16 agosto 2016

o fim e o começo

16/08/2016


winter is now. as folhas caíram. na escuridão do abismo em que nos afundam, junto com a queda da Democracia brasileira, procuramos algo para nos agarrarmos.  mas no colapso institucional nada restou em que se apoiar, a não ser uns nos outros. é nesta solidariedade radical que devemos firmemente nos agarrar.

na recente tentativa de golpe na Turquia, o Presidente ao menos teve a virtude de lutar pelo próprio mandato. apesar das gigantescas restrições que a ele façamos, não hesitou em conclamar seus apoiadores às ruas e enviar militares fiéis para deter os amotinados.

enquanto isto, no Brasil ainda se discute se o  golpe é golpe... se é “conveniente” chamar o golpe pelo o que ele é: golpe.

o Lulismo ainda mais uma vez abandona as ruas. o presidente do PT declara que o partido vai se concentrar em fazer a defesa do ex-presidente Lula na Lava Jato. e num definitivo sincericídio, incapaz de ser contornado com a hipocrisia posterior, Haddad expõe como o Lulismo encara o impeachment: “Golpe é uma palavra um pouco dura”.

se nos jogos olímpicos da exclusão, em curso no Rio de Janeiro, o povo sem medo acumula diversas medalhas na categoria de manifestações espontâneas contra o usurpador golpista, o grande ausente no mega-evento concebido como celebração gloriosa de seu projeto é o Lulismo – banido dos protestos nas Olimpíadas por iniciativa própria.

o golpe está se concretizando também por uma razão bastante simples: o Lulismo jamais sequer cogitou opor qualquer resistência popular a ele!

mesmo no trágico ocaso de seu ciclo governista, com o país mergulhando num Estado de exceção, ainda assim o Lulismo permanece em sua estratégia de conciliação permanente a serviço de uma hegemonias às avessas: atender a quase todas as exigências da minoria em nome de conceder alguns poucos benefícios para a maioria.

para que o projeto da plutocracia brasileira seja executado pelo condomínio de gangues patrimonialistas, e assim estas sejam recompensadas com a anistia através do acordo  de pacificação nacional das elites, a farsa e o escárnio tornam-se completamente escancarados:

- 37 dos 65 integrantes da comissão do impeachment enfrentam acusações de corrupção e outros crimes;
- dos 513 deputados federais, 313 estão sob investigação, ou já acusados, de crimes desde corrupção, homicídio e até promover trabalho escravo;
- assim como 49 dos 81 senadores também já enfrentam acusações ou investigações. (link)

neste cenário desolador, tudo que se pretendia como construção já não é senão apenas ruínas. uma falência múltipla dos poderes constituídos e uma disfuncionalidade consumada do arcabouço institucional.

uma arquitetura do caos projetada para arrastar o Brasil ao epicentro de uma guerra híbrida mundial cujo propósito é implantar uma nova razão no mundo. (link)

em mais uma grande transformação do capitalismo global, as pessoas são reconfiguradas como empreendedores de si mesmo. já não seremos indivíduos, muito menos cidadãos: apenas empresas que se deve gerir e um capital humano que deve se acumular. e nossas relações sociais nada mais serão do que a de empresas competindo entre si.

toda nossa existência, até mesmo a subjetividade, sob a lógica do mercado e do modelo empresarial.

como numa permanente competição esportiva, prevalece o princípio da “auto-superação”: sempre mais desempenho, seja na produção, no consumo ou no gozo.

um governo de si mesmo, pela introjeção das técnicas de coaching, auditoria, compliance, accountability. uma destruição da dimensão coletiva da existência através de uma individualização extrema promovida por um feroz regime de concorrência a que os indivíduos são submetidos em todos os níveis.

a economia é apenas o método. conforme Mrs. Thatcher admitiu, o objetivo é mudar corações e mentes, é mudar a alma das nações. o modo como os homens são governados passa a ser a maneira como eles próprios voluntariamente se governam.

 o cinismo, a mentira, o menosprezo, a ignorância, a arrogância, a brutalidade são os valores que imperam quando a existência é reduzida ao nível de gestão da eficácia empresarial.

quando o desempenho é o único critério, já não são relevantes o respeito às formas legais, aos procedimentos democráticos, à liberdade de pensamento e de expressão. nesta nova fase do neo liberalismo a desvinculação com a tradicional democracia liberal é completa. o direito privado se torna isento de qualquer controle, até mesmo do sufrágio universal.

frente ao inverno de nossas almas, a Esquerda, toda ela, fracassa como um monstruoso contingente de zumbis conduzidos por mortos-vivos. uma Esquerda moralista e incapaz de propor uma ética para se contrapor ao projeto do ultraliberalismo.

a ética não se confunde com os “bons costumes”, conforme aceitos num determinado grupo social numa determinada época. a ética é um projeto de vida. um modo de viver, de se relacionar consigo mesmo, com a comunidade e com a vida ela própria. por isto, a ética e a política são absolutamente inseparáveis.

como o Capitalismo adotou a gestão da crise como técnica de governo, não há nenhuma “crise” da qual precisamos sair, há uma guerra que precisamos ganhar, mesmo que sejamos derrotados em muitas batalhas.

e esta é uma guerra pela nossa sobrevivência. nesta guerra, nossa principal arma é uma ética. uma ética do comum. a construção desta ética começa com uma simples questão que juntos devemos responder:

-  qual o tipo de vida que desejamos ter?


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