mulheres que amam
mulheres que amam
amam tanto
que de tanto amar
perdidas nos labirintos da paixão
se confundem em seu amor
como uma ânsia
um furor
maníaca obsessão
as mulheres não deveriam amar
não mais
e o amor delas arrancado
como clitóris extirpados
e atirados ao fogo
para que fogo contra fogo
ardam e se consumam
nas chamas da fogueira
os fogos da paixão
mulheres que amam
condenadas eternamente
nas pedras a se arrastarem
exibindo inscritas nas peles cicatrizes
jaculatórias de gozo
tatuadas por prazeres e suplícios
de epifanias obscenas
não, não deveriam
não mais
no isolamento das celas
na clausura dos conventos
pelo jejum, o flagelo, a mutilação
o exorcismo de toda
a maldição do amor e seus tormentos
mulheres amam
mas não sabem o que querem
tampouco sabem
o que delas quer o amor
senão avassalador arrebatamento
de um cio inevitável
sangramento incontrolável
possessão inexplicável
misturando múltiplos orgasmos
transe místico
e deliciosas dores de partos
não mais
ou então...
qual mulher
capaz de arrancar completamente
o amor para fora de seu peito
apenas com o amor vestida
sair às ruas
para ao próprio amor auscultar os pedidos
compreender-lhe as súplicas
e lhe decifrar os desígnios
qual mulher
ousaria enfrentar o gozo
que já não é mais seu
é do amor mesmo que a devora
parindo úteros que geram sonhos
de pura luz iluminando o mundo
qual mulher
a esse amor se entregaria
para que possa
enfim
saber o que é o amar
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