25 fevereiro 2020

Anotações sobre a geopolítica do fim de um mundo


- Guerra de Famiglias não está restrita ao Brasil, pois também o setor dominante global está rachado: o mundo unipolar contra si mesmo e contra todos os outros mundos;

- a luta de classes é também uma luta entre frações de classe no seio do setor dominante;

- em sua inelutável decadência, o Imperium jaz dividido: soberanistas x globalistas. os defensores da soberania Estado-Nação versus a globalização irrestrita sob um governo mundial;

- tanto soberanistas quanto globalistas representam a fração altamente financeirizada do Capital e ambos são defensores de um mundo unipolar;

- entretanto, os soberanistas seguem uma estratégia unilateral, sob a hegemonia dos EUA. enquanto os globalistas adotam um modelo multilateral implementado através de entidades supra-nacionais blindadas contra a soberania popular. sendo a União Européia o modelo real existente;

-  fora do âmbito do Imperium, mas ainda dentro do núcleo do setor dominante global, a iniciativa de um mundo multipolar tem seu epicentro na China com o eixo sino-russo como motor;

- ao contrário das duas frações internas ao Imperium, esta fração do Capital pretende um resgate do keynesianismo produtivo para reconectar o capital financeiro com a economia produtiva, cujo exemplo em implementação é a Nova Rota da Seda (OBOR);

- nenhuma das três frações em luta por hegemonia tem propostas capazes de superar a atual crise estrutural do Capitalismo, estagnado pela tendência de queda da taxa de lucro e pela limitação dos recursos naturais;

- por mais que os soberanistas tentem repatriar as transnacionais de volta ao solo norte-americano, os contextos históricos não se repetem. não haverá retorno ao keynesianismo fordista do anos dourados pós II Grande Guerra, tornando-se impossível "Make America Great Again";

- a Tirania Financeira Global (globalistas) mais e mais extirpa o trabalho do processo produtivo. ao alterar a composição orgânica do Capital concomitantemente impulsiona a queda da taxa de lucro. com a maior parte da população tornada supérflua, a reciclagem implica numa gigantesca destruição de forças produtivas. o que se daria através de uma guerra nuclear, portanto inviabilizando as condições para a vida humana no planeta;

- para o "Socialismo de Mercado" chinês a inclusão social de bilhões de eurasianos se choca frontalmente com a fronteira entre a pulsão consumista, orientada a obsolescência programada, e as limitações dos recursos naturais, os danos ambientais e a catástrofe ecológica. além disto, por seu caráter autocrático gera uma sociedade distópica, sob vigilância e controle de um Big Brother digital, cujo exemplo atual é o sistema de Crédito Social já em implementação na China;

- historicamente passamos por "um período de transição de um modo de produção para outro", com um novo nível e escala de desenvolvimento das forças produtivas desencadeando a transformação das relações sociais de produção até então estabelecidas;

- para além da clássica questão "Socialismo ou Barbárie", nos encontramos hoje, não apenas como civilização mas principalmente como espécie, diante de uma encruzilhada definitiva: pós-Capitalismo ou extinção.

referência:
"O Capital frente ao seu declínio", Andrés Piqueras, Wim Dierckxsens.

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