23 janeiro 2018

os Brasis: Lava Jato & Associados (II)

23/01/2018


em artigo sobre a Operação Mãos Limpas, Sérgio Moro demonstra plena consciência de um grotesco desdobramento político daquela ação judicial:

“Tendo ou não Berlusconi alguma responsabilidade criminal, não deixa de ser um paradoxo que ele tenha atingido tal posição na Itália mesmo após a operação mani pulite.”

com efeito, assim como acabou sendo na Itália também foi o mesmo no Brasil.

aqui jaz um cadáver putrefato em meio ao caos: uma seletiva Lava Jato tendo como resultado anunciado conduzir à Presidência do Brasil um político impopular, inelegível e incapaz de resistir a qualquer investigação isenta, repetindo os mesmo catastrófico desdobramento da “Mãos Limpas” italiana, em cujo rastro Berlusconi chegou ao poder.

a Lava Jato é um processo imbricado inevitavelmente com a política, sem poder ser reduzida a seus aspectos puramente técnicos jurídicos. trata-se fundamentalmente de financiamento empresarial de campanha eleitoral, com objetivo de apropriar-se de recursos públicos.

os grandes empreiteiros financiam as campanhas eleitorais como um investimento cujo retorno se dá por inúmeros favorecimentos em concorrências, aditivos de contratos, superfaturamentos. este mecanismo foi exposto pela Lava Jato.

os banqueiros obtém o retorno de seu investimento nas campanhas eleitorais através da Selic,  dos swaps cambiais, do spread bancário e da política econômica voltada para os interesses do mercado financeiro. seus  operadores são o Copom, o BC e o Ministério da Fazenda, levando ao desvio de 42% do orçamento público para o rentismo sob a cínica rubrica de "pagamento de juros".

apesar disto, a Lava Jato jamais ousou penetrar no coração das trevas da corrupção no sistema financeiro, para investigar também as doações eleitorais vindas dos banqueiros. ao contrário, disto sempre se esquivou insidiosamente, sem nunca cruzar o limite de uma investigação concebida para ser arbitrária.

após quase 4 anos de Lava Jato os banqueiros ainda se mantém como os verdadeiros “donos” de uma política econômica anti-democrática, claramente lesiva aos interesses da maioria da população e mesmo à própria soberania nacional. trata-se da contrapartida por conta de seu financiamento de campanhas eleitorais, sem fazerem distinção de partidos e favorecendo vários candidatos.

após quase 4 anos de Lava Jato a corrupção continua escancarada, com a compra de votos à vista de todos no plenário da Câmara Federal. com objetivo de manter a qualquer custo Temer e sua quadrilha no governo, aprovar as contra-reformas regressivas e converter o Brasil numa neo-colônia semi-escravocrata.

a Lava Jato prometeu passar a limpo o Brasil, e tão somente reproduziu um secular Judiciário fora da lei. anunciou-se como instrumento de superação de um capitalismo de cumpadrio, e gerou a infame indústria das delações premiadas.

seu resultado final será a total descrença popular no Judiciário brasileiro, fornecendo o argumento definitivo para a necessidade de sua democratização.

a Lava Jato é a filha bastarda da Satiagraha, para fazer eclodir o retorno do reprimido daquilo enterrado pela maldita aliança entre Lula, Gilmar Mendes, Daniel Dantas e a Editora Abril.

a Lava Jato transformou um processo absolutamente necessário para o avanço da Democracia Brasileira, numa arma política apropriada pela Direita para servir mais uma vez aos interesses da plutocracia.

a cada vez que a Esquerda recua, o vácuo é ocupado pelo avanço da Direita.

a Lava Jato fornece a blindagem jurídica da Democracia sem voto. na qual todo poder emana de um Judiciário venal, classista, corporativo e partidarizado.

através de sua interpretação arbitrária das leis ficam cassadas as garantias individuais, para cumprir a nova Constituição pela qual está garantida a intocabilidade dos juros pagos aos especuladores.

o limite da investigação efetuada pela Lava Jato são as contradições intrínsecas do Capitalismo: financeirização e oligopolização. a contradição interna da Lava Jato é sua investigação desembocar na constatação da corrupção sistêmica ser endógena ao Capitalismo.

a corrupção não pode ser corrigida, portanto, pela via policial ou judicial. requer uma solução política.

“Além disso, a ação judicial não pode substituir a democracia no combate à corrupção.”

ao pretenderem purificar a política com seus 10 Mandamentos anti corrupção, os Cruzados de Curitiba conduziram ao poder um condomínio de gangues patrimonialistas. com um impeachment sem crime de responsabilidade rasgou-se a Constituição, na maior de todas as corrupções: a corrupção da soberania popular.

a medida que uma investigação avança, todos os envolvidos são paulatinamente desmascarados. mas sempre há um passo a frente. o momento no qual o investigador, ao se encarar perplexo no espelho, finda por involuntariamente desmascarar a si mesmo.

enfim, a força tarefa da Lava Jato fica exposta como meros marionetes de um jogo fora da alçada de sua jurisdição.

a Lava Jato & Associados é uma arma de destruição em massa, dentro da estratégia da Guerra sem Fim promovida pelo Império do Caos. é uma operação montada de fora, comandada de fora, para atender a interesses de fora. portanto, é “muito maior” do que nós.

mas ainda assim incondicionalmente apoiada pelo insidioso inimigo interno: uma lumpenburguesia hereditariamente sócia-minoritária do mega capital transnacionalizado. cujo projeto de Brasil se restringe a uma plataforma de valorização do capital financeiro ancorada num porto concentrador de exportação de commodities.

a tragédia dos gigantescos prejuízos econômicos, sociais e políticos acarretados pela Lava Jato & Associados são a consequência inevitável e proporcional de sua farsa no combate à corrupção. e disto nenhum de seus participantes, seja em qual nível for, estará isento de ser responsabilizado.

24-JAN-2018. não esqueceremos. não temos misericórdia. já estamos aqui. a terra treme. são as massas que movem a História. mais uma vez, elas estão em movimento!



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