31 março 2008

os idiotas

não obstante serem obsequiosamente subsidiados com a maior taxa de juros reais do mundo, os “companheiros” do mercado alertam que a melhor coisa para o governo fazer no momento é aumentar ainda mais a Selic. [1]

antecipando-se ao Copom, os juros bancários dispararam em janeiro de 2008, com a taxa média para pessoas físicas subindo de 43,9% para 48,8%, e para empresas, de 22,9% para 24,7%. [2]

embora o setor bancário tenha apresentado lucro de R$ 45,4 bi em 2007, numa alta de 35,9% em relação ao resultado de 2006 [3], o BC registrou prejuízo de R$ 47,513 bilhões, valor 2,5 vezes maior do que o rombo registrado em 2006, sendo o resultado negativo decorrente da valorização do real no ano passado. [4]

a rentabilidade média conseguida pelos bancos em 2007 correspondeu a 25,2% do patrimônio líquido do setor. em 2006, essa taxa de retorno havia sido de 22,90%. já as despesas do setor com sua folha de pagamentos cresceram apenas 12,9% em relação a 2006. [5]

segundo o BC, o crescimento do PIB de 5,4% em 2007 é não apenas robusto como consiste na melhor prova de que o Brasil colhe os dividendos da estabilidade do poder de compra da moeda, sendo esta a maior contribuição que a política monetária pode oferecer para assegurar o crescimento econômico sustentado com inclusão social. [6]

também como resultado da política monetária do BC, o Brasil reconquista a liderança de país com a maior taxa real de juros do mundo, hoje em 6,73% anuais. a Turquia, vice-líder registra taxa real de 6,69%. seguem a Austrália, com taxa de 4,89%, e o México, com 4,18%. [7]

já o crescimento médio da economia brasileira de 3,8% nos últimos cinco do governo Lula, coloca o Brasil em 35º lugar em desempenho, em um grupo de 39 países emergentes, à frente apenas da Guatemala, México, El Salvador e Haiti. neste período, o crescimento médio do conjunto foi de 5,6% ao ano. [8]

fechado na questão inflacionária, o BC é produto do contexto de uma economia com foco no curto prazo. o objetivo da política econômica é o bem-estar do povo. a inflação é um condicionante ao bem-estar da população, mas é preciso ter visão mais ampla. se a economia brasileira cresceu 5,4%, os juros estão o dobro disso. esse é o problema da decisão de investimento. [9]

para os eternos defensores dos juros infinitamente altos, pessoas bem-intencionadas podem piorar a vida dos que pretendem ajudar. como num romance de Dostoiévsky, ansiosos por fazer o bem, acabam fazendo o mal e terminam como perfeitos idiotas. [10]

Dostoiévsky, entretanto, descreveu em seus romances como os homens, uma vez com o dinheiro, se pretendem originais, no supremo grau da palavra, supondo que o dinheiro, apesar de abjeto e odioso, também confere, além de riqueza, algum tipo de talento. [11]


[1] Marcos Lisboa, Diretor-Executivo do Unibanco, “No curto prazo, a melhor coisa a fazer é aumentar os juros“, Folha de São Paulo, 30/03/2008
[2] Lu Aiko Otta , Estado de São Paulo, 27/02/2008
[3] Ney Hayashi da Cruz, Folha de São Pauol, 05/03/2008
[4] Correio Braziliense, 29/02/2008
[5] Ney Hayashi da Cruz Folha de São Paulo, 05/03/2008
[6] Henrique Meirelles, no em nota do BC sobre resultado do PIB de 2007, 12/03/2008
[7] Fabricio Vieira, Folha de São Paulo, 05/03/2008 - os juros reais são calculados a partir da taxa básica de juros, descontando dela a inflação projetada para os próximos 12 meses.
[8] Tribuna da Imprensa, 13/03/2008
[9] Marcio Pochmann, Folha de São Paulo, 15/03/2008
[10] Marcos Lisboa, Diretor-Executivo do Unibanco, citando “O idiota”, de Fiódor Dostoiévski
[11] Fiódor Dostoiévski, “O idiota”

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