desconstruindo Lula: o golpe final
eleições de 1989. segundo turno. última semana. Collor e Lula estão tecnicamente empatados. campanha de Lula em alta. Collor declina. eufórica, a militância do PT ocupa as ruas das principais capitais.
na primeira eleição direta para Presidente da República após a ditadura militar, o Brasil se tornara um país urbano e industrializado. com as lutas pela redemocratização e o fim do ciclo militar, as classes dominantes perdem a iniciativa na condução do processo político.
o longo histórico Brasileiro de transições controladas chega a um impasse. pela primeira vez, há possibilidade concreta de um operário se eleger Presidente e a Esquerda assumir o poder. a iminente ruptura com a herança das “revoluções palacianas” coloca o Brasil em transe.
empresários ameaçam deixar o país. classe média tradicional, tributária das oligarquias arcaicas, entra em pânico. rumores circulam em SP: caso Lula seja eleito, haverá confisco de quartos para acomodar imigrantes nordestinos. classe média surgida com o processo de desenvolvimento abraça com entusiasmo a candidatura do PT. população dos grotões rejeita Lula. trabalhadores dos grandes centros urbanos se identificam com o líder sindical.
a sociedade experimenta à flor da pele o sentimento da realidade histórica de se estar vivendo entre dois mundos: um definitivamente morto e outro que luta para vir à luz.
Collor joga sujo. coloca no ar depoimento de ex-namorada de Lula, acusando-o de propor um aborto. na réplica, o constrangimento do pai ao lado da filha emudecida, revela que Lula acusara o golpe a ponto de vergar os joelhos.
ao se dobrar a chantagem, recusando-se a fazer com que o eleitorado encare sua própria hipocrisia em relação à questão do aborto, Lula começa a adiar, por mais uma vez, o já longo e exasperante parto daquilo que luta por nascer.
no debate final, Lula entra em cena num estado de petição de miséria. Collor aterrorizara os bastidores da campanha petista com sua intenção de expor em público a intimidade sexual de Lula.
num dos mais patéticos momentos da história política Brasileira, Lula não sobrevive e sucumbe, ao vivo, diante dos olhos perplexos de seu eleitorado.
o golpe de misericórdia vem com a edição do debate divulgada no dia seguinte pelo Jornal Nacional.
a derrota de Lula em 1989 foi, ao mesmo tempo, um fracasso político e psicológico.
Lula não teve estatura política para aceitar a vitória contra uma elite para a qual seu nome estava vetado. preferiu a rendição voluntária que assumir a Presidência num cenário de confronto.
com sua estrutura psicológica vulnerável, que entra em colapso nos momentos de crise, Lula demonstrou incapacidade de resolver um problema básico de formação de personalidade. as limitações e deficiências que, muito embora ele tenha consciência de possuir também considera impossível de superar, não podem ser publicamente admitidas, ou sequer apontadas, sob pena de sensação de humilhação e desonra.
sob a face vitoriosa do Lula atual, permanece enterrado o fantasma de 1989. Lula é hoje tão somente uma deplorável farsa de si mesmo. apesar da alta popularidade e do elevado percentual de intenção de voto, sua estatura política e sua fragilidade psicológica se degradaram de modo irreversível.
derrotar Lula não é tão impossível quanto evidências imediatas levam a supor. até mesmo porque, tanto da perspectiva do processo histórico quanto do individual, ele já é um acabado fracasso.
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