30/01/2017
peças derrubadas. cartas embaralhadas.
quem jogava contra quem? equipes ou duplas? um contra todos? todos contra
um? todos contra todos? qual o objetivo? ainda havia regras naquele jogo? qual
o nome daquele jogo?
através de uma complexa engenharia política psicossocial, as fronteiras
entre a ficção e o real se tornam voláteis. notícias fake propagam pós-verdades
através das bolhas midiáticas. com a incessante cartografia do Big Data nas redes sociais, pela obra e
graça de algoritmos se corrobora um mundo moldado à imagem e semelhança de cada
respectivo perfil de usuário.
mas pouco a pouco a reprodução do capital fictício, seja financeiro,
cultural ou social, não era mais suficiente para conferir qualquer estabilidade
ao capitalismo de desastre, restando apenas o caos. um caos com dinâmica
própria, no comando dele mesmo.
uma a uma as bolhas começaram a estourar...
como a sacrossanta cruzada para moralizar o capitalismo de cumpadrio
tupiniquim conduziu ao governo uma quadrilha de gangsteres por ela mesmo
investigada?
como um cientista,
executivo e militar, conhecido como o “pai do programa nuclear brasileiro”, chegou a tentar o suicídio ao ser condenado
a 43 anos de prisão?
como o relator da Lava Jato, com seu perfil “imparcial”, “íntegro”, “discreto”, “reservado”, “sóbrio” e “fechado”, acabou
vítima de uma trapaça da
sorte e “morre em uma viagem a passeio no avião particular
de um empresário famoso por ser um grande farrista”?
como o clã Odebrecht preferiu rasgar os laços
familiares na tentativa de costurar um acordo para preservar o que restou de seu
mega império empresarial?
muito embora todos prosseguissem no jogo, ninguém mais entendia
completamente aquele sinistro quebra-cabeças. nele sempre faltaram peças
enquanto outras sobram por não se encaixarem, assim sua imagem final permanecia
ainda mais nebulosa que
os céus de Curitiba.
um jogo jogado como um vício inescapável, tendo como única certeza a
impossibilidade de vitória e uma derrota coletiva. uma vez sentado à mesa,
nunca mais dela se poderia levantar.
um pérfido teatro de sombras, no qual todos executam seu papel programado. embora
sejam não mais que meros marionetes, se julgam astuciosos protagonistas.
numa investigação
conduzida com argúcia todos os envolvidos são paulatinamente desmascarados. mas
aquele que é realmente um grande investigador, não se limita simplesmente a
isto. sempre dá um passo a frente. não
teme avançar para o momento no qual, ao se encarar perplexo no espelho, desmascara a si próprio.
então, como se sentem as marionetes ao se constatarem como tal? ao
experimentarem uma amostra grátis de seu choque e pavor? ao se descobrirem como supérfluos e
descartáveis? ao não conseguirem compreender quem comanda os cordéis?
enfim, numa crise de pânico, todos se deram conta de que jamais nenhum
deles soubera ao certo o nome do jogo.
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