"Foi aqui, na Scania, nesse pátio, que nós começamos a conquistar a democratização do nosso país. Era um tempo em que eu dizia que era socialista. Mas aí eu fui presidente de um país capitalista, um país capitalista sem capital."
Lula
02/07/2007
embora seja visto como padecendo de insuficiência crônica e incurável de recursos, o Brasil tem sido um país de oferta necessariamente abundante de capitais. [1]
apesar deste enigma da esfinge brasileira já ter sido decifrado em 1963, por Ignácio Rangel, ainda prospera um estado de confortável e conveniente ignorância em relação à questão.
devido a sua altamente concentrada estrutura de distribuição de renda, o Brasil é um país de baixíssima propensão a consumir. para quem não erga o "véu monetário", entretanto, este fato se mostra deformado e mascarado, de tal forma que uma demanda insuficiente aparece como excessiva. um país sufocado ao peso de sua própria capacidade produtiva ociosa apresenta-se como se tudo lhe faltasse. [2]
foi também Ignácio Rangel quem anteviu para o Brasil um novo estágio de desenvolvimento, não mais comandado pelo capital industrial, e sim pelo capital financeiro. ousou defender que, para a soberania nacional, a estruturação de um mercado interno de capitais era então da mesma importância estratégica quanto fora no passado a criação de nosso parque industrial. o mercado de capitais se converteria na fonte principal de financiamento da economia, tendo como prioritária destinação dos recursos a criação e expansão dos grandes serviços de utilidade pública.
hoje, a indústria de fundos de investimentos no Brasil, com patrimônio líquido atual superior a R$ 1 trilhão, é mais desenvolvida, mais sofisticada, mais competitiva e maior como proporção do PIB se comparada a qualquer outro país emergente. [3]
bastaria uma redução na oferta dos títulos públicos - por conta da diminuição da dívida interna - para disponibilizar uma dinheirama no mercado, para financiar o desenvolvimento. os gestores terão que buscar ativos com rentabilidade para substituir títulos públicos. é erro pensar que o sistema bancário é quem irá prover recursos para financiar empresas e consumo. o funding será dado pelos fundos, financiando a produção por meio de debêntures e o consumo por meio de instrumentos como os Fundos de Direitos Creditórios, pelos quais as empresas antecipam receitas futuras contratadas. [4]
este cenário promissor é, evidentemente, incompatível com a atual taxa básica de juros. não há incentivo em se investir em atividade produtiva, gerando empregos, renda e aumentando a propensão ao consumo, enquanto a taxa básica do BC regular a disponibilidade de recursos bancários para empréstimos e também remunerar a maior parte da dívida pública. os títulos públicos, qualquer que seja seu prazo nominal de vencimento, têm liquidez diária garantida pelo governo. além disto, a taxa básica por um dia é maior que as taxas de juros de médio e longo prazo. o resultado é um ativo financeiro que rende juros e nunca fica indisponibilizado. esta anomalia proporciona uma rentabilidade diária alta, segura e sem os embaraços de ter que contratar e pagar salário a trabalhadores, sem as complicações com o Fisco, sem taxas e impostos, sem ter que cumprir regras ambientais, sem obrigações sociais. um capitalismo sem risco e que dispensa a produção. [5]
[1] Ignácio Rangel, "A inflação brasileira"
[2] Ignácio Rangel, "A inflação brasileira"
[3] Nélson Rocha Augusto, Folha de São Paulo , 02/07/2007
[4] Luis Nassif, "Fundos e investimento", 14/08/2003
[5] José Carlos de Assis
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