09 junho 2019

um glossário: Imperium

09/06/2019
 

Imperium:

o Estado moderno se ergueu sobre os escombros medievais e da queda do Soberano, para recompor a unidade perdida através do princípio da representação, ficticiamente fazendo como que uma parte da sociedade encarnasse sua totalidade.

o Estado moderno se concebe como essa parte da sociedade que dela não faz parte, justamente por isto tem legitimidade para representá-la.

a passagem do Estado absolutista para o moderno apenas liquidou o Rei, mas conservou a Soberania.

a gênese do Imperium remonta a I Guerra Mundial, quando as duas práticas infra-institucionais do Estado Liberal dão à luz aos dois polos super-institucionais do Imperium: a polícia se torna o Biopoder e a publicidade transmuta-se em Espetáculo.

a partir deste momento o Estado torna-se secundário em relação ao conjunto transnacional de práticas autônomas de disciplina, vigilância e controle.

se antes no Estado absolutista a soberania era fictícia e pessoal, no Imperium ela se exerce de modo pragmático e impessoal.

o Imperium não tem e jamais terá existência jurídica, institucional, pois ele não precisa disto.

enquanto o Estado Moderno opera com a Lei e a Instituição, para o Imperium importam mais as Normas e os Dispositivos.

o Imperium não é e não saberia ser um poder separado da sociedade, ele é a "sociedade" enquanto esta é um poder. o Imperium não admite o fora, sendo impossível dele se excluir completamente.

no Imperium o Estado de Exceção é o regime normal da Lei, a crise é a forma normal de governar e a rede global de contra-insurreição o princípio normal de governo.

o Imperium não sobrevém ao final de um processo ascendente de civilização, como seu coroamento, mas ao termo de um processo involutivo de degradação, a qual tenta frear ou imobilizar.

o Imperium é o último estágio antecedendo o caos, a última parada da civilização antes de seu  término. o momento no qual o que denominamos de civilização enfim se desmascara definitivamente como barbárie.

o homem do ressentimento, o intelectual, o imunodeficiente, o humanista, o transplantado ou o neurótico oferecem o modelo do cidadão do Imperium.

a vida mutilada não aparece somente como uma consequência do avanço do Imperium, mas é, em primeiro lugar, uma condição deste.

cada cidadão do Imperium pode, a todo instante, revelar-se um policial, o que tende a fazer também de cada qual um suspeito.

na medida em que nosotros se mantém em contato com sua própria potência, mesmo que seja apenas pensando sobre sua experiência, nosotros representa um perigo no seio das metrópoles do Imperium.

o Imperium não se opõe a nosotros como um sujeito, e sim como um meio hostil, no qual nosotros tende a ser aniquilado.

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