27/11/2017
ilustração: a Batalha da Av. Presidente Vargas, 20/06/2013.
é no Rio onde o Golpe de 2016
exibe sua face mais descarada. é no Rio onde o Golpe de 2016 bate com maior impacto. na guerra de extermínio travada
pela lumpenburguesia brasileira contra todos os Brasis, é no Rio que seus efeitos são maiores e mais profundos.
Rio de Janeiro: uma cidade e um Estado em guerra. o genocídio de
pobres, pretos e moradores das favelas e das periferias. o fim da indústria
naval e da cadeia de gás e petróleo. a destruição dos serviços públicos e a
falência do Estado. a explosão da miséria e da violência. a promiscuidade do
aparato repressivo com o narcotráfico. o Legislativo tomado por quadrilhas. o
Judiciário a serviço de interesses privados. o colapso da Democracia
representativa.
neste caos atual se converteram todas as
maravilhas prometidas pelo mundo encantado do Lulismo, no qual o
Rio de Janeiro se transformaria na sede triunfal de seu modelo de cidade.
apesar de todas as evidências em contrário, comprovadas pelas
experiências de suas edições anteriores em outros países, os mega eventos foram
anunciados como uma freeway em
direção ao Brasil do Séc. XXI, levando o país a ser um respeitado player global.
supostamente um valioso trunfo não apenas político, tanto pelo marketing de
popularidade, como também econômico, na suposição dos investimentos em
infraestrutura retornarem como acelerado crescimento do PIB. além disto, pela forte
demanda por mão-de-obra se daria o milagre do pleno-emprego, mesmo sendo de
baixa remuneração, pouca qualificação e curta duração.
contudo, os mega eventos se concretizaram como um previsível mega fracasso,
tão humilhante quanto os 7x1 do Mineirazo.
ao invés de turbinarem o PAC, grande parte dos recursos abasteceu os
propinodutos, escoando pelos ralos dos paraísos fiscais ou simplesmente foram
desviados para aplicações especulativas no mercado financeiro.
agora jaz em ruínas o Hotel Glória, criadouro de mosquitos e vendido a um fundo de investimento árabe. teria sido um símbolo glamouroso do empresariado-companheiro, enfim o
nascimento de uma "burguesia nacional", mas acabou tomado por Abu
Dhabi e ameaçado pelo Aedes aegypt.
foram constantes e combativos os protestos no
Rio contra a farsa dos mega eventos, desde Junho de 2013 até a Copa
de 2014, período no qual ecoou fortemente o grito das ruas: "da Copa eu abro mão, quero mais
dinheiro prá saúde e educação". apesar desta palavra de
ordem, não deixaram de ser então estigmatizados como "complô da
CIA para desestabilizar o nosso governo".
ao invés de usar o vigor das ruas contra-balançar
a correlação de forças com a cleptocracia, o governo Dilma lançou sobre o
movimento uma feroz repressão, através de uma força-tarefa coligada, estadual e
federal, promovendo uma ampliação da criminalização dos movimento sociais.
a insurgência destituinte do "Fora
Cabral e Eduardo Paes!", apesar de reforçada com o poder criativo de
outros movimentos ("Aldeia Maracanã", "Cadê o
Amarildo?", "Ocupa Câmara" e "Ocupa
Cabral") e integrada com a greve dos professores e dos garis, mesmo
assim acabou esmagada, o que só escavou ainda mais o abismo da crise de
representação.
aquilo que na época não se logrou alcançar a
partir da soberania do movimento popular, hoje se dá pelas vias tortas e
viciadas de um Judiciário venal, corporativo, seletivo, classista e partidarizado:
parte da cúpula político-empresarial do Rio de Janeiro está atrás das grades.
é no Rio que a total fratura entre os poderes
constituídos e o poder instituinte se mostra mais visível e contundente,
expondo de modo escancarado os limites óbvios, mas nem sempre tão visíveis, da
Democracia representativa.
a mesma fratura existente a nível nacional:
uma total crise de representação, com os três poderes e as instituições
completamente tomadas pela Guerra de Famiglias, já sem qualquer
vínculo com alguma residual "soberania popular".
remonta a 1998 um dos mais nefastos destes
"acordos", consistindo também numa das origens da crise de
representação e da demolição do sistema político no Rio. militante histórico na
resistência à Ditadura desde 1964, Vladimir Palmeira ganhara a convenção do PT
para disputar o governo estadual, contudo a direção nacional fez uma
intervenção para impor o apoio a candidatura de Anthony Garotinho, depois
eleito naquele mesmo ano ainda pelo PDT.
a partir de então, de acordo em acordo o PT do
Rio foi convertido em mera linha auxiliar do PMDB. ao repetidamente renovar os pactos de uma governabilidade
baseada no fisiologismo e no curto-prazo, desembocou-se na ingovernabilidade
sistêmica e numa grave crise econômica.
assim como o Brizolismo havia parido uma
perigosa linhagem afetada por mutações regressivas (Marcello Alencar, César
Maia, Garotinho e Rosinha), o Lulismo gerou uma dinastia paralela progressivamente
se aprimorando em assaltar os recursos públicos: Sérgio Cabral, Pezão e Eduardo
Paes.
do mesmo partido e igreja do ex
Vice-Presidente José Alencar, o atual prefeito carioca Marcelo Crivella ocupou
o Ministério da Pesca e Aquicultura no governo de Dilma Roussef. para tanto
tinha como única experiência e qualificação na área ser "pescador de
homens", estes apanhados para doravante darem provas de sua fé com
generosos sacrifícios na Fogueira Santa.
atualmente a ALERJ vive cercada por grades
duplas e reforçadas, protegida pela Força Nacional e pelo Batalhão de Choque
com seus carros blindados. a população ao se manifestar em frente as suas
escadas tem sido sistematicamente enxotada pelo aparato repressivo, com artilharia
de bombas de efeito moral, nuvens de gás lacrimogêneo e de pimenta e saraivadas
de balas de borracha.
situado nas redondezas da ALERJ, o TJ-RJ se
notabiliza não somente pelos super-salários de seus desembargadores, como principalmente por sua absoluta blindagem quanto a necessidade
de se fazer justiça, conservando-se em perfeita "harmonia" com os
outros poderes.
apesar da versão confortável fazendo da
desgraça do Rio obra simplesmente da Lava Jato & Associados, os benefícios
fiscais distribuídos pelo governador-amigo dos amigos empresários
grande parte do Executivo, Legislativo e
Judiciário do Rio deveriam estar presos. o mesmo ocorre no plano Federal. sem
detrimento das medidas legais cabíveis e necessárias, ainda assim seria cair na
ilusão fácil de bastar a via da Justiça Penal para "purgar a sociedade
de todos os seus males".
neste sentido a própria Lava Jato &
Associados já desmascarou a si mesma, ao revelar sua parte principal, e
também sua maior beneficiária, como justamente os Associados: a
lumpenburguesia brasileira associada aos mega interesses transnacionais.
por outro lado, sem as medidas legais cabíveis
e necessárias, mas não suficientes, apenas se alimenta a serpente do
proto-fascismo, pois este oferece como única solução viável a via autoritária.
como nenhum autoritarismo é capaz de superar a fratura da crise de
representação, somente a Democracia participativa tem o poder de fazê-lo, a
hipótese fascista traz tão somente um agudo agravamento do problema.
portanto o nó da questão é mais complexo: o
sistema de poder está irremediavelmente comprometido, pela completa ruptura
entre poderes constituídos e o poder instituinte: a soberania popular anterior
ao poder constituinte.
para se desatar este nó é preciso abandonar
qualquer ilusão quanto alguma conciliação. a ruptura já se deu e nenhum jogo
ganha-ganha tem o poder de restaurá-la. alguém terá que perder, e sofrer um
duro revés. por enquanto, os derrotados permanecem sendo os Brasis e
suas populações.
olhai para o Rio de Janeiro. tudo sob o céu
está mergulhado no caos e coberto por ruínas. nenhuma pax nos salvará. apenas a
Antropofagia nos une.
“Nossos problemas nunca serão resolvido pelos bandidos ou seus aliados,
porque eles representam uma classe que não é a nossa. Eles tem um lado, que não
é o nosso. Olimpíada, Copa, mega-eventos... Dessa porra toda eu abro mão,
meu parceiro. O que eu quero na vida, meu mano, é meu povo com saúde,
dignidade, educação.”
“O Bandido do Rio”- PH Lima
vídeo: PH LIMA RAP O BANDIDO DO RIO
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