25/05/2018
aqui postamos desde 17/05/2015:
confesso: não tenho esperança. os cegos falam
de uma saída. vejo. após os erros terem sido usados como última companhia, à
nossa frente senta-se o Nada.
passaram-se três anos de horror e calamidades. mas sempre será o Nada
enquanto a Ex-querda não se renovar, enquanto não surgirem novos
sujeitos políticos. enquanto não houver uma brutal quebra de paradigmas.
e disto o contundente exemplo na pauta do dia é a paralisação do
transporte de carga terrestre.
mesmo sem ainda assumir um perfil definido, pois o próprio movimento
continua em disputa interna entre seus vários vetores, fica escandalosamente
demonstrada a precariedade e incompetência do desGoverno usurpador.
ainda mais: expõe como é frágil um mundo que se apresenta como
inexpugnável.
com alguns poucos dias de interrupção dos fluxos logístico
desencadeia-se um efeito dominó. o desabastecimento se torna sistêmico. as
cidades entram em colapso. cai por terra a Babilônia.
e não estamos apenas em pleno curso de um golpe de Estado, cuja estabilização
é impossível.
a fratura provocada pela Crise de 2008 foi profunda. o
desarranjo do Capitalismo é estrutural. só haverá alguma chance de um novo
ciclo de relativa estabilidade com gigantesca destruição de forças produtivas.
ou o armagedon, ou o pós-capitalismo.
enquanto tudo o que parecia tão sólido se volatiza numa atmosfera
irrespirável, o que faz a quase totalidade da Ex-querda?
perdida na mais descarada auto-indulgência, sucumbe à alucinação dos
amputados, delirando prazerosamente com membros fantasmas.
quanto mais se acirra a obsessão que a solução para o Brasil jaz
voluntariamente numa masmorra em Curitiba, mais a realidade desmascara esta
última quimera.
o Brasil não está em busca de nenhuma reconstrução de um mítico centro
democrático. ao contrário, vagamos todos sobre um vulcão. em cada erupção, o
chão desaparece sob nossos pés.
apesar do movimento do setor de transporte de cargas mais uma vez
ensinar que só pelo enfrentamento se altera a correlação de forças, a Ex-querda
insiste em optar pela centralidade da via eleitoral/institucional.
só que não.
a incontrolável insatisfação gerada pela aplicação das “medidas impopulares”
não pode ser contida numa asfixiante espera pelas Eleições de 2018. as explosões sociais desorganizadas se tornam
inevitáveis.
como em Junho de 2013, reincide o cacoete paranóico de
transformar fatos sociais complexos em meras investidas conspiratórias.
mas conspiração sempre há, e sempre houve, por toda parte. uma
conspiração difusa permeando todas as relações sociais. embora dela sempre sejamos
parte, trata-se de algo bastante diferente do mais vulgar dos reducionismos:
fazer da luta de classes nada mais que teoria da conspiração.
colocando-se como fiel vassala do Lulismo, a Ex-querda
abdicou de levar a cabo aquilo que os caminhoneiros estão agora concretizando.
no lugar de uma Greve Geral pela Esquerda, uma paralisação pela Direita.
é assim que seguidamente fomos atirados para longe pelo incessante,
inesperado e sempre violento movimento da Roda da História.
em meio à Guerra de Famiglias,
ainda perambulamos por um interregno.
o que era para ter
sido uma cuidadosa reengenharia de um novo pacto político, ao longo de 13 anos
de Lulismo, se converteu agora numa desastrosa implosão. em meio aos destroços
e das nuvens de poeira, um caleidoscópio de multifacetadas forças políticas
lutam entre si para conquistar uma nova hegemonia.
está tudo implodindo. não será uma demolição controlada. virá aos urros
e convulsões.
"todos nós
devemos preparar um lugar para nos abrigar das tragédias que sabemos serem
inevitáveis. porém, este é um recurso do qual pouca gente faz uso."
p.s.:
alega-se também que o movimento dos caminhoneiros não é de Esquerda.
cabe então questionar: o que é hoje no Brasil e no mundo ser de
Esquerda? limita-se a um apoio incondicional à candidatura Lula numa eleição
tão incerta quanto viciada?
ou ser de Esquerda continua sendo o que sempre foi: lutar por melhores
condições de vida para os explorados e oprimidos?
p.s.2:
agora pipocam divagações e elucubrações sobre o perfil do caminhoneiro
autônomo. mas o que sabemos de fato sobre eles?
mais: o que sabemos de fato sobre o trabalhador pobre, sobre o
precariado urbano, sobre os pequenos produtores rurais, sobre os condenados da
terra?
em 13 anos o que se fez a respeito de um sistema de transporte, de
carga e passageiros, completamente inadequado para um país continental?
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