05 janeiro 2017

ilha

05/01/2017


do cume da ilha, uma desoladora visão. o interminável incêndio consome tudo e todos. aniquilados pelo fogo, corpos retorcidos com almas desfiguradas perambulam na escuridão. da fogueira das ilusões e das traições sobe espessa e asfixiante fumaça. nela se misturam frustração,  raiva, impotência e depressão.

sinos ainda repicam, sem ninguém mais precisar perguntar por quem dobram. cada um foi reduzido a uma ilha deserta pertencendo a arquipélago nenhum.


quanto mais desesperadamente se procura uma saída, mais óbvio é: ela já não há. numa armadilha do destino se debate o anjo da História. com seu rosto voltado para o passado é impelido de costas para o futuro. tudo o que pode ver são ruínas se amontoando em direção ao céu.

haverá novos tempos? o próprio ano novo tarda. são mitos de calendário tanto o ontem como o futuro. e o presente é tão grande... os camaradas não disseram que havia uma guerra, e era necessário trazer fogo e alimento.

não há nenhuma “crise” a ser superada e sim uma guerra que precisamos vencer, para que possamos sobreviver. uma guerra de mundos. o genocídio global da grande guerra de extermínio do 1% contra todos nós. a destruição de países inteiros, convertidos em Estados falidos, nações inviáveis, com seus habitantes tornados refugiados em sua própria pátria.

como lutar numa guerra com apenas duas mãos e o sentimento do mundo?

que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
é dentro de você que o ano novo
cochila e espera desde sempre.

seremos capazes de nos reinventar? ainda temos tempo para rejuvenescer? ou nos manteremos como velhos caquéticos, de mãos dadas com nossas ilusões e nossos fracassos? incapazes de abrir mão do cinismo e da hipocrisia...

mas se é o próprio Brasil quem já não nos quer! está farto de nós! nosso Brasil é no outro mundo. este não é o Brasil. nenhum Brasil existe. e acaso existirão os brasileiros?

voltaremos a marchar pelas ruas? ou sentaremos comodamente anestesiados na frente de telas e mais telas, como zumbis teleguiados... ainda temos força para erguer bandeiras e gritar palavras de ordem? ou viramos apenas um quadro na parede. e como dói...

não adianta procurar por desculpas, depois das bolhas terem estourado. de nada então mais servem os repetidos sinais de alerta. havia uma ilha a ser descoberta, mas passou-se ao largo...

como era mesmo no nome daquela ilha? Hy Brazil... lugar encantado, visão do paraíso. magicamente surgindo de repente, apenas para logo desaparecer nas brumas, em águas ainda desconhecidas de um vasto oceano.

nenhuma ilha mais onde se refugiar... então não nos entorpeceremos, não postaremos nenhum twitter de suicida. o tempo será nossa matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

um sabiá na palmeira, longe. aves cantam um outro canto. longe.

aqui e agora, os sa­pos, os insetos incessantes e as maritacas estão sempre presentes.
e num semitom abaixo: atenção!

maithuna.

vídeo: Solaris (1972) – cena final


vídeo: BH – 04/01/2017 – “Fora Temer” - contra o aumento das passagens de ônibus
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