30 abril 2018

Brasil em Transe: delírio coletivo

30/04/2018

após mais de três semanas da rendição voluntária de Lula, um dos episódios mais deprimentes e humilhantes da História do Brasil, acentua-se um delírio coletivo incessantemente retroalimentado pela lavagem cerebral do Lulismo: "repetindo Lula Lula Lula Lula Lula... umas cem vezes por minuto."

quanto mais se alucina Lulinha Paz e Amor como o Salvador da Pátria, mais a realidade dos fatos responde com sua completa inapetência para tal.

pois "o cara" não tem nem o vigor físico, nem o perfil psicológico, nem a postura política e muito menos a estatura ética para liderar uma guerra de libertação.

ainda assim, a Ex-querda não tem a coragem política de encarar as respostas, e menos ainda de fazer as perguntas impostas pela conjuntura.

se continua silenciosamente no ar a inconveniente questão jamais respondida, "Onde está Cunha?", a ela agora se deve agregar "Onde está Lula?".

o prisioneiro que ninguém consegue visitar ainda estará vivo? está mesmo na PF em Curitiba? quais suas reais condições de saúde física e psicológica? afinal, qual é?

as reportagens de Renato Rovai revelam aquilo desde décadas sabido: a decisão de não resistir sempre tem sido do próprio Lula - ao menos desde o segundo turno das Eleições Presidenciais de 1989, a primeira por voto direto após o Golpe de 1964.

como foi escolha do próprio a estratégia de conciliação permanente para viabilizar um projeto de hegemonia às avessas: curvar-se a quase totalidade das exigências de uma minoria, para tentar se legitimar pela concessão de alguns poucos benefícios para a maioria.

foi através desta promíscua conciliação de classes o caminho pelo qual o Lulismo pretendeu levar o precariado brasileiro ao paraíso da inclusão social.

hoje esta ilusão jaz solitária numa "cela especial" de porta destrancada.

ou será que não?
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24 abril 2018

Brasil em Transe: recobrando a consciência

24/04/2018

"E como esperança tem que ser cultivada sempre, até a vitória da moça de esquerda que grita “Lula livre” no BBB tá valendo: “Agora vai”."


em meio a uma acentuada crise econômica, tudo sob o céu está mergulhado no caos. os de cima já não podem governar como antes. enquanto os de baixo já não suportam sê-lo, sendo empurrados para uma ação histórica independente.

todas as razões para uma revolução estão aí. mas não são as razões que fazem as revoluções. são as pessoas. e seus corpos estão imobilizados diante de telas e mais telas. à espera.

esperando o quê? talvez pela revolução...

na tarde do dia de ontem, um amigo muy amigo comentava em lamúrias: "Eu sinceramente esperava neste início de ano uma explosão social..."

mas como poderia haver explosão, se a cada vez que o pavio é aceso, com a fagulha prestes a enfim detonar a ignição, logo são despejados duchas de água fria, resignação, apatia, conformismo, capitulação, rendição, antes mesmo de iniciada a luta?

durante o almoço um grupo debatia calorosamente um artigo:

"A crítica às estruturas autoritárias, à burocratização e ao engessamento das organizações tradicionais da esquerda certamente é justa é necessária, assim como a demanda por maior horizontalidade, espaço para a manifestação das diferenças e recusa à posição de massa a ser manobrada."

balancei diversas vezes a cabeça, expressando minha concordância.

entre nós mais uma vez um espectro rondava. sem ninguém capaz de conjurá-lo, sua presença novamente provocava tremores diante da idéia de uma Revolução.

numa tela conectada a web, eu relia aquele mesmo texto: "É preciso partido, sindicato, associação, movimento organizado. Sem eles, operamos no vácuo."

mas como, pensei? se são justamente os partidos, os sindicatos, e mesmo os movimentos organizados, aqueles que por suas formas autoritárias, engessadas e burocratizadas criam o vácuo, sem o oxigênio vital para a explosão social?

como muitas vezes antes nas décadas passadas, não podia deixar de contrapor "Aos Nossos Amigos":

"Depois de um século de querelas sobre o tema “espontaneidade ou organização”, é preciso que a questão tenha sido muito mal posta para que não se tenha encontrado ainda uma resposta válida.

Este falso problema assenta sobre uma cegueira, uma incapacidade para apreender as formas de organização que se escondem, de maneira subjacente, em tudo o que chamamos “espontâneo”.

Só que nós aprendemos a não ver formas naquilo que se vive. Uma forma é para nós uma estátua, uma estrutura ou um esqueleto, em caso algum um ser que se move, que come, que dança, canta e se amotina."

durante a reunião, chegou-se a um consenso: "É preciso de organização e de liderança para produzir ação coordenada, sustentada além do calor do momento e com efetividade."

resgatada a antiga bandeira da organização pela base, como novamente voltar a desfraldá-la? afinal, o que é liderar? como conscientizar o povo?

mas não é a consciência que deflagra a luta, como se desta fosse a condição prévia e indispensável. e sim a luta gera a consciência.

e são as aviltantes condições de vida que impõe a necessidade da luta, como a única forma de transformá-las.

do fundo da sala, um jovem rebelde e iconoclasta berrou: "Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência."

não cabe a vanguarda levar consciência às massas, como se fossem catequistas evangelizando pagãos, para através do poder da palavra convertê-los à condição de militantes organizados.

nenhuma base social jamais ganhou consciência por causa de belos discursos, mesmo com as mais sólidas argumentações e as mais exortativas palavras de ordem.

é em seu processo de auto-organização, na luta por melhores condições de vida, que a sociedade transforma a si mesma.

cabe a vanguarda ser catalisadora deste processo, sempre se colocando a serviço dele. pois nele a consciência política dá saltos gigantescos!

assim, não há nenhum "povo" a conscientizar. quem gera consciência é a luta. é na luta que se estabelecem outras relações sociais. portanto é a luta quem cria o seu Povo.

"o povo se politiza pela experiência vivida do projeto de sociedade e se despolitiza por sua ausência."
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Brasil em Transe: paralisia progressiva

24/04/2018


a esclerose lateral amiotrófica é uma grave e cruel enfermidade degenerativa. tida como incurável, progressivamente impede os movimentos.

a cabeça ordena, mas as pernas não obedecem ao comando. por mais que a consciência lhe convoque à ação, o corpo não pode responder.

pouco a pouco, a cada dia, a degeneração dos neurônios motores se acentua, levando a força muscular a se debilitar.


metáfora de um Brasil sendo imobilizado pelo Imperium. e ainda acham que o fascismo à la Brasil será BolsoNazi... não! será Etchegoyen.

a desmoralização das FFAA no Rio é humilhante.

e nem podia ser diferente, posto que o Comandante-em-Chefe do governo usurpador é um general sionista, respondendo diretamente ao Imperium Anglo-SioNazi.

é por isto que executaram Marielle, derrubaram as barracas da Vila Kennedy, e prenderam "exitosamente" 159 homens numa festa, todos supostamente milicianos. para mostrar quem manda nas FFAA, cujo atestado de óbito foi passado com a prisão do Almte. Othon.

- o fascismo à la Brasil é filho dileto do moribundo Imperium Anglo-SioNazi, como a sua nova Terra Prometida: fértil e ensolarada, gigantesco pré-sal, rica em recursos minerais, especialmente água e metais raros, e muita biodiversidade;

- Fachin News do "com o STF com tudo", um dos 13 indicados pelo Lulismo, continua desempenhando seu script na farsa dos Golpes dentro do Golpe;

- avançamos em marcha acelerada de volta a mais uma cabalística sexta-feira 13, em dezembro de 1968;

- não sou detetive. não estou brincando de ser. a quantas anda a investigação da execução de Marielle? foi uma pistola em modo "rajada"? usou-se silenciador? foi um exterminador canhoto? foram tiros em trajetória descendente?

p.s.: quem continua não apenas sob intensa ameaça, como já sofrendo duros ataques, somos nós! abandonem toda e qualquer ilusão quanto a ser possível superar o Golpe de 2016 através da via eleitoral. quem quiser sobre-viver vai ter que sair às ruas. e mesmo assim, sem garantia alguma de êxito.

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20 abril 2018

Brasil em Transe: o esgotamento da espera

20/04/2018


o homem velho espera. sentado e apoiado em sua bengala. com sua barba branca, com seus cabelos brancos, ele espera. pacientemente. espera por algo que não vai acontecer. ele sabe disto. ainda assim, ele espera. pacientemente. solitariamente.

enquanto o homem velho espera, o Brasil se fragmenta. como um cadáver abandonado em meio a caminho algum, o tecido social apodrece.

o homem velho sabe disto. mas ele espera. solitariamente. pacientemente.

espera pela redenção reunificadora de uma unidade que jamais existiu. espera pela ressurreição do que jamais esteve vivo.

espera por um futuro que já desabou. espera num presente interditado pelo desmascaramento da cumplicidade entre o medo e a esperança.
                                                                                                                 
toda e qualquer expectativa se tornou fútil, e mesmo desnecessária, pois já surge como quebra e reversão de si mesma.

mas ele espera. não vai acontecer. ele sabe disto. ainda assim, espera. pacientemente. solitariamente.

espera, espera e espera.
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19 abril 2018

Brasil em Transe: necropolítica

19/04/2018


04/11/2017: do mesmo modo que Lula se agigantou até se transformar num mito, acabando por se sobrepor ao  PT, talvez agora o Lulismo tenha se tornado tão hegemônico a ponto de Lula não mais conseguir separar-se dele.

o Lulismo se converteu num tipo de necropolítica: para fazer viver o mito é preciso deixar morrer o homem.

não a celebração da vida na luta de resistência junto com a multidão, mesmo que disto resulte a morte heróica, mas apenas a apologia da morte em vida, no isolamento depressivo de uma prisão solitária.

os necrófilos Lulistas querem Lula morto, pois só com o martírio se completa a construção do mito Lula.

em sua repulsiva estratégia de marketing político, não lhes basta a prisão, precisam do cadáver.

se jamais quiseram “incendiar o país", provocando a tão temida convulsão social, seu objetivo é manter seu eleitorado cativo e inerte, sob intensa comoção social.

uma engenharia psico-social de controle e manipulação de corações e mentes, executada como o seu grande trunfo para as Eleições de 2018, apesar destas serem tão improváveis quanto certamente viciadas.

parlamentares, lideranças populares, analistas políticos, intelectuais e artistas, ativistas e apoiadores, todos enfim unidos num pacto de anomia em torno do Grande Irmão, para neste redemoinho macabro a Ex-querda forjar o dicionário da Novilíngua do Lulismo:

- deixar-se levar nos ombros do povo para uma entrega voluntária para a PF é ícone Ubuntu;

- rendição é luta:


- apodrecer numa solitária é liberdade;

- morte é vida.

consummatum est.
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18 abril 2018

Brasil em Transe: derramamento de sangue

18/04/2018

"É justamente isso que querem, que nós imaginemos que toda resistência levará ao sangue derramado, enquanto eles seguem derramando, e depois, se de fato houver sangue derramado por uma causa política (nossa), será nossa culpa."

tanto os que capitulam sem luta, em nome do "não derramamento de sangue", quanto aqueles que clamam pelo "derramamento de sangue" em nome da luta, ambos estão equivocados.

a capitulação sem luta leva historicamente a um banho de sangue, promovido por ditaduras sanguinárias em longos anos de chumbo.

e não é necessário nenhum outro "derramamento de sangue" além daquele que aqui sempre aconteceu.

o genocídio do povo negro e pobre, o extermínio dos indígenas, a perseguição aos LGBT, a subjugação das mulheres, as execuções das lideranças dos trabalhadores, o sufocamento das revoltas, o esmagamento das rebeliões.

um massacre contínuo do Povo Brasileiro.

imiscuindo-se de modo vil e insidioso também no cotidiano, com o aniquilamento da vontade de viver, a mediocrização dos sonhos, a pauperização dos projetos, a imposição da resignação e da apatia.

portanto, não se trata nem de evitar e muito menos de provocar o "derramamento de sangue". se trata de interrompê-lo.

este sangue permanentemente jorrando das veias abertas de um país e de sua população.

e não será através da covardia fantasiada de ponderação, tampouco da insensatez disfarçada de heroísmo, que será possível estancar esta hemorragia.
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16 abril 2018

Brasil em Transe: lavagem cerebral

16/04/2018

a lavagem cerebral do mantra do Lulismo: "Enfia na sua cabeça repetindo Lula Lula Lula Lula Lula... umas cem vezes por minuto. Acho que assim funciona."

na frente de uma multidão conclamando por sua resistência, a rendição voluntária de Lula é um dos episódios mais deprimentes e humilhantes da História do Brasil: uma derrota fragorosa e de difícil superação.

a conciliação de classes levada a efeito pelo mito Lula hoje jaz numa solitária em Curitiba, com o detalhe irônico de que a cela não tem sequer chave. um supremo deboche da História de como a maior liderança popular já surgida no Brasil acabou aprisionando a si mesma, e ao país, numa masmorra de porta destrancada.

apesar das diversas hipóteses conspiratórias, a decisão de não resistir foi do próprio Lula, rejeitando todas as alternativas a ele apresentadas, desde o asilo numa Embaixada até a convocação de caravanas nacionais para colocar dezenas de milhares de pessoas acampadas na frente do Sindicato em S. Bernardo.

estive neste último Domingo numa reunião preparatória para o Congresso do Povo, proposta encaminhada pela Frente Brasil Popular (ligada a Lula, aliás ligada umbilicalmente). pude constatar na análise de conjuntura apresentada pelo MST um nível inacreditável de esquizofrenia política.

por exemplo:

- afirma-se simultaneamente que caso necessário vão "arrancar Lula da prisão", para logo em seguida se garantir que não havia condição de ter resistido.

ou:

- ao mesmo tempo em que se reconhece como o maior erro cometido o abandono da organização pela base e a não politização das lutas, declara-se que não houve com a prisão de Lula a tão espera "convulsão social". mas como poderia ter havido, se o trabalho de base nunca foi feito, se nunca se politizou as lutas e se, ainda pior, Lula jamais convocou o povo a resistir e à sublevação, nem sequer quando a multidão espontaneamente se colocou como escudo humano para protegê-lo.

a verdade é que as bases queriam resistir, mas nem Lula tampouco as principais lideranças do PT,da CUT, MST, parlamentares, governadores e, obviamente, advogados nunca tiveram a menor intenção de fazê-lo.

talvez só admitam o erro quando enfim firmarem algum sórdido acordo, cuja única consequência prática será afundar ainda mais o Brasil neste abismo sem fundo que nos traga a todos.

ou quando Lula estiver morto.

pensando melhor, provavelmente nem assim. vão continuar em coro "repetindo Lula Lula Lula Lula Lula... umas cem vezes por minuto".

como majoritariamente se persiste no autoengano, prosseguimos no rumo de um ainda maior e mais atroz sofrimento. a depressão, tanto econômica quanto psicológica, já está a pleno vapor, as doenças se agravam e começam as falências e os suicídios.

mas a autoilusão está ótima, obrigado.

o Lulismo tornou-se um tipo de necropolítica. a Ex-querda brasileira nunca precisou de inimigos, ela mesma se encarrega de se exterminar.

passem bem.

vídeo: Brasil em Transe: Rendição Voluntária

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10 abril 2018

Brasil em Transe: o parto das lideranças

10/04/2018


nota: escrito a partir do Lula, a foto símbolo e a força cósmica do Ubuntu, Luis Nassif em 08/04/2018.

sobre os três princípios do Ubuntu citados no artigo:

- "Todas as pessoas são valiosas em si mesmas", portanto não é nenhuma liderança salvadora que vai nos redimir de nós mesmos. mas isto não invalida a decisiva função, e portanto valor em si mesmo, das lideranças;

- então tudo se dá exatamente em que tipo de liderança precisamos para "incidir na sociedade na qual vivem", fazendo pelo esforço coletivo girar a roda da História;

- e isto só se viabiliza a partir da compreensão, no sentido também de levar à ação, da "intersubjetividade inerente e constitutiva das pessoas", assim sendo também dos processos sociais.

Lula é claramente um predestinado. disto se soube desde o momento de sua irresistível ascensão logo nas primeiras greves dos metalúrgicos do ABCD, em 1978.

lideranças como Lula são resultado de peculiares circunstâncias da História, sincronizando um dom pessoal com um contexto social e político, no qual milhões de anônimos constroem coletivamente as condições objetivas e subjetivas para uma transformação, um salto qualitativo.

muito mais importante do que a liderança em si (que não precisa ser uma pessoa, podendo ser um partido revolucionário, por exemplo) é esta multidão sem nome, no seio da qual as lideranças são paridas.

eu sou porque nós somos. a grandeza, talvez a maior de todas, é se perder numa grandeza anônima.


assim há também uma energia escura que realmente mantém vivo o universo político, sem que quase ninguém disto se aperceba.

isto é Ubuntu.

uma liderança sempre deveria rechaçar a idolatria e o culto à personalidade. muitos querem ser líderes, embriagarem-se com o poder e a fama. mas os autênticas líderes tem consciência do fardo da liderança, e muitas vezes se negam a assumí-lo.

estes são dois erros comuns naqueles com o dom, e a missão, da liderança.

não se pode cobrar alguém por algo que nunca se propôs a ser. Lula nunca se propôs a ser uma liderança revolucionária. muito embora fosse exatamente isto o que a História lhe propôs e lhe capacitou para ser.

com exceção talvez do período entre 1979 e 1989, Lula sempre foi um moderado conciliador e seu projeto foi claramente reformista.

e por isto Lula deve ser cobrado.

em seu projeto reformista Lula fracassou miseravelmente. e sua prisão deveria por uma pá de cal nesta discussão.

e agora mais do que nunca fica exposto que nenhum projeto reformista no Brasil pode ser bem sucedido sem antes a lumpenburguesia brasileira sofrer uma derrota definitiva.

existem milhares de notáveis lideranças atualmente no Brasil. todas são igualmente valiosas. a maior parte delas são tão anônimas quanto aqueles que em seu círculo de atuação são sua base social.

a maior de todas as lideranças sociais surgidas após Lula é Guilherme Boulos. inclusive assemelhando-se a Lula pelo timbre da voz e o modo de entonação.

infelizmente Boulos tem dados mostras de não estar a altura dos desafios que a História lhe propõe, assim como Lula.

Boulos começa com o "pé direito" sua carreira política: caindo de paraquedas no PSOL, ungido por Lula e através de um Colégio Eleitoral, sem ser amplamente referendado pelas bases através de um processo de prévias.

a resistência de Lula no Sindicato de Metalúrgicos, em São Bernardo, não foi apenas frágil e fugaz. constituiu-se muito mais num show midiático para efeito de capitalização posterior através de um calculado marketing político.

ainda assim, a participação de Boulos foi coerente e necessária.

por outro lado, sua presença no palanque de um Lula anunciando como se fosse um gesto de heroísmo sua entrega voluntária, fazendo um discurso piegas e vazio politicamente, situado entre testamento e  obituário, foi uma prova de Boulos não parecer ainda disposto a assumir um dos mais pesados fardos da liderança: a coragem de dizer a verdade quando isto o coloca em oposição a seu próprio campo e a seus próprios companheiros.

a unidade com Lula na resistência já não seria mais possível a partir do momento em que ele decide cumprir o mandado de prisão. a partir de então, obrigatoriamente os caminhos se separam. e a ausência no palanque não apenas se justifica, como se impõe.

além de Boulos, há duas outras grandes lideranças regionais com potencial para vir a se destacarem a nível nacional. Marcelo Freixo, no Rio, e Beatriz Cerqueira, Coordenadora do Sind-UTE e presidente da CUT, em Minas.

infelizmente, Nildo Ouriques, em SC, teve um percalço momentâneo no seu caminho através do PSOL.

longe de exigir a capacidade do consenso, a liderança é a arte de amalgamar as divisões numa estratégia coordenada de ação, sem contudo eliminar as diferenças.

longe de ser a arte do possível, a política é a capacidade de tornar o impossível uma das possibilidades.

as dimensões da liderança não se limitam à sua expressão mais reconhecida como os políticos, os líderes sociais e os militares. esta é a dimensão dos guerreiros, a dimensão da força e da ação.

além desta, deve-se considerar a liderança espiritual e a liderança criadora.

a dimensão do espírito corresponde aos xamãs e pajés, aos curadores e conselheiros, aos artistas e filósofos, aos analistas e estrategistas.

à dimensão da abundância pertencem os inventores e produtores de meios de subsistência. também aqueles capazes de agregar pessoas e estruturar grupos. todos os que trabalham para estabelecer e manter fecundos os laços entre os membros de uma comunidade, e desta com o território no qual habita.

"Nós diríamos assim: toda a potência tem três dimensões, o espírito, a força e a abundância. A condição do seu crescimento é manter as três juntas.

Estas três dimensões combinam-se dando origem a formas, a sonhos, a forças, a histórias sempre singulares. Mas cada vez que uma dessas dimensões perdeu o contato com as outras para se autonomizar, o movimento degenerou. Ele degenerou em vanguarda armada, em seita de teóricos ou em empresa alternativa.

Zelar pelo crescimento enquanto potência exige de qualquer força revolucionária um avanço concomitante em cada um desses planos."

"Aos Nossos Amigos", Comitê Invisível

a história do futuro somos nós a escrevendo agora, no presente incerto e tomado pelo nevoeiro.

mas algo se insinua através da névoa...

não! não é ninguém montando um cavalo branco!

espera! é uma multidão! seriam eles? os brasileiros?

chegou o momento de revelar um segredo: já vivemos uma vez. e naquela vida fomos chamados de Brasileiros.

isto também é Ubuntu.
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07 abril 2018

Brasil em Transe: passo a passo de volta para a farsa e a tragédia

07/04/2018

passo 1: a capitulação voluntária como estratégia

na frente de uma multidão conclamando em coro "Não se entregue!", Lula decide cumprir o mandado de prisão. seu ímpeto de resistência não durou sequer 24 horas.

mais uma de suas muitas farsas, mais uma das muitas farsas da História Brasileira. sempre redundando em tragédias para o Brasil e sua população.

ao invés de fazer História junto com o povo, Lula novamente optou por produzir apenas efeitos de marketing político. cenas de alta emoção, belos mas vazios discursos, nenhuma ação.

se era para isto, para que então tudo aquilo?

ainda pior do que não convocar o povo a resistir e ocupar as ruas, é fazê-lo tão somente para recuar logo em seguida.

assim como não é admissível expor a integridade física dos manifestantes, caso haja uma violência brutal da repressão podendo causar uma tragédia, também é indigno não esgotar todos os recursos disponíveis, tornando a resistência nada mais do que um teatro, uma farsa.

em 28/10/2017: fazer-se movimento além da farsa e da tragédia, para romper com a circularidade infernal de um eterno retorno dos mesmos erros e dos mesmos fracassos, seja sob a forma da farsa ou da tragédia.        
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passo 2: o povo que falta



manifestantes bloqueiam portão do Sindicato de Metalúrgicos, em São Bernardo, e cerceiam a liberdade de Lula em exercer seu direito de se entregar espontaneamente à PF.

dos muitos mitos forjados pelo Lulismo para justificar sua estratégia de capitulação voluntária, nenhum é mais sórdido do que a concepção de sempre termos sido “um povo de frouxos”.

se a História do Brasil é escrita com o sangue dos massacres dos levantes populares, frouxa é uma liderança especializada em capitular voluntariamente, dedicada à rendição sem luta e cujo único objetivo é salvar a própria pele, mesmo ao custo de entregar a cabeça de todo um povo.

não nos falta um povo. nos falta o povo dar adeus às suas ilusões e fazer-se sua própria liderança.


salve o Povo Brasileiro! salve, salve! salve os Tamoios, os Aimorés e os Potiguares! salve Ganga Zumba! salve Palmares! salve, salve! salve Filipe dos Santos e Tiradentes! salve os cabanos, os malês e os balaios! salve os Alfaiates e os Cariris! salve, salve. salve o Almirante Negro! salve o movimento anarcosindicalista e a Coluna Prestes! salve Apolônio de Carvalho. salve Lamarca! salve Carlos Marighella! salve, salve. salve as greves do ABCD! salve a fundação do PT! salve as “Diretas Já”! salve, salve! salve Junho de 2013! salve, salve. salve a resistência ao golpe do impeachment! salve o Povo sem Medo!

salve os que protagonizaram a resistência no Sindicato de Metalúrgicos em São Bernardo!
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passo 3: o alzheimer político como modo de vida

derrota é vitória: nos braços do povo, Lula é levado para se entregar à PF e ser conduzido a uma solitária nas masmorras de Curitiba.


"Dissemos que o golpe não passaria e passou. Dissemos que a condenação de Lula não ocorreria e ocorreu. Dissemos que o TRF da 4ª Região não ousaria confrontar as massas coonestando a condenação partidária de Moro e ousou. Pensávamos que o STJ daria um freio de arrumação e não deu."

depois disseram que Lula não seria preso. e se for preso, consistirá apenas num show midiático e será libertado após pouco tempo.

agora Lula está preso. e escrevem cartas de agradecimento...

continuam apostando tudo nas Eleições de 2018, mas se elas acontecerem será como farsa.

disseram que o povo não saía às ruas. e o povo se ofereceu como escudo humano à frente do Sindicato de Metalúrgicos, em São Bernardo.

disseram que o problema era a Globo. mas a Globo não foi capaz de derrubar Temer e muito menos de impedir 4 vitórias sucessivas do PT.

não é sem motivo que o Alzheimer tornou-se uma patologia epidêmica em nossa época. progressivamente o que era comportamento disfuncional se cristaliza numa grave doença. e a doença é a última e desesperada tentativa do corpo em se auto-curar.

enquanto o Lulismo persiste em acertar o prognóstico daquilo que não tem qualquer probabilidade de ocorrer, aqui postamos desde 17/05/2015:

confesso: não tenho esperança. os cegos falam de uma saída. vejo. após os erros terem sido usados como última companhia, à nossa frente senta-se o Nada.

que a prisão de Lula ao menos sirva para se libertarem de todas as ilusões. só que não...
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passo 4: uma solução digna

no meio disso tudo, alguns evocam Lula ter encontrado uma saída digna.

digna, mas para quem?

uma digna entrega voluntária à polícia. uma digna condução até Curitiba. uma cela digna, na qual poderá dignamente passar o resto de seus dias.

a não ser que algum digno Ministro do STF conceda-lhe dignamente um digno habeas corpus.

isto sem levar em conta a quantidade de outros dignos processo que ainda dignamente pesam sobre Lula.

escuta pois: nós sabemos quem é nosso inimigo. não é com este tipo de dignidade que podemos derrotá-lo. a única dignidade que ele merece são balas dignas de um digno fuzil.


todos buscam uma saída, mas só é possível distinguir portais de entrada.

não há mais saídas. não vamos sair desta crise. nem no plano social, nem no âmbito pessoal.

ou afundamos através do portal que conduz ao Estado de exceção, materializando alguma forma de neo fascismo. ou radicalizamos o compromisso com a Democracia, refundando uma República autenticamente baseada na participação popular. e este é o único portal que pode nos conduzir a algum futuro.
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passo 5: o Brasil virou mesmo uma zona


a realidade se liquefaz e a sociedade experimenta a História enquanto acontecimento do agora. com o público e o privado entrelaçados no cotidiano e a História se construindo à vista de todos, a intensidade do momento leva os indivíduos a delirarem o campo social. os surtos se tornam endêmicos.

como bem foi registrado no Diário do Centro do Mundo, a profecia de Cazuza se cumpriu: transformaram o Brasil inteiro num puteiro. o Brasil virou um prostíbulo. enquanto a lumpenburguesia se prostitui, todos nós somos seguidamente estuprados.

"A melhor síntese desses dias conturbados é Oscar Maroni, dono do Bahamas Hotel Club, o puteiro mais festejado de São Paulo. Na porta do Clube, colocou as fotos de Sérgio Moro e Carmen Lúcia. E, pelas redes sociais, o vídeo oferecendo cerveja de graça se Lula fosse preso, e uma semana de graça se fosse executado na prisão."
Luis Nassif


de choque em choque de realidade, que se vayan todas as máscaras. e que não reste nenhuma! enfim, o horror, o horror de um brutal mergulho no deserto do real. o presente se tornou um angustiante beco sem saída. e o futuro já não tem futuro.


caem todas as máscaras apenas para desmascarar rostos sem face. se tudo é farsa, as tragédias não cessam de se repetirem. um teatro sinistro no qual os principais personagens vagam pateticamente, sem haver qualquer autor. a máscara de cada um de nós também precisa se ir.
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passo 6: numa espera infinita


quando eu era bem jovem, todos éramos muito envolvidos com a luta pela redemocratização, com o PT e a CUT.

diante de tanto entusiasmo, um chefe de equipe (ainda não se chamavam "gerentes") do meu local de trabalho me chamou prá conversar. naquela época, uma diferença de 15 anos fazia o interlocutor nos parecer um "velho senhor".

ele me contou ter em 01/04/1964 atendido à convocação para a resistência popular ao golpe. bem cedinho pela manhã foi para a Pça. Mauá, centro do Rio de Janeiro. em frente à Rádio Nacional, já havia uma multidão. a orientação era para aguardarem as armas, pois já estavam chegando.

então ele aproximou seu rosto, para com os olhos umedecidos e a voz embargada me dizer: "As armas nunca chegaram..."

nunca me esqueci. jamais esquecerei.
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passo 7: de derrota em derrota, finalmente seremos derrotados para sempre

do meu ponto de vista, a prisão de Lula é uma das mais duras derrotas política que já tivemos no Brasil, pelo menos no decorrer de minha vida.

poderia citar outras: o segundo turno das eleições de 1989, todos os acordos políticos em torno do impeachment de Collor, o Plano Real e a vitória de FHC em 1994.

sem falar a reeleição de FHC em 1998, asfixiando ainda mais nossas vidas, inclusive a minha em particular.

não é uma derrota apenas para a Esquerda. é uma derrota de vida. principalmente para uma geração se tornando tecnicamente idosa.

é o tipo do acontecimento político que deveria levar a cada um de nós passar a limpo sua vida, fazendo um implacável acerto de contas consigo mesmo.

ao invés disto, vejo mais uma vez uma grande parte das pessoas mergulhadas em óbvias auto-ilusões, numa profunda negação da realidade, num clima até de certo furor, como se houvesse sido alguma vitória. trata-se da euforia que indica a entrada num estado de depressão.

quando após o meio-dia de sexta (06/04), ficou claro que Lula não se entregaria conforme o determinado, cheguei a pensar em ir para São Bernardo.

mas sabendo como toca a banda, a voz da prudência me aconselhou a esperar o alvorecer do dia seguinte, quando ficariam mais claras as reais pretensões de Lula em resistir.

de madrugada, tanto as notícias quanto o pio do gavião me desvelaram um cenário de que Lula se entregaria após a missa, no decorrer da tarde de sábado.

óbvio que eu jamais esperava uma resistência heróica do tipo "até a última gota de sangue". mas quando se decide resistir, é preciso esgotar as possibilidades e recursos antes de recuar. esta é uma decisão difícil cujos riscos e responsabilidades são enormes. não apenas para você como para todos que compartilham da mesma luta.

aliás, Lula até começou muito bem a abordar este tema, quando em seu discurso - que para mim ficou entre o testamento e o obituário - reportou-se as greves de 1979 e 1980. mas logo enveredou pela tangente e não deu prosseguimento, o que foi lamentável pois o caminho era mesmo usar como exemplo estas duas greves, situando tanto a necessidade de resistência quanto seus limites.

as consequências desta derrota serão gigantescas e de difícil superação.
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06 abril 2018

Brasil em Transe: passo a passo para além da farsa e da tragédia

06/04/2018

passo 7: karma instantâneo

mais uma vez a crise abre a possibilidade de no intenso momento do agora nascer o futuro. dentre todas as suas bifurcações, qual futuro se materializa?

Lula será enfim conduzido coercitivamente para Curitiba? ou se foi Moro quem violou seguidamente as leis, é ele quem deverá ir para a prisão?

o karma instantâneo faz com que tudo retorne para um imediato acerto de contas histórico. um loop temporal fazendo o futuro acontecer através da função performativa da linguagem”.

a linguagem, longe de servir para descrever o mundo, ajuda-nos sobretudo a construir um. não há movimento revolucionário sem uma linguagem capaz de exprimir, simultaneamente, a condição que nos é apresentada e nossa ação para superá-la.

a linguagem está no âmago da questão política. qual a linguagem desta luta contra o golpe? quais os signos que brotam desta ação?

este é o thriller semiótico-linguístico no qual vivemos e ao mesmo tempo somos os autores. a mais dramática meta-história jamais escrita na História do Brasil.

a hora é agora.

“e começou a decifrar o instante que estava vivendo, decifrando-o à medida que o vivia, profetizando-se a si mesmo no ato de decifrar a última página dos pergaminhos, como se estivesse vendo a si mesmo num espelho falado.”
“Cem Anos de Solidão” – Gabriel Garcia Marquez
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passo 6: a embaixada do trabalhador brasileiro

em 15/02/2018: Lula precisa ser escoltado por uma força-tarefa para um asilo político numa Embaixada de um dos países dos (B)RIC(S), permanecendo no Brasil, mas à salvo de uma caçada implacável que o coloca inclusive sob risco de vida. o impacto político e diplomático deste fato vai ser um importante vetor para contra-balançar a correlação de forças.

a embaixada escolhida por Lula foi a sede do Sindicato dos Metalúrgicos em S. Bernardo, um dos berços do movimento sindical de base que deu origem ao PT e a CUT. território de onde se ergueu a luta pela redemocratização, pelo fim da Ditadura iniciada com o Golpe de 1964 e agora baluarte da resistência ao Golpe de 2016 e ao avanço do fascismo no Brasil.

precisamos construir um futuro. e iremos construir este futuro naquele território com o qual temos laços. laços com a terra, laços com a água, laços uns com os outros. no território onde vivemos. na terra que amamos e onde sofremos. a ela defendemos e preservamos, pois sem ela não poderíamos estar vivos. nela seremos enterrados, nela nossas cinzas serão espalhadas ao vento. e por ela nosso espírito passeará nostálgico.
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passo 5: os militares e o serviço de inteligência como peças decisivas no xadrez da soberania nacional

militares existem para travar guerras. só existe uma única guerra a ser travada: a luta pela independência do Brasil!

nenhuma guerra de libertação pode ser vitoriosa sem o suporte de um serviço de inteligência.

o que é preciso para se ter um serviço de inteligência como suporte para uma guerra de libertação?

modernos recursos sofisticados de TI? uma velha e boa rede de informantes? ou tão somente inteligência?

mas o que é esta "inteligência"? limita-se a capacidade de análise e prospecção? ou há outros modelos de cognição?

em 15/04/2016esta crise se tornou maior do que tudo e do que todos. é a crise de todos nós.

enganam-se todos os que supõe que o setor militar sairá incólume desta crise. ninguém será poupado. não haverá misericórdia. não restará pedra sobre pedra.

em 12/03/2016: estamos todos nós no tempo histórico suspenso entre o dia que nunca vai acabar e o dia que nunca aconteceu. seja como for, nada será como antes amanhã.

passo 4: argonautas

a resistência de Lula em S. Bernardo gera um momento político inédito na moderna história do Brasil: nem o suicídio de Getúlio, nem a fuga para o exílio de Jango, nem a aceitação passiva de um impeachment inconstitucional de Dilma Roussef.

a História, esta velha toupeira, capturou Lula numa de suas ardilosas ironias. para quem sempre se resignou a transitar no estreito limite de um jogo institucional de conhecidas limitações, chegou o impensável momento de aventurar-se na desconhecida cartografia da ruptura.

quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu. salve os encantados. que nos protejam e nos iluminem nesta perigosa travessia.
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passo 3: transmutador histórico (em 17/05/2016)

numa crise estrutural, quando o sistema entra em colapso, tudo se torna instável e volátil. então, pequenas ações podem gerar enormes mudanças.


na linearidade do tempo pendular e mecânico, a tirania do relógio capitalista, irrompe um tempo qualitativo e catalisador no presente de todos os momentos de revoltas no passado.

um tempo prenhe das possibilidades de um futuro indeterminado. o livre arbítrio se impõe ao determinismo.

os homens já não mais fazem História sob circunstâncias determinadas. há escolhas a serem feitas num “tempo do agora”. um tempo liberto do legado transmitido pelo passado.

um tempo no qual os vivos se encontram momentaneamente não mais sujeitos ao pesadelo da opressão das gerações mortas. um tempo no qual atos individuais se potencializam e ganham efeito social.

o tigre dá o seu salto sob um Sol imóvel no meio de seu curso.
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passo 2: notas sobre uma conjuntura em transe

"Foram péssimas indicações para o Supremo. Pessoas que não eram conhecidas foram indicadas, não tinham formação, não tinham pedigree."

- entregando-se ou resistindo, a decisão de Lula faz com que se ultrapasse uma linha de não retorno;

- Lula pode fazer como Jango em 1964, que em nome do "não derramamento de sangue" iniciou um período de 21 anos de veias abertas no Brasil, sob as torturas e execuções de uma Ditadura Civil-Militar;

- Lula pode resistir nos ombros do povo, como na greve dos metalúrgicos em 1979, ato de nascimento da maior liderança popular que o Brasil até hoje já conheceu;

- alguns argumentam que a resistência de Lula abriria a porteira para um novo golpe militar. pode ser... então, viria mais uma estação de anos de chumbo. certamente! mas o que os militares podem fazer para superar a crise? após 1964 foi possível estabilizar o golpe através de um vigoroso crescimento econômico: o milagre brasileiro. hoje as condições para qualquer arremedo de milagre são inexistentes. a solução militar só irá agravar ainda mais a crise. o único milagre que pode acontecer, seja com os militares ou com Lula, virá da aplicação das "medidas populares": fazer o grande capital pagar o pato da uma crise por ele desencadeada para seu benefício.
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passo 1: em 03/03/2016 (véspera da "condução coercitiva" de Lula)

enquanto isto...

as diversas camadas da crise começaram a se interpenetrar: financeira, econômica, política, social, institucional, climática... crise civilizatória. tudo e todos serão revirados pelo avesso do avesso do avesso. a tempestade que denominávamos “progresso” nos engolfa e de alhures sopra um vento se emaranhando nas asas do anjo da História, que já não podem mais ser fechadas. nenhuma análise sob o paradigma tradicional dará conta do que vem. a intrusão de Gaia com o levante dos seres da Terra cruzou o ponto de não retorno. o tigre deu seu salto para o passado.

p.s.: a sensação de tontura não é labirintite! é sintoma de mudança climática.
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