12 abril 2008

fantasmas da inflação e juro real

para o BC, entre todas as reformas feitas pelo Brasil nos últimos anos, a estabilidade é a de maior resultado, isso significa que não se deve ideologizar o debate econômico. [1]

como contrapartida da bolsa Selic, que subvenciona a “estabilidade econômica” com a maior taxa de juros reais do mundo, os programas sociais já atingem 25% da população no país. o Bolsa Família é o mais abrangente, presente em 15% das moradias de todo o Brasil, em 2006. [2]

o Plano Real não foi um simples plano de combate à inflação. a estabilidade monetária aparece como imposição determinada pelas novas condições de circulação e valorização dos capitais. não adianta a maior liberdade de movimentos se os capitais tem de enfrentar a incerteza congênita quanto à magnitude das variáveis reais que caracteriza os regimes de alta inflação e, particularmente, aqueles com mecanismos formais de indexação, como o do Brasil pré-Real. [3]

apesar de até mesmo o FMI reconhecer que a valorização contínua das moedas de alguns países, incluindo o Real, pode significar um canal de vulnerabilidade caso haja picos de volatilidade no futuro [4], o BC chama a si o papel de "caça-fantasmas", pois embora as pressões inflacionárias incipientes ainda sejam invisíveis, como se fossem fantasmas, fazendo com que as revelações sobre elas sejam recebidas com desprezo e descrença, o trabalho do BC é localizar esses fantasmas e exorcizá-los cedo. [5]

o argumento em prol da atual necessidade de se realizar uma alta preventiva da Selic não parece válido. tanto o lado real quanto as expectativas de inflação da economia brasileira desabonam a tese da necessidade de uma reversão na política monetária. [6]

o balanço entre oferta e demanda agregada está equilibrado. claros sinais de expansão da capacidade produtiva, aliados a um ritmo saudável de expansão da atividade industrial, apontam para a disponibilidade de o setor atender ao crescimento da demanda por meio de expansão da oferta, e não por elevações de preços, como teme o BC. [7]

ao caçar os fantasmas da inflação, mirando implacavelmente o limite inferior da meta, o BC acaba por exorcizar a sustentabilidade do atual ritmo de crescimento, ao impor um desnecessário viés deflacionário à economia brasileira.

uma elevação da Selic, ainda que não interrompa os investimentos já em curso, certamente inibiria novos investimentos. aí, sim, a expansão da demanda poderia comprometer a estabilidade dos preços. [8]

o BC vai repetir o mesmo erro de 2004, quando iniciou um ciclo de alta dos juros, com um aumento de 0,25 ponto, e a economia se desacelerou. [9]

apesar das críticas de empresários e de boa parte do governo à decisão do BC de aumentar a taxa básica de juros, os últimos movimentos de aperto na política monetária se mostraram bastante acertados para a estratégia eleitoral de Lula.

um ano após o BC elevar a Selic, em 2004, a inflação passou a rodar em torno dos 3%, os juros começaram a cair e a economia recuperou o fôlego. mesmo com o governo atolado em denúncias de corrupção, Lula foi reeleito em 2006.

é com base nesse histórico que o Lula apóia o BC nesta nova etapa de alta da Selic. Lula espera que, em 2009, com preços novamente sob controle, os juros recuem, a economia avance e, em 2010, ela ajude a fazer seu sucessor. [10]

Lula faz em seu governo aquilo que as classes dominantes nunca imaginaram que aconteceria: realiza magistralmente o que o governo FHC fez apenas razoavelmente bem. [11]

afinal, tem certas coisas, no que tange a favorecer os que dominam fingindo defender os explorados, que só Lula é capaz de fazer... [12]


[1] Henrique Meirelles, Presidente do BC, 09/04/2008
[2] Antônio Gois e Janaína Lage, sobre pesquisa do IBGE, Folha de São Paulo, 29/03/2008
[3] Leda Maria Paulani, “A fraqueza da social-democracia”, 08/12/1996
[4] FMI, relatório sobre a economia global, 09/04/2008
[5] Andrew Haldane, do BC da Inglaterra, citado por Claudia Safatle, em “BC, o caça-fantasmas”, 11/04/2008
[6] André de M. Modenesi, Miguel Bruno e Salvador Werneck Vianna, “Contra o viés deflacionário do Banco Central do Brasil”, 10/04/2008
[7] André de M. Modenesi, Miguel Bruno e Salvador Werneck Vianna, “Contra o viés deflacionário do Banco Central do Brasil”, 10/04/2008
[8] André de M. Modenesi, Miguel Bruno e Salvador Werneck Vianna, “Contra o viés deflacionário do Banco Central do Brasil”, 10/04/2008
[9] Júlio Sérgio Gomes de Almeida, do Iedi, citado por Guilheme de Barros, 11/04/2008
[10] Vicente Nunes, “Pertinho do aumento”, Correio Braziliense, 10/04/2008
[11] Ricardo Antunes, entrevista ao Correio da Cidadania, 08/04/2008
[12] arkx, “suicídio”, 21/12/2007

Nenhum comentário: