24 outubro 2006

uma nova chance

mesmo todo coberto com a lama dos sucessivos escândalos, nada parece deter a marcha triunfal de Lula em direção ao segundo mandato.

a perspectiva de uma votação acachapante conduz ao retorno do contexto da vitória de 2002.

então, havia júbilo no ar. furando o asfalto, o tédio, o nojo, o ódio e o medo, brotava a Rosa do Povo.

antes mesmo de tomar posse, porém, Lula-lá vai a Washington para selar, num aperto de mão com Bush, a nomeação de um banqueiro como presidente do BC. apesar das mil flores nas ruas, mais uma vez se adiava a chegada da primavera...

o temor às “forças do mercado” derrotara a esperança de uma inteira nação. antes de sequer ousar lutar, Lulinha paz e amor preferiu sucumbir voluntariamente, dando continuidade à maldita política econômica herdada de FHC.

agora, a espiral do tempo completa mais uma volta, trazendo Lula de novo ao mesmo ponto em que, da primeira vez, rejeitara o chamado da História.

já não há festa. o voto é desanimado. muito mais contra o PSDB que de aprovação ao Presidente-candidato. o eleitorado associa Alckmin a FHC e se identifica com Lula. entre os dois governos, faz uma óbvia escolha pelo menos ruim.

por outro lado, o modelo do pensamento único caiu estilhaçado. o debate por alternativas se propaga na sociedade. as “forças do mercado” entram em movimento defensivo, sem condição de manter o Governo como refém. com seus “fundamentos” abalados, a macroeconomia se torna suscetível a mudanças.

a remota probabilidade de reversão do jogo eleitoral, leva a oposição ao desespero de cogitar uma virada de mesa institucional. resta o recurso ao terceiro turno. caso haja reeleição, prevêem, o novo governo acabará antes de começar. mesmo Lula reconhece que, confirmado crime eleitoral no dossiegate, será ele quem terá que pagar.

o PT também já não é o mesmo. demorou 23 anos para chegar ao poder, e menos de um mandato para ter seus principais quadros afastados dos postos chaves do governo e do próprio partido. rompido com sua base social e deteriorado seu solo histórico, o PT sobrevive às custas da popularidade de Lula.

na repetição de 2002 em 2006, as respectivas conjunturas trocam sinais entre a farsa e a tragédia. para Lula, contudo, permanece a mesma questão: fazer História ou submeter-se às circunstâncias legadas pelo passado.

Nenhum comentário: