16 março 2008

do seu lado

se Dilma assume a maternidade da aceleração do crescimento [1], o Copom continua como sempre: padrasto da maior taxa de juros reais do mundo e aborteiro da expansão do PIB. [2]

depois de tudo o que disse na última ata do Copom, não há como o BC não elevar os juros. a manutenção da Selic provocará um ruído desnecessário na comunicação com os agentes econômicos. [3]

em mais um de seus surtos esquizofrênicos, o governo Lula ao mesmo tempo acelera e breca o crescimento.

na busca da conciliação dos antagonismos insuperáveis, Lula acaba usando sua mão direita para decididamente tomar tudo o que tenta timidamente distribuir com a mão esquerda.

ressurge em 2008 a mesma maldição de 2004, quando Meirelles garantiu a Lula que o aumento dos juros era necessário, pois a inflação caminhava rapidamente para taxas de dois dígitos. segundo o presidente do BC, em pouco tempo, voltaria a cortar a Selic. com a inflação novamente sob controle, a economia retomaria o fôlego e renderia bons dividendos políticos nas eleições presidenciais de 2006. a Selic começou a cair em setembro de 2005, e Lula se reelegeu, a despeito de todas as denúncias de corrupção contra o seu governo. [4]

agora, o argumento do presidente do BC é de que a demanda interna está excessivamente forte. um pequeno aumento nos juros provocará uma leve acomodação no consumo. em 2009, a Selic poderá voltar a cair, reaquecendo a economia em 2010, ano de eleições, ajudando a alavancar a candidatura apoiada por Lula. [5]

entre São Bernardo e a av. Paulista [6], entre a Casa Grande e a Senzala, entre os bancos e os grotões, entre as forças do mercado e as favelas, entre o Copom e o Bolsa Família, entre a Selic e as políticas compensatórias, entre o desenvolvimento com inclusão social e a capitulação voluntária aos mercados, entre os fundamentos sociais e históricos do PT e o programa econômico de FHC [7], Lula nunca teve dúvida de que lado está:


do lado dele mesmo.


[1] Dilma Roussef, 11/03/2008, assumindo a condição que lhe foi conferida por Lula, em discurso na Favela do Alemão, no Rio, em 07/03/2008
[2] ata do Copom, divulgada em 13/03/2008, “a opção de realizar, neste momento [quarta-feira da semana passada], um ajuste na taxa básica de juros"
[3] Luís Otávio de Souza Leal, Economista-Chefe do Banco ABC Brasil, 14/03/2008
[4] “Aumento iminente”, Correio Braziliense, 14/03/2008
[5] “Aumento iminente”, Correio Braziliense, 14/03/2008
[6] Francisco de Oliveira, “Entre São Bernardo e a avenida Paulista?”
[7] Demétrio Magnoli, “O Brasil sem o PT"

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