raiva, impotência, frustração, desespero. melancolia e depressão. a
esmagadora luz negra da derrota do golpe do impeachment nos atinge a todos.
mas tudo se resumirá apenas a um dramalhão barato, uma novela das 8 sem
final feliz, se nos deixarmos sucumbir tão rápida e facilmente.
fomos pegos numa armadilha. como o anjo da História, ao mantermos o rosto voltado para o passado, enquanto
impelidos para um futuro ao qual viramos as costas, tudo o que estarrecidos somos
capazes de ver são ruínas se amontoando em direção ao céu.
contudo, a derrota é o fogo
alto que forja o aço de nossas vitórias. a grande derrota é purificadora porque nos
liberta dos paralisantes laços que relutávamos em abandonar.
o arcabouço
institucional do país expirou sua validade em Junho de 2013. isto significa que
a moldura institucional do país já não cabe
mais no organismo social brasileiro. desde então a representação política entrou em colapso. e agora,
diante de todos, o sistema de poder está ruindo. qualquer sobrevida deste
modelo em escombros será um rearranjo de curta existência.
na dinâmica da
resistência ao golpe repete-se o segundo turno das eleições de 2014. os
principais responsáveis pela eleição de Dilma não foram sua campanha oficial e
seus marqueteiros milionários, guiados por detalhadas pesquisas qualitativas.
foi o povo sem medo! os aguerridos eleitores que através de suas inúmeras
pequenas batalhas cotidianas conquistaram a memorável vitória da candidatura
que apoiaram.
o think tank golpista jamais supôs tanta energia e vitalidade. em suas
análises e formulações esqueceram a capacidade criativa do Povo Brasileiro. mas
Junho de 2013 ainda pulsa. é Junho de 2013 que retornou, arrastando multidões às
ruas, sem liderança e sem partido, para resistir ao golpeachment.
já aprendemos que não precisamos de nenhuma convocação de alguma
vanguarda dirigente para ocuparmos os espaços públicos em manifestações contra
o golpe.
já se entranhou no
cotidiano e tornou-se hegemônica a narrativa histórica sobre o caráter golpista
do impeachment: um golpe da plutocracia contra os pobres.
já ganhamos a medalha de ouro no revezamento de apagamento da tocha
olímpica e no mais breve discurso de abertura de Olimpíadas. e estamos muito
perto do pódio na categoria criatividade nos protestos em eventos esportivos.
o golpe foi desmascarado, os golpistas estão expostos.
não renegaremos nenhum sentimento de raiva, impotência, frustração,
desespero, melancolia ou depressão. mas não nos submeteremos a eles. sairemos
juntos às ruas e juntos ocuparemos os espaços públicos. juntos celebraremos a
luta e a resistência como nossa forma de epifania.
e juntos nos
encontraremos como jovens e velhos cantando e gritando juntos. amigos se abraçando
e casais se beijando. desconhecidos marchando como antigos companheiros. punhos
cerrados balançando no ar. pessoas orgulhosas de si mesmas erguendo suas
bandeiras ao céu. juntos choraremos lágrimas de revolta e de insubmissão.
juntos então compreenderemos
que ninguém muda o mundo, ninguém muda ninguém, ninguém sequer muda a si mesmo.
mas as pessoas se transformam entre si através das experiências de vida que são
capazes de gerar e compartilhar intensamente. e isto transforma o mundo.
por que lutamos?
lutamos porque é assim que experimentamos a felicidade.
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