03 janeiro 2018

os Brasis: Lula deveria ser candidato?

03/01/2018


1. a pré-candidatura Lula  tem sido um obstáculo à luta contra o Golpe de 2016.

um golpe não pode ser derrotado pelo voto, apenas um movimento de massas pode fazê-lo. um movimento de massas não pode ser pautado pelo calendário eleitoral, precisa ter agenda e dinâmica próprias capazes de fornecer uma permanente retro-alimentação positiva.

para o Lulismo a Ex-querda tanto o  "Fora Temer" quanto as "Diretas Já" jamais passaram de bandeiras circunstanciais, sem jamais ganhar prioridade sobre a campanha pelo "Lula-lá em 2018". sendo que a nulidade de um impeachment inconstitucional nunca entrou efetivamente em pauta, nem mesmo no plano estritamente jurídico.

ao repetidamente canalizar o movimento de massas para a centralidade de uma pré campanha da hipotética Eleição de 2018, o Lulismo a Ex-querda asfixiam a luta contra o Golpe de 2016.

2. a pré-candidatura Lula não se fundamenta num programa mínimo e em sua estratégia de viabilização.

o Lulismo foi se degradando ao ponto de se converter numa espécie de seita política, com um fanático culto à personalidade de Lula, fazendo deste um messiânico Salvador do Brasil, para com a permissão da Casa Grande ser o único capaz de cuidar do povo das Senzalas.

não há programa, não há estratégia, não há tática, não há nada... além de Lula-lá 2018.

do mesmo modo que Lula se agigantou até se transformar num mito, acabando por se sobrepor ao  PT, talvez agora o Lulismo tenha se tornado tão hegemônico a ponto de nem mesmo Lula conseguir separar-se dele.

3. a pré-candidatura Lula não une as Esquerdas e o campo progressista.

o Lulismo nunca propõe aliança com aqueles à sua Esquerda, sempre impôs submissão incondicional. não há nenhum debate sobre pontos mínimos programáticos, nada além de um arbitrário consenso em torno de uma candidatura Lula.

mesmo as Caravanas acabam reduzidas a uma pré campanha eleitoral, enquanto deveriam ser um potente motor de mobilização social contra o golpe.

as referências a um possível Referendo Revogatório, para anular as medidas do governo usurpador, são vagas e indefinidas, além de condicionadas a uma vitória eleitoral.

não será nenhuma "união das Esquerdas" que viabilizará a luta contra o golpe. é na luta concreta contra o golpe que se faz a união das Esquerdas.

não será nenhuma "união das Esquerdas" que levará a vitória uma candidatura Lula. é uma candidatura Lula a serviço da luta concreta contra o golpe, e não servindo-se dela e a ela esvaziando, que levaria a uma união das Esquerdas e a vitória eleitoral de um candidato saído desta luta.

4. a pré-candidatura Lula não é a melhor forma de defender Lula.

a melhor maneira de superar o Golpe de 2016 não é através da defesa de Lula e de sua candidatura. ao contrário, a melhor maneira de defender Lula e sua candidatura é a luta para superar o Golpe de 2016, através da anulação do impeachment e de todas as contra-reformas regressivas do governo usurpador.

a melhor maneira de defender Lula é através de uma Greve Geral, acompanhada de bloqueios dos fluxos de um capitalismo do qual a logística e os serviços se tornaram sua característica fundamental.

a melhor maneira de defender Lula é a luta pela democratização de um Judiciário venal, seletivo, classista, corporativo e partidarizado.

Lula deve ser determinadamente defendido da lawfare implacável desferida contra ele, porque estas arbitrariedades atingem a todos nós, direta ou indiretamente, seja em qual grau for.

sem Democratização do Judiciário não haverá reconstrução da Democracia no Brasil.

5. a pré-candidatura Lula não é um modo de superação da crise de representação.

o fator chave do atual impasse no Brasil é a crise de representação.

através de sucessivos estelionatos eleitorais, o sistema político como um todo perdeu sua legitimidade. sem compreender e construir alternativas à crise de representação, o fascismo se erguerá.

como sintoma da crise de representação em todas as últimas eleições houve um alto e crescente percentual de não-voto (brancos, nulos, abstenções).

isto também é captado em todas as atuais pesquisas, pelo elevado índice de rejeição e desaprovação para todos os atuais pré-candidatos à Presidência, inclusive Lula.

{nota: a Lava Jato & Associados nada mais faz do que acentuar esta crise de representação. apresentou-se como contra a corrupção, para apenas se revelar, muito previsivelmente, ela própria como corrupta e corruptora. prometeu passar a limpo o Brasil, e tão somente reproduziu um secular Judiciário fora da lei. anunciou-se como instrumento de superação de um capitalismo de cumpadrio, e produziu a infame indústria das delações premiadas. seu resultado final será a definitiva descrença no Judiciário brasileiro.}

sinal de alerta:

o Lulismo com sua estratégia de conciliação permanente, a serviço de um projeto reformista sem reformas, pavimentou o caminho do Golpe de 2016, gerando suas condições objetivas e subjetivas.

os 13 anos de Lulismo deveriam ter sido a paciente e cronometrada, minuciosa e determinada, corajosa e astuciosa, reengenharia de um novo pacto político de uma nova estrutura de poder. mas Lula se dedicou a desperdiçar seu prestígio e popularidade em postergações, hesitações, meias-medidas, apaziguamentos, conciliações, conchavos, recuos e capitulações voluntárias.

o Lulismo jamais organizou a sociedade para lutar contra a dominação de uma lumpenburguesia neo-colonial e semi-escravocrata. ao contrário, sempre se valeu desta mesma lumpenburguesia para financiar suas campanhas eleitorais, e com ela manteve um insuperável relacionamento promíscuo de conciliação de classes.

o Golpe de 2016 foi viável por não haver organização orgânica social capaz de a ele se opor em nível nacional. e a cada vez que esta organicidade começou a ser construída, nos inúmeros movimentos de resistência ao golpe, o Lulismo operou efetivamente para mantê-la sob o estreito projeto da via parlamentar e institucional.

a pré-candidatura Lula é prova que nada mudou para o Lulismo após o Golpe de 2016.

nenhuma lição foi assimilada. nenhuma rota foi corrigida. nenhum outro projeto, a não a ser a reedição impossível das condições históricas de 2003, em um 2018 com o mundo novamente à beira de uma catastrófica crise global.

a pré-candidatura Lula apenas acentua a crise de representação, e pavimentará a ascensão do fascismo do Brasil.
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