financeirização globalizada, conduz à imposição de uma total destruição do conjunto das forças produtivas, numa derradeira e inútil tentativa do Capitalismo se auto-reciclar através da aniquilação da sociedade e do próprio planeta.

após esta crise terminal, e sua guerra definitiva, já não haverá Capitalismo. tampouco humanidade...

muito mais do que um regime de produção, o Capitalismo é um modo de predação e destruição. o que o Capitalismo produz é a loucura e a morte.

bye bye, Brasil

a desestruturação provocada pelo Golpeachment é completa e sem retorno.

o Brasil está sendo reconfigurado como uma neo-colônia semi-escravocrata, combinando plataforma de valorização do capital financeiro com porto concentrador de exportação de commodities. somente restará lugar para uma residual industrialização, um pequeno mercado interno e um baixo índice populacional.

como encaixar uma sociedade complexa, com mais de 200 milhões de habitantes, para se reduzir a um modelo tão restrito?

num quadro de continuada estagnação sem qualquer perspectiva de recuperação, os empresários se valem da contra-reforma trabalhista para ao menos minimizar a queda em seus lucros. mas as demissões em massa, com objetivo de recontratação como trabalho precarizado e intermitente, não  limitam seu efeito a uma redução de custo. a medida que se difundem, tornam-se também um fator de contração da demanda.

se para o setor exportador os gastos com mão-de-obra impactam apenas seus custos operacionais, já o empresariado cuja demanda provem do mercado interno sofre um nocivo efeito colateral. ao ser atingido diretamente na sobrevivência de seus negócios, em virtude do efeito sistêmico causado pela queda da renda geral disponível para o consumo.

tanto as contra-reformas regressivas, quanto sua realização pelo empresariado brasileiro, reproduzem as causas da estagnação econômica. acentuando-a ainda mais numa retro-alimentação negativa de exponencial esgarçamento do tecido social, levando a uma espiral crescente de violência e criminalidade.

o congelamento dos gastos públicos, a terceirização na atividade fim, o fim da CLT e da aposentadoria, acompanhados de um elenco de outras medidas regressivas, inviabilizam inclusive as tradicionais políticas sociais compensatórias. formuladas pelo Banco Mundial para impedir a miséria de se tornar fator de instabilidade social, foram adotadas sem restrições nos Programas Sociais focados dos Governos Lula e Dilma.

ao tornarem-se inviáveis estes instrumentos de sedação dos conflitos sociais, a instalação do caos é inevitável: invasão de supermercados, saque de cargas, ataques a caixas automáticos, roubo a banco postal, contrabando de armas de quartéis, sequestros relâmpagos, desabastecimento de energia, água e comida, fome, epidemias, conflagrações, morte.

ao mesmo tempo, cerca de R$ 1 trilhão dormem no overnight remunerados à uma das maiores taxas de juros reais do mundo.

ao contrário da lavagem cerebral executada pela máquina de propaganda da financeirização, o Brasil não está quebrado nem falta dinheiro, há excesso de liquidez.

a cada noite um montante exorbitante de recursos já não mais é rentabilizado através do lucro. sem qualquer investimento em atividade produtiva sua valorização se dá pelo mecanismo da dívida pública, sendo esta viabilizada por uma pesada carga tributária regressiva.

através dos impostos, os mais pobres são os que mais pagam para manter inalterado um modelo de baixo crescimento econômico, emprego insuficiente e mal remunerado e deterioração geral da qualidade de vida.

mesmo com altos impostos sugando a produtividade social, e asfixiando a atividade produtiva, ainda não é suficiente para fornecer a remuneração desejada do Capital Financeiro. chega-se assim ao puro confisco da renda, do patrimônio e dos direitos coletivos.

o Capital Financeiro é o Capital em seu estágio superior. dinheiro gera dinheiro sem passar pelo estágio de sua concretização como mercadoria ou serviço. uma mágica executada pelo Imposto. sendo o confisco o estágio terminal do imposto.

o ciclo do Capitalismo se inicia com o confisco, na acumulação primitiva, e atinge seu estado mais avançado também retornando a ele, numa forma de acumulação sintomática de sua senilidade.

ao atingir o ponto em que sua valorização já não se dá prioritariamente pelo lucro e sim pelo imposto e o confisco, o Capitalismo encontra seu beco sem saída.

a acumulação tende a se estagnar, na medida da crescente pauperização econômica causada pela continuada e acentuada expropriação. só pode ser destravada pela destruição criativa das crises e pela catástrofe das guerras.
                                                                                                  
viva la muerte!

a mitigação das contradições insanáveis do capitalismo impõe a existência de algum tipo de mecanismo de reciclagem de capitais.

sem esta reciclagem, a contínua extração de lucros e superávits provoca um esgotamento dos recursos, inviabilizando o próprio processo de exploração. ao manter indefinidamente girando seus moinhos satânicos, o capitalismo é como um parasita que acaba por matar seu hospedeiro.

esta foi a dura lição aprendida com a II Guerra Mundial, dando origem ao Plano Marshall e a reconstrução dos países derrotados. Alemanha e Japão foram desenvolvidos como polos regionais complementares ao Capitalismo Made in USA, com este reciclando seu excesso de capital na criação dos mercados europeu e asiático para sua indústria.

em 1971, o mecanismo de reciclagem sofre uma brutal alteração, para ter prosseguimento de forma invertida. a China passa a reciclar seu superávit comercial através do financiamento do déficit norte-americano, aplicando em títulos do tesouro dos EUA, enquanto este fornece o mercado para a indústria chinesa.

com a Crise de 2008, a reciclagem mundial de capitais entra em colapso definitivo e o Capitalismo financeirizado se torna completamente disfuncional, já sem qualquer mecanismo para o salvar de si mesmo.

o Welfare State europeu é destroçado pelas contra-reformas neoliberais. os recursos naturais e as empresas sul-americanas são tomados de assalto. o genocídio africano se acentua. regiões são desestabilizadas. populações inteiras se tornam refugiadas. a financeirização se impõe. bancos são salvos. imigrantes atirados ao mar. globalizam-se as guerras localizadas. avança a expropriação de direitos. o Estado se torna pós-Democrático. o terrorismo se expande.

as sinistras caravanas de camionetes carregando mercenários encapuzados, com bandeiras negras desfraldadas, em cortejo para mais uma execução em massa, sempre ritualizadas com requintes de crueldade, cuja gravação é viralizada na web como instrumento de terror psicológico, são o símbolo de uma época de culto à destruição, à guerra, à loucura e à morte.

longe de ser uma aberração, o Daesh é a expressão mais explícita e contundente do grau de patologia do Capitalismo contemporâneo. o terror pelo terror, a destruição pela destruição, a morte pela morte.

se a Guerra sem Fim se tornou o hardware no qual se processa atualmente o Capitalismo, o terrorismo vem a ser a continuidade infinitamente capilar desta guerra, não importa por qual meio. sem qualquer limite de atrocidade, toda crueldade se justifica com o objetivo de perpetuar uma permanente síndrome de pânico mundial.

não há saídas, apenas portais de entrada

a Batalha do Brasil se trava neste cenário global de desintegração. por toda parte, as saídas tradicionais se fecharam. é preciso abrir um portal de entrada para um novo ciclo.

a Belle Époque dos anos dourados do Capitalismo fordista e keynesiano jamais retornarão. as circunstâncias históricas da "Carta ao Povo Brasileiro" nunca mais se repetirão. o Capitalismo globalmente financeirizado declarou guerra à humanidade e ao planeta, conduzindo em escala mundial um campanha genocida de extermínio contra todos nós.

o Golpe de 2016 apenas atirou o Brasil num deserto do qual ele jamais havia saído, a não ser nas óbvias manipulações estatísticas do marketing político e nas complacentes auto-ilusões que antecedem as derrotas.

é neste deserto plano, sem perspectivas e sem referenciais de rumo, que o movimento deve fazer-se. o único mapa do caminho será fornecido pelo próprio deslocamento.

- não há nenhuma burguesia nacional no Brasil;
- o setor dominante no Brasil (banqueiros, rentistas, exportadores de commodities) é indissociavelmente sócio minoritário dos mega interesses globalizados;
- desta aliança decorre a fragilidade estrutural da Democracia brasileira;
- por isto historicamente a via do reformismo sempre se mostrou inviável para a transformação social no Brasil;
- a radicalização da luta política não é questão de escolha, e muito menos de vontade, e sim a única alternativa frente às circunstâncias;
- ou lutamos ou não sobreviveremos. ou se devora ou se é devorado. só a Antropofagia nos une.

gracias à la vida! muera la muerte!

bibliografia:

- "O Minotauro Global", Yanis Varoufakis.
- "O Governo do Homem Endividado", Maurizio Lazzarato.
- "Além do PT", Fabio Luis Barbosa dos Santos.

vídeo: ¡Viva la vida, muera la muerte!


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23 dezembro 2017

A Guerra da água: Caxambu e Cambuquira (4)

23/12/2017


a privatização das águas minerais de Caxambu e Cambuquira

o Governador de Minas Gerais, Fernando Pimentécio (Pimentel + Aécio), do PT, continua com sua luta para privatizar o envase das águas minerais de Caxambu e Cambuquira.

Leilão inicialmente marcado para o dia 20/12  foi suspenso por liminar concedida na primeira instância. imediatamente Pimentécio (PT) recorreu.

numa decisão relâmpago, às vesperas do Natal e em pleno recesso do Judiciário, Desembargador do TJ-MG declara nulidade da liminar, em decisão eivada de ilegalidades, por inclusive aplicar artigo do CPC de 1973 já alterado pelo CPC de 2015.

além disto, transferiu a competência para a Justiça Federal.

o governador-companheiro Pimentécio não perdeu tempo e já remarcou data do leilão para 27/12.

cumpre destacar que pelas regras em vigor:

- a ONG Nova Cambuquira, autora da ação cautelar, tinha que ser ouvida antes de qualquer decisão, em cumprimento ao princípio constitucional do contraditório (Art. 123, §2º, CPC 2015);

- tratando-se de caso de aplicação da incompetência absoluta deve ser aplicado o Art. 64 (CPC 2015), pelo qual a regra é a manutenção da decisão (§4º), conservando seus efeitos até que outra decisão seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente.

após o Rio de Janeiro, cidade e estado, terem sido desestruturados por procuração através das alianças espúrias com o PMDB de Sérgio Cabral, Pezão e Eduardo Paes, agora é a vez de Minas Gerais experimentar diretamente o modo Lulista de governar.

Pimentécio é um Governador que muito prometeu e quase nada até agora honrou. um Governador que escalona e atrasa o salários de servidores públicos. um Governador que não cumpre acordo firmado com os trabalhadores em educação.

um Governador que não cumpriu sua promessa de auditar os governos anteriores, de Aécio e Anastasia, sabidamente envolvidos em diversas irregularidades. dentre estas um helicóptero com 450kg de pasta base de cocaína.

o escândalo do nióbio

Pimentécio também permanece complacente com os possíveis prejuízos causados pela CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração) ao governo de Minas na exportação de nióbio, cuja jazida em Araxá é propriedade da CODEMIG.

há indícios que o mineral esteja sendo vendido a valores subfaturados, com as subsidiárias no exterior da CBMM revendendo para o resto do mundo com valor maior do que o faturado no Brasil, o que reduziria a participação do governo de Minas nos resultados da empresa.

em inquérito aberto pelo MP em 2013, que prossegue devagar quase parando (ao contrário de liminares relâmpago concedidas à CODEMIG para assegurar a privatização das águas minerais), questiona-se o motivo da CBMM, integrante do Grupo Moreira Salles, manter até hoje o privilégio de extrair sem licitação um mineral considerado dos mais estratégicos do mundo.

até 2009 a CODEMIG era uma empresa de economia mista, e foi Aécio Neves quem a converteu para empresa pública. agora Fernando Pimentel privatiza o que Aécio estatizara, com uma nova abertura de capital da CODEMIG, sem qualquer definição de como os recursos obtidos serão utilizados.

a resistência dos Guardiões das Águas

a população que habita a Floresta Amazônica é conhecida como Os Povos da Floresta. a floresta é seu habitat, sua fonte não apenas de sobrevivência como também de cultura. sem a floresta aquele povo perde sua identidade.

nós que vivemos na Serra da Mantiqueira, onde as pedras vertem água mineral com poder curativo, somos nós Os Povos da Água. é a água o elemento que nos une como Povo. portanto, nada mais justo e necessário nos tornarmos, cada um de nós, pessoas, entidades ou instituições, Os Guardiões das Águas.

em razão deste sentido e de acordo com este fundamento, Os Guardiões das Águas é um movimento aberto para integrar e organizar todos os que lutam pelas águas na região do Sul de Minas Gerais.

a preciosidade única que são as Águas de Caxambu e Cambuquira está sob ameaça de ser perdida. e perdida não apenas por nós, como principalmente pelas gerações futuras, que sequer chegarão a conhecê-la tal qual como hoje a vivenciamos.

as duas cidades estão unidas na luta, com diversas atividades e mobilizações já realizadas nos últimos meses.

o movimento Os Guardiões das Águas propõe que seja adotado um modelo de Gestão Social, não apenas no caso de Caxambu e de Cambuquira, como para Águas e Parques de todo o circuito do Sul de Minas.

para implementar esta Gestão Social deve-se formar um Conselho Gestor intermunicipal para as Águas e Parques. um Conselho com poder deliberativo para traçar a estratégia de longo prazo e acompanhar sua execução.

na composição deste Conselho Gestor devem estar: CODEMIG, Prefeituras, Câmaras Municipais e entidades da sociedade civil organizada. garantindo assim a participação de um amplo e representativo leque de setores sociais.

devemos nos inspirar no modelo da Noruega.

a Noruega se tornou um país próspero e com baixa desigualdade social justamente pelo modelo que adotou para a exploração da cadeia de gás e petróleo, do qual é grande produtora. a espinha dorsal responsável pela gestão e planejamento é estatal. nela se integram várias empresas privadas atuando como fornecedoras.

além disto, como é um recurso natural não renovável, parte dos lucros obtidos são depositados num Fundo Soberano, para também as futuras gerações serem beneficiadas.

a partir deste modelo de Gestão Social, as Águas e Parques passam a ser os grandes geradores de qualidade de vida, capazes de proporcionar saúde, trabalho, renda, cultura e todo tipo de prosperidade para o conjunto da comunidade.

só assim Águas e Parques serão um coração pulsando, enviando vida para todas as cidades e para todos que nelas vivem.

"A Terra é a mãe de tudo que é vivo. A água é o sangue da mãe Terra. É através deste sangue que vivemos."

NÃO à privatização da água!
por uma Gestão Social das Águas e Parques do circuito do Sul de Minas!
somente a luta muda a vida! unidos somos muito mais fortes!

artigos anteriores:


assine a petição:


vídeo: NÃO à privatização da água


vídeo: ONGs estão preocupadas com possível privatização no Circuito das Águas


vídeo: Cambuquira: Lei da doação do Parque das Águas ao Município


vídeo: Cambuquira: A Água é do Povo - DEZ/2017


vídeo: Os Guardiões das Águas: Vivenciar o Parque 11-12/09/2017


vídeo: Os Guardiões das Águas - Depoimentos


vídeo: A Guerra da Água: Audiência Pública BH - 13/06/2017




20 dezembro 2017

os Brasis: dentro do labirinto

20/12/2017


cronologia de mais uma capitulação voluntária:
(de como um movimento ascendente reflui em prol do pacto impossível)

muito embora a sucessão de eventos muito bem sucedidos, marcando uma forte ascensão do movimento de massas, numa notável integração de resistências locais num poderoso movimento nacional, por que mais uma vez tudo refluiu subitamente?

15-MAR: grandes manifestações contra as reformas regressivas;
28-ABR: Greve Geral.
10-MAI: Ocupa Curitiba;
17-MAI: vazamento da delação da JBS;
24-MAI: Ocupa Brasília;

28-MAI: Diretas Já, no Rio;
04-JUN: Diretas Já, SP;
11-JUN: Diretas Já, Salvador;
11-JUN: Diretas Já, Recife;
16-JUN: Diretas Já, BH;

{corte}

22-MAR: aprovação da terceirização;
30-JUN: Greve Geral esvaziada;
11-JUL: Senado aprova contra-reforma trabalhista;
12-JUL: condenação de Lula, na primeira instância;

- a cada vez que o movimento de massas de levantou contra o golpe a Ex-querda e o Lulismo operaram para revertê-lo. um golpe não pode ser derrotado pela via parlamentar. apenas um amplo movimento de massas é capaz de fazê-lo;

- no Ocupa Brasília, em 24-MAI, ao chegar na Praça dos Três Poderes a gigantesca manifestação pacífica foi violentamente atacada pela repressão. mas boa parte dos manifestantes não se intimidou. chegaram mesmo a fazer recuar a cavalaria. a partir de então a Esplanada se tornou área conflagrada. ao final do dia Temer acionou a GLO (Garantia da Lei e da Ordem). por este dispositivo jurídico fica autorizado o uso das Forças Armadas como tropas de ocupação. ao invés de proteger a soberania nacional, são usadas para reprimir a própria população. entretanto, a regulamentação do dispositivo da GLO se deu  através da Portaria 3.461, assinada por Celso Amorim em 19/12/2013, ainda no Governo Dilma, que se valeu da GLO em diversas ocasiões, como no leilão do Campo de Libra do pré-sal e na ocupação militar do Complexo da Maré (RJ). sob cerco e desmoralizado, o governo usurpador recuou e no dia seguinte revogou a GLO em Brasília. ainda assim, após o Ocupa Brasília a Ex-querda esfria sua ênfase na convocação de novas grandes manifestações de rua, demonstrando jamais ter pretendido contrapor o golpe com um amplo movimento de massas. nem agora, nem antes, nem depois, nem mais tarde;

- apesar de terem mobilizado multidões, as manifestações pelas "Diretas Já" não despertaram grande entusiasmo na cúpula da Ex-querda, para quem o "Fora Temer" jamais passou de bandeira circunstancial, sem jamais ganhar prioridade sobre a campanha pelo "Lula-lá em 2018". ao esvaziar a luta por "Diretas Já", postergando um movimento absolutamente necessário, a Ex-querda reafirma sua função desmobilizadora e despolitizadora, ao acorrentar a luta contra o Golpe de 2016 a uma agenda puramente eleitoral. não há, nem nunca existiu, nenhum compromisso da Ex-querda em anular o impeachment. sua estratégia é unicamente focada nas Eleições de 2018 e na candidatura de Lula;

- mesmo a maior greve geral já realizada no Brasil, 28-ABR, não foi suficiente para deflagrar um poderoso ciclo de grandes manifestações de massa, para derrubar nas ruas o processo de confisco de direitos, o qual vem a ser um dos principais objetivos do Golpe de 2016. ao contrário, a Ex-querda sempre se conservou obediente à sua função de manter sob rígida tutela os movimentos de luta direta, para estes nunca romperem a fronteira rumo a um confronto aberto com os interesses políticos e econômicos responsáveis e beneficiados pelo Golpeachment. em plena apropriação brutal e selvagem da renda e do patrimônio público, persiste a intenção de renovação dos falidos pactos de conciliação;

- cada recuo tático concreto se inscreve como parte da estratégia de um acordo imaginário existente apenas no desejo do Lulismo por ainda mais uma conciliação, sempre na tola suposição de uma absolvição de Lula. se a condenação na primeira instância deveria ter sido a definitiva queda no deserto do real, persistiu o Alzheimer político. ficou patente não haver nenhum plano B, nenhuma intenção de romper com a lógica do calendário eleitoral, nada além da via institucional e parlamentar. com a antecipação relâmpago do julgamento do recurso da defesa no TRF-4, marcado para 24-JAN-2018, exatamente um ano após o AVC fatal de Marisa Letícia, o Lulismo parece ter sido novamente pego de surpresa, apesar de todas as evidências em contrário apontarem para a confirmação do pior cenário. no caso de Lula ser preso, o que o Lulismo apresenta como proposta de ação concreta?

- a melhor maneira de superar o Golpe de 2016 não é através da defesa de Lula e de sua candidatura. ao contrário, a melhor maneira de defender Lula e sua candidatura é a luta para superar o Golpe de 2016 através da anulação do impeachment e de todas as contra-reformas regressivas do governo usurpador;

- enredado em contradições de sua estratégia e incapaz de se adaptar uma nova conjuntura global, o Lulismo insiste no sonho impossível de reeditar a aliança firmada em 2003, numa vã pretensão de reconquistar a confiança da plutocracia, para novamente ser nomeado gestor do capital alheio. mas já não há gestão possível, senão a da execução de um brutal processo de expropriação de renda e patrimônio público. viciado em apenas instrumentalizar os movimento sociais, o Lulismo age como se estivesse negociando um novo pacto, enquanto na verdade nunca esteve. e nem poderia. a lumpenburguesia brasileira (banqueiros, rentistas e exportadores de commodities) não precisa de qualquer conciliação. exige rendição incondicional. sócia minoritária, e satisfeita, dos mega interesses globalizados, se coloca como gestora da contra-revolução permanente: a travessia da Ponte para o Futuro com objetivo de consolidar no Brasil a condição neo-colonial e semi-escravocrata. não há, e nunca existiu, nenhuma "burguesia nacional" no Brasil;

após mais um refluxo do movimento de massas, continuamos vagando dentro de um labirinto sem qualquer saída. sem construir um portal de entrada para um novo ciclo, continuaremos caindo cada vez mais fundo no abismo do Golpe de 2016. nenhuma luz se erguerá deste túnel sem fim, apenas as trevas ainda mais devastadoras de um neo-fascismo.

{memória: não é de hoje...

quando eu era bem jovem, todos éramos muito envolvidos com a luta pela redemocratização, com o PT e a CUT.

diante de tanto entusiasmo, um chefe de equipe (ainda não se chamavam "gerentes") do meu local de trabalho me chamou prá conversar. naquela época, uma diferença de 15 anos fazia o interlocutor nos parecer um "velho senhor".

ele me contou ter em 01/04/1964 atendido à convocação para a resistência popular ao golpe. bem cedinho pela manhã foi para a Pça. Mauá, centro do Rio de Janeiro. em frente à Rádio Nacional, já havia uma multidão. a orientação era para aguardarem as armas, pois já estavam chegando.

então ele aproximou seu rosto, para com os olhos umedecidos e a voz embargada me dizer: "As armas nunca chegaram..."

nunca me esqueci. jamais esquecerei.

}

não se deixe enganar: parece, mas... é mesmo exatamente o que parece

para quem observa rapidamente a foto abaixo, poderia até supor tratar-se de um combativo contingente de hermanos no Ocupa Brasília em 24-MAI-2017, a fim de impedir as reformas regressivas neoliberais, num admirável movimento latino-americano de solidariedade obrera.

nada disto!

fomos nós mesmos, brasileiros, antes do setor majoritário da Esquerda canalizar o movimento de massas para a centralidade de uma pré campanha de uma hipotética Eleição de 2018, sem haver qualquer programa mínimo definido e na qual um sub judice pré candidato será a única chance de salvação do Brasil.



vídeo: Cavalaria da PM ataca manifestantes em Brasília


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