“Bolsonaro
está no meio de um furacão. Pela primeira vez, estamos num momento em que é
imprevisível. Fratura no Judiciário, no Legislativo e no Executivo. Todas essas
estruturas estão trincadas. Nós estamos em um momento no Brasil em que não
temos nada. Até a oposição não existe."
do colapso institucional brasileiro nenhuma
das matizes do espectro político está a salvo.
sem maioria parlamentar entre os mais de 300
picaretas do Congresso, e apesar de sua própria
trajetória política no seio do baixo-clero, o Capitão-Presidente tenta
descobrir a rota para contornar o Centrão e escapar do Presidencialismo
de Coalizão.
mas aquela mesma horda fisiológica
eleita pelo promíscuo acordo do quociente
partidário com o financiamento empresarial, que encenou a farsa trágica naquele
teatro de vampiros na votação da admissibilidade do impeachment, agora ironicamente faz de "Bolsonaro a
prova que o Brasil, fora desses conchavos, é ingovernável".
ao ser consumido pelo dilema incontornável de ter
sido eleito como candidato anti-sistema, mas autenticamente representando o que
há de pior no sistema, nada mais resta a Bolsonaro além de noites
em claro e muitas lágrimas.
mesmo para "o eleito por Deus para comandar o
Brasil", a cadeira de Presidente "é
como se fosse criptonita para o Super-Homem".
além do mais, como aderir ao dá-lá-toma-cá
do "é dando que recebe", após as
FFAA terem aparelhado o governo?
os Generais se curvarão a bater continência a um
"sistema corrupto", um
condomínio de quadrilhas, um consórcio de organizações criminosas, uma
confederação de sindicatos de ladrões?
nem
as bancadas temáticas, tampouco as maiorias pontuais, muito menos a
"pressão das ruas", ou qualquer que
seja a tática, nada dentro de um modelo falido será capaz de restaurar um
mínimo de governabilidade a este país.
pois quanto mais se aprofundar o austericído,
também mais se acirra esta ingovernabilidade, dado o fosso escavado entre os
interesses de uma cleptocracia rentista e parasitária e as condições miseráveis
de sobrevivência da imensa maioria da população.
com todas as máscaras no chão e as fantasias rasgadas, a patologia
do modelo de representação política chegou a seu estágio terminal,
deixando um cadáver putrefato diante de todos.
a música acabou, mas
os mortos se recusam a enterrar os seus mortos.
muito embora aos mortos não lhes falte a viva
consciência de estarmos "caminhando de forma muito rápida para
um colapso social".
em meio a uma acentuada crise econômica, tudo sob o céu está mergulhado
no caos. os de cima já não podem governar como antes. enquanto os de baixo já não
suportam sê-lo, sendo empurrados para
uma ação histórica independente.
e não é por outro
motivo estarmos sob intenso ataque contra-revolucionário. justamente para
neutralizar e capturar a energia da revolta, antes dela se organizar numa
vanguarda revolucionária.
enquanto a contra-revolução avança, a Ex-querda
persiste em se hipnotizar com um fraudulento calendário eleitoral e se pautar por
uma lógica institucional com data de validade vencida, travando batalhas
perdidas em busca de alianças impossíveis.
"A esquerda perdeu 'a batalha política
da classe média'. E sem ela nós não revertemos a defensiva estratégica em que
estamos desde 2013."
em meio a este mórbido bailado de cadáveres, e
nosotros?
vídeo: TUTAMÉIA entrevista Vladimir Safatle
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