11 outubro 2016

guerra de mundos: inversão do eixo

11/10/2016
“mude a poluição do ar antes que ela mude você”. propaganda bizarra na China mostra um futuro sombrio onde uma adaptação às novas condições ambientais fez com que os pelos do nariz crescessem, protegendo como um filtro as pessoas contra a poluição atmosférica.


há uma guerra. mas não uma guerra no mundo. e sim uma guerra de mundos.

não um choque de civilizações, pois jamais houve uma “civilização humana”. toda a História sendo apenas um ininterrupta sucessão de barbáries. nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie.

a guerra deste mundo da Razão e da Ciência, nascido das luzes do Renascimento, apenas para mergulhar o planeta numa escala nunca antes experimentada de destruição e desigualdade. tudo e todos foram reduzidos ao valor de matéria-prima pela vã pretensão de manter indefinidamente girando os moinhos satânicos do capital.

este mundo subjugou todos os demais sob uma unificação etnocêntrica: muitas Culturas, apenas uma Natureza. um mundo no qual um conceito específico de uma cultura, a Natureza como definida pelo Racionalismo Ocidental, se converteu em “realidade biofísica”.

nosso próprio conceito de Natureza, tão arraigado na cultura ocidental a ponto ser considerado “natural”, nunca passou de nossa mais mortífera arma política.

um triunfo imperialista iniciado pela Conquista, as invasões bárbaras em todos os continentes, e completado pela Globalização Neoliberal, a recolonização completa do planeta.

as condições ambientais estáveis dos últimos 12 mil anos favoreceram o desenvolvimento da auto-denominada “civilização humana”. sob tal estabilidade ambiental ergueu-se o mito de ser possível uma separação conceitual entre Natureza e Cultura.

com a irrupção messiânica de Gaia no cenário geopolítico da história moderna, descobre-se que tal estabilidade ambiental pode ser alterada. como se reagisse às ações sobre ele infringidas, o planeta modifica seu equilíbrio para condições menos favoráveis à existência da espécie humana e de outras muitas que o coabitam.

o mundo natural e o mundo social já não podem mais estar separados. o humano se desumaniza ao se tornar força natural – pelas alterações que sua “civilização” provoca na natureza – enquanto a natureza se torna um agente respondendo a estímulos – convertendo-se numa ameaça política à continuidade da “civilização humana”.

como nenhum armistício é possível nesta escalada em direção ao armagedon, nossa única rota de fuga é para a frente. em meio a esta guerra de mundos, não nos resta nenhuma esperança. só nos cabe lutar. lutar por nossa sobrevivência. enquanto lutarmos, nos sentiremos vivos. é através da luta que experimentamos a felicidade de viver.

do mesmo modo como ocorreu no Renascimento com o Heliocentrismo, o Antropocentrismo já não nos serve mais. os sonhos da Razão geraram monstros: o Capitalismo, o Antropoceno, o Antropozóico.

a viabilidade de permanecermos em luta exige uma inversão de eixo e a mudança total de conceitos e paradigmas.

uma geografia que coloque a periferia no centro e faça do interior a capital.

uma sociologia focada não no esterilizado binômio “sociedade x indivíduo”, mas nas confederações de comunidades, na qual se integra o “indivíduo” ele mesmo como uma comuna. 

uma psicologia não mais assombrada pela superstição científica de alguma “mente humana”, guiada pela compreensão de não existir nenhuma outra “psique” senão a do imenso, complexo e desconhecido ser vivo chamado Terra.

uma economia baseada não na exploração infinita de recursos finitos, e sim dedicada à manutenção e enriquecimento do comum.

uma política liberta das fórmulas de “governabilidade”. a noção de “governo” é a mais insidiosa forma de dominação, por introjetar a “governabilidade” para produzir subjetividades aprisionadas pela auto-vigilância e a auto-punição. muito além dos “governos”, estão a auto-gestão e a auto-sustentabilidade.

a superação das “ciências humanas” através dos saberes e conhecimentos dos seres da Terra.

com a falência da “Constituição Moderna”, chegou o momento de estabelecer um novo pacto de coexistência no planeta que coabitamos.

China: poluição do ar e pelos compridos no nariz


.

Nenhum comentário: