10/04/2018
nota: escrito a partir do Lula, a foto
símbolo e a força cósmica do Ubuntu, Luis Nassif em 08/04/2018.
sobre os três princípios do Ubuntu citados no artigo:
- "Todas as pessoas são valiosas em si mesmas",
portanto não é nenhuma liderança salvadora que vai nos redimir de nós mesmos.
mas isto não invalida a decisiva função, e portanto valor em si mesmo, das
lideranças;
- então tudo se dá exatamente em que tipo de liderança precisamos para "incidir
na sociedade na qual vivem", fazendo pelo esforço coletivo girar a
roda da História;
- e isto só se viabiliza a partir da compreensão, no sentido também de
levar à ação, da "intersubjetividade inerente e constitutiva das
pessoas", assim sendo também dos processos sociais.
Lula é claramente um predestinado. disto se soube desde o momento de
sua irresistível ascensão logo nas primeiras greves dos metalúrgicos do ABCD,
em 1978.
lideranças como Lula são resultado de peculiares circunstâncias da
História, sincronizando um dom pessoal com um contexto social e político, no
qual milhões de anônimos constroem coletivamente as condições objetivas e
subjetivas para uma transformação, um salto qualitativo.
muito mais importante do que a liderança em si (que não precisa ser uma
pessoa, podendo ser um partido revolucionário, por exemplo) é esta multidão sem
nome, no seio da qual as lideranças são paridas.
eu sou porque nós somos. a grandeza, talvez a maior de todas, é se
perder numa grandeza anônima.
assim há também uma energia escura que realmente mantém vivo o universo
político, sem que quase ninguém disto se aperceba.
isto é Ubuntu.
uma liderança sempre deveria rechaçar a idolatria e o culto à
personalidade. muitos querem ser líderes, embriagarem-se com o poder e a fama.
mas os autênticas líderes tem consciência do fardo da liderança, e muitas vezes
se negam a assumí-lo.
estes são dois erros comuns naqueles com o dom, e a missão, da
liderança.
não se pode cobrar alguém por algo que nunca se propôs a ser. Lula
nunca se propôs a ser uma liderança revolucionária. muito embora fosse
exatamente isto o que a História lhe propôs e lhe capacitou para ser.
com exceção talvez do período entre 1979 e 1989, Lula sempre foi um
moderado conciliador e seu projeto foi claramente reformista.
e por isto Lula deve ser cobrado.
em seu projeto reformista Lula fracassou miseravelmente. e sua prisão
deveria por uma pá de cal nesta discussão.
e agora mais do que nunca fica exposto que nenhum projeto reformista no
Brasil pode ser bem sucedido sem antes a lumpenburguesia brasileira sofrer uma
derrota definitiva.
existem milhares de notáveis lideranças atualmente no Brasil. todas são
igualmente valiosas. a maior parte delas são tão anônimas quanto aqueles que em
seu círculo de atuação são sua base social.
a maior de todas as lideranças sociais surgidas após Lula é Guilherme
Boulos. inclusive assemelhando-se a Lula pelo timbre da voz e o modo de
entonação.
infelizmente Boulos tem dados mostras de não estar a altura dos
desafios que a História lhe propõe, assim como Lula.
Boulos começa com o "pé direito" sua
carreira política: caindo de paraquedas no PSOL, ungido por Lula e através de
um Colégio Eleitoral, sem ser amplamente referendado pelas bases através de um
processo de prévias.
a resistência de Lula no Sindicato de Metalúrgicos, em São Bernardo,
não foi apenas frágil e fugaz. constituiu-se muito mais num show midiático para
efeito de capitalização posterior através de um calculado marketing político.
ainda assim, a participação de Boulos foi coerente e necessária.
por outro lado, sua presença no palanque de um Lula anunciando como se
fosse um gesto de heroísmo sua entrega voluntária, fazendo um discurso piegas e
vazio politicamente, situado entre testamento e
obituário, foi uma prova de Boulos não parecer ainda disposto a assumir
um dos mais pesados fardos da liderança: a coragem de dizer a verdade quando
isto o coloca em oposição a seu próprio campo e a seus próprios companheiros.
a unidade com Lula na resistência já não seria mais possível a partir
do momento em que ele decide cumprir o mandado de prisão. a partir de então,
obrigatoriamente os caminhos se separam. e a ausência no palanque não apenas se
justifica, como se impõe.
além de Boulos, há duas outras grandes lideranças regionais com
potencial para vir a se destacarem a nível nacional. Marcelo Freixo, no Rio, e
Beatriz Cerqueira, Coordenadora do Sind-UTE e presidente da CUT, em Minas.
infelizmente, Nildo Ouriques, em SC, teve um percalço momentâneo no seu
caminho através do PSOL.
longe de exigir a capacidade do consenso, a liderança é a arte de
amalgamar as divisões numa estratégia coordenada de ação, sem contudo eliminar
as diferenças.
longe de ser a arte do possível, a política é a capacidade de tornar o
impossível uma das possibilidades.
as dimensões da liderança não se limitam à sua expressão mais
reconhecida como os políticos, os líderes sociais e os militares. esta é a
dimensão dos guerreiros, a dimensão da força e da ação.
além desta, deve-se considerar a liderança espiritual e a liderança
criadora.
a dimensão do espírito corresponde aos xamãs e pajés, aos curadores
e conselheiros, aos artistas e filósofos, aos analistas e estrategistas.
à dimensão da abundância pertencem os inventores e produtores de
meios de subsistência. também aqueles capazes de agregar pessoas e estruturar grupos.
todos os que trabalham para estabelecer e manter fecundos os laços entre os
membros de uma comunidade, e desta com o território no qual habita.
"Nós diríamos
assim: toda a potência tem três dimensões, o espírito, a força e a abundância.
A condição do seu crescimento é manter as três juntas.
Estas três
dimensões combinam-se dando origem a formas, a sonhos, a forças, a histórias sempre
singulares. Mas cada vez que uma dessas dimensões perdeu o contato com as
outras para se autonomizar, o movimento degenerou. Ele degenerou em vanguarda
armada, em seita de teóricos ou em empresa alternativa.
Zelar pelo
crescimento enquanto potência exige de qualquer força revolucionária um avanço
concomitante em cada um desses planos."
"Aos Nossos
Amigos", Comitê Invisível
a história do futuro
somos nós a escrevendo agora, no presente incerto e tomado pelo nevoeiro.
mas algo se insinua
através da névoa...
não! não é ninguém
montando um cavalo branco!
espera! é uma
multidão! seriam eles? os brasileiros?
chegou o momento de
revelar um segredo: já vivemos uma vez. e naquela vida fomos chamados de
Brasileiros.
isto também é Ubuntu.
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