{nota não muito breve sobre a imagem:
se alguém perguntasse
qual o título do romance russo do século XIX que teve a maior influência sobre
a sociedade russa, é provável que uma pessoa não russa escolhesse um dos livros
do poderoso triunvirato: Turguenev, Tolstoy e Dostoyevsky. "Pais e Filhos"?
"Guerra e Paz"? "Crime e Castigo"?
mas, todavia,
entretanto ...
o romance que pode
clamar por essa honra com mais justiça é "O Que Fazer?" de N.G.
Chernyshevsky, um livro do qual poucos leitores ocidentais ouviram falar, e
menos ainda leram.
o romance de
Chernyshevsky, mais que "O Capital" de Marx, forneceu a dinâmica emocional
que eventualmente desembocou na Revolução Russa.
o título do famoso livro "Que Fazer?" escrito por
Vladimir Lênin em 1901, que discute a organização de um partido político
revolucionário, faz referência direta à obra de Nikolai Tchernichevski, cujo
romance "O Que Fazer?" foi publicado em 1863.}
o caos como
criação
tudo sob o céu está
mergulhado no caos. só resta
um único movimento: com o firmamento rasgado devemos mergulhar voluntariamente no abismo, mas não para nele desaparecer.
porém, sem ultrapassar a
fase do caos nenhuma criação é possível.
o caos revela o que sempre soubemos, mas nunca conseguimos suportar: não
há qualquer racionalidade no sistema.
já não há nenhum Centro de Comando e Controle. ninguém além do
caos está no controle. um Capitalismo de Crise incorporou a crise como modo de governar.
por toda parte a Nova Ordem Mundial
redundou numa desordenada fragmentação global. a cartografia da geopolítica global mudou.
está em marcha uma nova grande desintegração. mares já navegados, mas outra vez
desconhecidos.
contudo, há também
uma potência no caos. se é através dele que pretendem nos
destruir, é deste mesmo caos que ergueremos nossa criação.
“A guerra civil é a matriz de todas as lutas
de poder, de todas as estratégias de poder e, por conseguinte, também a matriz
de todas as lutas a propósito do poder e contra ele.”
entreouvido numa
das aulas de Foucault
a Esquerda
brasileira tradicional está obsoleta
prisioneira de paradigmas vencidos, a Esquerda brasileira, em sua quase
totalidade, não consegue agir, sequer pensar, minimamente conectada com as
novas condições contemporâneas.
a Ex-querda jaz inerte, sempre pautada pelo calendário
eleitoral, operando pela via parlamentar e orientada a pesquisas de
popularidade e intenção de voto.
oportunismo, fisiologismo e caudilhismo se mesclam numa desgastada fórmula
de nunca ousar minimamente qualquer mudança, tão somente maximizar argumentos
para justificar o imobilismo.
só um amplo movimento de massas, profundamente capilarizado no tecido
social, é capaz de alterar a correlação de forças. um golpe só pode ser
derrotado por um contra-golpe.
um movimento sob o paradigma da transversalidade: uma verticalidade
profundamente enraizada num ampla horizontalidade.
num contexto no qual a crise da representação se consumou, apenas o
próprio poder instituinte, a soberania popular, será capaz de promover mudanças
nas relações sociais.
por isto as mudanças não se dão pura e simplesmente através dos poderes
constituídos e das instituições, na maior parte das vezes nada mais que os
grandes obstáculos para qualquer tipo de mudança.
a chegada ao governo deve ser precedida, e resultado, de um sólido
processo de organização de um movimento popular sólido e necessariamente
permanente.
sem isto, os golpes continuarão triunfando, seremos sempre derrotados e
afundaremos novamente no cinismo e na depressão.
"En contraste con el Estado moderno, el Imperio no niega la
existencia de la guerra civil, la gestiona."
"Introducción
a la guerra civil", Tiqqun
uma nova Esquerda
só pode nascer de um novo modo de vida
nenhuma pax nos salvará.
queiram ou não, admitam ou não, compreendam ou
não, somos um país em guerra civil. já estamos de qualquer jeito num guerra de
extermínio.
só nos cabe lutar por nossa sobrevivência. e isto só pode ser feito coletivamente e de modo organizado.
se todo o tempo de vida se tornou tempo de trabalho, e se a guerra se
processa no tecido das relações sociais e através da governança das
subjetividades, nenhuma militância política pode estar separada do modo
mesmo de se viver.
militar
é viver. não existe militância política separada da vida. é em nossa
própria forma de viver que fazemos política. e só é possível fazer
política em comunidade.
o inimigo está em toda parte. onipresente, polimorfo e multifacetado. o
inimigo somos nós mesmos, com um modo de vida que reproduz nossa
dominação e exploração.
num mundo em que a vida se tornou o teatro de operações da guerra
civil sem fim, é no modo de se viver que são travadas todas as
batalhas.
"Não "O que
fazer?". E sim "Como fazer?". A questão dos meios. Não a dos
fins. Mais que de novas críticas, é de novas cartografias que necessitamos.
Cartografias não do Império, mas das linhas de fuga para fora dele. Como fazer?
Precisamos de mapas."
um novo modo
de viver se processa pelas lutas no cotidiano
não haverá nenhuma solução para a atual crise brasileira vinda de cima
para baixo. nenhum Salvador da Pátria,
nenhum Pai dos Pobres, nenhum Pacto
à la Brasil, nenhum Mito Redentor.
a crise de representação é irreversível. nunca antes neste país foi tão grande
a fratura entre os poderes constituídos e o poder instituinte da soberania
popular.
esta fratura tende a se acentuar, desembocando num regime autoritário,
mas que tampouco conseguirá se estabilizar, por nada mais ser do que um outro
golpe na sucessão de golpes dentro do golpe.
não há mais qualquer possibilidade de saída para a crise brasileira
atual. apenas a construção de um portal de entrada para um novo ciclo.
esta construção só se concretiza por meio de lutas localizadas integradas
num amplo movimento de massas em âmbito nacional.
com a periferia se tornando o centro, o interior a capital, a membrana o
núcleo, a pele como a mais profunda carne.
é no processo de suas lutas concretas por pautas concretas que pessoas
concretas experimentam o Poder da
Comunidade.
chegando então a compreender como o local e o global são apenas duas
perspectivas de uma mesma luta: viver uma vida que valha a pena ser vivida.
as novas formas de
organização nascerão das lutas. não é
“o povo” que produz a luta, é a luta que forja o seu Povo. do mesmo modo, as novas formas de organização não são
preexistentes e são geradas pelo processo de luta.
quem muda o mundo são as pessoas. e o que muda as pessoas são as
experiências de vida compartilhadas na luta coletiva para mudar o mundo.
18/05/2016:
estamos
sendo arrastados pelo rio revolto da política, já não mais comprimida entre as
margens da conciliação e do golpismo. é o próprio rio que nos acena, vindo ao
nosso encontro, atendendo ao nosso chamado. o que faremos, nós que uma vez
ousamos nos chamar de Brasileiros? correremos, fugiremos, arrepiados de pavor?
ou nos colocaremos em nossa canoinha de nada, nessa água que não para, de
longas beiras? eu vou! por que não? e, nós, rio abaixo, rio a fora, rio a
dentro - o rio.
vídeo: "O que fazer?" - Nikolai
Tchernichevski
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