02 abril 2008

a banca

impulsionado pela expansão do crédito e pelos juros ainda elevados, o sistema financeiro do Brasil dobrou de tamanho no governo Lula e o crescimento do lucro líquido consolidado atingiu nada menos que 200,5% sobre 2003, ano da posse de Lula em seu primeiro mandato. [1]

um mês antes de entrar em vigor a regulamentação do Conselho Monetário Nacional, que congela o valor das tarifas bancárias por seis meses, tabela divulgada pela Febraban mostra aumento de até 150% em algumas taxas, para uma inflação de 5,54% no período. [2]

a rentabilidade dos bancos não tem sido afetada pelas oscilações da economia brasileira. a única diferença está na fonte de lucros das instituições financeiras. em períodos de menor crescimento e maior instabilidade econômica, os ganhos são inflados pelas operações com títulos públicos, que ficam mais rentáveis com o aumento da taxa básica de juros. com um maior dinamismo da economia, o lucro vem da cobrança de tarifas, impulsionadas pela expansão das operações de crédito. [3]

depois de tudo o que disse na última ata do Copom, não há como o BC não elevar os juros. [4] em mais um de seus surtos esquizofrênicos, o governo Lula ao mesmo tempo acelera e breca o crescimento. [5]

segundo o BC, que projeta 4,8% de crescimento do PIB em 2008, índice inferior aos 5,4% de 2007, o forte ritmo de expansão da economia é o principal fator a ameaçar o cumprimento das metas de inflação. assim, o movimento é de alta dos juros já na próxima reunião do Copom, [6] restando uma única receita para não se elevar a Selic: o corte de gastos públicos. [7]

para as vozes do mercado, entretanto, com o PAC, as transferências sociais e a alta do salário mínimo, o resultado é a colocação de mais recursos na economia, injeção na veia do consumo, pressionando a inflação. [8]

se o PT era um partido de esquerda, o governo Lula acabou sendo um governo extremamente conservador na política econômica. mais conservador até do que os mercados esperavam. [9]

do ponto de vista da banca, nunca o Brasil esteve tão bem como hoje. a educação, a saúde, tudo melhorou enormemente. infelizmente, porém, a taxa de natalidade ainda cresce de forma absurda. o Brasil precisa diminuir a taxa de natalidade. [10]

apesar dos bancos nunca terem ganho tanto dinheiro quanto no governo Lula, [11] o que se constata é um mercado não saturado de crédito. no setor informal e de baixa renda, há muita necessidade não atendida porque os bancos tradicionais não estão prontos para esse segmento. [12]

o maior tomador de crédito no Brasil é o governo, que paga taxas altíssimas. se o governo quer baixar os juros tem de deixar de chancelar essas taxas. se os bancos tem acesso para captar do público e simplesmente emprestar ao governo com uma margem gigante, não precisa ser nenhum gênio para fazer isso. é fácil. além disto, ao pagar juros altos, o Brasil atrai grande quantidade de fluxo estrangeiro, o que valoriza o câmbio. [13]

seria um erro muito grande o BC subir os juros. tem de baixá-los para que a economia cresça mais. a forma para garantir um crescimento que se prolongue é com o mercado interno. o que há é um problema de oferta, e não de demanda. quando sobe os juros, o BC faz a demanda baixar. é preciso criar mais oferta. [14]

sempre com suas idéias fora de lugar, o pensamento liberal brasileiro não desiste de seu sonho impossível: um estado sem nação, uma nação sem povo e um povo sem cidadania.

como jamais chamou a si a responsabilidade pela construção nacional, a burguesia brasileira não consegue encarar a miséria como desafio, e a vê como fatalidade a ser atenuada evitando-se a reprodução dos miseráveis.


[1] blog Diário Gauche, “Bancos mostram força no governo Lula”, 01/04/2008, http://www.diariogauche.blogspot.com
[2] Correio Braziliense, 01/04/2008
[3] Ney Hayashi da Cruz, “Bancos têm lucro com crise ou expansão”, Folha de São Paulo, 25/02/2008
[4] Luís Otávio de Souza Leal, Economista-Chefe do Banco ABC Brasil, 14/03/2008
[5] arkx, “do seu lado”, 16/03/2008
[6] Ney Hayashi da Cruz, “BC prevê inflação acima da meta e sinaliza alta de juros”, Folha de São Paulo, 28/03/2008
[7] Folha de São Paulo, 26/03/2008
[8] Zeina Latif, Economista-Chefe do Banco Real, Newton Rosa, Economista-Chefe da Sul América Investimentos,Otáviode Souza Leal, Economista-Chefe do Banco ABC Brasil, Folha de São Paulo, 26/03/2008
[9] Olavo Setubal, Folha de São Paulo, 13/08/2006
[10] Olavo Setubal, Folha de São Paulo, 13/08/2006
[11] Lula, 19/02/2008
[12] Ricardo Salinas, empresário-banqueiro mexicano ao inaugurar as duas primeiras lojas do grupo Salinas no Brasil,Folha de São Paulo, 31/03/2008
[13] Ricardo Salinas, Folha de São Paulo, 31/03/2008
[14] Ricardo Salinas, Folha de São Paulo, 31/03/2008

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