24/01/2018
"No Brasil não
basta vencer a eleição, é preciso ganhar a posse!"
Getúlio Vargas
mais uma vez o Brasil se encontra consigo mesmo na fatídica encruzilhada de um interregno: ser
ou não ser. ou melhor: qual vir a ser? quem desejamos nos tornar?
1822: a Independência do Brasil foi declarada por um príncipe português;
1889: a proclamação da República se faz por uma quartelada liderada por
um monarquista;
1930: a industrialização do Brasil avança às custas do massacre de
movimentos sociais autônomos dos trabalhadores;
1954: Doutor Getúlio com um único tiro, disparado contra seu próprio
peito, coloca nas ruas a multidão e aborta o golpe;
1964: um latifundiário nacionalista é deposto por uma conspiração
comandada do interior da Embaixada Norte-Americana;
1985: a luta pela redemocratização redunda numa eleição indireta com a
morte do eleito ainda antes de sua posse, assumindo um tradicional coronel
oligarca;
1989: na primeira eleição direta após a ditadura, uma fraude consentida
conduz ao governo um playboy plutocrata;
2002: o primeiro trabalhador eleito Presidente da Repúbica nomeia um
dublê de banqueiro para o BC;
2016: após quatro consecutivas vitórias eleitorais, o PT se resigna a um
impeachment inconstitucional, sem opor resistência ao golpe
jurídico-parlamentar;
24-JAN-2018: são as massas que
movem a História. mais uma vez, elas estão em movimento!
ao ocupar as ruas em Porto Alegre, a multidão
avança muito além de uma pura e simples defesa de Lula, assim como de seu
direito incontestável de ser candidato.
em sua origem etimológica a palavra política
remete ao exercício da cidadania pelo político, o cidadão. a política se
exerce no cotidiano. a política é um modo de viver.
restringir a política como exercício da
cidadania a seu aspecto unicamente parlamentar, leva a aprisionar a rica
complexidade de um modo de viver nos limites medíocres e simplificadores
de um ritual.
do mesmo modo, encaixar estaticamente na moldura institucional o organismo social é desconsiderar deste seu poder instituinte, portanto fundador das
próprias instituições. assim, o exercício da cidadania implica em
continuamente transformar as instituições, num dinamismo alimentado pelo modo
de vida do corpo social.
a eleição se vence
com o voto nas urnas. mas para ganhar a posse, e, mais importante, manter o
mandato e concretizar as transformações, é necessário o constante e
intransferível exercício da cidadania.
a Ocupação de Porto Alegre em 24-JAN-2018
é um claro e contundente exemplo de um modo
de viver capaz de garantir o exercício
da cidadania.
o fator desencadeante das transformações é
sempre o modo de vida. não há mudança individual ou social que não seja
gerada por um outro modo de viver.
dito em outras palavras: quem
muda o mundo são as pessoas. e o que muda as pessoas são as experiências de
vida que elas são capazes de gerar e compartilhar intensamente.
por que lutamos? lutamos porque é assim que nos sentimos vivos.
independente de
qualquer resultado no julgamento de Lula, 24-JAN-2018 faz a roda da História girar
através dos corpos em movimento.
em Porto Alegre estão
membros do MST, do PT, da CUT, do MTST, do Levante Popular da Juventude, da Via
Campesina e de muitas outras associações, sindicatos e coletivos.
jovens e velhos
cantando e entoando juntos palavras de ordem. amigxs e companheirxs se abraçando.
casais se beijando. grupos dançando e discutindo política euforicamente. punhos
cerrados e sinais triunfantes de vitória balançando no ar.
pessoas novamente
orgulhosas de si mesmas e de seu país erguem suas bandeiras para o céu. muitxs chorando
lágrimas ao mesmo tempo de apreensão e de celebração.
nosso coração chora
junto com eles. e juntos com eles celebramos e erguemos nossos punhos.
desfraldamos nossas bandeiras e entoamos nossas canções e palavras de ordem.
porque não se trata
apenas de Lula e de uma eleição. e muito menos diz respeito a partidos
políticos, candidaturas, processos jurídicos ou sentenças de juízes e tribunais.
o que importa são as
vidas destruídas pela catástrofe social imposta pelas políticas dos tecnocratas
a serviço da tirania dos mercados financeiros.
o que importa são
vidas que valham a pena serem vividas.
o que importa é o momento em que frente a certeza de continuar
a viver como um morto-vivo, é preferível sentir-se intensamente vivo mesmo
correndo o risco de morrer.
somente a luta muda
a vida. ousar lutar, ousar vencer!
acordei e me deparei
com os invasores. se vou morrer, que eu morra como quem luta. e me enterrem lá
no alto da montanha, sob a sombra de muitas flores. quando as pessoas passarem,
dirão: “que flores lindas!”. são o
jardim de quem luta!
bella, ciao! viva Alice!
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ORIGINALE
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