“mude a poluição do
ar antes que ela mude você”. propaganda bizarra na China mostra um futuro
sombrio onde uma adaptação às novas condições ambientais fez com que os pelos
do nariz crescessem, protegendo como um filtro as pessoas contra a poluição
atmosférica.
não um choque de civilizações, pois jamais houve uma “civilização humana”.
toda a História sendo apenas um ininterrupta sucessão de barbáries. nunca houve
um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie.
a guerra deste
mundo da Razão e da Ciência,
nascido das luzes do Renascimento, apenas para mergulhar o planeta numa escala
nunca antes experimentada de destruição e desigualdade. tudo e todos foram
reduzidos ao valor de matéria-prima pela vã pretensão de manter indefinidamente
girando os moinhos satânicos do capital.
este mundo subjugou todos os demais sob uma
unificação etnocêntrica: muitas Culturas, apenas uma Natureza. um mundo no qual
um conceito específico de uma cultura, a Natureza como definida pelo Racionalismo
Ocidental, se converteu em “realidade biofísica”.
nosso próprio conceito de Natureza, tão
arraigado na cultura ocidental a ponto ser considerado “natural”, nunca passou
de nossa mais mortífera arma política.
um triunfo imperialista iniciado pela
Conquista, as invasões bárbaras em todos os continentes, e completado pela
Globalização Neoliberal, a recolonização completa do planeta.
as condições ambientais estáveis dos últimos 12 mil anos favoreceram o
desenvolvimento da auto-denominada “civilização humana”. sob tal estabilidade
ambiental ergueu-se o mito de ser possível uma separação conceitual entre
Natureza e Cultura.
com a irrupção
messiânica de Gaia no cenário geopolítico da história moderna, descobre-se que tal estabilidade
ambiental pode ser alterada. como se reagisse às ações sobre ele infringidas, o
planeta modifica seu equilíbrio para condições menos favoráveis à existência da
espécie humana e de outras muitas que o coabitam.
o mundo natural e o mundo social já não podem mais estar separados. o
humano se desumaniza ao se tornar força natural – pelas
alterações que sua “civilização” provoca na natureza – enquanto a natureza se
torna um agente respondendo a estímulos – convertendo-se numa ameaça política à
continuidade da “civilização humana”.
como nenhum armistício é possível nesta escalada em direção ao armagedon,
nossa única rota de fuga é para a frente. em meio a esta guerra de mundos, não
nos resta nenhuma esperança. só nos cabe lutar. lutar por nossa sobrevivência.
enquanto lutarmos, nos sentiremos vivos. é através da luta que experimentamos a
felicidade de viver.
do mesmo modo como
ocorreu no Renascimento com o Heliocentrismo, o Antropocentrismo já não nos
serve mais. os sonhos da Razão geraram monstros: o Capitalismo, o Antropoceno,
o Antropozóico.
a viabilidade de permanecermos em luta exige uma inversão de eixo e a
mudança total de conceitos e paradigmas.
uma geografia que coloque a periferia no centro e faça do interior a
capital.
uma sociologia focada não no esterilizado binômio “sociedade x
indivíduo”, mas nas confederações de comunidades, na qual se integra o
“indivíduo” ele mesmo como uma comuna.
uma psicologia não mais assombrada pela superstição científica de alguma
“mente humana”, guiada pela compreensão de não existir nenhuma outra “psique”
senão a do imenso, complexo e desconhecido ser vivo chamado Terra.
uma economia baseada não na exploração infinita de recursos finitos, e
sim dedicada à manutenção e enriquecimento do comum.
uma política liberta das fórmulas de “governabilidade”. a noção de
“governo” é a mais insidiosa forma de dominação, por introjetar a “governabilidade”
para produzir subjetividades aprisionadas pela auto-vigilância e a auto-punição.
muito além dos “governos”, estão a auto-gestão e a auto-sustentabilidade.
a superação das “ciências humanas” através dos saberes e conhecimentos
dos seres da Terra.
com a falência da “Constituição
Moderna”, chegou o momento de estabelecer um novo pacto de coexistência no
planeta que coabitamos.
China: poluição do ar e pelos compridos no
nariz
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário