14 outubro 2006


reinventando Alckmin

inebriados com uma vitória que euforicamente alardeavam ter obtido no primeiro debate do segundo turno, os tucanos se prepararam para voar mais alto.

com os resultados das pesquisas, porém, são abatidos em pleno ar.

a brutal reversão de expectativas faz com que o candidato do PSDB procure sua identidade nos reflexos do espelho despedaçado.

Alckmin ou Geraldo? polido ou agressivo? técnico ou passional? PSDB ou PFL? HH ou Cristovam? ricos ou pobres? Sul ou Nordeste? gerente ou estadista? choque de gestão ou Bolsa-Família? privatizar ou resgatar o Estado? desenvolvimentista ou neoliberal? cortar gastos públicos ou controlar fluxo de capitais? soberania nacional ou submissão internacional?

foi como se, de repente, o tucano se tornasse a encarnação das contradições das classes dominantes Brasileiras.

no meio de tanta angústia e desorientação, os alckmistas ainda não descobriram que lhes resta uma chance de vencer. precisam encontrar a pedra filosofal que transforme a eleição. para que deixe de ser uma disputa de projetos de poder e se torne busca de rumos para o Brasil.

a marca de nascença das classes dominantes Brasileiras é jamais terem lutado por um projeto para o país. sempre mantiveram planos exclusivos para si mesmas, resignadas a um papel dependente e submisso à sua contraparte internacional.

neste aspecto, o PT, após sua chegada ao governo, em nada difere. e o mesmo se pode afirmar da candidatura Alckmin. todos têm em comum abdicar espontaneamente a professar idéias próprias, sem qualquer outro horizonte estratégico além de perpetuar o exercício do poder.

apesar da exigüidade de tempo e recursos, Alckmin vive um dilema extremamente rico. precisa se reinventar.

caso seja bem sucedido, com ele estarão sendo reciclados os setores que representa: as elites Brasileiras, que jamais chamaram para si o destino do país, privado do sentido de nação e mantido na condição de empresa constituída para abastecer o mercado externo.

muito embora o próprio candidato-Presidente admita que nunca as elites ganharam tanto dinheiro quanto em seu governo, os banqueiros e grandes empresários, mesmo considerando Lula e Alckmin como iguais, ambos "conservadores", dão seu apoio a Alckmin, maciçamente.

não é sem motivo que pesquisa do Datafolha, na qual Lula aparece como o mais "corrupto", aponta o tucano como o mais "inteligente, moderno e inovador" e também como o mais "autoritário" e o que "mais defenderá os ricos".

como o país que almeja governar, Alckmin está no centro de uma crise de destino. para vence-la, não lhe bastará sua religiosidade conservadora, tampouco seu orgulho interiorano e, muito menos, sua competência de gestor não ideológico.

chegou o momento de Alckmin provar que pode ser algo mais. caso consiga, mesmo que não ganhe as eleições, terá sido vitorioso.

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