27 maio 2018

Brasil em Transe: paralisia progressiva

27/05/2018


- o Golpe de 2016 é um processo ainda em curso, aprofundando-se sem qualquer possibilidade de estabilização, dadas as insanáveis contradições que gerou;

- a aplicação das “medidas impopulares”, rejeitadas por quatro vezes nas urnas, só podia se dar através de um golpe de Estado. contudo, a superação de suas consequências sociais, econômicas, políticas e institucionais, só se viabiliza, paradoxalmente, pela aplicação de “medidas populares”. ou seja, fazer o grande Capital pagar o pato de uma crise por ele gerada;

- a Crise de 2008 foi uma fratura estrutural, da qual o Capitalismo só se recicla com violenta e gigantesca destruição de forças produtivas. para superar o Crash de 1929 o New Deal foi insuficiente, apenas com o holocausto da II Guerra Mundial abriu-se um novo ciclo dourado de expansão do Capital;

- é neste contexto de crise estrutural do Capital que o Golpe de 2016 deve ser compreendido e enfrentado;

- para a luta contra o Golpe de 2016 há duas propostas, que podem, e devem, ser complementares: a via institucional/eleitoral e uma amplo de capilarizado movimento de massas;

- o foco na via institucional/eleitoral exige o não acirramento do movimento de massas, para não trazer ainda mais instabilidade a um cenário já bastante conturbado, o que poderia comprometer a realização das Eleições de 2018;

- o Lulismo trabalha com um cenário de Lula confirmado como candidato, vencendo ainda provavelmente no 1o. turno. ou no caso de alguém indicado por Lula, recebendo maciça transferência de votos. assim sendo, quanto menor a instabilidade melhor, pois a vitória eleitoral já estaria literalmente assegurada;

- o foco no movimento de massas exige a imediata retomada da organização pela base, acompanhada de uma constante participação e disputa em todos os movimento sociais e políticos, pois nada garante as Eleições de 2018, assim como o mandato de um governo popular, senão o Poder Popular: a população organizada pela base e lutando por melhores condições de vida;

- o foco no movimento de massas não prescinde da via institucional/eleitoral. ao contrário, considera que esta tem importância insubstituível, somente não pode ser o eixo principal da luta;

- o setor dominante no Brasil é neo colonial, semi escravocrata e sócio minoritário do Capital Financeiro Global, tendo como seu projeto global um Estado Pós-Democrático. fundamentado num regime de exceção permanente, sua garantia é dada por um Judiciário venal, corporativo, seletivo, classista e partidarizado. neste projeto não há lugar para a Democracia Liberal Representativa, e muito menos o Estado de Bem Estar Social;

- mesmo num cenário de novo governo de Lula, ou alguém indicado por ele, não há mais espaço para a reedição de um modelo no qual os banqueiros e grandes empresários ganhem muito dinheiro, como nunca antes neste país, e ainda assim alguns benefícios sejam concedidos para a maioria da população. para dar a amplos setores sociais será necessário tirar privilégios de uma minoria;

- é neste descompasso entre as circunstâncias da realidade e o projeto político do setor majoritário da Esquerda (Lulismo) que o Brasil se deixou voluntariamente capturar numa paralisia progressiva. a imagem de Lula sendo carregado nos ombros do povo para se entregar à PF é o símbolo deste projeto: preso, mas na liderança das intenções de voto em todas as pesquisas;

- a paralisação do transporte terrestre de cargas, sobretudo por toda sua complexidade, expõe  as contradições causadoras deste estado de paralisia progressiva, também aponta sua única chance de cura: através de um amplo e capilarizado movimento de massas.


em meio a uma acentuada crise econômica, tudo sob o céu está mergulhado no caos. os de cima já não podem governar como antes. enquanto os de baixo já não suportam sê-lo, sendo empurrados para uma ação histórica independente.

todas as razões para uma revolução estão aí.

mas não são as razões que fazem as revoluções. são as pessoas. e seus corpos estão imobilizados à espera. esperando o quê? talvez pela revolução...

ou, certamente, pelas Eleições de 2018.

p.s.: monster truck, a conjuntura alucinada de Mad Max na BR-2018.

vídeo: BR-3 - Tony Tornado e Trio Ternura - 1970

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25 maio 2018

Brasil em Transe: implosão

25/05/2018


aqui postamos desde 17/05/2015:

confesso: não tenho esperança. os cegos falam de uma saída. vejo. após os erros terem sido usados como última companhia, à nossa frente senta-se o Nada.

passaram-se três anos de horror e calamidades. mas sempre será o Nada enquanto a Ex-querda não se renovar, enquanto não surgirem novos sujeitos políticos. enquanto não houver uma brutal quebra de paradigmas.

e disto o contundente exemplo na pauta do dia é a paralisação do transporte de carga terrestre.

mesmo sem ainda assumir um perfil definido, pois o próprio movimento continua em disputa interna entre seus vários vetores, fica escandalosamente demonstrada a precariedade e incompetência do desGoverno usurpador.

ainda mais: expõe como é frágil um mundo que se apresenta como inexpugnável.

com alguns poucos dias de interrupção dos fluxos logístico desencadeia-se um efeito dominó. o desabastecimento se torna sistêmico. as cidades entram em colapso. cai por terra a Babilônia.

e não estamos apenas em pleno curso de um golpe de Estado, cuja estabilização é impossível.

a fratura provocada pela Crise de 2008 foi profunda. o desarranjo do Capitalismo é estrutural. só haverá alguma chance de um novo ciclo de relativa estabilidade com gigantesca destruição de forças produtivas. ou o armagedon, ou o pós-capitalismo.

enquanto tudo o que parecia tão sólido se volatiza numa atmosfera irrespirável, o que faz a quase totalidade da Ex-querda?

perdida na mais descarada auto-indulgência, sucumbe à alucinação dos amputados, delirando prazerosamente com membros fantasmas.

quanto mais se acirra a obsessão que a solução para o Brasil jaz voluntariamente numa masmorra em Curitiba, mais a realidade desmascara esta última quimera.

o Brasil não está em busca de nenhuma reconstrução de um mítico centro democrático. ao contrário, vagamos todos sobre um vulcão. em cada erupção, o chão desaparece sob nossos pés.

apesar do movimento do setor de transporte de cargas mais uma vez ensinar que só pelo enfrentamento se altera a correlação de forças, a Ex-querda insiste em optar pela centralidade da via eleitoral/institucional.

só que não.

a incontrolável insatisfação gerada pela aplicação das “medidas impopulares” não pode ser contida numa asfixiante espera pelas Eleições de 2018. as explosões sociais desorganizadas se tornam inevitáveis.

como em Junho de 2013, reincide o cacoete paranóico de transformar fatos sociais complexos em meras investidas conspiratórias.

mas conspiração sempre há, e sempre houve, por toda parte. uma conspiração difusa permeando todas as relações sociais. embora dela sempre sejamos parte, trata-se de algo bastante diferente do mais vulgar dos reducionismos: fazer da luta de classes nada mais que teoria da conspiração.

colocando-se como fiel vassala do Lulismo, a Ex-querda abdicou de levar a cabo aquilo que os caminhoneiros estão agora concretizando. no lugar de uma Greve Geral pela Esquerda, uma paralisação pela Direita.

é assim que seguidamente fomos atirados para longe pelo incessante, inesperado e sempre violento movimento da Roda da História.

em meio à Guerra de Famiglias, ainda perambulamos por um interregno.


o que era para ter sido uma cuidadosa reengenharia de um novo pacto político, ao longo de 13 anos de Lulismo, se converteu agora numa desastrosa implosão. em meio aos destroços e das nuvens de poeira, um caleidoscópio de multifacetadas forças políticas lutam entre si para conquistar uma nova hegemonia.

está tudo implodindo. não será uma demolição controlada. virá aos urros e convulsões.

"todos nós devemos preparar um lugar para nos abrigar das tragédias que sabemos serem inevitáveis. porém, este é um recurso do qual pouca gente faz uso."

p.s.:

alega-se também que o movimento dos caminhoneiros não é de Esquerda.

cabe então questionar: o que é hoje no Brasil e no mundo ser de Esquerda? limita-se a um apoio incondicional à candidatura Lula numa eleição tão incerta quanto viciada?

ou ser de Esquerda continua sendo o que sempre foi: lutar por melhores condições de vida para os explorados e oprimidos?

p.s.2:

agora pipocam divagações e elucubrações sobre o perfil do caminhoneiro autônomo. mas o que sabemos de fato sobre eles?

mais: o que sabemos de fato sobre o trabalhador pobre, sobre o precariado urbano, sobre os pequenos produtores rurais, sobre os condenados da terra?

em 13 anos o que se fez a respeito de um sistema de transporte, de carga e passageiros, completamente inadequado para um país continental?
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11 maio 2018

Brasil em Transe: mundos paralelos

11/05/2018


Táxi:

o motorista comenta sobre mais uma manifestação em frente à Prefeitura. com suas incessantes metástases, a uberização da vida decompõe o tecido social. profundamente irado, o motorista afirma que nada já não adiantava mais nada. muito menos eleição. tá tudo dominado. a única coisa a fazer é uma revolta popular.

Lapa:

nas calçadas se enfileiram os brechós. vende-se de tudo, nem tudo em bom estado, quase tudo usado. carregadores de celular, CD, tampa de vaso sanitário, pratos, abajur, dicionário rasgado, objetos de difícil identificação, todo tipo de cacareco e... roupas. pilhas de roupas. a maioria em perfeita condição de uso. num pedaço de papelão o preço: "Cada peça R$1".

Rua da Carioca:

num cenário desolador de um comércio outrora próspero, 70% da lojas estão fechadas. o Cinema Íris resiste, mas o Bar Luiz já dá os primeiros sinais de naufrágio.

Rua Uruguaiana:

os ambulantes ocuparam a rua em toda sua extensão, até desembocar na barafunda infinita do Camelódromo. num varal esticado entre dois postes de iluminação, bandeiras à venda estão dependuradas. Flamengo, Vasco, Botafogo, Internacional, Corinthians, Brasil e... Israel.

Rua 13 de Maio:

pouco antes da pedra com a Lei Áurea, um grupo de rapazes distribuem propaganda de "casas de massagem". são tantos os santinhos, que daria até prá fazer um álbum, como se fossem as figurinhas da Copa. num Brasil neo-colonial e semi-escravocrata, nosso destino manifesto é a prostituição.

Cinelândia:

as heróicas abnegadas da barraca "Volta Dilma" seguem determinadas. algumas pessoas escrevem Cartas ao Presidente Lula. ao se conversar com uma das heroínas, ela admite ter sido decisão do próprio Lula não resistir, também recusou buscar asilo numa Embaixada: "Sabe como ele é, né. Ele é teimoso". ao mesmo tempo argumenta que as filiações ao PT dispararam, assim como Lula continua liderando em todos os cenários eleitorais. retruco: "Sim. Mas isto serve prá quê ?".

Metrô:

agora sempre há músicos e vendedores nos vagões. todos tentam defender alguns trocados. um deles anuncia um porta-documentos de "material ecológico". assegura que é vendido na rua por R$10. mas na mão do "vendedor amigo" sai apenas por R$2.

Praia de Botafogo:

vendedor de DVD pirata olha em direção a uma viatura da PM estacionando rente à calçada. de dentro dela desce um policial todo paramentado, colete a prova de balas, fuzil a tiracolo. o vendedor caminha em direção a ele. os dois levantam o braço para se cumprimentarem. as mãos se batem no alto. lá se vai o arrego de R$20.

dentro da noite veloz:

intenso tiroteio. armas pesadas. rajadas e estampidos. por uns 40 minutos. enquanto os bondes das facções disputam os territórios do varejo e os barões do narcotráfico permanecem intocáveis, a desmoralização das FFAA em sua intervenção na Segurança Pública no Rio de Janeiro se completa.

a madrugada foi de um sono entrecortado por seguidos pesadelos. neles se descortinava uma assustadora visão de um mundo em decomposição.

apesar de flagrante, quase todos no sonho preferiam fingir que nada daquilo estava realmente acontecendo. como numa imagem refletida na superfície de um espelho, tudo aparecia invertido.

foi então que sonhou acordar. sem notar ainda estar dormindo, sonhou pular rápido da cama.

o dia estava nascendo. ligou o notebook para fazer rápidas anotações sobre o sonho que tivera, dando continuidade ao sonho dentro do sonho.

acabou se atrasando um pouco. chamou um táxi.

logo ao se acomodar no banco do carro, o motorista começou a falar de uma manifestação de taxistas, ocorrendo naquele mesmo momento em frente à Prefeitura.

irado o motorista afirmou nada adiantava mais nada, a não ser uma revolta popular.

apenas balançou seguidamente a cabeça, concordando em silêncio.

desceu na Lapa.

e não conseguia parar de pensar no longo e repetitivo dia que teria pela frente.

"Because I'm not watching Game of Thrones. I'm watching History write itself and it's the most thrilling, exhilarating, troubling, terrifying, evocative meta-story that's ever been written; and it's happening right here, right now, in real time."

vídeo: Feel of Poppies


vídeo: Leaked Google video - THE SELFISH LEDGER


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10 maio 2018

Brasil em Transe: aniquilamento

10/05/2018


em pleno aniquilamento de um mundo iniciado com a derrota consentida nas Eleições de 1989, completa-se um longo percurso na espiral, agora se fechando com a capitulação na luta contra o Golpeachment.

mais uma vez volta-se a uma perigosa encruzilhada.

em 1989 a opção pelo não enfrentamento, tomada na reta final da campanha, na última semana do segundo turno, levou a conivência com uma fraude eleitoral, materializada então como marco inaugural deste mundo agora em condição terminal.

do mesmo modo, mais uma vez a opção pelo não enfrentamento, tomada com a entrega voluntária de Lula à PF no Sindicato de Metalúrgicos em S. Bernardo, em 2018, torna-se a lápide desta tortuosa viagem redonda encerrando uma era.

do consentimento à rendição. da conciliação à capitulação. da derrota ao fracasso. da perda à melancolia. da depressão ao aniquilamento.

em quase 30 anos, a monótona repetição das mesmas escolhas, conduzindo às mesmas consequências previsíveis e anunciadas.

desde 1930, de um total de 25 Presidentes da República, dos apenas 8 eleitos por voto direto só 5 conseguiram completar seus mandatos.

a partir da posse de Lula de 2003, transcorreram-se 13 longos anos para se preparar o enfrentamento com mais um golpe, declaradamente previsível e anunciado com a taxativa conclamação de Carlos Lacerda em 1950:

- "Não pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito. Se eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar".

sempre em busca de uma impossível conciliação permanente, foi também em função da estratégia do não enfrentamento que foi gerada a ilusão de tentar superar o Golpeachment através das Eleições de 2018.

enquanto o Brasil era implodido pelo Golpe de 2016, não restando pedra sobre pedra de sua soberania, a Ex-querda marchava confiante em direção a um ano longe demais, mesmo com as Eleições de 2018 se anunciando tão improváveis quanto certamente viciadas.

com a prisão de Lula, o Lulismo novamente age como se houvesse sido pego de surpresa, muito embora o encarceramento fosse prioridade do golpe já em sua concepção.

agora nada mais restou a não ser o giro em falso numa encruzilhada, frente a qual a escolha já foi tomada muito tempo atrás.

um golpe se institui pela força e só um contra-golpe pode detê-lo: um enfrentamento fundado num amplo e capilarizado movimento de massas.

apesar de todas as evidências dos fatos e de todas as lições da História, as palavras de ordens do Lulismo são como folhas secas empurradas ao ermo pelo vento implacável de seu outono.

eleição sem Lula é fraude. então, nem eleições e ainda por cima se terá a fraude. com o estado de exceção como bônus.

ou Lula ou nada. então, nem Lula e ainda por cima se terá o nada. com o caos como brinde.

escutem estes imensos gemidos, são o débil estrondo do Lulismo ruindo por suas próprias contradições internas. é assim que tudo se aniquila.

"todos nós devemos preparar um lugar para nos abrigar das tragédias que sabemos serem inevitáveis. porém, este é um recurso do qual pouca gente faz uso."
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05 maio 2018

Brasil em Transe: unidade na ilusão

05/05/2018


Wolfgang Schäuble, citado por Yanis Varoufakis

a medida em que as contradições fazem o Lulismo desabar moribundo sob o peso insustentável de suas propostas ocas e de sua prática política vazia, suas correntes internas se soltam, canibalizando-se em disputa pelo espólio do capital eleitoral de Lula.

é cobra mordendo cobra. abutre bicando abutre.

ébrios pelo odor nauseabundo, hienas e urubus não conseguem cessar de girar em torno de um cadáver adiado que procria, obcecados por se apossarem da herança em vida.

muito embora não se possa discordar da palavra de ordem "Eleição sem Lula é fraude!", é preciso ir além: "Eleição é farsa!";

- a forma de governo assim denominada Democracia Liberal Representativa foi concebida para ser justamente um instrumento de controle da população. para se evitar que as amplas camadas oprimidas viessem a ter autêntico protagonismo, mas se conservando uma aparência de participação. por isto, a medida da participação de fato aumentar, acirrando a contradição intrínseca ao modelo, o véu da farsa democrática é rasgado para se exibir a face do Estado de Exceção. afecremovida para o golpe de estado entra na ordem do dia. este é o beco sem saída da Democracia Liberal Representativa;


nunca como antes neste país, estiveram tão expostos os estreitos limites deste cárcere conhecido pela alcunha de: Democracia Liberal Representativa.

em meio a derrota e ao fracasso, com tudo ao redor em acelerado processo de putrefação, ainda circula incólume o espectro de uma última quimera: a união das Esquerdas.

mas a união não se trata de uma palavra inspiradora, facilmente disponível a ser arrancada do dicionário para ser brandida em nome das boas intenções e da paz na terra.

união é o resultado de relações construídas, e mantidas, tanto através de opções quanto das ações coerentes destas decorrentes.

ao contrário de se constituir em princípio fundador, de causa deflagradora, ou pré requesito indispensável, a união é consequência de ações concretas levadas a cabo coletivamente.

como tudo hoje no jogo de espelhos no qual a quase totalidade da Esquerda brasileira se encontra perdida, a perspectiva está invertida.

não é a união que gera a luta. é de uma luta imposta por condições incontornáveis que nasce a união.

para haver união, deve haver luta. para haver luta, ela deve ser travada prioritariamente por fora das instituições.

para haver luta travada prioritariamente por fora das instituições, seu foco não pode ser jurídico-eleitoral.

o Lulismo continua afundando dentro de um abismo, que ele mesmo escava ao correr atrás do próprio rabo. com todos se unindo numa ilusão, mesmo no fundo sabendo não haver saída deste poço no qual se atiraram.

e nenhuma Frente Ampla no gueto da cúpula será capaz de dentro dele arrancar o Brasil. apenas pelas bases, com um amplo e capilarizado movimento de massas se constrói este poder.

somente a luta muda a vida.
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02 maio 2018

Brasil em Transe: transferência de responsabilidade

02/05/2018


antes de ser carregado no braços do povo para se entregar voluntariamente à PF, Lula declarou em seu último discurso:

"- E deixa eu contar uma coisa pra vocês: eu vou atender o mandado deles. E vou atender porque eu quero fazer a transferência de responsabilidade."

após quase um mês de prisão, mantido incomunicável, com todas as visitas negadas, exceto advogados e familiares, pouco a pouco se revela o roteiro desta transferência de responsabilidade:

- Lula negocia sua parte no bojo do Pacto à la Brasil;

- até as eleições fica preso em "cela especial", com porta e janelas destrancadas;

- enquanto prossegue o delírio coletivo com o milagroso Salvador da Pátria, Lulinha Paz e Amor indica um vice palatável aos golpistas (por exemplo: Haddad) como o Plano B;

- o candidato a Presidente até poderá ser de outro partido (por exemplo: Ciro Gomes), desde que mantido como seu vice o poste ungido por Lula, ficando assim garantida a continuidade da conciliação de classes;

- como os outros candidatos à Esquerda também foram ungidos por Lula, tanto Manuela (PCdoB) quanto Boulos (PSOL) são indicações com objetivo declarado de apoio ao candidato Lulista num segundo turno;

- sob as benções do Lulismo assim se legitimará pelo voto o Golpe de 2016, com a farsa das Eleições de 2018 se reestabelecerá a "normalidade democrática" - tendo como novo normal o Estado Pós Democrático.

ações criam consequências que geram novos mundos, todos completamente diferentes entre si. mas todos estes mundos, outrora desconhecidos, sempre estiveram aí.

há o cadáver da Democracia abandonado para se decompor num mundo. há o Golpe de 2016 perpetrado num outro mundo.

há uma Esquerda inerte num mundo. há um Brasil se fragmentando neste mesmo mundo.

o mundo no qual se procura superar o Golpe de 2016 é muito diferente do mundo em que as condições para o Golpe de 2016 foram geradas.

agimos como se estivéssemos numa encruzilhada, mas já não há nenhuma escolha a ser feita. a opção se deu muito tempo atrás.

nada vai nos levar de volta. aquele mundo está extinto. por mais que supliquemos, a vida não permitirá nenhum retorno.

mas para aqueles que compreendem estarem vivendo os últimos dias de um mundo, a morte adquire um sentido diferente.

esta compreensão é uma força que nenhuma resignação pode conter.

e neste desespero, que é transcendente, se acha uma antiga sabedoria. de que a pedra filosofal sempre poderá ser encontrada, apesar de escondida enterrada na lama.

isto até pode parecer algo trivial, em face da aniquilação. até que a aniquilação acontece.

então, todos os grandes planos e os grandes projetos enfim são expostos tal como são.

vídeo: The counselor

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