16 maio 2021

De como matar a fome do povo se tornou simplesmente matar

->《Escreveu Lenin:  "(…) o cultivo em pequena escala, enquanto se mantiver o mercado e o capitalismo, não é capaz de libertar a humanidade da miséria e que é necessário pensar numa transiçao para o cultivo em grande escala para fins sociais (…)."
Diante da fome era isto que preocupava o velho Lenin: ensinar às massas camponesas a produzir em larga escala.
Hoje os socialistas pensam justamente o contrário: como ensinar as massas a cultivar em pequena escala sob regime de agricultura familiar, preferencialmente com agroflorestas.


Ao tomar conhecimento do comentário acima, o cadáver embalsamado de Lenin se contorceu em seu mausoléu eterno na Praça Vermelha.

Suavemente, mesmo assim bem perceptível para qualquer companheiro atento se dar conta.

Resmungou: "- Mas a História já não mostrou que esta minha argumentação causou a Coletivização Forçada da Agricultura na URSS, resultando em milhões de mortes?"

Como se não bastasse, também baseadas na mesma busca da alta produtividade agrícola, seguiram-se uma trágica repetição da Grande Fome, desta vez promovida pelo Camarada Mao, e a desgraça da política de ruralização comandada pelo medonho Khmer Vermelho.

Afinal, onde reside o problema? Como produzir alimentação em quantidade e qualidade para se ter soberania alimentar?

A leitura do artigo "Socialismo da abundância, socialismo da miséria", publicado em 22/03/2011 no Passa Palavra, contribui para a resposta, muito embora o texto incorra no mesmo equívoco.

Trata-se da armadilha da produtividade.

Produtividade é um conceito do modo de produção capitalista, fazendo a relação entre produto obtido e meios de produção utilizados.

Produtos são mercadorias. Meio de produção é Capital, seja como máquinas e equipamentos ou como trabalho vivo. Sendo que apenas o trabalho produz valor de troca, sob a forma das mercadorias.

Aumentar a produtividade implica em extrair do trabalho maior mais-valia relativa: produzir mais por unidade de tempo.

Portanto, a relação entre produtividade e exploração do trabalho é diretamente proporcional.

Além disto, pela dinâmica intrínseca do Capital, o aumento de produtividade leva a uma inevitável queda da taxa de lucro por unidade produzida, gerando crises periódicas de superprodução e proporcional destruição de forças produtivas.

Este é o "reino de abundância" trazido pelo Capitalismo, ou por sua emulação em regimes auto-declarados como Socialistas.

Para superar a armadilha da produtividade na produção agrícola é preciso distinguir claramente entre:
• produzir mercadorias para serem consumidas sob a forma de alimentos (valor de troca).
• produzir comida para alimentar a população (valor de uso).

Soberania Alimentar exige produção local, horizontal e descentralizada, mas não dispensa de modo algum capacitação técnica.

E aqui cabe também uma ressalva para diferenciar técnica de tecnologia, caracterizando esta como a seleção das técnicas mais adequadas à acumulação do Capital.

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