derrama
essa não é ainda a pátria com a qual Tiradentes sonhou e, mais do que isso, pela qual morreu. o fato do Brasil ter os juros mais altos do mundo, distancia o país do seu potencial de desenvolvimento e nos conduz ao alto desemprego. [1]
num filme conhecido, reprisado diversas vezes desde o Plano Real, mais uma vez se interrompe o ciclo de recuperação da economia e aprecia-se o câmbio. o déficit em transações correntes, já com forte aumento, deverá se acelerar explosivamente. em relação ao controle da taxa de inflação, são dúbios os efeitos dessa elevação dos juros. a alta da taxa de inflação se deve à inflação importada, isto é, ao aumento dos preços de alimentos, petróleo e derivados, produtos siderúrgicos e outras commodities, todas com pressões vindas do exterior, o que nos diz que a taxa de juros brasileira será incapaz de afetá-la. [2]
a inflação que vemos é provocada pela disparada dos preços das commodities devido ao crescimento da demanda dos países asiáticos. com a desaceleração da economia mundial e a recessão nos Estados Unidos, a China vai junto e a Índia também, arrefecendo as pressões inflacionárias. se o Brasil quer algum dia crescer em um ritmo forte, o caminho tem de ser baixar os juros. se a taxa ficar na casa dos 14%, o país nunca vai realizar todo o seu potencial. [3]
os juros pressionam a inflação, pois fazem parte do custo de produção e comercialização. esses custos são repassados para o trabalhador, que não pode fazer o mesmo. o verdadeiro redutor de custos é a redução salarial. no Brasil a inflação nada tem a ver com excesso de demanda. o crescimento do salário e emprego nos últimos 24 meses foi ridículo. o estoque da dívida é afetado sem justificativa a cada alta dos juros, o que provoca aumento de gastos do governo. embora a participação da dívida pública atrelada à Selic possa estar caindo, isto se deve aos outros títulos pagarem ainda mais caro. [4]
a política monetária brasileira não é apenas imbecil, [5] assim como ontem Tiradentes via sangrar de nossas Minas Gerais o ouro, se vê hoje nos bilhões e bilhões repassados ao sistema financeiro do mercado o seqüestro de nossas esperanças, o adiamento de nossas aspirações legítimas e urgentes. [6]
a terra tão rica e – ó almas inertes! – o povo tão pobre... ninguém que proteste! todos querem liberdade, mas quem por ela trabalha? quem morre, para dar vida? quem quer arriscar seu sangue? pois os heróis chegam à gloria só depois de degolados. antes, recebem apenas ou compaixão ou desdém. [7]
[1] José Alencar, como Presidente interino, em Ouro Preto (MG), 21/04/2008
[2] Yoshiaki Nakano, “Juros na contramão “, 20/04/2008
[3] Leo Abruzzese, diretor editorial da consultoria Economist Intelligence Unit, que publica "The Economist", 20/04/2008
[4] Dércio Garcia Munhoz, entrevistado por Rogério Lessa, 22/04/2008
[5] José Alencar, como Presidente interino, em Ouro Preto (MG), citando Maria da Conceição Tavares, 21/04/2008
[6] José Alencar, como Presidente interino, em Ouro Preto (MG), 21/04/2008
[7] Cecília Meireles, “Romanceiro da Inconfidência”
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