
por bem, ou por mal
apesar da consagradora reeleição, Lula só completou seu primeiro mandato em virtude de um erro estratégico da oposição conservadora.
em agosto de 2005, quando o publicitário Duda Mendonça confessou ter recebido de caixa dois no exterior pela campanha presidencial de 2002, a vantagem de Lula sobre seu adversário do PSDB chegou a apenas dez pontos. em dezembro, empataram. então, Lula descera a mais baixa taxa de aprovação a seu governo (28%), com a mais alta reprovação (29%).
enquanto a cúpula do PT desmoronava, deputados do partido choravam descontrolados no plenário e ministros sugeriam a Lula renunciar, PFL e PSDB optaram por fazer o Presidente sangrar até as eleições.
para a oposição conservadora, assumir o processo de impeachment era também enfrentar seus próprios cadáveres no armário. o governo do PT não cairia sozinho, arrastaria junto, em seu abraço de afogado, os “obscuros negócios“ das privatizações de FHC. nem o PT ou o PSDB, e muito menos o PFL, tem o menor interesse numa operação “Mãos Limpas“ no Brasil.
as urnas não concedem a Lula, junto com o segundo mandato, anistia pelos erros de seu Governo. ao contrário, o resultado do primeiro turno foi uma indicação incisiva da necessidade de mudança. mesmo o recorde de avaliação positiva (52%), alcançado ao final das eleições, foi muito mais uma demonstração de apoio político, num contexto de ataque cerrado a sua candidatura pelas elites, que endosso incondicional a um governo de “aloprados“.
Lula terá os cem primeiros dias de seu segundo mandato para promover uma inflexão na política econômica. chegou a um impasse a renovação do acordo entre o Bolsa Família e a Selic Banqueiro.
as medidas compensatórias do primeiro governo são incompatíveis com o ajuste fiscal perpétuo exigido pelo Mercado. muito embora todas as benesses recebidas, as elites deram prova, durante a campanha eleitoral, que, para derrubar Lula, não precisam exatamente de motivos, qualquer pretexto lhes serve.
por outro lado, as camadas populares que passaram a desfrutar de um maior acesso ao consumo e à política já não podem mais ser ignoradas. a classe média sinalizou ter chegado ao limite do asfixiamento e da condescendência com os escândalos. com o medíocre crescimento da economia, está esgotada a margem de ampliação do arrocho tributário.
no início de seu primeiro mandato, a justificativa para postergar a mudança da política econômica foi a “herança maldita“ de FHC. agora Lula se vangloria de estarem dadas todas as condições para o país voltar a crescer.
a continuidade no mesmo rumo econômico produzirá efeitos ainda mais graves do que anteriormente. o alto desemprego crônico deixará em frangalhos a base social do governo. com a manutenção da fórmula política surgirão novos escândalos. o apoio popular a Lula refluirá e a oposição não repetirá seus erros.
no auge da crise do “mensalão“, quando tudo e todos pareciam perdidos, foi de Lula a decisão de resistir. desta vez, contudo, qualquer resistência será vã.
Lula está condenado a entrar para a História. por bem, ou por mal...