20 dezembro 2017

os Brasis: dentro do labirinto

20/12/2017


cronologia de mais uma capitulação voluntária:
(de como um movimento ascendente reflui em prol do pacto impossível)

muito embora a sucessão de eventos muito bem sucedidos, marcando uma forte ascensão do movimento de massas, numa notável integração de resistências locais num poderoso movimento nacional, por que mais uma vez tudo refluiu subitamente?

15-MAR: grandes manifestações contra as reformas regressivas;
28-ABR: Greve Geral.
10-MAI: Ocupa Curitiba;
17-MAI: vazamento da delação da JBS;
24-MAI: Ocupa Brasília;

28-MAI: Diretas Já, no Rio;
04-JUN: Diretas Já, SP;
11-JUN: Diretas Já, Salvador;
11-JUN: Diretas Já, Recife;
16-JUN: Diretas Já, BH;

{corte}

22-MAR: aprovação da terceirização;
30-JUN: Greve Geral esvaziada;
11-JUL: Senado aprova contra-reforma trabalhista;
12-JUL: condenação de Lula, na primeira instância;

- a cada vez que o movimento de massas de levantou contra o golpe a Ex-querda e o Lulismo operaram para revertê-lo. um golpe não pode ser derrotado pela via parlamentar. apenas um amplo movimento de massas é capaz de fazê-lo;

- no Ocupa Brasília, em 24-MAI, ao chegar na Praça dos Três Poderes a gigantesca manifestação pacífica foi violentamente atacada pela repressão. mas boa parte dos manifestantes não se intimidou. chegaram mesmo a fazer recuar a cavalaria. a partir de então a Esplanada se tornou área conflagrada. ao final do dia Temer acionou a GLO (Garantia da Lei e da Ordem). por este dispositivo jurídico fica autorizado o uso das Forças Armadas como tropas de ocupação. ao invés de proteger a soberania nacional, são usadas para reprimir a própria população. entretanto, a regulamentação do dispositivo da GLO se deu  através da Portaria 3.461, assinada por Celso Amorim em 19/12/2013, ainda no Governo Dilma, que se valeu da GLO em diversas ocasiões, como no leilão do Campo de Libra do pré-sal e na ocupação militar do Complexo da Maré (RJ). sob cerco e desmoralizado, o governo usurpador recuou e no dia seguinte revogou a GLO em Brasília. ainda assim, após o Ocupa Brasília a Ex-querda esfria sua ênfase na convocação de novas grandes manifestações de rua, demonstrando jamais ter pretendido contrapor o golpe com um amplo movimento de massas. nem agora, nem antes, nem depois, nem mais tarde;

- apesar de terem mobilizado multidões, as manifestações pelas "Diretas Já" não despertaram grande entusiasmo na cúpula da Ex-querda, para quem o "Fora Temer" jamais passou de bandeira circunstancial, sem jamais ganhar prioridade sobre a campanha pelo "Lula-lá em 2018". ao esvaziar a luta por "Diretas Já", postergando um movimento absolutamente necessário, a Ex-querda reafirma sua função desmobilizadora e despolitizadora, ao acorrentar a luta contra o Golpe de 2016 a uma agenda puramente eleitoral. não há, nem nunca existiu, nenhum compromisso da Ex-querda em anular o impeachment. sua estratégia é unicamente focada nas Eleições de 2018 e na candidatura de Lula;

- mesmo a maior greve geral já realizada no Brasil, 28-ABR, não foi suficiente para deflagrar um poderoso ciclo de grandes manifestações de massa, para derrubar nas ruas o processo de confisco de direitos, o qual vem a ser um dos principais objetivos do Golpe de 2016. ao contrário, a Ex-querda sempre se conservou obediente à sua função de manter sob rígida tutela os movimentos de luta direta, para estes nunca romperem a fronteira rumo a um confronto aberto com os interesses políticos e econômicos responsáveis e beneficiados pelo Golpeachment. em plena apropriação brutal e selvagem da renda e do patrimônio público, persiste a intenção de renovação dos falidos pactos de conciliação;

- cada recuo tático concreto se inscreve como parte da estratégia de um acordo imaginário existente apenas no desejo do Lulismo por ainda mais uma conciliação, sempre na tola suposição de uma absolvição de Lula. se a condenação na primeira instância deveria ter sido a definitiva queda no deserto do real, persistiu o Alzheimer político. ficou patente não haver nenhum plano B, nenhuma intenção de romper com a lógica do calendário eleitoral, nada além da via institucional e parlamentar. com a antecipação relâmpago do julgamento do recurso da defesa no TRF-4, marcado para 24-JAN-2018, exatamente um ano após o AVC fatal de Marisa Letícia, o Lulismo parece ter sido novamente pego de surpresa, apesar de todas as evidências em contrário apontarem para a confirmação do pior cenário. no caso de Lula ser preso, o que o Lulismo apresenta como proposta de ação concreta?

- a melhor maneira de superar o Golpe de 2016 não é através da defesa de Lula e de sua candidatura. ao contrário, a melhor maneira de defender Lula e sua candidatura é a luta para superar o Golpe de 2016 através da anulação do impeachment e de todas as contra-reformas regressivas do governo usurpador;

- enredado em contradições de sua estratégia e incapaz de se adaptar uma nova conjuntura global, o Lulismo insiste no sonho impossível de reeditar a aliança firmada em 2003, numa vã pretensão de reconquistar a confiança da plutocracia, para novamente ser nomeado gestor do capital alheio. mas já não há gestão possível, senão a da execução de um brutal processo de expropriação de renda e patrimônio público. viciado em apenas instrumentalizar os movimento sociais, o Lulismo age como se estivesse negociando um novo pacto, enquanto na verdade nunca esteve. e nem poderia. a lumpenburguesia brasileira (banqueiros, rentistas e exportadores de commodities) não precisa de qualquer conciliação. exige rendição incondicional. sócia minoritária, e satisfeita, dos mega interesses globalizados, se coloca como gestora da contra-revolução permanente: a travessia da Ponte para o Futuro com objetivo de consolidar no Brasil a condição neo-colonial e semi-escravocrata. não há, e nunca existiu, nenhuma "burguesia nacional" no Brasil;

após mais um refluxo do movimento de massas, continuamos vagando dentro de um labirinto sem qualquer saída. sem construir um portal de entrada para um novo ciclo, continuaremos caindo cada vez mais fundo no abismo do Golpe de 2016. nenhuma luz se erguerá deste túnel sem fim, apenas as trevas ainda mais devastadoras de um neo-fascismo.

{memória: não é de hoje...

quando eu era bem jovem, todos éramos muito envolvidos com a luta pela redemocratização, com o PT e a CUT.

diante de tanto entusiasmo, um chefe de equipe (ainda não se chamavam "gerentes") do meu local de trabalho me chamou prá conversar. naquela época, uma diferença de 15 anos fazia o interlocutor nos parecer um "velho senhor".

ele me contou ter em 01/04/1964 atendido à convocação para a resistência popular ao golpe. bem cedinho pela manhã foi para a Pça. Mauá, centro do Rio de Janeiro. em frente à Rádio Nacional, já havia uma multidão. a orientação era para aguardarem as armas, pois já estavam chegando.

então ele aproximou seu rosto, para com os olhos umedecidos e a voz embargada me dizer: "As armas nunca chegaram..."

nunca me esqueci. jamais esquecerei.

}

não se deixe enganar: parece, mas... é mesmo exatamente o que parece

para quem observa rapidamente a foto abaixo, poderia até supor tratar-se de um combativo contingente de hermanos no Ocupa Brasília em 24-MAI-2017, a fim de impedir as reformas regressivas neoliberais, num admirável movimento latino-americano de solidariedade obrera.

nada disto!

fomos nós mesmos, brasileiros, antes do setor majoritário da Esquerda canalizar o movimento de massas para a centralidade de uma pré campanha de uma hipotética Eleição de 2018, sem haver qualquer programa mínimo definido e na qual um sub judice pré candidato será a única chance de salvação do Brasil.



vídeo: Cavalaria da PM ataca manifestantes em Brasília


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