24/04/2018
"E como esperança tem que ser cultivada sempre, até a vitória da
moça de esquerda que grita “Lula livre” no BBB tá valendo: “Agora vai”."
em meio a uma acentuada crise econômica, tudo sob o céu está mergulhado
no caos. os de cima já não podem governar como antes. enquanto os de baixo já não
suportam sê-lo, sendo empurrados para
uma ação histórica independente.
todas as razões para uma revolução estão aí. mas não
são as razões que fazem as revoluções. são as pessoas. e seus corpos estão
imobilizados diante de telas e mais telas. à espera.
esperando o quê? talvez pela revolução...
na tarde do dia de ontem, um amigo muy amigo comentava
em lamúrias: "Eu sinceramente esperava neste início de ano uma
explosão social..."
mas como poderia haver explosão, se a cada vez que o pavio é aceso, com
a fagulha prestes a enfim detonar a ignição, logo são despejados duchas de água
fria, resignação, apatia, conformismo, capitulação, rendição, antes mesmo de
iniciada a luta?
durante o almoço um grupo debatia
calorosamente um artigo:
"A crítica às estruturas autoritárias, à burocratização e ao
engessamento das organizações tradicionais da esquerda certamente é justa é
necessária, assim como a demanda por maior horizontalidade, espaço para a
manifestação das diferenças e recusa à posição de massa a ser manobrada."
balancei diversas vezes a cabeça, expressando
minha concordância.
entre nós mais uma vez um espectro rondava.
sem ninguém capaz de conjurá-lo, sua presença novamente provocava tremores
diante da idéia de uma Revolução.
numa tela conectada a web, eu relia aquele mesmo texto: "É
preciso partido, sindicato, associação, movimento organizado. Sem eles,
operamos no vácuo."
mas como, pensei? se são justamente os partidos, os sindicatos, e mesmo
os movimentos organizados, aqueles que por suas formas autoritárias,
engessadas e burocratizadas criam o vácuo, sem o oxigênio vital para a explosão
social?
como muitas vezes antes nas décadas passadas,
não podia deixar de contrapor "Aos Nossos
Amigos":
"Depois de
um século de querelas sobre o tema “espontaneidade ou organização”, é preciso
que a questão tenha sido muito mal posta para que não se tenha encontrado ainda
uma resposta válida.
Este falso
problema assenta sobre uma cegueira, uma incapacidade para apreender as formas
de organização que se escondem, de maneira subjacente, em tudo o que chamamos
“espontâneo”.
Só que nós
aprendemos a não ver formas naquilo que se vive. Uma forma é para nós uma
estátua, uma estrutura ou um esqueleto, em caso algum um ser que se move, que
come, que dança, canta e se amotina."
durante a reunião, chegou-se a um consenso: "É preciso de
organização e de liderança para produzir ação coordenada, sustentada além do
calor do momento e com efetividade."
resgatada a antiga bandeira da organização
pela base, como novamente voltar a desfraldá-la? afinal, o que é liderar?
como conscientizar o povo?
mas não é a consciência que deflagra a luta,
como se desta fosse a condição prévia e indispensável. e sim a luta gera a
consciência.
e são as aviltantes condições de vida que impõe
a necessidade da luta, como a única forma de transformá-las.
do fundo da sala, um jovem rebelde e
iconoclasta berrou: "Não é a consciência dos
homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina
a sua consciência."
não cabe a vanguarda levar consciência às
massas, como se fossem catequistas evangelizando pagãos, para através do poder
da palavra convertê-los à condição de militantes organizados.
nenhuma base social jamais ganhou consciência
por causa de belos discursos, mesmo com as mais sólidas argumentações e as mais
exortativas palavras de ordem.
é em seu processo de auto-organização, na luta
por melhores condições de vida, que a sociedade transforma a si mesma.
cabe a vanguarda ser catalisadora deste
processo, sempre se colocando a serviço dele. pois nele a consciência política
dá saltos gigantescos!
assim, não há nenhum "povo" a
conscientizar. quem gera consciência é a luta. é na luta que se estabelecem
outras relações sociais. portanto é a luta quem cria o seu Povo.
"o povo se politiza pela experiência vivida do projeto de
sociedade e se despolitiza por sua ausência."
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