"Se eu
avançar, sigam-me. Se me detenho, empurrem-me. Se eu os trair, matem-me. Se me
matarem, vinguem-me."
Jorge Eliécer Gaitán
as raízes da violência na Colômbia remontam ao assassinato de Gaitán,
líder do Partido Liberal, candidato favorito às eleições de 1950 e assassinado
em 09/04/1948.
a multidão em fúria desencadeou o Bogotazo.
o presumido assassino de Gaitán foi linchado, seu cadáver arrastado pelas ruas
até ser crucificado em frente ao palácio presidencial, que foi cercado e esteve a ponto de ser tomado.
seguiu-se o período conhecido como
La Violencia, entre 1946 e 1957
estimam-se 300 mil mortos, 800 mil feridos e 1 milhão de refugiados,
estabelecendo desde então o padrão para a luta de classes na Colômbia.
Gaitán chegou mesmo a prever as consequências de seu assassinato: "A oligarquia não me mata, pois sabe
que se o faz, o país se arruína e as águas demorarão cinquenta anos em regressar
a seu nível normal."
a execução de Gaitán é também a sentença de morte para a Revolução Democrática Burguesa na
periferia latino-americana do Capitalismo.
liberais, sociais-democratas e reformistas vivem assombrados por este
fantasma.
as condições específicas das formações sociais na América Latina impedem
a emergência de uma burguesia nacional, condenando ao fracasso qualquer aliança
supostamente pactuada com uma fração de classe sem qualquer existência
concreta.
para nosotros nunca houve opção:
a emancipação da América Latina se dará através de uma Guerra de Independência,
tendo como perspectiva uma Revolução
Popular Socialista.
ou jamais se dará... seremos sempre neo-colônias semi-escravocratas.
nos levantes recentes do Equador e Chile, qual a relevância de Bachelet e
Rafael Correa? qual a participação efetiva de Evo Morales na luta contra o
golpe na Bolívia? após 15 anos a Frente ampla é derrotada no Uruguai, sem ter
implementado qualquer mudança estrutural.
se o projeto neoliberal no Chile se estrutura sobre a exportação de
cobre, e na Colômbia sob a égide do narcotráfico, no Brasil está se erguendo
com base no petróleo e na mineração.
como seria o Pacto de Ralito à la
Brasil?
se na Colômbia foi o acordo sigiloso entre as milícias, narcotraficantes
e políticos profissionais, dando luz à para-política e tendo como missão
irrenunciável a "refundação a pátria", como seria no Brasil?
qual o projeto de Brasil em curso?
a matriz é o neoliberalismo ditatorial de Pinochet petrificado
constitucionalmente: tudo privatizado (inclusive água e mar) com as FFAA e os carabineros ungidos com privilégios
excepcionais para agirem como fiel guarda pretoriana.
o modelo atual de implementação é o estado narco-terrorista da Colômbia,
cujo fundamento constitucional foi redigido em inglês nos EUA: o Plan Colombia.
atualmente a Colômbia recebe a terceira maior "ajuda militar"
bancada pelos EUA, superada apenas pela destinada a Israel e Egito. o efetivo
do Exército colombiano é de cerca de 500.000 homens, maior do que o brasileiro
mesmo com uma população 5 vezes menor.
os colombianos podem ter o direito de viver em paz com cerca de 45% do
território do país coberto por minas? com milhões de refugiados internos,
quantidade só comparável ao Congo? de cada 100 sindicalistas assassinado no
mundo, 51 são colombianos.
por toda parte vemos o colapso e a falência de um imperialismo decadente,
sob a égide do poder dos EUA. ao invés de algum novo New Deal ou Plano
Marshall, a política da terra arrasada e da selvagem expropriação.
só pela guerra sem fim é possível sustentar
a hegemonia do Dólar, e só a hegemonia do Dólar pode financiar a guerra sem fim.
a linha de frente das grandes mobilizações populares sempre será a
juventude. foi assim no Brasil quando inesperadamente o movimento estudantil
retomou as ruas em 1977, precedendo o ressurgimento do movimento sindical em
1978.
as antigas lideranças políticas brasileiras estão esgotadas e seu modelo
falido. a Direita muito bem sabe disto, daí seu investimento em renovação com
Kim Kataguiri, Fernando Hollyday, Tabata Amaral.
e à Esquerda, o que vemos? há algo?
deixem que os mortos enterrem seus mortos. as novas lideranças sempre são
engendradas pelas novas lutas. não é o povo quem faz a Revolução, é a Revolução
quem cria seu povo.
tanto Bolsonaro, Paulo Guedes e Gal. Heleno quanto uma esquerda
fossilizada pelo burocratismo e fisiologismo, todos compartilham o mesmo
pesadelo: o movimento autônomo das massas.
e para conjurá-lo brandem a mesma ameaça: o fechamento do regime e o
banho de sangue.
mas desde sempre o sangue de nosotros
segue jorrando pelas veias abertas da América Latina.
a História da América Latina tem sido a exasperante repetição de um mesmo
padrão, invariavelmente fracassado e levando a enorme sacrifícios -
principalmente para o grosso da população, os mais pobres.
uma classe dominante inapetente e incompetente de se mover para além da
cômoda condição de sócia subordinada e minoritária do Imperialismo, abdicando
de qualquer autonomia e projeção de poder internacional.
uma Esquerda incapaz de superar a ilusão de uma impossível conciliação
com a classe dominante, tampouco da viabilidade do vanguardismo armado
dissociado do movimento de massas.
a História da América Latina, a nossa História, é a de uma Revolução
negada: tanto a Revolução Democrática Burguesa quanto a Revolução Popular
Socialista.
referência: "Guerra e Paz na
Colômbia em perspectiva histórica"
Fábio Luis Barbosa dos Santos
• vídeo: Colômbia - 2019: #21N
https://www.youtube.com/watch?v=wONZnvGLd0Y
• vídeo:
Colômbia - 2019: Que Viva El Paro!
https://www.youtube.com/watch?v=OIIUKbYFDIk
• vídeo:
Colômbia - 2019: El Paro Sigue
https://www.youtube.com/watch?v=NE7Vf8mM_hk&t=3s
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anteriormente em Hy-Brazil:
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