30/10/2016
como um previsível revés eleitoral tem o poder de conduzir milhares de
pessoas até uma Cinelândia completamente lotada, para ali comemorarem juntas,
entre beijos e lágrimas, dança, música e palavras de ordem, risos e choros?
apenas a vitória merece celebração ou derrotas também se festejam? mas que gente louca seria esta que festeja a
derrota?
a razão deles não nos serve. é uma razão que produz a loucura do mundo em
que vivemos. se dizem que somos loucos é porque talvez estejamos no caminho
certo.
ainda sob os anos de chumbo do coronelismo político, sob o jugo do
fisiologismo e do assistencialismo e dominada por currais eleitorais, o Rio de
Janeiro conquistou, após décadas, uma oportunidade de libertação.
uma cidade que fora vendida aos caciques do PMDB, em nome do “bem maior”
do projeto nacional do Lulismo.
mermão, aqui é o Rio de Janeiro. já sobrevivemos ao Garotinho, Rosinha,
César Maia, Eduardo Conde, Sérgio Cabral, Pezão e Duduzinho Paes.
e como resultado daquele “bem maior” que nos condenou a um garrote vil
político, estamos agora lutando contra o golpe, a PEC, a reforma do ensino
médio. gritando “Fora Temer” e “Diretas Já”.
parceiro, no Rio a gente vive e morre nas ruas. amamos a convivência nos
espaços públicos. o encontro nos butecos, na praia e na noite.
aqui é desse jeito. somos sempre multidão. a mistura, a diversidade, a
comunicação. é assim que nos sentimos vivos.
amamos a vida. e celebramos a vida coletivamente nos espaços abertos.
seja nas vitórias, seja na derrota.
muito além disto, a batalha do Rio não é apenas uma disputa eleitoral, ou
mesmo um confronto entre programas e projetos. a batalha do Rio é uma guerra de
mundos. por isto, não se completa numa eleição. nossos sonhos não cabem nas
urnas.
é a luta de uma cidade de pessoas contra uma cidade de negócios, entre a
cidade democrática e a cidade empresa.
uma luta que faz do Rio um laboratório do futuro. a capital da esperança.
para que deixe de ser um maravilhoso cenário para uma cidade com pavorosas
desigualdades.
mundos completamente antagônicos numa guerra de vida ou morte. sem qualquer possibilidade de
conciliação.
a cidade das zonas de exclusão, dos guetos e dos campos de concentração.
a cidade dos mercadores da fé, dos operadores da teologia da prosperidade. os
adoradores do deus dinheiro. os pregadores do fundamentalismo de mercado. os
missionários da conversão de todos os povos da terra ao capitalismo como
religião.
e a cidade libertária, do diálogo, da diversidade. uma cidade do encontro
e do afeto. a cidade dos desejos, dos sonhos e das utopias.
esta foi uma campanha municipal não submetida à lógica eleitoral,
resultado de um árduo e longo processo de construção de alternativa através da
luta dos coletivos e da organização pela base.
tivemos como uma das vitórias, o resgate da juventude para a política.
algo que nenhum marqueteiro pode vender. nenhum financiamento eleitoral pode
comprar. apenas a alegria e a sinceridade de uma política feita com ética e amor.
festejamos o renascimento da política e o rejuvenescimento da militância,
em sua ocupação na raça
das ruas, das praças e das redes.
uma campanha que fez chegar a hora de rejuvenescer, pela aliança da
experiência da geração das “Diretas Já” com o vigor da primavera secundarista.
uma campanha que botou por terra o mito da inevitabilidade de uma
política de alianças vendidas em troca de tempo de TV. apenas 11 segundos foram
suficientes para derrotar o PMDB e ir ao segundo turno.
uma campanha que provou que política se faz juntos, no maior
financiamento coletivo como nunca antes houve na história deste país.
uma campanha na qual definitivamente ficou claro que a mídia somos nós.
se eles tem a mídia, nós temos uns aos outros.
uma campanha na qual se desenrolou mais um capítulo da guerra de
famiglias, o Império Global contra o Reino da Universal. com as capitanias
hereditárias midiáticas sucumbindo frente ao monstro se erguendo da onda de
ódio que contribuíram para insuflar: o fundamentalismo religioso.
nesta guerra de mundos, as batalhas pela libertação do Rio de Janeiro
irão prosseguir. a única luta que se perde é aquela que se deixa de lutar.
por isto, estamos nas ruas, festejando a derrota. e na noite que se abate
sob a nossa cidade e sob todo o Brasil, somos cada um de nós um brilho na
escuridão.
não nos interessa apenas resistir. nosso desejo é outro, queremos
re-exisitir.
a cidade somos nós. a cidade é nossa. vai ser desse jeito. vamos
ocupá-la. com as nossas vidas.
vem vindo o verão.
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