30 janeiro 2017

o nome do jogo

30/01/2017


peças derrubadas. cartas embaralhadas.

quem jogava contra quem? equipes ou duplas? um contra todos? todos contra um? todos contra todos? qual o objetivo? ainda havia regras naquele jogo? qual o nome daquele jogo?

através de uma complexa engenharia política psicossocial, as fronteiras entre a ficção e o real se tornam voláteis. notícias fake propagam pós-verdades através das bolhas midiáticas. com a incessante cartografia do Big Data nas redes sociais, pela obra e graça de algoritmos se corrobora um mundo moldado à imagem e semelhança de cada respectivo perfil de usuário.

mas pouco a pouco a reprodução do capital fictício, seja financeiro, cultural ou social, não era mais suficiente para conferir qualquer estabilidade ao capitalismo de desastre, restando apenas o caos. um caos com dinâmica própria, no comando dele mesmo.

uma a uma as bolhas começaram a estourar...

como se compôs um STF formado de Ministros com atuação antagônica as de quem os indicou?

como a sacrossanta cruzada para moralizar o capitalismo de cumpadrio tupiniquim conduziu ao governo uma quadrilha de gangsteres por ela mesmo investigada?

como um cientista, executivo e militar, conhecido como o “pai do programa nuclear brasileiro”, chegou a tentar o suicídio ao ser condenado a 43 anos de prisão?

como o relator da Lava Jato, com seu perfilimparcial”, “íntegro”, “discreto”, “reservado”, “sóbrio” e “fechado”, acabou vítima de uma trapaça da sorte e “morre em uma viagem a passeio no avião particular de um empresário famoso por ser um grande farrista”?

como o ex homem mais rico do Brasil acabou com a cabeça raspada em Bangu 9?

como o clã Odebrecht preferiu rasgar os laços familiares na tentativa de costurar um acordo para preservar o que restou de seu mega império empresarial?

muito embora todos prosseguissem no jogo, ninguém mais entendia completamente aquele sinistro quebra-cabeças. nele sempre faltaram peças enquanto outras sobram por não se encaixarem, assim sua imagem final permanecia ainda mais nebulosa que os céus de Curitiba.

um jogo jogado como um vício inescapável, tendo como única certeza a impossibilidade de vitória e uma derrota coletiva. uma vez sentado à mesa, nunca mais dela se poderia levantar.

um pérfido teatro de sombras, no qual todos executam seu papel programado. embora sejam não mais que meros marionetes, se julgam astuciosos protagonistas.

numa investigação conduzida com argúcia todos os envolvidos são paulatinamente desmascarados. mas aquele que é realmente um grande investigador, não se limita simplesmente a isto. sempre dá um passo a frente.  não teme avançar para o momento no qual, ao se encarar perplexo no espelho, desmascara a si próprio.

então, como se sentem as marionetes ao se constatarem como tal? ao experimentarem uma amostra grátis de seu choque e pavor? ao se descobrirem como supérfluos e descartáveis? ao não conseguirem compreender quem comanda os cordéis?

após todas as bolhas desaparecerem, já não restara pedra sobre pedra.

enfim, numa crise de pânico, todos se deram conta de que jamais nenhum deles soubera ao certo o nome do jogo.
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28 janeiro 2017

fator Putin - efeito Trump

28/01/2017



nada é exatamente o que parece ser. tudo é teatro de sombras. jogo de espelhos, miragens distorcidas. tudo são performances. manipulação de manipulações. reflexo infinito.

um reality show dentro de uma gigantesca bolha, como num bizarro conto sci-fi.

através da gestão da percepção e da elaboração do simbólico, a política e a arte se unem, garantindo acesso direto ao inconsciente social. quem domina a linguagem, domina o mundo.

mas entre as narrativas e o fato, uma evidência se acentua: o Império do Caos e a Tirania Financeira Global perderam a guerra para impor uma governança mundial unilateral.

não haverá mundo unipolar. nenhum algoritmo cibernético automaticamente calculando uma nova ordem para governar um mundo previsível e estável, do qual a política foi extirpada.

as peças do grande tabuleiro de xadrez da geopolítica mundial foram derrubadas.

o projeto de uma USA Incorporation pós-nacional está ruindo pelo próprio caos que instalou e através do qual pretendeu se consolidar. com a I Guerra Fria, desmoronou a URSS. a II Guerra Fria implodiu com o Império do Caos.

guerra perdida, ainda mais uma vez a solução será política!

Nós não buscamos impor nossa maneira de viver sobre ninguém, mas, em vez disso, deixar que ela brilhe como um exemplo a ser seguido.
Trump – discurso de posse – 20/01/2017

"Não foi um discurso presidencial, foi uma verdadeira declaração de guerra".
Gabor Steingart, Editor Chefe do Handelsblatt, principal jornal econômico da Alemanha

um complexo realinhamento que não será pacífico. a solução política para configurar um mundo multipolar será a continuidade da guerra, por outros meios. indo além da guerra híbrida, avançamos agora no desconhecido teatro de operações de uma guerra de mundos.

um pântano profundo que resistirá a ser drenado. um imenso e ingovernável Estado paralelo que não fará imediatamente nenhum fácil armistício.

uma diversificada coalizão terrorista de Daesh & CIA: gestores de fundos hedge e cartéis de narcotraficantes, ONG corporativas e comércio de exportação e importação de órgãos humanos, agências de risco e empresas midiáticas de controle mental.

todas as armas de destruição em massa da globalização neoliberal “progressista”. um admirável mundo novo erguido sobre o choque e pavor.

como um rei coroado sobe ao palco e brada performaticamente: “Uma nação sem fronteiras não é uma nação!”. mas apenas com uma frase mágica, de algum showman em Las Vegas, é possível fazer desaparecer o TPP e o Nafta? muralhas de concreto podem impedir o livro fluxo do narco-capital financeirizado?

como se fosse algum líder bárbaro, um King Kong topetudo do alto de sua torre bilionária anuncia: “estamos transferindo o poder de Washington, D.C., e o devolvendo a vocês, o povo”. mesmo tendo sido eleito por um sistema viciado, concebido para manter sob controle a soberania do voto popular.

como um remake do  Dr. StrangeLove, pregando o plano de uma nova corrida armamentista, apenas para o mundo se recuperar da loucura de ter perdido a noção de uma mútua destruição garantida (MAD), no caso de utilização de armas nucleares.

enquanto o Vale do Silício viajava nas nuvens, na busca de um definitivo upload da neo aristocracia para a web, Putin modernizou em segredo suas forças armadas, tornando a Rússia território fora de alcance para os mísseis dos EUA.

numa das ironias da História, foi o complexo industrial-militar russo o grande obstáculo no caminho do capitalismo cognitivo-cultural.

se a queda das torres gêmeas marca o ato de inauguração da estratégia de uma guerra sem fim, provavelmente levando ao fim de todas as guerras com o armagedon termonuclear, talvez agora pode ser finalmente o 11/9 começando a cair.

assim como acontecera na derrota no Vietnam, a guerra contra o terror consumiu em vão trilhões de dólares. mais uma vez a economia mundial está disfuncional. do mesmo modo que em 1971 era insustentável o padrão monetário Ouro-Dólar, agora um novo sistema Bretton Woods terá que ser estabelecido.

um mundo multipolar, no qual os EUA ainda serão a liderança, mas não isoladamente.

todos os associados a USA Incorporation, desde corporações como a Rede Globo no Brasil, até países inteiros, como a Alemanha com sua despótica subordinação da Europa, todos serão brutalmente atingidos. não apenas em seus negócios, mas politicamente em sua identidade.

como a plutocracia brasileira será afetada? o que vai fazer? nem ela mesmo sabe!

a plutocracia colonial e escravocrata do Brasil sempre foi comandada de fora, nunca teve projeto próprio, pensamento estratégico ou qualquer visão de futuro.

um de nossos maiores perigos é surgir um populista nacionalista de Direita, carismático, articulado e bem assessorado, para ser no Brasil o representante desta outra nova ordem mundial que se anuncia.

o poder que dá o golpe, não é o poder que consolida o golpe. mas desta vez, ao se descascar camada por camada, nada restou no centro da cebola. um vácuo que só pode ser preenchido de fora, por um outsider. um outsider saído de dentro do próprio sistema.

“Nós criamos uma organização. Nós planejamos a insurreição das pessoas simples e bidimensionais contra os astuciosos e complexos. Contra, aqueles que não poderiam responder ‘sim’ ou ‘não’. Aqueles que não podiam dizer: ‘preto’ ou ‘branco’. Aqueles que sabiam uma terceira palavra. Muitas, muitas terceiras palavras. Palavras vazias e falsas. Caminhos enredados que obscurecem a verdade. Nesta teia de escuridão, nestas complexidades fugazes – se esconde e se reproduz todo o mal no mundo. Eles são a casa de Satanás. Lá, eles fazem dinheiro e bombas. Falam: ‘Isto é o dinheiro para o bem dos honestos; Estas são bombas para a defesa do amor’. Vamos nos engajar amanhã. Seremos vitoriosos. Ou pereceremos. Não existe uma terceira via.”

“Without Sky”, Nathan Dubovitsky, também conhecido como Vladislav Surkov, consultor particular de Putin.
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p.s.:

congelar contratações no setor público faz todo sentido para um liberal que pretende gerar empregos no setor privado. preservar os gastos militares também, por óbvios motivos.

mas por que diabos, logo de saída, como uma de suas primeiras medidas, cortar o financiamento para ONG ligadas ao aborto? apenas para satisfazer a parcela reacionária de seus eleitores? seria um bom motivo, mas não me parece suficiente.

primeira descoberta: Planned Parenthood, a principal ONG atingida pela medida, é uma verdadeira corporação. movimenta cerca de US$ 1,3 bi/ano (2014). entre seus doadores muitos democratas famosos. atua em 12 países.

segunda descoberta: sua fundadora, Margaret Sanders, é defensora da eugenia. "O controle de natalidade nada mais é do que a facilitar o processo de eliminar os inaptos [e] de impedir o nascimento de defeituosos".

terceira descoberta: seus negócios paralelos com o comércio de órgãos e tecido fetal. tudo perfeitamente legalizado!
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22 janeiro 2017

trapaças da sorte

22/01/2017


Barroso, Ministro do STF, sobre a morte de Teori Zavascki

o Exmo. Sr. Dr. do $TF com seu perfil de “imparcial”, “íntegro”, “discreto”, “reservado”, “sóbrio” e “fechado” era um perfeito ator para o personagem que desempenhava no Xadrez do golpe.

pego numa “trapaça da sorte”, a fachada do “homem de bem” veio abaixo junto com a queda do avião, expondo suas ligações perigosas e seus negócios paralelos. para ficar escandalosamente desmascarado que tudo e todos neste golpe são meras fachadas de negócios, negócios e negócios.

o Exmo. Sr. Dr. do $TF foi um dos principais responsáveis pelo golpe, ao permitir que Cunha presidisse a votação da admissibilidade do impeachment, naquela farsa dantesca encenada pela insurreição dos hipócritas no teatro de horrores da Câmara.

o Exmo. Sr. Dr. do $TF também nada fez quanto aos grampos ilegais vazados pela Lava Jato & Associados. naquela fatídica noite, o correto para um “íntegro” e “imparcial” Exmo. Sr. Dr. do $TF teria sido tirar a Globo do ar e prender os responsáveis pelo grampo – que eu, tu, ele, nós, vós, eles, todos sabemos quem são.

não será esquecido. não será perdoado. sempre estivemos aqui. o tempo é nossa matéria. o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

estamos no intenso momento do karma instantâneo. o Exmo. Sr. Dr. do $TF recebeu uma graça dos agentes do destino na forma de uma morte definitivamente simbólica:

- o relator da Lava Jato, esta santa cruzada para moralizar o capitalismo tupiniquim, “morre em uma viagem a passeio no avião particular de um empresário famoso por ser um grande farrista”.

então, a quem interessa?

por que eliminar uma peça de tamanha utilidade para o golpe, tanto por seu justo perfil a respaldar sua iníqua conduta, quanto pelo seu conveniente timing como relator?

por que acrescentar ainda mais instabilidade num cenário já flagrantemente fora de controle?

se “A Lava Jato é maior do que nós”, com certeza é maior do que todos os marionetes deste pérfido teatro de sombras, no qual, pouco a pouco, já não havia mais ninguém manipulando os cordéis, a não ser as próprias trevas.

ainda assim, o eco de uma voz permanece na escuridão: “Que Deus tenha misericórdia desta nação”.

no caos que a Síria se tornou, quem tem as mãos nos cordéis? e na Líbia? no Iraque? no Afeganistão? na economia global pós Crise de 2008? no desmoronamento da Europa? no Brasil do golpe do impeachment?

instalado o caos, seus arquitetos já não tem qualquer condição de operá-lo confortavelmente instalados em algum Centro de Comando e Controle.

como se sentem as marionetes ao se constatarem como tal? ao experimentarem uma amostra grátis de seu choque e pavor? ao se descobrirem como supérfluos e descartáveis?

os golpistas julgavam que o impeachment nada mais seria do que uma barulhenta tarde de domingo na av. Paulista. os adoradores do deus mercado ainda acreditam piamente em sua planilha de  mandamentos do neoliberalismo, o capitalismo como religião.

agora, no tempo presente do karma instantâneo, se julgam vítimas de uma conspiração de circunstâncias negativas. sem saber como se livrar daquilo que eles mesmo criaram, dirigem patéticos apelos de ajuda ao Grande Irmão de Acima.


o poder que dá o golpe, não é o poder que consolida o golpe. mas desta vez, ao se descascar camada por camada, nada há no centro da cebola. um vácuo que só pode ser preenchido de fora, por um outsider. um outsider saído de dentro do próprio sistema.

esqueçam 2018. 2018 será para sempre um ano longe demais. esqueçam algum “salvador da Pátria”, “grande líder” ou “herói brasileiro”. quanto mais óbvio fica que tudo isto não deu, não está dando e não dará certo, mais se tenta uma volta impossível ao passado, ou uma busca de um futuro que nunca existirá.

não há retorno. não há saídas. só resta construir um rota de fuga para a frente. nenhum futuro, apenas um karma instantâneo.

nenhuma grande nação se ergueu, a não ser sobre os alicerces profundos de uma grande guerra de libertação. é nesta guerra que nos encontramos. ou vencemos, ou desapareceremos.

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08 janeiro 2017

Alice já não fala mais de flores

08/01/2017

"Quero me tornar adulto e forte. Vou prender todos os terroristas que mataram pessoas sem razão. Eles mataram o meu pai porque ele não quis combater contra o exército sírio".


afinal, o que Alice quer? o que desejam estas jovens mulheres na vanguarda do movimento de re-existência ao golpe?

o único tesão da Ex-querda parece ser sua ânsia em encontrar um homem para chamar de seu. um “grande líder” para encarnar a fantasia do “salvador da pátria”. um “cavaleiro encantado”  para nos salvar do cruel opressor: o “Primeiro Marido”. este quase “inefável” esposo de uma primeira dama bela, recatada e do lar.

mas é tão óbvio não ser isto o que estas mulheres querem! para elas, seu o lar é o mundo, seu recato a potência do útero e sua beleza a pintura de guerra. nenhuma delas nasceu mulher. estão se tornando.

- Não sei, disse Alice, hesitante. – Não quero ser prisioneira de ninguém. Quero ser uma Rainha.
- E será, quando tiver transposto o próximo riacho, disse o Cavaleiro Branco. – Vou levá-la em segurança até a orla do bosque… e depois tenho de voltar. É o fim do meu movimento.

neste tabuleiro de xadrez do golpe do impeachment, como fazer o peão branco vencer em onze lances? como as mulheres podem tornar-se? como a maioria pode deixar de ser minoritária para enfim assumir protagonismo? como fazer compreender ao Cavaleiro Branco seu movimento como mero coadjuvante?

Alice já não mais traz flores. aprendeu ser impossível seduzir a repressão com poesia. e que a filosofia deve ser uma arma para transformar o mundo.

pessoas que anseiam pela servidão como se fosse a salvação. como é possível clamar: mais tortura, mais mortes, mais chacinas! como se chega ao ponto de querer a repressão não só para os outros, mas também para si próprio?

as massas não são enganadas, as massas desejam o fascismo. pois nada falta ao desejo. ele está sempre completo. quer apenas a si mesmo. se não cuidamos de o preencher por nossa própria iniciativa, ao se abdicar de travar nossas guerras de libertação, o recalque imposto pelo campo social nos domestica. pela castração nos tornamos apenas corpos dóceis, úteis e tristes.

no matriarcado de Pindorama, a alegria é a prova dos nove. por que lutar? porque é assim que se experimenta a felicidade. porque é a única maneira de se preencher o desejo com vida. porque é a forma de se continuar vivo. para que não sejamos zumbis vagando na anomia.

nossa história tem sido uma sucessão de modernizações conservadoras e transições tuteladas, o que nos mantém aprisionados entre dois mundos: um definitivamente morto e outro que luta por vir à luz.

o preço dos pactos palacianos é pago com banhos de sangue, massacres após massacres. Palmares e Canudos. Cabanos, Malês e Balaios. milhares de camponeses e índios “desaparecidos” pela Ditadura Civil-Militar. o atual genocídio do povo negro nas periferias. as perseguições e mortes no cotidianos de mulheres e trans-sexuais.

a oligarquia colonial e escravocrata cunhou a lenda de uma “cultura cordial”, de uma “sociedade pacífica” e de um “povo bovino”. ainda assim, se registrou mais mortes violentas no Brasil, 278.839 entre 2011 e 2015, do que na guerra civil na Síria, 256.124 no mesmo período.

não apenas estamos em guerra, como sempre estivemos em guerra. agora se tornou obscenamente flagrante com o golpeachment, a ancestral guerra da plutocracia contra o Povo e a Nação.

não será com flores que venceremos esta guerra. será com Justiça.

não haverá restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil, sem se reconduzir a casta do Judiciário à sua condição constitucional de “servidores públicos”. sem a democratização do Judiciário, colocando-o sob controle da soberania popular, da qual todo poder emana.

- Primeiro a sentença… depois o veredito.
- Mas que absurdo!, Alice disse alto. - Que idéia, ter a sentença primeiro!
- Cale a boca!, disse a Rainha, virando um pimentão.
- Não calo!, retrucou Alice.
- Cortem-lhe a cabeça!, berrou a Rainha.

há um pólo fascista: a regressão do Brasil a um status pré revolução de 1930, condenando o país ao modelo liberal periférico, com sua completa subordinação à Tirania Financeira global;

há um pólo libertário: uma descentralizada e autônoma profusão de atos e manifestações de re-existência contra o golpe, a emergência de um novo tipo de militância já não mais separada de um novo tipo de vida.

há uma crise de lideranças: um impasse fatal em meio a uma perigosa travessia.

não há nenhuma pax capaz de reconstruir a Democracia e refundar a República, se não for erguida sobre uma pedra fundamental: a anulação do impeachment inconstitucional.

em 1917 no Rio Grande do Sul, num protesto durante o enterro de um trabalhador grevista, a cavalaria da Brigada Militar investiu contra os manifestantes. com apenas 15 anos, Espertirina Martins jogou contra os soldados um buquê de flores. escondido dentro dele uma bomba. com a explosão a repressão recuou.

foto: elzauer


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05 janeiro 2017

chore, Dilma, chore!

05/01/2017


1. o caminho que nos arrastou até o golpe não será o mesmo caminho para dele nos libertarmos. não derrotaremos este golpe pela via da política de gabinete, do acordo, do conchavo, da conciliação, do pacto, da capitulação, da rendição, da covardia e da traição;

2. o golpe será derrotado nas ruas. ou não será;

3. a lógica política da maior parte da Esquerda institucional está completamente invertida. não será “Lula 2018”, ou “Lula Já”, e nem mesmo pura e simplesmente “Diretas”, a principal arma de luta contra o golpe. tampouco o serão os índices de popularidade e as pesquisas de intenção de voto. nenhum “grande líder” ou “salvador da pátria” serão capazes de derrotar o golpe e reverter suas consequências;

4. o golpe será revertido por um grande movimento de massas. ou não será;

5. sem um programa mínimo que seja amplamente apoiado pela soberania popular, o golpe não pode ser derrotado, tampouco suas consequências revertidas;

6. este programa mínimo deve ser necessariamente encabeçado pela caracterização do impeachment inconstitucional como um golpe de Estado. um golpe da plutocracia contra o Brasil, contra a Nação e o Povo. assim sendo, o impeachment deve ser anulado. todos os golpistas, sejam do Legislativo, do Judiciário, PGR, MP, empresários, etc.. devem ser responsabilizados. todos os atos, contratos e decisões do governo usurpador devem ser revogados. e seus beneficiários devem ser responsabilizados como cúmplices do golpe;

7. o item anterior é o único pacto capaz de restaurar o Estado Democrático de Direito no Brasil;

8. um hipotético candidato de uma necessária Frente de luta contra o golpe deve se comprometer publicamente com este programa mínimo. ou seja, em primeiro lugar vem o fundamento, o programa e a proposta, só então surge o candidato capaz de viabilizá-los junto com um movimento de massas;

9. não será se escondendo, se entregando às lágrimas, se omitindo da luta, fugindo das ruas e abandonando os que bravamente enfrentam a repressão que algum hipotético candidato se gabarita para liderar a guerra de libertação do Brasil;

10. não haverá nenhum futuro, nenhum Ano Novo, sem nos abraçarmos fortemente ao tempo presente. sem abandonarmos todas as ilusões. sem uma radical solidariedade que nos obrigue a seguirmos juntos, de mãos dadas. sem, enfim, compreendermos que só haverá novos tempos, se dessa vez não fizermos prisioneiros. só a Antropofagia nos une! tupi or not tupi. that is the question.

em entrevista ao The Guardian, Dilma também revela a reação de Lula após a votação da admissibilidade do impeachment, conduzida por Eduardo Cunha: “Ela também recorda a reação do ex-presidente Lula, que estava junto com ela no momento. "Ele chorou e me abraçou. Ele disse 'chore, Dilma, chore!'.

vídeo: Happy New Year 2017, from Aleppo


ilha

05/01/2017


do cume da ilha, uma desoladora visão. o interminável incêndio consome tudo e todos. aniquilados pelo fogo, corpos retorcidos com almas desfiguradas perambulam na escuridão. da fogueira das ilusões e das traições sobe espessa e asfixiante fumaça. nela se misturam frustração,  raiva, impotência e depressão.

sinos ainda repicam, sem ninguém mais precisar perguntar por quem dobram. cada um foi reduzido a uma ilha deserta pertencendo a arquipélago nenhum.


quanto mais desesperadamente se procura uma saída, mais óbvio é: ela já não há. numa armadilha do destino se debate o anjo da História. com seu rosto voltado para o passado é impelido de costas para o futuro. tudo o que pode ver são ruínas se amontoando em direção ao céu.

haverá novos tempos? o próprio ano novo tarda. são mitos de calendário tanto o ontem como o futuro. e o presente é tão grande... os camaradas não disseram que havia uma guerra, e era necessário trazer fogo e alimento.

não há nenhuma “crise” a ser superada e sim uma guerra que precisamos vencer, para que possamos sobreviver. uma guerra de mundos. o genocídio global da grande guerra de extermínio do 1% contra todos nós. a destruição de países inteiros, convertidos em Estados falidos, nações inviáveis, com seus habitantes tornados refugiados em sua própria pátria.

como lutar numa guerra com apenas duas mãos e o sentimento do mundo?

que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
é dentro de você que o ano novo
cochila e espera desde sempre.

seremos capazes de nos reinventar? ainda temos tempo para rejuvenescer? ou nos manteremos como velhos caquéticos, de mãos dadas com nossas ilusões e nossos fracassos? incapazes de abrir mão do cinismo e da hipocrisia...

mas se é o próprio Brasil quem já não nos quer! está farto de nós! nosso Brasil é no outro mundo. este não é o Brasil. nenhum Brasil existe. e acaso existirão os brasileiros?

voltaremos a marchar pelas ruas? ou sentaremos comodamente anestesiados na frente de telas e mais telas, como zumbis teleguiados... ainda temos força para erguer bandeiras e gritar palavras de ordem? ou viramos apenas um quadro na parede. e como dói...

não adianta procurar por desculpas, depois das bolhas terem estourado. de nada então mais servem os repetidos sinais de alerta. havia uma ilha a ser descoberta, mas passou-se ao largo...

como era mesmo no nome daquela ilha? Hy Brazil... lugar encantado, visão do paraíso. magicamente surgindo de repente, apenas para logo desaparecer nas brumas, em águas ainda desconhecidas de um vasto oceano.

nenhuma ilha mais onde se refugiar... então não nos entorpeceremos, não postaremos nenhum twitter de suicida. o tempo será nossa matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

um sabiá na palmeira, longe. aves cantam um outro canto. longe.

aqui e agora, os sa­pos, os insetos incessantes e as maritacas estão sempre presentes.
e num semitom abaixo: atenção!

maithuna.

vídeo: Solaris (1972) – cena final


vídeo: BH – 04/01/2017 – “Fora Temer” - contra o aumento das passagens de ônibus
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