28 outubro 2017

os Brasis: fazer-se movimento para além da farsa e da tragédia

28/10/2017


e se naquela noite os demônios nos aparecessem, para descaradamente em nossa mais desoladora impotência nos dizer: "esta noite, como vocês a estão vivendo e já viveram, vocês terão de viver mais uma vez e por incontáveis vezes: Que Deus tenha misericórdia desta nação”. 

lançados ao chão, entre ranger de dentes e frustrações, virados e revirados pelo avesso, como uma ampulheta girando sem parar, assistiríamos novamente não apenas aquela farsa dantesca encenada no teatro de horrores da Câmara, mas um entrelaçamento interminável de fatos históricos, retornando mais uma vez. e se repetindo, se repetindo, se repetindo...

Auro de Moura Andrade declara vaga a Presidência, em 1964. Collor conclama: "Não me deixem só. Eu preciso de vocês", em 1992. Lula e Dilma choram abraçados, em 2016. 1954: Getúlio sai da vida para entrar na História. 1964: Jango foge para o Uruguai. 12/12/2002: em Washington, Lula anuncia Meirelles no BC. JK sofre um improvável acidente automobilístico fatal, em 22/08/1976. Jango  morre misteriosamente no exílio, 06/12/1976.  Lacerda falece de um ataque cardíaco após ser internado por causa de uma gripe, 21/05/1977.       

numa meticulosa e torturante repetição, nenhuma diferença, sem nada haver de novo, cada qual em sua mesma ordem e sequência. enfadonho. exasperante. deprimente.

1984: a derrota das "Diretas Já". 21/04/1985: Tancredo é declarado morto. 1989: Collor o primeiro Presidente eleito por voto direto após o Golpe de 1964. a reforma da Previdência de Lula em 2003. a crise cambial de FHC em 1999. o escândalo dos anões do orçamento em 1993. 2002: a Carta ao Povo Brasileiro. 1994: o Plano Real. 1979: a Lei da Anistia

raiva, desespero, melancolia. um retorno eterno de farsas e tragédias sem qualquer possibilidade de redenção. fracassos. capitulações. traições. num ir e vir incessante, percorrendo instantaneamente a espessura do tempo histórico, somente para reviver intensamente cada angústia, cada derrota, cada depressão, num agora oco, vazio, sem qualquer dimensão.

em 2016, com o golpe do impeachment; em 2015, com o “ajuste fiscal” de Dilma Roussef; em 2014, com a Lava Jato; entre 2009 e 2014, com as desonerações e incentivos para os grandes empresários; em 2005, com o Mensalão; em 2008, com a operação Satiagraha...

não só a tradição de todo um passado morto oprimindo como um pesadelo o cérebro dos vivos, também uma profusão de eventos ainda não acontecidos mas já determinados. numa esmagadora marcha do futuro para um presente paralisado, invertendo e retorcendo a seta do tempo, com tudo convergindo em direção aquele mesmo instante de um colapso sem fim, como no horizonte de eventos de algum buraco negro.

a entrega do pré-sal; a prisão de Lula; a eleição de Bolsonaro; a intervenção militar; o trabalho escravo; o leilão das últimas estatais; o fim do SUS; a eliminação de qualquer direito trabalhista; a liberação de venda de terras para estrangeiros; a revogação das terras indígenas; a militarização do ensino; a cessão da Amazônia; a revisão do Estado laico; a instalação de check-points; o fim das reservas ambientais; a censura na internet; a difusão da ração humana; o racionamento de energia; a privatização da água; a elitização da alfabetização; os comitês de vigilância; a obrigatoriedade do monitoramento eletrônico individual; a normatização da redução populacional; a eutanásia compulsória; a limitação da natalidade; a eliminação dos indesejáveis; os campos de extermínio; a guerra, a fome, a doença, a morte. o fazer viver e deixar morrer...

aprisionados naquele asfixiante caleidoscópio, com as dobras temporais fechando-se e comprimindo-se mais e mais umas sobre as outras, gota a gota de nossa vitalidade é extraída. até nada mais restar, somente um corpo inerte, apático, extenuado. já morto, embora ainda vivo. anomia. zumbificação. nenhum desejo, nem mesmo a vontade de morrer. os mortos nem mais sequer conseguem enterrar os seus mortos.

por que os homens querem fazer sua própria História, se não a podem fazer como querem, e sim sob circunstâncias que não escolhem, aquelas legadas pelo passado?

malditos demônios! revelam-se sem qualquer pudor numa noite de encenação farsesca para nos mergulharem no eterno retorno de uma tragédia infinita.

malditos demônios! a noite na qual a farsa e a tragédia brasileira se uniram em matrimônio indissolúvel, numa cerimônia bancada pelas empresas "campeães nacionais", capitalizadas com recursos públicos para com este mesmo dinheiro comprarem os votos do Golpeachment.

malditos demônios! dissolveram todas as miragens ufanistas para revelar um real que jamais deixara de ser inóspito deserto.

e quando do velho só restara escombros e cinismo, e nas ruínas do caos a circularidade do tempo era experimentada como uma inescapável prisão, um curto-circuito infernal girando no vazio, ainda assim na intensidade avassaladora daquele instante estava presente o tempo como espiral emancipadora.

um espiral de fluxos e contra-fluxos, num incessante processamento, no qual os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, não apenas duas vezes, sob as máscaras da farsa ou da tragédia, mas tantas vezes quantas forem necessárias até serem depurados e ultrapassados.

uma espiral que se abre e se fecha, em ciclos sucessivos e em níveis ascendentes ou descendentes, superpondo incontáveis planos. mil plataformas. cada uma delas não um palco para encenações de farsas e tragédias, mas sim um teatro de operações, campos de batalhas de uma guerra.

uma espiral cuja fase inicial é de agregação, em seu movimento se expande para acumular forças até desembocar numa depuração, a partir da qual pode haver um salto qualitativo para um patamar superior. ou o processo entra em refluxo e decai.

benditos sejam, demônios! jamais fomos derrotados! aquelas derrotas não foram nossas, e sim a de nossas auto ilusões. a luta não apenas continua, como está apenas recomeçando ainda mais uma vez, em um novo giro das espirais. quanto mais forte e mais rápido se gira, mais poderosa é a força gerada, num dinamismo intrínseco que retroalimenta o processo.

fazer-se movimento além da farsa e da tragédia, para romper com a circularidade infernal de um eterno retorno dos mesmos erros e dos mesmos fracassos, seja sob a forma da farsa ou da tragédia.

em meio ao caos, chegou o imenso momento da criação da diferença. então levanta e anda, vai, levanta e anda.

vídeo: Emicida - Levanta e Anda

.

25 outubro 2017

os Brasis: cronologia de uma catástrofe anunciada

25/10/2017


"Durante a campanha a gente tinha dito que não ia fazer reforma. E quando anuncia que vai fazer, da forma que foi anunciado que vai fazer, sem fazer a discussão, você jogou fora um pedaço do nosso povo, que tinha nos elegido para ter mais um mandato."

11/05/2015: quando o velho já está morto mas o novo ainda não conseguiu nascer, surgem os sintomas mórbidos, os fenômenos bizarros e as criaturas monstruosas. a vida inteira que podia ter sido e que não foi. tosse, tosse, tosse, ó meu Brasil.

17/05/2015: confesso: não tenho esperança. os cegos falam de uma saída. vejo. após os erros terem sido usados como última companhia, à nossa frente senta-se o Nada.

20/05/2015: será que agora estão convencidos que uma oligarquia de banqueiros, rentistas, empreiteiros, agroexportadores e usineiros – uma oligarquia escravagista e anti Brasil – jamais abraçará qualquer projeto nacional e popular?

01/06/2015: o que é mais revoltante: a apatia de um governo que prefere ser lentamente descarnado a romper seu pacto inútil com a oligarquia anti Brasil e anti Povo, ou a obsessão em se negar esta dura realidade. não tentem esconder o sol na poeira: o Lulismo jamais tomará qualquer medida que contrarie frontalmente os interesses dos setores dominantes. como Jango, prefere ser derrubado sem luta. lembrem-se de Allende. o Palácio sendo bombardeado e Allende clamando: "onde está  Pinochet?". o preço da auto-ilusão sempre é muito mais caro do que a dor de se enfrentar a verdade.

"Tivemos que fazer esse ajuste, que não é nem de direita, nem de esquerda, nem de centro"
Dilma Roussef, ao jornal belga "Le Soir", 08/06/2015

09/06/2015: este governo executa a política econômica derrotada nas urnas. mais uma vez o Povo e a Nação foram traídos. a única pretensão, e ilusão, do governo é ser minimamente menos pior do que Aécio seria.

14/06/2015: acabou o terceiro turno. o golpe se consumou. mais uma vez os trabalhadores foram traídos. a burguesia liberal brasileira e sua contraparte, o Lulismo da conciliação permanente, pariram um monstro. já não sabem como se desfazer dele.

16/06/2015: foram necessário 12 longos anos para um petista histórico como Paul Singer admitir estelionato eleitoral. a verdade é que o estelionato eleitoral se inaugurou em Washington, no dia 12/12/2002, com Lula apertando a mão de Bush para anunciar Meirelles no BC.

16/06/2015: as tais “mudanças” são fábulas narradas pelos marqueteiros. se houve de fato mudança, qual a necessidade de “ajuste fiscal”? deveríamos ter um pujante mercado interno de massas impulsionando o desenvolvimento. o que houve foi uma bolha de crédito, como conseqüência, 6 em cada 10 famílias estão inadimplentes. e os “meninos dos banqueiros” seguem aumentando os juros e promovendo o desemprego!

"Sí, claro que fallamos. Nuestra mayor equivocación fue exagerar en las políticas de exoneración de las grandes empresas. El Estado dejó de recaudar para devolver a los empresarios y en 2014 salía más dinero del que entraba. Entre 2011 y 2014 se exoneraron 428.000 millones de reales [114.000 millones de euros] y cuando Dilma intentó acabar con esa ayuda el Senado no lo permitió. El segundo error vino cuando la Presidenta anunció el ajuste fiscal y el electorado que la había elegido en 2014, al que le habíamos prometido que mantendríamos los gastos, se sintió traicionado. Así empezamos a perder credibilidad."

29/06/2015: Lulistas cometem um erro. um erro de conseqüências catastróficas para o Brasil. o erro catastrófico dos Lulistas não está, de modo algum, em apoiar o governo. não há nenhum problema no apoio ao governo. e muito menos em defender o governo. e menos ainda em evitar qualquer possibilidade de volta dos tucanos e da Direita. o erro catastrófico dos Lulistas está em apoiar a política econômica neoliberal herdada de FHC e mantida até hoje! Lulistas que defendem desenvolvimento com inclusão social deveriam ser os primeiros a propor e defender mudanças na política econômica. este é o erro catastrófico dos Lulistas: fazer coincidir seu apoio a Lula e ao governo com um apoio automático à política neoliberal.

03/07/2015: os 12 anos de auto-ilusão deveriam ser mais do que suficientes para a superação do Lulismo, cujo “reformismo sem reformas”  e “conciliação permanente” provocaram o atual colapso da governabilidade e a tomada da iniciativa política pela Direita. não estou aqui para fazer amigos. pouco me importa se leiam ou não o que escrevo.  o que defendo são propostas para viabilizar nossa sobrevivência como sociedade democrática. e entre elas não se inclui a defesa incondicional nem do governo e muito menos de Lula.

"Eu mesmo fiz um ajuste na economia, e depois o Brasil ficou muito melhor. O nosso maior ajuste ainda é menor do que os ajustes que eles fizeram".

09/07/2015: agora chega ao fim a viagem redonda do Lulismo. Dilma derrota nas urnas “as medidas impopulares”, apenas para aplicá-las antes mesmo de sua segunda posse. vence pelo voto popular “o Banco Central independente”, mas nomeia um executivo de banco para o Ministério da Fazenda. permanece cativa do paradigma da “conciliação permanente”, só que o outro lado não mais está disposto a conciliar.

dois caras conversam.  um manifesta sua enorme preocupação com os desdobramentos do cenário político. afirma que tem dois grandes motivos para considerar que as coisas vão piorar. o primeiro deles é que austeridade fiscal gera recessão e desemprego e, com isto, instabilidade social e agravamento da fragilidade do Governo. o outro cara argumenta que não havia motivos para tanto alarme, afinal a Dilma iria acabar caindo, de um jeito ou de outro. ao que é imediatamente replicado: “pois é... só que este é o segundo motivo”.

ou vice-versa.

dois caras conversam. um expressa sua enorme preocupação com o desdobramento do cenário político. afirma que tem dois grandes motivos para considerar que as coisas vão piorar. o primeiro deles é que do jeito que a coisa vai, Dilma acaba caindo. o outro cara interrompe bruscamente: “que nada! Dilma é coração valente. vai vencer a pressão e acabar ficando”. então o primeiro cara diz: “pois é... só que este é o segundo motivo”.

25/08/2015:  impeachment do governo eleito nas urnas já aconteceu. o golpe já foi dado. não foi ao povo e aos trabalhadores que o Lulismo recorreu para tentar alguma sobrevida em seu estágio terminal. o Lulismo buscou o apoio daqueles a quem tão bem serviu desde 2003: os banqueiros do Bradesco e do Itaú, João Roberto Marinho, a Fiesp e a Firjan, a CNI, CNT, CNS, o Financial Times e o The New York Times. Dilma jamais voltará a governar. o golpe já foi dado. quem governa o Brasil é a velhíssima “frente da oligarquia brasileira”: banqueiros, rentistas, empreiteiros, usineiros, agronegócio e mineradores.

quando o velho já está morto mas o novo ainda não conseguiu nascer, surgem os sintomas mórbidos, os fenômenos bizarros e as criaturas monstruosas. este é o tempo que vivemos. uma longa e exasperante noite que persiste em perdurar.

quem quiser buscar o novo, afaste-se do Lulismo, de Lula, de Dilma e do PT. tampouco o novo está em siglas como o PSOL e PSTU.

o novo esboçou seu nascimento nas manifestações de junho de 2013. o novo tentou ganhar corpo nos protestos do “Não Vai Ter Copa”, mas Dilma preferiu ficar do lado da FIFA, da CBF e de uma seleção de garotos mimados, expulsando a juventude das ruas para realizar uma Copa de ricos para ricos, obtendo como resultado o fiasco dos 7x1 e deixando como legado nenhum crescimento econômico e ampliação da zona de suspensão de direitos. como conseqüência, a Direita ocupou o vácuo das ruas, bradando pela volta da ditadura.

com mais um repique da crise internacional e o agravamento da crise climática, o novo nos encara nos olhos e se debate dentro de cada um de nós tentando nascer. mas para que isto aconteça é preciso que cada um de nós deixe o velho morrer dentro de si mesmo. o que precisamos é de um outro jeito de viver.

vídeo: Lula desmente declaração contra Dilma


.

os Brasis: vislumbres da explosão que se anuncia

25/10/2017


nenhuma unidade nos unirá. ao invés de reduzir o contraditório a uma unidade totalitária, é preciso adotar uma lógica da estratégia, cuja função é estabelecer quais são as conexões possíveis entre termos discordantes e que se mantêm discordantes. a lógica da estratégia é a lógica da conexão do heterogêneo e não a uma lógica da homogeneização do contraditório. após 100 anos de celebrações da Revolução de 1917, sua maior lição ainda não foi completamente assimilada: o ovo da serpente do gulag soviético já estava presente no comitê central do partido Bolchevique. Lênin, Trostky e Stálin, a santíssima trindade da nomemklatura, sempre foram uma única e só pessoa, desde os primeiros e sangrentos expurgos, como comprovam os massacres de  Kronstadt e do Exército Negro. o compromisso com a democracia interna das organizações de luta, sejam ou não partidos, é a única garantia para uma prática de construção permanente de um campo social autenticamente democrático. mais Democracia só é possível com mais Autonomia. não será nenhuma "união das Esquerdas" que viabilizará a luta contra o golpe. é na luta concreta contra o golpe que se faz a união das Esquerdas;

o caos como criação. tudo sob o céu está mergulhado no caos. só resta um único movimento: com o firmamento rasgado devemos mergulhar voluntariamente no abismo. mas sem nele desaparecer. sem passar pela fase do caos nenhuma criação é possível. "a saída se dará através de uma geografia política que não conhecemos". o caos revela o que sempre soubemos, mas nunca conseguimos suportar: não há qualquer racionalidade no sistema. já não há nenhum Centro de Comando e Controle. os escombros do Brasil, tal qual o pensávamos conhecer, são também as ruínas do o Império do Caos. a cartografia da geopolítica global mudou. está em marcha uma nova grande desintegração. mares já navegados, mas outra vez desconhecidos. há também uma potência no caos. se é através da arquitetura do caos que pretendem nos destruir, é deste mesmo caos que ergueremos nossa criação. o processo de reconstrução da Democracia e da refundação da República não se dará sob a luz dos velhos modelos. tudo terá que ser reconstruído de baixo para cima, de dentro para fora, sob o paradigma da transversalidade: uma verticalidade profundamente enraizada num ampla e capilarizada horizontalidade. é no diálogo entre as Caravanas de Lula com as Ocupações do MTST que na conjuntura atual este processo tem sua dramaturgia;

o programa e a estratégia. mas o que nasce primeiro? o programa mínimo e sua estratégia? ou o candidato viável eleitoralmente para viabilizá-lo? ou continuamos nos perdendo nas falsas questões? e sendo assim, qual a questão que, de fato, importa? organizar-se nunca quis dizer filiar-se numa mesma orga­nização, participar da mesma associação, pertencer ao mesmo partido. organizar-se é agir coletivamente segundo uma percepção compartilhada, seja a que nível for. "há uma espécie de massa escura que ninguém consegue controlar ou definir bem mas que compõe a maior parte do universo político democrático". então, o que seria a energia escura que realmente mantém vivo o universo político, sem que quase ninguém disto se aperceba? qual a centelha que incendeia a insurreição? qual pistão coloca a máquina em movimento? uma agenda comum? por que os homens se rebelam? as insurreições pertencem à história. mas, de certa forma, lhe escapam. as insurreições são paridas por aquela circunstância na qual, em meio a uma acentuada crise econômica, nem os de baixo nem os de cima já não mais podem viver como antes. qualquer semelhança com os desdobramentos da atual conjunta brasileira é muito mais do que mera coincidência. mas ainda assim, há uma escolha irredutível: o momento em que frente a certeza da injustiça é preferível o risco da morte;

explode, Brasil! dominado pelo crime e com o tecido social em avançada decomposição, o Brasil está prestes a explodir. 2018 será para sempre um ano longe demais. nem o país, tampouco cada um de nós, será o mesmo até lá. a crise se tornou maior do que tudo e do que todos. haverá com certeza um Ano Novo. mas não será, com efeito, um réveillon feliz. quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu. salve os encantados. que nos protejam e nos iluminem nesta perigosa travessia.

vídeo: Amélia Muge - Nevoeiro

.

17 outubro 2017

os Brasis: o que fazer?!

17/10/2017

o Golpe de 2016 jamais se estabilizará. assim como 2018 será para sempre um ano longe demais, o Golpeachment jamais se estabilizará. será mais um dos abortos do Império em sua queda inexorável, provocando a desintegração do mundo unipolar. quem comanda o Golpe de 2016? também quem comanda a Guerra na Síria! ninguém além do caos está no controle. a implantação do Estado Pós-Democrático no Brasil através da estratégia de uma Guerra contra a Corrupção, como psi-op de manipulação da população, implicaria também em sacrificar considerável parte da cleptocracia local. como fechar o acordo das elites, se ninguém quer ser comido primeiro? alguns até estavam indecisos, mas agora já não tem tanta certeza. são muitas as cabeças à rolar no altar dos sacrifícios, para se viabilizar a reedição de mais um Pacto à la Brasil. todos querem ser o último da fila, mas um a um deverão ser devorados. só a antropofagia nos une. nas gravações de Sérgio Machado está detalhado o mapa do golpe: todos tem um rabo imenso e o rabo de cada qual está amarradinho no rabo dos demais. afinal, este pó é de quem tôu pensando? ah é sim!

fazer-se movimento. no último ano a pergunta "O que fazer?" se impôs com força particular entre todos aqueles que sofrem com o Golpe de 2016. frente ao beco sem saída que se tornou o presente, alguns tentam fazer voltar atrás a roda da História. como se o contexto global já não tivesse se alterado definitivamente, encerrando ciclos e mesmo colocando fim a uma era. no Brasil, o pacto de governabilidade da Nova República se esgotou. no mundo, o padrão monetário Dólar está em colapso. o anjo da História abriu suas enormes asas negras sobre o caos. não há retorno. a fuga para frente também está interditada. não serão as improváveis, mas com certeza viciadas, eleições de 2018 o instrumento correto para derrotar o Golpeachment. de nada adianta se deslocar em direção ao futuro, apenas para tentar voltar a um passado perdido para sempre. para começar a se mover, é preciso fazer de si mesmo movimento. o futuro é agora. quem ainda se pergunta "O que fazer?", é porque persiste em manter-se surdo para a voz de suas próprias respostas;

um óbvio paradoxo. como um governo rejeitado por virtualmente toda a população, aplicando um programa repetidas vezes reprovado nas urnas, consegue se manter? como um Congresso é capaz de aprovar contra-reformas em detrimento do eleitorado e da maioria da população? simplesmente porque no último baile da Ilha Fiscal da Nova República todas as máscaras foram abolidas. a patologia do modelo de representação política atinge seu estágio terminal. o Congresso foi usurpado por uma horda fisiológica eleita pela promíscua coalizão do quociente partidário com o financiamento empresarial. dos 513 deputados federais, só 36 foram eleitos unicamente com votos próprios. por não representarem o eleitor e serem completamente tributários de um sistema político falido, se explica a votação pelo congelamento por 20 anos dos investimentos públicos em saúde e educação. uma emenda constitucional que nunca seria legitimada pelo voto, mas claramente proposta na plataforma dos grandes financiadores de campanha. fica exposto de modo escancaradamente obsceno os óbvios limites da Democracia Representativa, em cuja estreita moldura jaz cativa a soberania popular. com o monopólio do exercício da violência sob a forma de um Estado Penal, no qual o poder político e o poder econômico se identificam sem pudor;

aqui jaz. assim como a retomado dos movimentos sociais em 1977 marca o início do fim da Ditadura, em Junho de 2013 o sistema de poder estabelecido com a Nova República começa a ruir. após o Golpe de 2016, o Brasil tal qual o imaginávamos conhecer está morto! onde tudo termina, também algo pode renascer. como no último baile do Império, todos nós dançamos ambiguamente sobre um vulcão, com uma erupção de momentos históricos diferentes convergindo novamente para um impasse: o vácuo de um interregno. a Ditadura Civil-Militar se distendeu de modo tão lento, gradual e seguro que se tornou um longo dia ainda por terminar. o Brasil é mantido em estado de suspensão, paralisado naquela encruzilhada de 13 de março de 1964: a fatal sexta-feira das Reformas de Base. ainda vivemos o pesadelo do comício da Central. tudo ainda resta por se fazer, 53 anos não foram suficientes. deixemos que os mortos enterrem seus mortos, e nos dediquemos a construir coletivamente um novo modo de viver. se desejamos ter um futuro, chegou a hora da reforma de nós mesmos. o que fazer? fazer-se movimento.
 .

14 outubro 2017

os Brasis: sir, yes sir

14/10/2017


incontinência. para os brasucas vira-latas, cuja preferência é lavar latrinas no exterior ao invés de lutarem pela independência do Brasil, nossa bandeira sempre será com listras vermelhas. e ao ser exibida num telão de alguma churrascaria de subúrbio no paraíso cucaracha de Miami, deve ser homenageada por continências e urros de "USA! USA!"! foi pelo golpe de um impeachment sem crime de responsabilidade que todas as máscaras vieram ao chão. afinal, o poder não muda as pessoas, ele apenas revela quem elas realmente são. já não há o que Temer, assim as incontinências estão por toda a parte. são milhões de Cunhas, de Aécios, de Barrosos, de Gilmar Mendes, de Moros e Deltans Dallagnols. a lumpenburguesia brasileira não tem mais qualquer pudor em executar seu projeto: tanger todo um país e toda uma população pela ponte de volta ao passado colonial e escravagista, do qual a rigor nunca chegamos a nos libertar;

nunca existiu nenhuma "burguesia nacional" no Brasil. a base sobre a qual se ergue no Brasil a burguesia industrial nascente não foi a pequena empresa industrial, mas o grande comércio ligado às atividades de importação e exportação. do mesmo modo que a exportação, a importação era dominada em grande parte por empresas estrangeiras. por sua vez, o comércio interno se mantinha sob controle dos importadores. graças a sua origem social, o burguês imigrante encontra facilmente um lugar no grande comércio. contrário do mito do self-made man, de origem modesta e que constitui fortuna graças ao trabalho árduo e persistente, o imigrante que vem a se tornar proprietário de empresas no Brasil aqui já chega com alguma forma de capital. desse modo, o latifúndio exportador, a importação, o grande comércio e a burguesia imigrante, que vem a ser o núcleo da burguesia industrial nascente, estão todos intimamente conectados – fazendo com que, desde os primórdios, a burguesia brasileira nunca tenha se distinguido pelo caráter “nacional”;

as empresas "campeães nacionais" como empreendimento anti nacional. na falta de uma autêntica "burguesia nacional", o neo-desenvolvimentismo Lulista decidiu gerar artificialmente a sua própria. a inseminação se deu através dos cofres do BNDES, se valendo dos recursos do FGTS. assim surgiu Eike Batista, o empresário-companheiro, molde inaugural de toda uma geração de futuros capitalistas brasileiros. e assim também se consolidou a JBS, com seu quase monopólio no setor de carnes chegou a ser a maior empresa privada não financeira do Brasil. atualmente o ex-futuro homem mais rico do mundo cumpre uma conveniente prisão domiciliar, após habeas corpus concedido por Gilmar Mendes. e a agora JBS Foods International transferiu ativos para empresa na Irlanda. os empréstimos, desonerações e incentivos fiscais do financiamento estatal do capitalismo brasileiro, apenas despertaram o "espírito animal" do empresariado para a concentração e oligopolização, com todos os principais setores da economia controlados por cartéis. ao invés de multinacionais brasileiras competitivas no mercado global, a política de "campeães nacionais" gerou ausência de concorrência, produtos e serviços de baixa qualidade, insuficiente índice de inovação, baixo índice de crescimento econômico e impacto negativo na desigualdade social;

congelada na Guerra Fria. a doutrina militar das FFAA brasileiras estacionou em 1964. em pleno capitalismo cognitivo, no mundo do trabalho imaterial, no qual as redes, a logística e as populações se tornaram o principal front de batalha, com o front em cada um e ninguém mais em cada front,
um mundo onde a mais temida super arma é a IA e sob as perigosas consequências da queda do Império, o pensamento militar dominante no Brasil se reduz a uma anacrônica estratégia de caça às bruxas esquerdistas, para assim concretizar o clamor BolsoNazi e “matar uns 30 mil”. o caráter nacional das FFAA brasileiras foi amputado pela Ditadura Civil-Militar. estima-se que o AI-1 tenha atingido cerca de 980 militares. os expurgos objetivaram não apenas o imediato afastamento dos militares nacionalistas e de esquerda, mas tiveram um caráter preventivo, evitando o surgimento de novas lideranças e alterando o processo de engajamento e promoção. entre 1964 e 1970 a Ditadura Civil-Militar puniu 1.498 militares, sendo: 270 altos oficiais; 283 oficiais intermediários e subalternos; 767 entre sargentos e suboficiais; e 152 entre cabos, marinheiros e taifeiros. (ref. “A política repressiva contra militares no Brasil após o Golpe de 1964”, Cláudio Beserra de Vasconcelos). apenas em novembro de 2002 foi convertida em lei a Medida Provisória de 2000, que anistiou cerca de 2.500 militares punidos por infrações disciplinares, concedeu aos atingidos a declaração de anistiado político, prevendo também o pagamento de indenizações. a Ditadura persiste. o entulho autoritário não foi removido. a unilateral Lei da Anistia não foi revista. e o Brasil se tornou o único país da América Latina onde após o fim do regime militar os casos de tortura aumentaram;

tornar-se pobre. o fantasma do Natal futuro de 2017 trará um inevitável e desagradável presente para paneleiros globotomizados, trouxinhas úteis e patos amarelos. seu maior pesadelo se tornará realidade. mas não apenas para eles: todos estamos em vias de nos tornarmos pobres. enfim a crise vai se materializar brutalmente no corpo de cada um de nós. assim como nunca houve neste país nenhuma "nova classe média", esta fantasia conceitual tão conveniente tanto aos economistas neoliberais quanto aos teóricos do Lulismo,  no Brasil como no mundo, a única novidade para as classes médias é seu inexorável empobrecimento. desta decomposição emerge uma classe sem nome: os pobres são legião. ou aceitamos docilmente o lugar para nós reservado nesta brasilianização do mundo. ou compreendemos que a única chance de sobreviver é criar um outro modo de viver. se ainda nos indagamos como fazê-lo, é porque persistimos em nos mantermos surdos para a voz de nossas próprias respostas;

sir, yes sir. ainda girando em falso na fatídica encruzilhada de um interregno, ou assumimos nosso destino na guerra civil híbrida em curso, ou nos resignamos como complexados cucarachas, cujo momento glorioso se reduz a bater continência para uma bandeira listras vermelhas.
.

09 outubro 2017

os Brasis: antes do fim

09/10/2017
foto: Bruna Goularte

Entreouvido no Twitter, ontem: "Aos EUA só resta o Brasil de Temer, agora que já perderam todo o Oriente Médio, árabes, persas, russos, turcos, e até a Venezuela... Isso é que é fim de império, sô! [kkkkkkkkkk]".

2018, uma miragem para fanáticos. enquanto sobreviver uma última quimera, a miragem das eleições de 2018, prosseguirá o pic-nic de abutres, até já não restar Brasil algum. tudo terá sido então devorado pela rapina de curto prazo, com o país reconduzido a um status neo colonial e semi escravagista, concretizando a destruição do Brasil enquanto nação soberana e integrante do BRICS. entre as diversas causas para o Golpeachment, a determinante é impedir a construção de um mundo multipolar, no qual o Brasil teria sido pedra fundamental. ainda assim, a fanática obsessão com 2018 paralisa todo o movimento de resistência ao Golpe, como se este pudesse ser derrotado pela via parlamentar, ou judicial. um golpe só pode ser derrotado por um contragolpe. através de um movimento de massas, ocupando as redes e as ruas. pela participação em lutas concretas de pessoas concretas em lugares concretos, e potencializando estas lutas através de um incessante trabalho de registro, divulgação e conexão nas redes virtuais. seja quem formos, seja aonde vivermos, sempre haverá inúmeras demandas para agir. militar é viver. não existe militância política separada da vida. é em nossa própria forma de viver que fazemos política. e só é possível fazer política em comunidade;

aos traidores está garantida sua recompensa. nunca antes neste país, esteve tão obscenamente escancarada a absoluta falta de compromisso da cleptocracia brasileira com o Brasil. vendam sua pátria e façam o que quiserem. para os traidores, todos os seus demais crimes serão perdoados, pois nenhuma prova de inocência pode ser maior do que uma traição tão despudoradamente assumida. para os traidores, toda sua recompensa será instantaneamente realizada, como "campeões nacionais" do empreendimento de traição aos interesses nacionais. Brasil, teu nome é traição. a Síria é aqui, com o Brasil sendo destruído por grupos terroristas treinados, financiados e apoiados pelo Deep State, o braço invisível do Império. o Haiti também é aqui, com as FFAA atuando como tropas de ocupação em nosso próprio território, para impor nas favelas cariocas o paradigma dos guetos da Palestina. e o México e a Colômbia também são aqui, pois a Guerra de Famiglias também é uma disputa entre cartéis do narcotráfico, do tráfico de armas, de minérios raros, de órgãos, de pessoas, de tecido fetal. a Grécia somos nós, com toda a economia tragada pelo buraco negro do mercado financeiro especulativo de curto prazo. não restará pedra sobre pedra;

"onde é que isto vai parar?" sob qualquer ponto de vista, o presente é um beco sem saída. aqueles que desejariam acima de tudo esperar, veem ser-lhes retirado qualquer tipo de sustentação. os que pretendem ter soluções são imediatamente desmentidos. todo mundo sabe que as coisas só podem ir de mal a pior. a tampa da panela de pressão foi fortemente fechada, mas lá dentro as tensões sociais não param de aumentar. ainda alguma "Insurreição que vem"? ou para o Brasil já passou o tempo das insurreições, nenhum fantasma mais nos assombra e só nos cabe viver o luto. então por que teimam as situações insuportáveis em se proliferar por toda a parte. tudo e todos estão muito mal. e a pergunta sempre é a mesma: "onde é que isto vai parar?". quanto pior, ainda pior fica. e nada pior do que a miragem de uma hipotética eleição em 2018, da qual a única certeza são seus irremediáveis vícios. isto só vai parar ao se retomar o fio perdido da luta contra o golpe, a partir do Ocupa Brasília em 24-MAI. depois de então pode até parecer que o Lulismo abdicou da luta agora, em prol de “Lula 2018”, mas não nos deixemos enganar: o Lulismo abdicou mesmo da luta agora, em prol de “Lula 2018”. e para isto parar é preciso voltar a se movimentar. e bradar: "Fora, Temer!", "Diretas Já" e "Pela nulidade do impeachment". não será fácil. não será rápido. não será sem lágrimas, sem pedras e sem sangue. mas é o único caminho para se contrapor à longa marcha nacional da insensatez;

haja Rivotril! enquanto prevalecer a quimera do fanatismo e a realidade da traição, nenhum fígado estará saudável. úlcera, diverticulite, hemorroida, pancreatite, cálculo biliar, glaucoma, degenerescência macular. na era do ansiolítico, o pulso ainda pulsa! Definitivamente, Temer, não!


.

06 outubro 2017

Brasil, teu nome é traição

06/10/2017


uma cadeira sempre vazia. uma cadeira vazia se torna a grande questão. talvez a resposta não venha de quem nela estaria sentado, ou poderia senta-ser. seja como for, a foto é um símbolo de nossa época: o Pacto à la Brasil sendo firmado, não com sangue mas sim cerveja, nos fundos de um boteco qualquer. então, a cadeira vazia ali está justamente para ficar vazia. uma garantia aos demais, revezando-se nas outras duas cadeiras, que a Justiça jamais compareceria aquele encontro.
com esta certeza, mesmo não retratados na foto, todos os demais estiveram naquela mesa de fundo de bar: PGR e STF, Temer e Aécio, Gilmar Mendes e Sérgio Moro, FHC e o embaixador dos EUA, Serra e Jorge Paulo Lemann, e também, como não, Lula, o PT a CUT e a Frente Brasil Popular. e porque não também setores militares. Brasil, teu nome é traição;

o colapso atual não é obra de amadores. assim como nosso subdesenvolvimento, o colapso atual foi meticulosamente preparado desde a Constituição de 1988. a "Constituição Cidadã", apesar de seus inúmeros avanços, não passou de outro Pacto à la Brasil, sem remover o entulho autoritário foi firmada com o sangue dos torturados e desaparecidos pela Ditadura Civil-Miltar. um pacto sempre renovado com a indecorosa participação de Lula e do PT. como no impeachment de Collor, quando a cúpula do partido não se poupou de comparecer ao beija mão de Roberto Marinho. um ano depois, em 1993, o escândalo dos anões do orçamento foi o gênesis do pacto de governabilidade agora demolido pela Lava Jato. apesar de usarem cartões premiados da Loteria Federal para legalizar as comissões recebidas, a sorte grande vinha mesmo é do propinoduto das empreiteiras. Lula e o PT optaram então pelo conchavo de cúpula, por julgarem ser inevitável sua vitória nas eleições do ano seguinte. esqueceram de combinar com FHC e o Plano Real;

as caravanas passam para que os cães permaneçam imóveis. seja qual for seu destino de chegada, a Caravana de Lula pelo Nordeste ficará como um dos mais belos momentos de nossa História: o emocionante reencontro de Lula com o Povo Brasileiro. neste reencontro os dois Lulas se apresentam com toda sua força: o Lula político e o Lula símbolo. entretanto, os dois participam da mesma Caravana, ao mesmo tempo e percorrendo os mesmos lugares, mas separados por um infinito no tempo e no espaço. o problema com o Lula político não é sua opção por acordos e conciliações, mas sua ferrenha oposição a qualquer outra possibilidade. como se não houvesse alternativa. a mesma fórmula consagrada pelo neoliberalismo: TINA (There Is No Alternative). o Lula político jamais quis acordo com aqueles à sua Esquerda, sempre impôs submissão incondicional. o Lula político reduz toda a vitalidade da Caravana a uma pré campanha eleitoral, impedindo que torne um potente motor de mobilização social contra o golpe. submetendo ainda mais uma vez o movimento social ao calendário eleitoral, engessando-o na via institucional. um campanha eleitoral para um eleição incerta na qual ele nem sabe se poderá legalmente se candidatar. mas sempre se colocando como o único que pode "salvar o Brasil", muito embora sem jamais apresentar um programa mínimo claro para que isto se viabilize. o Lula símbolo se atira nos braços do povo, de onde jamais deveria ter saído, desde as memoráveis assembleias da Vila Euclides, passando pelas Diretas Já e a campanha de 1989. o Lula símbolo é aquele com o qual o povo se identifica como "um dos nossos". e aqui está o ponto crucial: não se trata de "nos representa", e sim "é um dos nossos". então surge a insuperável contradição, embora seja autenticamente "um dos nossos", não é assim que o Lula político pensa e age efetivamente. o Lula político sempre se impôs e manipulou o Lula símbolo. mas quanto mais se atira nos braços do Povo Brasileiro, mais o Lula símbolo se fortalece. em situações limites, como a que vivemos com o golpe, as contradições se acirram e tendem a um desenlace;

vai uma cervejinha aí? vivemos os mais perigosos dos tempos: a queda inexorável de um Império, o mais poderoso Império já constituído em toda a História: o Império do Caos. este Império está ruindo. sofremos no Brasil os impactos desta queda. como era previsível, Trump falhou miseravelmente em drenar o pântano e fazer com que o Império voltasse a ser uma nação entre as nações, ainda que numa posição hegemônica. Trump foi a última tentativa do próprio establishment de resgatar os EUA enquanto nação, mas para isto o Império deveria se sacrificado. só pelo lema "America First" os EUA seriam grandes novamente. ao invés disto, o Império vai destruir o que restou dos EUA, inclusive, lá como aqui, a legitimidade residual do sistema político. os EUA estão experimentando em sua própria casa aquilo que o Império tanto e tantas vezes já fez pelo mundo. na demolição controlada do Brasil o Comando em Chefe do golpe é um Comitê Anglo-SioNazi. jamais poderiam admitir que o Brasil se tornasse um dos principais tijolos dos BRICS, para a construção de um mundo multipolar. daí o atual presidente do BC brasileiro, nascido em Israel e onde viveu até os 10 anos de idade, e o Ministro da Fazenda Henrique Meirelles com sua cidadania norte-americana. assim como o mais rico dos banqueiros do mundo ainda é um desconhecido para a maioria de seus “compatriotas” brasileiros, são hoje propriedade do bilionário Lemann três dos mais tradicionais ícones da economia dos EUA: Burguer King, Budweiser e Heinz. Cunha e Temer, com sua gangue de ladrões e os mais de 300 picaretas no Congresso e no Judiciário, são apenas a ponta do iceberg do Deep State no Brasil. os CEO são: Lemann, Armínio Fraga, Goldfajn, Safra, Setúbal & Marinho, Steinbruch, Henrique Meirelles;

enfim, o caos e o banho de sangue. prossegue em estado avançado a decomposição do Brasil, um país em vias de desaparecimento. para viabilizar o Pacto à la Brasil, nenhum preço é alto demais. por toda parte e vinda de todos: traição é o nome deste jogo jogado. a Ex-querda prossegue com sua política como se estivesse negociando algum tipo de acordo, mas que na verdade nunca esteve em qualquer mesa de negociação, pois o outro lado não quer mais negociar, quer rendição incondicional e extermínio completo. nenhuma surpresa com a delação de Palocci, é apenas o coroamento de toda uma trajetória de traições sucessivas que desde 1989 o Lulismo comete. a "classe média" Lulista debita os maiores problemas políticos brasileiros à própria "classe média", da qual se julga não fazer parte, e a Globo, a qual está sempre assistindo em suas muitas TV espalhadas pela casa. é o melancólico resultado de 13 longos anos infantilizando e pauperizando o debate político. o Império enlouqueceu definitivamente. novo crash financeiro se aproxima, ainda mais violento do que em 2008. o capital fictício girando no mercado altamente especulativo precisa se fixar em ativos concretos. por isto o Brasil foi colocado à venda: todo um continente a ser expropriado e ocupado. em julho de 2017: “As As operações overnight corresponderam a 98,3% do total das operações compromissadas, com médias diárias de R$1,1 trilhão e de 6.284 operações.”. terra, água e energia são os ativos cobiçados para neles ancorar o capital improdutivo. vai ter fome, violência, caos social, desagregação, doenças. o Brasil ruma para se tornar um mix de Grécia, Colômbia e Síria. arruinados pelo mercado financeiro especulativo, dominados pelo narcotráfico e destruídos pela guerra civil. não esperem pelo banho de sangue. porque desta vez, por toda parte, o sangue já está jorrando pelas veias abertas do Brasil. e a realidade chegou naquele ponto que deixa humilhada a mais fanática das teorias da conspiração.
.         

05 outubro 2017

os Brasis: anotações sobre um futuro sem presente

05/10/2017


o golpeachment é contra os BRICS. o Golpe de 2016, como todo fato social complexo, tem muitas causas entrelaçadas. contudo, a determinante é justamente o maior e inegável êxito do Lulismo: uma política externa alinhada com o projeto de tornar o Brasil um fundamental tijolo dos BRICS. o Império jamais poderia aceitar impunemente um mundo multipolar, no qual o Brasil teria papel de destaque, daí a afirmação de Janot: “A Lava Jato é muito maior do que nós”. sem compreender este decisivo fator geopolítico mundial, não se pode estabelecer a estratégia eficaz para a superação do golpe;

2018 é uma miragem no deserto do Lulismo. a superação do Golpe de 2016 não passa por eleições. não pode haver eleições democráticas e legítimas numa Ditadura, como é de fato o regime que vivemos hoje no Brasil, com os três poderes e as instituições sem qualquer compromisso com o poder constituinte. um golpe só pode ser derrotado por um contra golpe. através de um movimento de massas em torno de três eixos: a nulidade do impeachment, a revogação de todos os atos e contratos do governo golpista e a punição de todos os responsáveis pelo golpe;

as intenções de voto em Lula são racionais e coerentes, mas o Lulismo não o é. uma coisa são as intenções de voto declaradas em pesquisa pré eleição. outra coisa bem diferente, é  a capacidade de se honrar as expectativas destes possíveis votos. é preciso muita clareza e sabedoria para distinguir estes dois pontos. as intenções de voto em Lula são racionais e coerentes. o que não é racional e coerente, e aqui se revela como o Lulismo se tornou uma seita de fanáticos, é supor que Lula, por conseguinte o Lulismo enquanto doutrina política, será capaz de honrar as expectativas daqueles que hoje nele declaram seus votos. Lula não tem nem o vigor físico, nem o perfil psicológico, nem a postura política e muito menos a estatura ética para liderar a guerra pela libertação do Brasil;

o ciclo se fechou num retorno ao grau zero da representação. 37 anos depois, fechou-se uma volta completa da espiral para se voltar ao mesmo ponto da fundação do PT, em 1980. então havia consenso quanto a via eleitoral e institucional não ser a prioritária para superar a Ditadura Civil-Militar. por que agora seria diferente, muito embora as características das respectivas ditaduras não sejam similares? então, como hoje, partia-se do grau zero da representação. nenhum dos partidos e associações existentes possuía legitimidade popular. assim nasceram o PT e a CUT. tudo isto terá que ser reconstruído. não será com as hipotéticas, mas certamente viciadas, eleições de 2018 que será feito. e sim, como naquele tempo, com um poderoso movimento de massas;

o melancólico óbito da Ex-querda como vivandeira dos quartéis. o fracasso da Esquerda brasileira pode ser medido por seu patético apelo para as FFAA intervirem para restaurar a Democracia no Brasil. para assinar o atestado de óbito, só falta declarar também ser preferível o cheiro dos coturnos ao cheiro do povo. como se não bastasse o atoleiro do estupro do Haiti, com a versão desonrosa de "suicídio" sobre o Gal. Urano e o infarto fulminante do Gal. Jaborandy, e o lodaçal das favelas cariocas, onde são usadas como força de ocupação aplicando o modelo dos campos de concentração da Faixa de Gaza. em pleno capitalismo global, financeirizado e cognitivo, com uma guerra mundial híbrida deflagrada e o planeta novamente à beira do armagedon termonuclear, setores inteiros do comando das FFAA brasileiras persistem no anacrônico paradigma da Guerra Fria;

o presente é o passado. após reconhecer seu equívoco com uma solução militar para a crise,  Moniz Bandeira chega a óbvia conclusão que a Ex-querda de tudo faz para negar: "a revolução como única saída". dito com outras palavras: só um amplo e capilarizado movimento de massas será capaz de derrotar o Golpe de 2016. nenhum futuro, apenas o que for construído no intenso tempo do agora. às redes e às ruas!
.

A Guerra da água: Caxambu e Cambuquira (2)

05/10/2017


a luta de duas pequenas cidades do Sul de Minas para manter como Bem Comum as águas minerais curativas.



vídeo: Audiência Pública - BH - 28/09/2017


vídeo: Os Guardiões das Águas: EERMA na Piscina do Parque das Águas - 25/09/2017


vídeo: Os Guardiões das Águas: APAE 22/09/2017


vídeo: Participação na Audiência Pública - Câmara Municipal de Caxambu (MG)


vídeo: Os Guardiões das Águas: Aniversário de Caxambu - 16/09/2017


vídeo: Os Guardiões das Águas: Vivenciar o Parque 11-12/09/2017


vídeo: Os Guardiões das Águas - Depoimentos - 03


vídeo: Os Guardiões das Águas - Depoimentos - 02


vídeo: Os Guardiões das Águas - Depoimentos


vídeo: 2ª Reunião da Força Tarefa: nossa água é mineral e não minério


vídeo: Mário Alves: Audiência Pública BH - 13/06/2017


vídeo: Clamamos por Preservação


vídeo: #PAREM O EDITAL 04/03/2017 

.