21 março 2020

COVID-19: boletim médico (1)


- para a medicina de mercado a "saúde" é um bem lucrativo a ser comercializado para quem pode arcar com os altos custos de seu consumo;

- a medicina de mercado vende uma promessa que é incapaz de cumprir: não se pode comprar "saúde" como se faz com qualquer outro artigo, ou mesmo através da assinatura de algum contrato de serviço;

- a "saúde" não é uma mercadoria, e sim um complexo processo de equilíbrio dinâmico de uma biosfera em sua interconexão com as demais;

- ninguém "tem saúde", assim como ninguém tem a vida. quem "está vivo", no momento seguinte pode já não mais estar. quem "está com saúde", pode a qualquer momento não mais estar. como a própria vida, a saúde também não se possui;

- para atender a demanda por "saúde", a oferta é abundante: a indústria farmacêutica entope as prateleiras das farmácias com todo tipo de pílulas, os planos de saúde oferecem vários tipos de cobertura, os serviços médico-hospitalares são diversificados;

- nem mesmo mais se trata de medicar pessoas, tudo obedece a uma norma de compliance: a conformidade entre resultado de exames e um padrão biométrico estabelecido estatisticamente;

- o médico sequer toca o paciente, tampouco precisa fitá-lo nos olhos. bastam os exames recebidos via web diretamente do laboratório, para efetuar a prescrição;

-  o mercado vende "saúde", mas vive mesmo é da doença. por isto já não mais se trata de "curar" as enfermidades, e sim de "mantê-las sob controle", exigindo para isto um uso prolongado da medicação;

- pressão arterial, diabetes, colesterol, cardiopatias, disfunção renal, asma, artrose, rinite, etc... a doença é crônica, assim como a rentabilidade por ela gerada;

- a medicina de mercado não resolve as causas das doenças, tão somente suprime seus sintomas, aprofundando-os como desequilíbrios mais graves e gerando efeitos colaterais múltiplos;

- frente a pandemia de COVID-19, a medicina de mercado está em colapso: como monetizar uma doença cuja principal medida social de prevenção recomendada exige uma ampla quarentena, portanto a paralisação da economia?

- qual a estratégia dos governos para combater a pandemia? uma gestão necropolítica: se a pandemia é incontornável, trata-se de sobreviver e deixar morrer. não encontrar a cura, mas administrar o índice de contágio e a taxa de letalidade;

- a única saúde que pretendem preservar é a de um doente sem cura em estágio terminal: o Capitalismo global financeirizado;

- assim como a medicina de mercado jaz impotente, também o está a economia de mercado: nenhuma panacéia milagrosa, tão somente placebos descaradamente fraudulentos;

- apesar de seus pulmões encharcados com a liquidez astronômica imediatamente injetada pelo FED (US$ 1,5 trilhão) e o BCE (750 bilhões de euros), as condições vitais do mercado financeiro seguem se deteriorando, respira mal e através de aparelhos, tais como o Repo e o QE;

- com as restrições de mobilidade, a atividade econômica instantaneamente entra numa era glacial. com o comércio congelado, paira no ar a dúvida atroz: "Como pagarei minhas contas?". além de salvar os bancos e os fundos hedge, desta vez o helicóptero de dinheiro precisa também despejar um cheque nas mãos de cada família;

- é assim que tudo se acaba para o neoliberalismo? não no ensurdecedor rugido do armagedon termonuclear, mas num quase inaudível chiado da insuficiência respiratória aguda?

- tão rápido e poderosamente quanto o vírus, se propaga o pânico. enquanto é quase unânime o clamor pela ação estatal, os donos do Estado conspiram abertamente para instaurar um Estado de Exceção. sob o pretexto de combater a pandemia, impor a Lei Marcial, a militarização do sistema de saúde, restrições das garantias individuais, etc...

- a quarentena imposta à população explicita o isolamento no qual já se vivia, no confinamento das bolhas virtuais e na desmesurada solidão nas megalópoles em meio à multidão;

- sem as máscaras usadas nas ruas e prisioneiros dentro da própria casa, quantos suportarão este inesperado encontro com si mesmos?

- "Fiquem em casa!", "Não saiam!", "Não se toquem!". as esbravejantes imposições sanitárias ecoam por todos os lados, fazendo de cada qual Caim pronto a contaminar Abel. mas o COVID-19 é nosso irmão. é uma civilização, e não a nós, que veio sepultar;

- é preciso manter as mãos limpas, sempre desinfetadas, perfeitamente esterilizadas. mas quem de fato está com as mãos limpas? se formos testados já não seríamos coronavírus positivos? é possível se manter incólume num meio-ambiente já contaminado?
- haverá uma cura? alguma vacina? medicações? profilaxias? imunidade? afinal, qual é a doença? qual o patógeno? angustiantes perguntas cuja única resposta sensata muito poucos ousam encarar: nós somos o vírus. nosso modo de vida virulento ensejou as condições para o COVID-19 se tornar pandêmico;

- sobreviveremos? se for para tudo retornar ao "normal", é melhor que não...

- COVID-19: doença ou cura?



vídeo: carta do COVID-19 para a Humanidade.




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Um comentário:

Unknown disse...

Chamaria esse artigo de lucidez a luz do microscópio!