19 fevereiro 2020

Hy-Brazil: os Generais e o Beco sem Saída


"O senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui."

déjà-vu.

após seis meses de sua retirada estratégica do governo Bolsonaro, o General Santos Cruz avalia como confirmados TODOS os sinais de alertas por ele emitidos enquanto ocupava a Secretaria de Governo.

nas Eleições de 2018, os Generais entraram em êxtase com o mito Bolsonaro, pois lhes daria algo que nunca tiveram: o salvo-conduto necessário para chegarem ao poder pelo voto das urnas, e não com as tropas e os tanques nas ruas.

ainda nos primeiros dias de governo do Capitão-Presidente, foi do próprio Villas Boas o agradecimento entusiasmado: "O senhor traz a necessária renovação e a liberação das amarras ideológicas que sequestraram o livre pensar, embotaram o discernimento e induziram a um pensamento único e nefasto."

02/01/2019:  capitaneados triunfalmente de volta ao governo montados num cavalo chucro, e já com o restante da cavalaria devidamente empossada no Planalto, cabe agora aos Generais considerarem: em se tratando de montaria, sempre resta saber quem de fato monta em quem...

em 1985, o último Ditador-General saiu pela porta dos fundos do Palácio do Planalto, recusando-se a passar a faixa para o sucessor, mas Figueiredo jamais escondera que ao cheiro do povo, preferia o das cavalgaduras.

agora o cavalo corcoveia, se empina e escoiceia. afinal, por que um mau militar, um indisciplinado tenente, poderia ser docilmente adestrado como Capitão-Presidente?

em 1987, Bolsonaro e outros militares planejaram explodir bombas em quartéis do Exército,  na Vila Militar, na Academia de Agulhas Negras e na adutora do Guandu, que abastece de água a cidade do Rio. batizado de "Beco sem Saída", o plano não chegou a ser concretizado.

com mais de uma centena de militares ocupando cargos federais, num aparelhamento aprofundado ao 3º escalão, e a medida em que se avolumam as evidências de ligação do clã BolsoNazi com as milícias, um espectro sinistro ronda as FFAA: o brutal e inesperado retorno do reprimido, do qual o Bolsonaro é apenas um dos sintomas.

se após 35 anos os Generais ainda se recusam a fazer seu acerto de contas com a História, agora é a História ela mesma quem vem para fazer seu acerto de contas com eles.

a constante apologia do Capitão-Presidente à tortura, aos grupos de extermínio e às milícias é uma óbvia consequência  das FFAA manterem até hoje ocultos nas trevas os crimes perpetrados nos Porões da Ditadura.

mais e mais golpeados pelo karma instantâneo, os Generais pouco a pouco vão se encontrando perdidos em seu labirinto. negando-se a compreender a insidiosa armadilha por eles próprios construída ao seu redor. a morada de uma monstruosa criatura novamente por eles liberada. o monstro criado por Golbery está de volta.

ao que nosotros imediatamente não podemos deixar de remeter a Ditadura Empresarial-Militar (1964/1989), quando então era dito, e sempre redito, dentro e fora dos quartéis, vindo tanto do mais fundo dos porões, quanto dos elegantes escritórios do grande empresariado, e como mesmo dos austeros gabinetes presidenciais: "Aos amigos, tudo. Aos indiferentes, a Lei. Aos inimigos, a tortura."

num diagnóstico correto, os Generais vêem um Brasil à deriva e sem projeto para o futuro. ao que nosotros mais uma vez retrucaríamos: e qual Brasil projetam os Generais?

“Estivemos juntos em três Guerras Mundiais e é essa parceria que estamos dando continuidade”.

os Generais acalentam o sonho impossível de pertencer à OTAN, para assim ficarem "protegidos" e terem as FFAA "modernizadas". nenhum escrúpulo é suficiente em seu alinhamento incondicional aos EUA, o qual ainda concebem como suprema potência hegemônica e não Imperium decadente em decomposição.


manterem-se perenemente como Capitães do Mato encarregados locais da implementação da Doutrina Monroe no quintal brasileiro?

permanecerem mais uma vez impenitentes como o braço armado do grande capital? a Garantia da Lei, da Ordem e do Progresso para uma lumpenburguesia historicamente especializada na pilhagem de nossos recursos humanos e naturais?

enquanto Bolsonaro bate continência à ordem de um Imperium em disrupção, a macro-economia global jaz em profunda disfuncionalidade, com a mãe de todas as bolhas dando sinais de estar prestes a outra vez catastroficamente estourar.

ironicamente, se foi por causa de uma crise global que os Generais anteriormente começaram a perder a solidez de seu chão,  é no bojo de uma outra crise iminente que marcham de novo ao comando do poder político.

muito mais do que pelo voto anti-PT, Bolsonaro foi eleito por uma profunda e generalizada rejeição "contra tudo que está aí". um voto eminentemente anti-sistema.

e o que o sistema tem a oferecer? senão ainda mais endividamento e ainda menos renda, justo para quem demanda medidas urgentes para superar pouca renda e muita dívida...

os Generais supunham ter chegado novamente o seu momento. e chegou. o momento de sua mais temida encruzilhada, que não será superada pelos super-generais com tuites e socos na mesa.

com sua doutrina militar ainda congelada na Guerra Fria, os Generais se vêem face a face com um impasse:

- ou se limitam a um desmoralizante papel de tropa de ocupação em seu próprio pais;
- ou encaram o impensável: o ressurgimento de um autêntico nacionalismo nas FFAA brasileiras, com suas inevitáveis consequências em relação à geopolítica mundial.

para os Generais já não há nenhuma outra escolha a ser feita: ou uma Ditadura aberta ou o alinhamento com a Nação e o Povo.


déjà-vu.

"Desde o primeiro dia colocou os militares no centro de suas prioridades. Logo ao início de seu mandato realizou uma reunião com todos os generais, coronéis e sargentos do Exército.
Porque, na realidade, "Ditadura Nunca Mais" é uma bela palavra de ordem, mas a única garantia de que isso realmente ocorra é que a cabeça dos oficiais reflita a realidade política do país, mais ou menos.
Quando a divisão política da sociedade não entra na cabeça dos oficiais, eles ficam na mão de lojas, de grupos.
Lamentavelmente, dei de cara com uma esquerda pacata que tem medo de fazer política com os milicos. Eu tenho medo do fato de não haver milicos no meu partido político."
"Uma Ovelha Negra no Poder. Confissões e Intimidades de Pepe Mujica",
Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz

"Desde o primeiro dia colocou o Movimento Popular no centro de suas prioridades. Logo ao início do governo realizou uma reunião com todas as organizações de base dos trabalhadores.
Porque, na realidade, "Brasil Acima de Tudo" é uma bela palavra de ordem, mas a única garantia de que isso realmente ocorra é que a cabeça dos grandes empresários reflita a realidade política do país, mais ou menos.
Quando um projeto de Nação não entra na cabeça dos grandes empresários, a sociedade fica na mão de lojas, de grupos.
Lamentavelmente, deu de cara com milicos soberbos e empresários anti-nacionalistas que tem ojeriza de fazer política com o Povo. Ele tinha ojeriza do fato de não haver Movimento Popular em seu projeto político."
"Um Lobo Verde-Oliva na Contra-Hegemonia. Confissões e Intimidades de um General", autor ainda desconhecido
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anteriormente em Hy-Brazil:

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