04/10/2016
após o nocaute do anunciado golpe do impeachment, vem o previsível massacre
das eleições municipais de 2016.
já em 2014 se revelara a gravidade da crise da representação política. os
votos nulos, brancos e
abstenções foram superiores a
votação recebida por Aécio Neves no 1º turno. no Rio de Janeiro, o total de nulos,
brancos e abstenções superou a votação
de Pezão, candidato do PMDB e apoiado pelo PT.
em 2016 o índice de rejeição às urnas se acentua. a soma de votos nulos,
brancos e abstenções ultrapassa votação
do candidato que ficou em primeiro lugar em nove capitais.
coligados com a partidarização do Judiciário, MPF e PF operam como cabos
eleitorais a serviço de um projeto de país: o retorno do Brasil ao status pré
Revolução de 1930.
com a falência do sistema político e a irrelevância dos partidos, a
corrosão das instituições entra em estado terminal.
pela doutrina do choque, ergue-se a arquitetura do caos para submeter o
Brasil ao capitalismo de desastre. sucessivas ondas de choque e pavor se arremetem para destruir o país tal qual o
imaginávamos conhecer. tudo aquilo que sob o Lulismo parecia tão sólido, dissolveu-se no pântano da decomposição
institucional, do qual emanam raiva,
hipocrisia, cinismo e depressão.
enquanto no Oriente Médio cidades inteiras foram reduzidas a escombros e
seus habitantes convertidos em refugiados sem destino, o Brasil é devastado
pela crise crônica promovida pela Lava Jato e sua guerra seletiva contra a
corrupção. com o golpe da plutocracia contra o povo, nas ruínas do Estado
Democrático de Direito as cadeias produtivas e os empregos também são
destroçados.
a partir da crise global de 2008, esgotam-se as condições para uma
conciliação permanente. com o país arrastado ao epicentro de uma grande guerra
mundial híbrida, ocorre internamente um agudo acirramento da luta de classes. como
o Império entrou em confronto contra os BRIC, a lumpenburguesia brasileira é conclamada
a se insurgir contra o Brasil.
incapaz de se auto regenerar e submetido a crises periódicas cada vez
mais destrutivas, o capitalismo incorporou a crise como um modo de governar. a “crise” é uma oportunidade de
reestruturação dos mercados. as medidas tomadas para superar a “crise” não servem para combatê-la. ao
contrário, a “crise” é desencadeada
como pretexto para aplicar tais medidas.
só uma crise é
capaz de produzir verdadeiras mudanças. quando esta crise ocorre, os atos dependem
das teorias em circulação. é preciso desenvolver teorias alternativas às
políticas vigentes, mantê-las vivas e disponíveis, até que o politicamente
impossível se torne o politicamente inevitável.
o parágrafo acima é um bom exemplo de como se pode reconfigurar o fluxo
teórico do inimigo contra ele próprio. quais as teorias
alternativas à política vigente da Esquerda tradicional?
mesmo sob um golpe de Estado, avançando para um completo Estado de Exceção,
num cenário internacional com possibilidade presente de confronto bélico
aberto, ainda assim no Brasil a Esquerda
tradicional se esquiva em denominar a realidade, em nome de uma
via eleitoral esgotada e de uma já vencida estratégia de conciliação. para
estes a palavra “golpe” sempre
será um tanto dura.
esta não é apenas a maior “crise”
de nossa história, estamos numa guerra. e numa guerra concebida para ser
infinita. seja como guerra ao terror, como guerra às drogas ou mesmo guerra à
corrupção. são as muitas guerras da grande guerra dos 1% contra os demais. uma
guerra conduzida em escala planetária. a guerra como negócio e como instrumento
de dominação.
a guerra é o hardware no qual se processa atualmente o Capitalismo,
enquanto a crise consiste na continuidade da guerra por outros meios.
não haverá nenhum retorno aos anos dourados do capitalismo keynesiano. não
voltarão aqueles tempos em que Lula era o “político
mais popular da Terra”.
pela mercantilização completa da vida, até mesmo a subjetividade foi
recolonizada. o neoliberalismo reprogramou o trabalhador oprimido como um
empresário livre, um empreendedor de si mesmo, portanto um trabalhador que se
explora a si próprio na sua própria empresa. mestre e escravo na mesma pessoa.
por outro lado, a ilusão da emergência de um pós-capitalismo baseado numa
economia dos “collaborative
commons” apenas conduz ao eclipse de uma total mercantilização da comunidade. o capitalismo
realiza-se plenamente ao vender o comunismo como mercadoria: o comunismo como
mercadoria é o fim da revolução.
não há nenhuma “crise” a ser
superada e sim uma guerra que precisamos vencer, para que possamos sobreviver.
todos nós que hoje
habitamos o planeta Terra vivemos os horrores de uma guerra de mundos.
de um lado estão o
Homem, a Razão, a Ciência: os que se ergueram vitoriosos com as luzes do
Renascimento apenas para mergulharem o planeta numa escala nunca antes
experimentada de destruição e desigualdade. tudo e todos foram reduzidos ao valor de
matéria-prima pela vã pretensão de manter indefinidamente girando os moinhos
satânicos do capitalismo.
do outro lado, na
resistência contra a barbárie já instalada, há um povo. toda uma população que
agora se levanta contra o aniquilamento generalizado: os seres da Terra. uma
aliança entre humanos e não-humanos pautada não por leis, contratos ou
instituições, mas pela urgente consciência da luta comum pela sobrevivência.
a maior das
catástrofes contemporâneas é esta insidiosa guerra de mundos em curso: os
“Humanos” contra os seres da Terra.
do mesmo modo que
ocorreu no Renascimento com o Heliocentrismo, o Antropocentrismo já não nos
serve mais. os sonhos da Razão geraram monstros: o Capitalismo, o Antropoceno,
o Antropozóico.
uma nova mudança em
breve vai acontecer. um inexorável desaparecer, como, na orla do mar, o
desvanescer de um rosto de areia: o ocaso do Humanismo e do Racionalismo.
adeus ao Homem. bem
vindos à intrusão de Gaia.
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