cidades sem povo são cidades sem alma. em Brasília a política se faz através das intrigas palacianas, dos conchavos de corredor e dos discursos inflamados para um plenário vazio.
as vaias a Lula num Maracanã lotado têm significado político claro e implacável: não se faz política sem povo.
nas ruas e no encontro com as multidões, a popularidade das pesquisas de opinião pública se desmancha no ar.
como decifrar o enigma de um presidente com mais de 60% de popularidade ser olimpicamente vaiado onde obteve 70% dos votos nas últimas eleições?
Lula é um interregno. um entreato.
para o desespero das oposições conservadoras, a força de Lula advém de que não há mais retrocesso para o Brasil. as massas populares serão o protagonista de qualquer novo projeto nacional que se pretenda legítimo.[1]
eleito por duas vezes em nome da mudança, Lula se tornou o último bastião do continuísmo. como uma metáfora encarnada do processo histórico brasileiro, no qual, muito embora imposta como necessária pelo próprio desenvolvimento da sociedade, a mudança é sempre adiada ao máximo, e, ao se tornar inevitável, é antecipada, para que, no transigir, se possa limitá-la.
com o Brasil imobilizado no meio de uma travessia, sem que possa retornar e interditado seu avanço, a desolação do cenário político provoca indignação e desalento. mesmo que nada se ouça, além do silêncio, ainda assim é possível sentir um grito infinito atravessando a paisagem.
um grito silencioso parado no ar, que, por vezes, explode numa vaia vinda do fundo da alma.
[1] Luis Nassif, “Os cabeças de planilhas”
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