24/08/2016
nos escombros do colapso institucional brasileiro, a maior das
catástrofes é a do Lulismo e de quase
toda a Esquerda. obrigados pela realidade a encarar o espelho, se negam a
identificarem-se com a imagem refletida. apanhados numa crise de representação,
agarram-se aos escombros de sua auto imagem desmascarada, como se assim fosse
possível sobreviver ao desastre da queda da Democracia no Brasil.
ao vagar em círculos
no labirinto que construiu ao seu próprio redor, a Esquerda não se propõe ao
único movimento capaz de construir uma nova identidade: mergulhar no abismo e
atravessar a superfície do espelho.
num jogo sujo com
cartas marcadas, a banca sempre vence. sem a participação popular não há como
ganhar.
pautado pelo
calendário eleitoral e submisso à lógica das instituições, o PT reduziu-se de
partido de massas a partido de quadros. ex militantes metamorfoseados em
comissionados incrustados nos cargos da máquina pública. (link) de
defensores dos interesses de amplas camadas da população, a representantes de
si mesmos. de instrumento de luta dos trabalhadores, a mais um partido
de sustentação da ordem. (link)
uma estúpida borboleta, que abandonou
o vôo pelos céus e se enfiou novamente no casulo, para decompor-se como
lagarta.
“Pois aqui, como vê, você tem de correr o mais que pode para continuar no
mesmo lugar.
Se quiser ir a alguma outra parte, tem de correr
no mínimo duas vezes mais rápido!”
se o Lulismo sempre foi uma sedutora esfinge
sem enigmas, nos encontramos todos na maior de todas as encruzilhadas de nossa
História.
ao negar-se a
decifrar o enigma do auto-engano em que se imobilizou, para hipotecar apoio
incondicional ao Lulismo, a maior
parte da Esquerda acabou por se converter em sua própria esfinge, sem se dar
conta que nada mais fez do que devorar a si mesma.
não é apenas a
conciliação de classes do Lulismo que
expirou sua data de validade. a falência institucional deixa exposta a fratura
entre o poder instituinte e os poderes
constituídos.
no país das maravilhas da plutocracia não há lugar para os demais, a não
ser como peões descartáveis, sob uma precarização estrutural do trabalho.
com a brutal queda
no deserto do real, talvez o maior dos colapsos em curso seja o colapso das
subjetividades. uma devastação das almas, perambulando pela planície desolada
do cinismo e da impotência.
após os 13 anos de
Alzheimer político, os afetados pela Síndrome do Crepúsculo anseiam voltar para
uma casa que já não existe. Édipo já não pode esconder seu desejo mais secreto:
arrastar-se de volta para o protetor e aconchegante útero materno. mas como
retornar de uma viagem definitiva?
“É uma mísera memória, essa
sua, que só funciona para trás”, a Rainha observou.”
privados da moldura
institucional para configurar suas ações, os sujeitos políticos não mais sabem
como movimentar suas peças. seguem automaticamente obedecendo a regras que já
não fazem sentido algum.
nas ruínas do Estado
Democrático de Direito, a Esquerda permanece hipnotizada com as eleições
municipais. e o Lulismo acredita
piamente numa redenção prometida para um ano que se anuncia como longe demais:
2018.
em plena consumação
do impeachment, as campanhas eleitorais são como corridas numa espécie de
círculo, sendo que a forma exata não tem importância. basta repetir o mesmo
jingle, o mesmo marketing, o mesmo financiamento, o mesmo discurso, o mesmo
palanque, a mesma formatação... no final,
todos ganham seus prêmios. e o único perdedor continua sendo o eleitor.
“Eu não a reconheceria se nós nos encontrássemos”, Humpty
Dumpty respondeu num tom desgostoso,
dando-lhe um de seus dedos para apertar: “você é tão exatamente igual às outras
pessoas.”
a trágica farsa
brasileira já não mais consegue se impedir de vir à luz.
pela Lava Jato eclode o retorno do reprimido com a Satiagraha, enterrada
pela santa aliança entre Lula, Gilmar Mendes, Daniel Dantas e a Editora Abril (link). a estrutura de
poder entra em colapso.
ao pretenderem purificar a política com seus 10 Mandamentos anti
corrupção, os Cruzados de Curitiba conduzem ao poder um condomínio de gangues
patrimonialistas. enfim, se descobrem usados como meros marionetes de um jogo fora de
sua jurisdição.
o limite da
investigação em curso na Lava Jato são as contradições intrínsecas do
capitalismo: financeirização e oligopolização. a contradição interna da Lava
Jato é que sua investigação desemboca na constatação que a corrupção sistêmica
é endógena ao capitalismo. e não pode ser corrigida, portanto, pela via
policial ou judicial. requer uma solução política.
“Gostaria de não
ter chorado tanto!” disse Alice, enquanto nadava de um lado para outro,
tentando encontrar uma saída.“Parece que vou ser castigada por isso agora,
afogando-me nas minhas próprias lágrimas! Vai ser uma coisa esquisita, lá isso
vai! Mas está tudo esquisito hoje.”
no xadrez do Brasil
do golpe do impeachment, como fazer o peão branco vencer em onze lances? com
certeza, não será repetindo obsessivamente os mesmos erros das partidas
anteriores.
enquanto caímos,
caímos, caímos, a queda no abismo parece não terminar nunca...
talvez seja o tempo
necessário para nos indagarmos onde estávamos no outono de 2007. quando, em abril, a New Century
Financial vai a falência, intoxicada pelas hipotecas subprimes que emitira,
marcando o primeiro evento da grande crise de 2008. logo depois, em maio, é
deflagrada pela PF a Operação Navalha para desbaratar
esquema de superfaturamento de obras do PAC, num presságio daquilo que seria a
Lava Jato.
que admirável novo
mundo veríamos do outro lado do espelho?
a Esquerda ainda
confunde o neoliberalismo como a renovação de uma doutrina econômica, enquanto
se trata da implantação de uma nova razão no mundo. uma reconfiguração completa
das relações sociais, resultando na produção de um neo sujeito. uma
subjetividade sob o modelo do mercado e
da concorrência empresarial. (link)
a Crise de 2008 ainda pulsa e ainda é pouco. USA Incorporation já não
consegue estabilizar a economia mundial: a Europa se desintegra, a provincial
Germânia mantém o Euro disfuncional, o Japão segue estagnado e o dragão Chinês
já não cospe fogo como antes.
tanto aqui como em toda parte o sistema está em colapso. o que é agravado
por uma inédita e reveladora crise climática: o capitalismo cruzou um limite
perigoso, ameaçando a sobrevivência da própria sociedade.
“Agora está sonhando”, observou Tweedledee.
“Com que acha que ele sonha?” Alice disse: “Isso ninguém pode saber.” “Ora, com
você!” Tweedledee exclamou,
batendo palmas, triunfante. “Se o Rei acordasse”,
acrescentou Tweedledum, “você sumiria… puf!… exatamente como uma vela!””
nas próximas
eleições norte-americanas uma vitória da ultra neoliberal Killary, a Senhora da
Guerra, abre o mapa do caminho para um confronto nuclear.
mas se os Republicanos decidiram informar aos eleitores que o candidato deles à presidência dos EUA
não pode chegar à Casa Branca, Trump talvez acene com um surpreendente projeto de renascimento industrial, repatriação dos
empregos e taxação dos lucros especulativos.
ao mesmo tempo, a estratégia do eixo Rússia-Pequim-Teerã muda as regras do jogo na geopolítica
mundial.
com seu alinhamento
automático a um EUA imperial numa globalização unipolar fadada ao
desaparecimento, os golpistas brasileiros inauguram seu regime a serviço de uma
geopolítica em ocaso.
tanto no Brasil
quanto no mundo vivemos o fim de uma era. “Aonde fica a saída?", Perguntou Alice ao
gato que ria. ”Depende”, respondeu o gato. ”De quê?”, replicou
Alice; ”Depende de para onde você quer ir...”
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