26 dezembro 2017

os Brasis: viva la muerte

26/12/2017


Das Kapital

todos nós já deveríamos estar fartos de saber que toda a riqueza gerada pelo Capitalismo, em seu monumental desenvolvimento das forças produtivas, é apenas para ser destruída em suas ainda mais monumentais crises cíclicas desembocando em guerras catastróficas.

se para os capitalistas o direito à propriedade é sagrado, para o Capitalismo o único princípio e fim é a acumulação. uma acumulação pura e simplesmente pela acumulação: contínua e infinita.

mesmo que para a continuidade desta acumulação hajam etapas de destruição devastadora de capital fixo e variável, tanto meios de produção quanto força de trabalho. para o Capitalismo nada é sagrado, nem a propriedade e nem mesmo os próprios capitalistas.

ainda que recursos materiais finitos coloquem um limite intransponível para uma acumulação projetada como infinita. como resultado desta contradição insuperável há uma insanável disfuncionalidade.

a impossibilidade de acumulação contínua e infinita, num estágio de completa financeirização globalizada, conduz à imposição de uma total destruição do conjunto das forças produtivas, numa derradeira e inútil tentativa do Capitalismo se auto-reciclar através da aniquilação da sociedade e do próprio planeta.

após esta crise terminal, e sua guerra definitiva, já não haverá Capitalismo. tampouco humanidade...

muito mais do que um regime de produção, o Capitalismo é um modo de predação e destruição. o que o Capitalismo produz é a loucura e a morte.

bye bye, Brasil

a desestruturação provocada pelo Golpeachment é completa e sem retorno.

o Brasil está sendo reconfigurado como uma neo-colônia semi-escravocrata, combinando plataforma de valorização do capital financeiro com porto concentrador de exportação de commodities. somente restará lugar para uma residual industrialização, um pequeno mercado interno e um baixo índice populacional.

como encaixar uma sociedade complexa, com mais de 200 milhões de habitantes, para se reduzir a um modelo tão restrito?

num quadro de continuada estagnação sem qualquer perspectiva de recuperação, os empresários se valem da contra-reforma trabalhista para ao menos minimizar a queda em seus lucros. mas as demissões em massa, com objetivo de recontratação como trabalho precarizado e intermitente, não  limitam seu efeito a uma redução de custo. a medida que se difundem, tornam-se também um fator de contração da demanda.

se para o setor exportador os gastos com mão-de-obra impactam apenas seus custos operacionais, já o empresariado cuja demanda provem do mercado interno sofre um nocivo efeito colateral. ao ser atingido diretamente na sobrevivência de seus negócios, em virtude do efeito sistêmico causado pela queda da renda geral disponível para o consumo.

tanto as contra-reformas regressivas, quanto sua realização pelo empresariado brasileiro, reproduzem as causas da estagnação econômica. acentuando-a ainda mais numa retro-alimentação negativa de exponencial esgarçamento do tecido social, levando a uma espiral crescente de violência e criminalidade.

o congelamento dos gastos públicos, a terceirização na atividade fim, o fim da CLT e da aposentadoria, acompanhados de um elenco de outras medidas regressivas, inviabilizam inclusive as tradicionais políticas sociais compensatórias. formuladas pelo Banco Mundial para impedir a miséria de se tornar fator de instabilidade social, foram adotadas sem restrições nos Programas Sociais focados dos Governos Lula e Dilma.

ao tornarem-se inviáveis estes instrumentos de sedação dos conflitos sociais, a instalação do caos é inevitável: invasão de supermercados, saque de cargas, ataques a caixas automáticos, roubo a banco postal, contrabando de armas de quartéis, sequestros relâmpagos, desabastecimento de energia, água e comida, fome, epidemias, conflagrações, morte.

ao mesmo tempo, cerca de R$ 1 trilhão dormem no overnight remunerados à uma das maiores taxas de juros reais do mundo.

ao contrário da lavagem cerebral executada pela máquina de propaganda da financeirização, o Brasil não está quebrado nem falta dinheiro, há excesso de liquidez.

a cada noite um montante exorbitante de recursos já não mais é rentabilizado através do lucro. sem qualquer investimento em atividade produtiva sua valorização se dá pelo mecanismo da dívida pública, sendo esta viabilizada por uma pesada carga tributária regressiva.

através dos impostos, os mais pobres são os que mais pagam para manter inalterado um modelo de baixo crescimento econômico, emprego insuficiente e mal remunerado e deterioração geral da qualidade de vida.

mesmo com altos impostos sugando a produtividade social, e asfixiando a atividade produtiva, ainda não é suficiente para fornecer a remuneração desejada do Capital Financeiro. chega-se assim ao puro confisco da renda, do patrimônio e dos direitos coletivos.

o Capital Financeiro é o Capital em seu estágio superior. dinheiro gera dinheiro sem passar pelo estágio de sua concretização como mercadoria ou serviço. uma mágica executada pelo Imposto. sendo o confisco o estágio terminal do imposto.

o ciclo do Capitalismo se inicia com o confisco, na acumulação primitiva, e atinge seu estado mais avançado também retornando a ele, numa forma de acumulação sintomática de sua senilidade.

ao atingir o ponto em que sua valorização já não se dá prioritariamente pelo lucro e sim pelo imposto e o confisco, o Capitalismo encontra seu beco sem saída.

a acumulação tende a se estagnar, na medida da crescente pauperização econômica causada pela continuada e acentuada expropriação. só pode ser destravada pela destruição criativa das crises e pela catástrofe das guerras.
                                                                                                  
viva la muerte!

a mitigação das contradições insanáveis do capitalismo impõe a existência de algum tipo de mecanismo de reciclagem de capitais.

sem esta reciclagem, a contínua extração de lucros e superávits provoca um esgotamento dos recursos, inviabilizando o próprio processo de exploração. ao manter indefinidamente girando seus moinhos satânicos, o capitalismo é como um parasita que acaba por matar seu hospedeiro.

esta foi a dura lição aprendida com a II Guerra Mundial, dando origem ao Plano Marshall e a reconstrução dos países derrotados. Alemanha e Japão foram desenvolvidos como polos regionais complementares ao Capitalismo Made in USA, com este reciclando seu excesso de capital na criação dos mercados europeu e asiático para sua indústria.

em 1971, o mecanismo de reciclagem sofre uma brutal alteração, para ter prosseguimento de forma invertida. a China passa a reciclar seu superávit comercial através do financiamento do déficit norte-americano, aplicando em títulos do tesouro dos EUA, enquanto este fornece o mercado para a indústria chinesa.

com a Crise de 2008, a reciclagem mundial de capitais entra em colapso definitivo e o Capitalismo financeirizado se torna completamente disfuncional, já sem qualquer mecanismo para o salvar de si mesmo.

o Welfare State europeu é destroçado pelas contra-reformas neoliberais. os recursos naturais e as empresas sul-americanas são tomados de assalto. o genocídio africano se acentua. regiões são desestabilizadas. populações inteiras se tornam refugiadas. a financeirização se impõe. bancos são salvos. imigrantes atirados ao mar. globalizam-se as guerras localizadas. avança a expropriação de direitos. o Estado se torna pós-Democrático. o terrorismo se expande.

as sinistras caravanas de camionetes carregando mercenários encapuzados, com bandeiras negras desfraldadas, em cortejo para mais uma execução em massa, sempre ritualizadas com requintes de crueldade, cuja gravação é viralizada na web como instrumento de terror psicológico, são o símbolo de uma época de culto à destruição, à guerra, à loucura e à morte.

longe de ser uma aberração, o Daesh é a expressão mais explícita e contundente do grau de patologia do Capitalismo contemporâneo. o terror pelo terror, a destruição pela destruição, a morte pela morte.

se a Guerra sem Fim se tornou o hardware no qual se processa atualmente o Capitalismo, o terrorismo vem a ser a continuidade infinitamente capilar desta guerra, não importa por qual meio. sem qualquer limite de atrocidade, toda crueldade se justifica com o objetivo de perpetuar uma permanente síndrome de pânico mundial.

não há saídas, apenas portais de entrada

a Batalha do Brasil se trava neste cenário global de desintegração. por toda parte, as saídas tradicionais se fecharam. é preciso abrir um portal de entrada para um novo ciclo.

a Belle Époque dos anos dourados do Capitalismo fordista e keynesiano jamais retornarão. as circunstâncias históricas da "Carta ao Povo Brasileiro" nunca mais se repetirão. o Capitalismo globalmente financeirizado declarou guerra à humanidade e ao planeta, conduzindo em escala mundial um campanha genocida de extermínio contra todos nós.

o Golpe de 2016 apenas atirou o Brasil num deserto do qual ele jamais havia saído, a não ser nas óbvias manipulações estatísticas do marketing político e nas complacentes auto-ilusões que antecedem as derrotas.

é neste deserto plano, sem perspectivas e sem referenciais de rumo, que o movimento deve fazer-se. o único mapa do caminho será fornecido pelo próprio deslocamento.

- não há nenhuma burguesia nacional no Brasil;
- o setor dominante no Brasil (banqueiros, rentistas, exportadores de commodities) é indissociavelmente sócio minoritário dos mega interesses globalizados;
- desta aliança decorre a fragilidade estrutural da Democracia brasileira;
- por isto historicamente a via do reformismo sempre se mostrou inviável para a transformação social no Brasil;
- a radicalização da luta política não é questão de escolha, e muito menos de vontade, e sim a única alternativa frente às circunstâncias;
- ou lutamos ou não sobreviveremos. ou se devora ou se é devorado. só a Antropofagia nos une.

gracias à la vida! muera la muerte!

bibliografia:

- "O Minotauro Global", Yanis Varoufakis.
- "O Governo do Homem Endividado", Maurizio Lazzarato.
- "Além do PT", Fabio Luis Barbosa dos Santos.

vídeo: ¡Viva la vida, muera la muerte!


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