18 outubro 2006

a terceira via

aquela vinha sendo a eleição presidencial mais apática desde a redemocratização do país. parecia que a política se tornara definitivamente irrelevante.

o jogo eleitoral fora armado de tal forma a não haver possibilidade de terceira via. como na época da ditadura militar, a disputa se reduzia a dois partidos, ambos a serviço do mesmo projeto político conservador. pouco importa quem vencesse, os Mercados festejariam pacificados.

entretanto, a cada vez que os homens pretendem ser mais espertos que a História, e a ela dar fim, acabam logrados como tolos.

quando a campanha de Lula já comemorava por antecipação, o "Núcleo de Inteligência" do PT mira no dossiê Vedoin e acerta o próprio pé. o escândalo resultante, somado aos votos não precificados pelo Mercado, dados a HH e Cristovam, provoca o adiamento de uma vitória anunciada.

mais importante: altera-se por completo o perfil das eleições. se Lula já não podia manter-se escondido em cima do salto alto, Alckmin, por sua vez, tinha que deixar para trás o currículo de Governador e mostrar suas propostas como Presidente.

sem compreender que a pauta das eleições já lhes fugira ao controle, as "forças do mercado" tentam monopolizar o debate em torno do lema do pensamento único: ajuste fiscal.

inútil. o curto-circuito viciado se rompera. as duas campanhas precisavam render alguma homenagem à virtude, mesmo que sob o manto da hipocrisia.

as urnas do primeiro turno revelaram um outro país, nunca uma eleição fora tão polarizada, com as diversas camadas sociais votando claramente conforme seus respectivos interesses.

com a inflação sob controle, o custo da cesta básica em queda e o aumento do salário mínimo, silenciosamente uma multidão se incorporara ao consumo e à política e não podia mais ser ignorada.

a classe média, esmagada entre o Bolsa-Família e a Selic-Banqueiro, dá seu basta à estagnação e ao desemprego. o agronegócio se revolta contra o câmbio artificialmente desvalorizado. a indústria recusa-se a morrer de “doença holandesa”. banqueiros e grandes empresários aplaudem e pedem mais do mesmo, se possível, sem Lula...


com o segundo turno, a surpresa: abre-se inesperadamente o caminho da terceira via.

entram em discussão juros e câmbio. cai o tabu do controle de capitais. Alckmin assina carta antiprivatização. Lula carimba o segundo mandato como "desenvolvimentista". economistas de mercado têm faniquito, mas são obrigados pelo patrão a ficar de boca fechada.

mais uma vez, o Brasil se move. o rumo para o futuro começa agora.

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