->《Escreveu Lenin: "(…) o cultivo em pequena escala,
enquanto se mantiver o mercado e o capitalismo, não é capaz de libertar a
humanidade da miséria e que é necessário pensar numa transiçao para o cultivo
em grande escala para fins sociais (…)."
Diante da fome era isto que preocupava o velho Lenin: ensinar às massas
camponesas a produzir em larga escala.
Hoje os socialistas pensam justamente o contrário: como ensinar as massas a
cultivar em pequena escala sob regime de agricultura familiar,
preferencialmente com agroflorestas.》
Ao tomar conhecimento do comentário acima, o cadáver
embalsamado de Lenin se contorceu em seu mausoléu eterno na Praça Vermelha.
Suavemente, mesmo assim bem perceptível para qualquer companheiro atento se dar
conta.
Resmungou: "- Mas a História
já não mostrou que esta minha argumentação causou a Coletivização Forçada da
Agricultura na URSS, resultando em milhões de mortes?"
Como se não bastasse, também baseadas na mesma busca da alta produtividade
agrícola, seguiram-se uma trágica repetição da Grande Fome, desta vez promovida pelo
Camarada Mao, e a desgraça da política de ruralização comandada pelo medonho
Khmer Vermelho.
Afinal, onde reside o problema? Como produzir alimentação em quantidade e
qualidade para se ter soberania alimentar?
A leitura do artigo "Socialismo
da abundância, socialismo da miséria", publicado em 22/03/2011
no Passa Palavra,
contribui para a resposta, muito embora o texto incorra no mesmo equívoco.
Trata-se da armadilha
da produtividade.
Produtividade é um conceito do modo de produção capitalista, fazendo a relação
entre produto obtido e meios de produção utilizados.
Produtos são mercadorias. Meio de produção é Capital, seja como máquinas e
equipamentos ou como trabalho vivo. Sendo que apenas o trabalho produz valor de
troca, sob a forma das mercadorias.
Aumentar a produtividade implica em extrair do trabalho maior mais-valia relativa:
produzir mais por unidade de tempo.
Portanto, a relação entre produtividade e exploração do trabalho é diretamente
proporcional.
Além disto, pela dinâmica intrínseca do Capital, o aumento de produtividade
leva a uma inevitável queda da taxa de lucro por unidade produzida, gerando
crises periódicas de superprodução e proporcional destruição de forças
produtivas.
Este é o "reino de abundância" trazido pelo Capitalismo, ou por sua
emulação em regimes auto-declarados como Socialistas.
Para superar a armadilha da produtividade na produção agrícola é preciso
distinguir claramente entre:
• produzir mercadorias para serem consumidas sob a forma de alimentos (valor de
troca).
• produzir comida para alimentar a população (valor de uso).
Soberania Alimentar exige produção local, horizontal e descentralizada, mas não dispensa de modo algum
capacitação técnica.
E aqui cabe também uma ressalva para diferenciar técnica de tecnologia,
caracterizando esta como a seleção das técnicas mais adequadas à acumulação do
Capital.
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