25/10/2017
nenhuma unidade
nos unirá. ao invés de reduzir o contraditório a uma unidade totalitária, é preciso
adotar uma lógica da estratégia, cuja função é estabelecer quais são as
conexões possíveis entre termos discordantes e que se mantêm discordantes. a lógica da
estratégia é a lógica da conexão do heterogêneo e não a uma lógica da
homogeneização do contraditório. após 100 anos de celebrações da Revolução de
1917, sua maior lição ainda não foi completamente assimilada: o ovo da serpente
do gulag soviético já estava presente no comitê central do partido Bolchevique.
Lênin, Trostky e Stálin, a santíssima trindade da nomemklatura, sempre foram uma
única e só pessoa, desde os primeiros e sangrentos expurgos, como comprovam os massacres
de Kronstadt e do Exército Negro. o compromisso com
a democracia
interna das organizações de luta, sejam ou não partidos, é a única garantia
para uma prática de construção permanente de um campo social autenticamente
democrático. mais Democracia só é possível com mais Autonomia. não será nenhuma
"união das Esquerdas" que viabilizará a luta contra o golpe. é na
luta concreta contra o golpe que se faz a união das Esquerdas;
o caos como
criação. tudo sob o céu está
mergulhado no caos. só resta
um único movimento: com o firmamento rasgado devemos mergulhar voluntariamente no abismo. mas sem nele desaparecer. sem passar pela fase do caos nenhuma
criação é possível. "a saída se dará através de uma geografia
política que não conhecemos". o caos revela o que sempre
soubemos, mas nunca conseguimos suportar: não há qualquer racionalidade no
sistema. já não há nenhum Centro de Comando e Controle. os escombros do Brasil,
tal qual o pensávamos conhecer, são também as ruínas do o Império do Caos. a cartografia da geopolítica global mudou.
está em marcha uma nova grande desintegração. mares já navegados, mas outra vez
desconhecidos. há também uma potência no caos. se é através da arquitetura do caos que
pretendem nos destruir, é deste mesmo caos que ergueremos nossa criação. o processo de reconstrução da Democracia e da
refundação da República não se dará sob a luz dos velhos modelos. tudo terá que
ser reconstruído de baixo para cima, de dentro para fora, sob o paradigma da
transversalidade: uma verticalidade profundamente enraizada num ampla e
capilarizada horizontalidade. é no diálogo entre as Caravanas de Lula com as Ocupações do MTST que na conjuntura
atual este processo tem sua dramaturgia;
o programa e a
estratégia. mas o que nasce primeiro? o programa mínimo e
sua estratégia? ou o candidato viável eleitoralmente para viabilizá-lo? ou continuamos
nos perdendo nas falsas questões? e sendo assim, qual
a questão que, de fato, importa? organizar-se nunca quis dizer filiar-se numa
mesma organização, participar da mesma associação, pertencer ao mesmo partido.
organizar-se é agir
coletivamente segundo uma percepção compartilhada, seja a que nível
for. "há uma
espécie de massa escura que ninguém consegue controlar ou definir bem mas que
compõe a maior parte do universo político democrático". então, o que
seria a energia escura que realmente mantém vivo o universo político, sem que
quase ninguém disto se aperceba? qual a centelha que incendeia a insurreição? qual pistão coloca
a máquina em movimento? uma agenda comum? por que os homens se rebelam? as insurreições
pertencem à história. mas, de certa forma, lhe escapam. as insurreições
são paridas por aquela circunstância na qual, em meio a uma acentuada crise
econômica, nem os de baixo nem os de cima já não mais podem viver como antes.
qualquer semelhança com os desdobramentos da atual conjunta brasileira é muito
mais do que mera coincidência. mas ainda assim, há uma escolha irredutível: o
momento em que frente a certeza da injustiça é preferível o risco da morte;
explode, Brasil! dominado pelo crime e com o tecido
social em avançada decomposição, o Brasil está prestes a explodir. 2018 será
para sempre um ano longe demais. nem o país, tampouco cada um de nós, será o
mesmo até lá. a crise se tornou maior do que tudo e do que todos. haverá com certeza
um Ano Novo. mas não será, com efeito, um réveillon feliz. quem quer passar além do Bojador tem que
passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é
que espelhou o céu. salve os encantados. que nos protejam e nos iluminem nesta perigosa
travessia.
vídeo: Amélia Muge - Nevoeiro
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