14/12/2017
Brasil em
Transe: 2018, um ano longe demais, nem começou e já tem data antecipada para acabar. quanto mais a
realidade se mostra, ainda mais prevalece o delírio.
Golpe de 2016: um golpe não pode ser derrotado pela via parlamentar. o núcleo do
setor dominante (banqueiros, rentistas, exportadores de commodities + mega
interesses globalizados) não admite nenhuma conciliação, apenas rendição
incondicional. o setor majoritário da Esquerda jamais pretendeu contrapor o
golpe com um amplo movimento de massas. nem agora, nem antes, nem depois, nem
mais tarde. a cada vez que o movimento de massas de levantou contra o golpe (Ocupação
de Curitiba, Greve Geral, Ocupação de Brasília) o setor
majoritário da Esquerda operou para revertê-lo.
a Batalha do
Brasil: no epicentro de uma Guerra Mundial Híbrida,
a Batalha do Brasil tem dimensões épicas, com importância geopolítica superior
a disputa pelo Oriente Médio. quem controlar o Brasil, dominará o mundo:
sol e água abundantes, terras férteis, metais raros, petróleo e biodiversidade.
Hy-Brazil: de onde a frota de Hirão trazia ouro, também carregava
dali em quantidade pedras preciosas. de onde os fenícios transportavam a
madeira púrpura. onde se constituiu uma pioneira holding multinacional, em
torno do negócio da cana de açúcar. de onde se extraiu ouro para financiar a
Revolução Industrial. de onde se exportam as commodities indispensáveis ao boom
industrial chinês. onde a pilhagem financeira faz girar impiedosamente
seu moinho satânico: overnight movido à SELIC.
Crise de
Representação: Temer é aprovado apenas pela margem de erro:
3%. ainda assim, 65% declaram espontaneamente seu não-voto (brancos, nulos, indecisos). a Direita só tem a oferecer o fascismo
(Bolsonaro 11%). todos seus balões de ensaio inflados artificialmente, estouram
prematuramente. por que a unânime rejeição a Temer não é canalizada
espontaneamente para nenhum dos pré-candidatos? o fator chave é a crise de
representação. o sistema político como um todo perdeu sua legitimidade. Junho
de 2013 foi a sintomática explosão deste esgotamento. sem compreender e
construir alternativas à crise de representação, o fascismo se erguerá.
{nota 1: tanto à Direita quanto
à Esquerda há clamor por um mito, aquele capaz de nos salvar de nós mesmos. um
regressivo culto à personalidade, cuja capacidade maior será a de agravar ainda
mais a Crise de Representação. pois é o próprio conceito de Democracia
Representativa que está em xeque, exigindo adoção de diversos tipos de
canais de participação direta, assim como de gestão social dos mandatos,
inclusive com exercício de poder revogatório. a Crise de Representação
só pode ser superada ao se assumir coletivamente a responsabilidade pelo
protagonismo social e político, e nunca pela delegação e transferência do Poder
Instituinte.}
{nota 2: a Democracia
Representativa já não atende aos interesses do Capital. mas também não mais
consegue minimamente legitimar sua sempre ilusória função de
"representar" os explorados. portanto, ou se desvirtuará em Tirania
Financeira Global, ou será transformada por um processo de luta em
autêntica Democracia Participativa, compreendida como autogestão do Bem
Comum: omnia sunt communia}
fascism is
coming: a ameaça do fascismo é real, ainda mais
considerando a aliança Bolsonaro + fundamentalismo neopentecostal +
neoliberalismo selvagem, por sua própria natureza. sua base parlamentar está na
bancada B4 -> Boi (destruição
do meio ambiente), Bala (destruição dos direitos civis), Bíblia (destruição da
pluralidade cultural) e Bancos (destruição sócio-econômica). não é possível
combater o fascismo senão enquanto capitalismo, senão enquanto forma mais nua,
mais cínica, mais opressora e mais mentirosa do capitalismo. a cada vez que a Esquerda fracassa, pavimenta o acesso ao poder do
fascismo.
{pesquisa: "[...] o fascismo foi a conseqüência de dois
fracassos: o primeiro, dos revolucionários, que foram massacrados pelos sociais
democratas e seus aliados liberais; o segundo, dos liberais e social-democratas
incapazes de gerenciar efetivamente o capital."
BolsoNazi: talvez o teto de
crescimento da candidatura Bolsonaro ainda esteja limitado pela fronteira da
hipocrisia brasileira. uma sociedade atavicamente violenta e excludente, com
uma história sangrenta de massacres após massacres e um cotidiano de estupros e
linchamentos, mas conservando de si mesma uma cínica imagem de "cordialidade", sem jamais
deixar cair a máscara de um "povo
pacífico", sempre capaz de um jeitinho
para tudo se resolver no apaziguamento do leito da miscigenação, como se a
conciliação fizesse parte de nossa herança genética. se a escravidão é o
nosso berço, a lumpenburguesia brasileira é a mão balançando este berço.
{análise:
- O teto de
bolsopata não tem a ver com o senso político brasileiro, mas na crença que o
brasileiro faz de si... o histórico de violência brasileiro revela (como você
bem escreveu, etnocídio) que bolsopata tem uma enorme base de apoio, mas que
não se manifesta em votos porque o brasileiro (homem cordial) acha que pode
sublimar seus conflitos e posar de "moderno", enquanto apoia e
silencia frente a essa tragédia, que sim, lhe beneficia como classe e/ou
indivíduo;
- O surgimento de
uma direita fascista disposta a "mostrar a cara" rasga esse véu de
hipocrisia e consolida campos políticos e determina ao nosso campo que
amadureça sua narrativa;
}
necro-política e
auto-regeneração:
1. nunca como antes a cleptocracia brasileira
revelou sua verdadeira face. abutres cujo único projeto é a rapina de curto
prazo e manter o Brasil em condição neo-colonial e semi-escravagista;
2. com este setor dominante há uma parcela da
população alinhada incondicionalmente e definitivamente. constitui-se na base
social do proto-fascismo brasileiro;
3. há também uma outra considerável parcela da
população que não se curvou ao Golpe de 2016. estas pessoas continuam
ocupando as ruas, na maior parte das vezes em movimentos autônomos e
independentes. são a base social de um projeto de emancipação.
{citações inter-referenciadas: “Nunca
Reich mostra-se maior pensador do que quando recusa invocar o desconhecimento
ou a ilusão das massas para explicar o
fascismo, e exige uma explicação pelo desejo, em termos de desejo: não, as
massas não foram enganadas, elas desejaram o fascismo num certo momento, em
determinadas circunstâncias, e é isso que é necessário explicar[...]”
Wilhelm Reich, em “A Psicologia de Massas do Fascismo”, citado em “O
Anti-Édipo” por Deleuze e Guattari, por sua vez citados em Alice já não fala mais de flores}
anotações à beira
de um abismo:
para uma Esquerda alinhada com as necessidades
do Brasil:
- princípios inegociáveis;
- radical nas propostas;
- pragmática na ação.
sempre há margem para negociar e conciliar,
contudo respeitando limites intransponíveis.
foi em Honduras e no Paraguai, o laboratório
do golpe jurídico-parlamentar, depois aplicado no Brasil em 2016. agora em
Honduras as eleições estão sendo fraudadas, numa segunda fase da implantação da
Democracia sem voto. e que força está resistindo? o povo nas ruas! como
deveríamos ter feito no Brasil. como deveríamos estar fazendo. e como teremos
que fazer nas eleições de 2018. mas apenas se não quisermos que ainda uma outra
vez Honduras seja aqui...
por que é tão difícil de se compreender isto?
mas estão dando por certo que vai ter
eleições, que a Lula vai ser permitido se candidatar, que Lula vai ganhar, que
vai tomar posse, que vai conseguir governar e que uma reedição do pacto de 2003
ainda é viável...
{pesquisa: "O
imperialismo, ou domínio do capital financeiro, é o capitalismo no seu grau
superior, em que essa separação [entre capital financeiro e industrial] adquire
proporções imensas. O predomínio do capital financeiro sobre todas as demais
formas do capital implica o predomínio do rentier e da oligarquia financeira
[...]
Perante isto, é de
perguntar: no terreno do capitalismo, que outro meio poderia haver, a não ser a
guerra, para eliminar a desproporção existente entre o desenvolvimento das
forças produtivas e a acumulação de capital, por um lado, e, por outro lado, a
partilha das colônias e das esferas de influência - do capital financeiro?"
expansão infinita
versus completa destruição:
vivemos os impasses de um segundo ciclo hegemônico do Capital Financeiro.
pertencem a um passado perdido para sempre os anos dourados do capitalismo
keynesiano e da economia fordista, período no qual a eutanásia do rentismo ergueu um dique contra a financeirização.
esta contenção
rompe-se em 1971, quando os EUA
encerram unilateralmente o acordo de Bretton Woods, acabando
abruptamente com a conversibilidade dólar-ouro. então é inaugurado este segundo
ciclo do Capital Financeiro, entregue à sua completa demência, sem qualquer
regulação.
um exército de mortos-vivos avançando sobre todos por toda a parte, para
transformar a tudo em ativo financeiro, inclusive a própria vida. inflando
bolha após bolha, cada vez mais forte e mais alto, apenas para repetidamente
estourar gerando ainda mais dívida e desigualdade. já não produz, tampouco
destrói, em quantidade suficiente para se reciclar.
a Crise de 1929 gerou as condições para a
ascensão do fascismo, tendo sido superada apenas pela gigantesca destruição
criativa provocada por uma II Guerra Mundial encerrada com a explosão de duas
armas atômicas.
a Crise de 2008 já não pode ser resolvida
por uma reciclagem das forças produtivas através de conflitos bélicos globais.
desembocaria em ampla utilização de armas de destruição em massa. a porta de
saída tradicional do Capitalismo para as crises se fechou. todo conflito
nuclear tático é imediatamente escalável e após o Armagedon não pode haver
nenhum Plano Marshal.
nem mesmo a Guerra sem Fim travada em inúmeros cenários
localizados, fazendo do mundo o teatro de operação de uma Guerra Civil Global, é capaz de produzir a destruição necessária.
tanto aqui como em
toda parte o sistema está em colapso. o que é agravado por uma inédita e
reveladora crise climática: o Capitalismo cruzou um limite perigoso, ameaçando
a sobrevivência da própria sociedade.
os limites para uma
expansão infinita das forças produtivas estão claramente colocados, assim como
a possibilidade de sua completa destruição.
na barbárie da Guerra Mundial Híbrida
em curso, sob as benções do Senhor dos Exércitos do Armado
Deus de israHell, um abismo chama outros abismos. ninguém
poderá nos salvar de mais uma grande tragédia. muito provavelmente, nem nós mesmos...
isto tudo já aconteceu. déjà-vu.
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