- para a medicina de mercado a "saúde" é um bem lucrativo a ser
comercializado para quem pode arcar com os altos custos de seu consumo;
- a medicina de mercado vende uma promessa que é incapaz de cumprir: não
se pode comprar "saúde" como se faz com qualquer outro artigo, ou
mesmo através da assinatura de algum contrato de serviço;
- a "saúde" não é uma mercadoria, e sim um complexo processo de
equilíbrio dinâmico de uma biosfera em sua interconexão com as demais;
- ninguém "tem saúde", assim como ninguém tem a vida. quem
"está vivo", no momento seguinte pode já não mais estar. quem "está
com saúde", pode a qualquer momento não mais estar. como a própria vida, a
saúde também não se possui;
- para atender a demanda por "saúde", a oferta é abundante: a
indústria farmacêutica entope as prateleiras das farmácias com todo tipo de pílulas,
os planos de saúde oferecem vários tipos de cobertura, os serviços
médico-hospitalares são diversificados;
- nem mesmo mais se trata de medicar pessoas, tudo obedece a uma norma de
compliance: a conformidade entre resultado de exames e um padrão biométrico
estabelecido estatisticamente;
- o médico sequer toca o paciente, tampouco precisa fitá-lo nos olhos.
bastam os exames recebidos via web diretamente do laboratório, para efetuar a
prescrição;
- o mercado vende
"saúde", mas vive mesmo é da doença. por isto já não mais se trata de
"curar" as enfermidades, e sim de "mantê-las sob controle",
exigindo para isto um uso prolongado da medicação;
- pressão arterial, diabetes, colesterol, cardiopatias, disfunção renal, asma,
artrose, rinite, etc... a doença é crônica, assim como a rentabilidade por ela
gerada;
- a medicina de mercado não resolve as causas das doenças, tão somente
suprime seus sintomas, aprofundando-os como desequilíbrios mais graves e
gerando efeitos colaterais múltiplos;
- frente a pandemia de COVID-19, a medicina de mercado está em
colapso: como monetizar uma doença cuja principal medida social de prevenção recomendada
exige uma ampla quarentena, portanto a paralisação da economia?
- qual a estratégia dos governos para combater a pandemia? uma gestão
necropolítica: se a pandemia é incontornável, trata-se de sobreviver e deixar
morrer. não encontrar a cura, mas administrar o índice de contágio e a taxa de
letalidade;
- a única saúde que pretendem preservar é a de um doente sem cura em
estágio terminal: o Capitalismo global financeirizado;
- assim como a medicina de mercado jaz impotente, também o está a
economia de mercado: nenhuma panacéia milagrosa, tão somente placebos
descaradamente fraudulentos;
- apesar de seus pulmões encharcados com a liquidez astronômica
imediatamente injetada pelo FED (US$ 1,5 trilhão) e o BCE (750 bilhões de euros),
as condições vitais do mercado financeiro seguem se deteriorando, respira mal e
através de aparelhos, tais como o Repo e o QE;
- com as restrições de mobilidade, a atividade econômica instantaneamente
entra numa era glacial. com o comércio congelado, paira no ar a dúvida atroz:
"Como pagarei minhas contas?". além de salvar os bancos e os
fundos hedge, desta vez o helicóptero de dinheiro precisa também despejar um
cheque nas mãos de cada família;
- é assim que tudo se acaba para o neoliberalismo? não no ensurdecedor
rugido do armagedon termonuclear, mas num quase inaudível chiado da
insuficiência respiratória aguda?
- tão rápido e
poderosamente quanto o vírus, se propaga o pânico. enquanto é quase unânime o
clamor pela ação estatal, os donos do Estado conspiram abertamente para
instaurar um Estado de Exceção. sob o pretexto de combater a pandemia, impor a
Lei Marcial, a militarização do sistema de saúde, restrições das garantias
individuais, etc...
- a quarentena imposta à população explicita o isolamento no qual já se
vivia, no confinamento das bolhas virtuais e na desmesurada solidão nas
megalópoles em meio à multidão;
- sem as máscaras usadas nas ruas e prisioneiros dentro da própria casa, quantos
suportarão este inesperado encontro com si mesmos?
- "Fiquem em casa!", "Não saiam!",
"Não se toquem!". as esbravejantes imposições sanitárias ecoam
por todos os lados, fazendo de cada qual Caim pronto a contaminar Abel. mas o COVID-19
é nosso irmão. é uma civilização, e não a nós, que veio
sepultar;
- é preciso manter as mãos limpas, sempre desinfetadas, perfeitamente esterilizadas. mas quem de fato está com as mãos limpas? se formos testados já não seríamos coronavírus positivos? é possível se manter incólume num meio-ambiente já contaminado?
- haverá uma cura?
alguma vacina? medicações? profilaxias? imunidade? afinal, qual é a doença?
qual o patógeno? angustiantes perguntas cuja única resposta sensata muito
poucos ousam encarar: nós somos o vírus. nosso modo de vida
virulento ensejou as condições para o COVID-19 se tornar pandêmico;- é preciso manter as mãos limpas, sempre desinfetadas, perfeitamente esterilizadas. mas quem de fato está com as mãos limpas? se formos testados já não seríamos coronavírus positivos? é possível se manter incólume num meio-ambiente já contaminado?
- sobreviveremos? se
for para tudo retornar ao "normal", é melhor que não...
.
Um comentário:
Chamaria esse artigo de lucidez a luz do microscópio!
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