após o Marechal Castelo Branco ser nomeado
pelo coronel dos EUA Vernon Walters como o primeiro ditador do MR-64
(Movimento Revolucionário de 31-MAR-1964), o Ministro do Planejamento Bob
Fields (Roberto Campos) mergulhou o país numa política econômica recessiva
e de submissão aos grandes interesses internacionais.
Castelo Branco (1964/1967) adotou um política econômica contracionista,
marcada pela internacionalização, superexploração e concentração de renda, além
de um submisso alinhamento automático aos EUA, a ponto de participar com 1.250
soldados da "pacificação" da República Dominicana, em 1965.
Golpe de 1964: abre-se um novo
ciclo de acumulação capitalista no Brasil baseado na concentração,
internacionalização e superexploração (Programa de Ação Econômica do Governo - PAEG).
Salário
Mínimo: perda real de mais de 33% entre fevereiro de 1964 e março de 1968.
Concentração
de Renda: 5% mais ricos aumentaram sua participação na renda nacional de 27,4% em
1960 para 36,3% em 1970.
Carga
Tributária: 16% do PIB em 1963 para 23,8% em 1968.
Inflação: 25% em 1967 e
25,4% em 1968, bem acima dos 10% planejados e muito abaixo dos 79,3% em 1963.
PIB: abaixo dos 6%
projetados, cresceu 3,4% em 1964, 2,4% em 1965, 6,7% em 1966, 4,2% em 1967, contra
8,5% a 10% durante o Plano de Metas de JK, 8,6% em 1961, 6,6% em 1962 e 0,6% em
1963.
Internacionalização: revogação dos
artigos da Lei de Remessa de Lucros, que fixava um limite de 10% ao ano.
empréstimos externos cresceram 65% entre 1964 e 1965, e os investimentos
externos diretos triplicaram. abertura da exploração mineral a capitais
privados e estrangeiros, com exceção do petróleo, do carvão e dos minérios
ligados à área nuclear.
em 1968 explode a
insatisfação popular com grandes manifestações de rua, assim como entre os
blocos do setor dominante com a articulação do movimento da Frente Ampla de oposição.
o contra-ataque da Ditadura Civil-Militar vem
em pinça por duas frentes: o AI-5 aprofunda o estado policial e a
repressão, enquanto aumenta a ênfase no
crescimento econômico.
sintomaticamente o Plano de
Desenvolvimento Econômico (1968) não faz
referências a metas de inflação. o PIB cresce 9,8% em 1968, iniciando-se o Milagre Brasileiro.
se o bolo cresceu sem nunca chegar a ser dividido, antes mesmo do impacto do Choque do Petróleo (1973) a solidez do "Brasil Grande" já começara a se
dissolver no ar com o Crash das Bolsas no
Brasil e o fim do padrão
monetário Dólar-Ouro, ambos ocorridos em
1971.
após a dissipação precoce das miragens do Milagre
Brasileiro, o quarto ditador do MR-64 (Movimento Revolucionário de 31-MAR-1964) Ernesto Geisel lança o II PND (Plano Nacional de
Desenvolvimento).
Geisel (1974/1979) pautou a política externa pelo "pragmatismo
responsável", denunciou o tratado militar com os EUA, reatou relações
diplomáticas com a China, reconheceu a independência de Angola, assinou acordo
nuclear com a Alemanha, exonerou o comandante do II Exército por conta dos
assassinatos de Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho, impediu o
"auto-golpe" de seu Ministro do Exército, extinguiu o AI-5 e lançou o
até hoje mais complexo e ambicioso plano nacional de desenvolvimento: o II PND.
“A
verdade é que não estamos diante de uma simples crise, aguda embora,
de reajustamento econômico em larga escala. Enfrentamos uma mudança
estrutural de toda a economia mundial. O Brasil está conseguindo
evitar a estagnação e a recessão.”
(véspera do Natal de 1975, em cadeia nacional
de rádio e TV)
o ciclo de industrialização pesada do país se
dá às custas de subsídios ao capital estrangeiro e endividamento externo: as
raízes da hiper-inflação, da faraônica dívida externa e do brutal aumento
da desigualdade social.
o momento Geisel revela os limites para
os Generais do MR-64 levarem a cabo mais uma modernização
conservadora no Brasil.
a mágica keynesiana de Delfim Netto revelou-se
inócua frente aos desdobramentos do fim do padrão
monetário Dólar-Ouro
(1971): o ingresso do Capitalismo numa crise estrutural até hoje não resolvida.
de "grande" restou ao Brasil a hiper-inflação, uma faraônica dívida externa e o brutal aumento
da desigualdade social.
o momento Geisel choca-se com dois
obstáculos, os quais foi incapaz, e muito menos se propôs, a transpor:
- o grande empresariado brasileiro, de modo geral, jamais será parceiro
de um autêntico desenvolvimento nacional com inclusão social;
- nenhum desenvolvimento nacional se viabiliza sem o protagonismo da
participação popular.
"No
que se refere ao plano propriamente dito, o II PND cumpriu toda sua conturbada
trajetória, como um produto de gabinete, incapaz de obter o apoio, e muito
menos a mobilização de uma sociedade, que não participou de sua elaboração e
não tinha como controlar sua execução.
[...]
O que
fracassou foi a chamada "estratégia social", de acordo com a qual
seria necessário "realizar políticas redistributivas enquanto o bolo
cresce"."
Antonio Barros de Castro e Francisco Eduardo
Pires de Souza
"O
antiestatismo de nossos empresários liberais não consegue esconder suas
prolongadas relações de dependência clientelista com o próprio Estado. Mas o
estatismo de nossos desenvolvimentistas — dos conservadores mais do que dos
progressistas — tampouco consegue justificar as alianças que comprometeram
historicamente o Estado com a parafernália corporativa e cartorial e com o
autoritarismo, sendo que o reformismo de nossos social-democratas não consegue
jamais esclarecer como se faz a omelete da reforma do Estado sem quebrar os
ovos que alimentaram os vários e heterogêneos segmentos pactados na base social
de apoio á estratégia que modernizou nossa sociedade sem ampliar a cidadania
social e política."
José Luis Fiori
com o atual estado
de negação dos Generais frente ao
inexorável desmoronamento do Imperium, se anuncia mais um fracasso das FFAA no exercício do governo federal.
como provável
resultado, os Generais se defrontarão
com o impensável: a eclosão no Brasil de um momento
Chávez.
"Na Academia aprendi o que Napoleão
chama de a 'flecha do tempo'. Quando um estrategista planeja uma batalha, deve
pensar de antemão no 'momento histórico', portanto, na 'hora estratégica',
depois no 'minuto tático' e, por fim, no 'segundo da vitória'. Nunca esqueci
esse esquema de pensamento".
Hugo Chávez
poucos meses antes de ser eleito presidente
pela primeira vez em 1998, Chávez deu uma entrevista defendendo uma política de
"terceira via", "um modelo econômico humanista"
como solução para se ter emprego, salário justo, seguridade social.
dez anos depois, em 2008, Chávez abandonara
todas as suas ingênuas ilusões, principalmente após a "ação selvagem de
sabotagem econômica e de terrorismo" do golpe de 2002, já se dera
conta de que o "único caminho para sermos livres e independentes é o
caminho do socialismo".
mesmo derrotado, o golpe de 2002 provocou uma queda de 27% no PIB no
primeiro semestre de 2003.
para possibilitar a reversão da política anti-nacional praticada pela
PDVSA desde 1975, foram demitidos 18 mil funcionários de um total de 42 mil.
conhecidas como misiones, várias
políticas sociais se viabilizaram com a decisiva participação do Exército,
concretizando de maneira tangível a democracia participativa e protagônica
o "socialismo bolivariano do Séc. XXI" da constituição do
Estado Comunal, como consolidação e articulação das diversas instâncias de
poder popular: Conselhos Comunais, Comunas e Cidades Comunais.
em 2014 haviam mais de 48 mil Conselhos Comunais e mais de 2 mil Comunas.
Chávez teve perfeita clareza quanto ao caráter da burguesia venezuelana:
'Se eu tivesse feito um pacto com a Direita, eu já estaria politicamente
acabado'.
em 17 pleitos eleitorais efetuados ao longo de 14 anos, o governo sofreu
apenas uma única derrota.
{fonte: "A Revolução Venezuelana e o
subdesenvolvimento com abundância de divisas", Fábio Luis Barbosa dos
Santos}
não nos enganemos. tampouco eles mesmos se
enganem.
os Generais estão tão perdidos em suas próprias bolhas de
fake-news e pós-verdades quanto todos os demais: tanto quanto a Ex-querda, quanto eles,
nós, tu, eu.
se não há vida inteligente dentro das bolhas,
fora delas viceja barbárie e desintegração. e nada indica haver sinais de
reversão desta descontrolada demolição destruindo o Brasil.
ainda assim, os Generais nunca antes
neste país ganharam chance tão magnânima da História para enfim fazerem
História.
mas como fazer História sob uma política
econômica neoliberal gerida por Chicago's Oldies?
como fazer História sem arrancar o coração das
trevas de uma lumpenburguesia que jamais será parceira de qualquer
projeto de desenvolvimento nacional?
como fazer História sem colocar-se a serviço do protagonismo da
participação popular?
os Generais estão diante de sua esfinge. não há como
decifrá-la sem também a devorar. e não há como devorá-la sem devorarem a si
mesmos.
do momento Geisel ao momento Chávez,
passando pelo exasperante eterno retorno das ondas BolsoNazi, a
marcha é sinuosa e espiralada, assolada por tragédias e desmoralizada por
farsas, em rumo, quem sabe, a um temível e improvável, mas absolutamente
indispensável e inexorável, momento Hy-Brazil.
.
anteriormente em Hy-Brazil:
.
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